Autor Tópico: Crítica fotográfica  (Lida 16187 vezes)

Alex Biologo

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Resposta #15 Online: 12 de Setembro de 2006, 01:04:16
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Faço coro ao pessoal, dizendo que muitas críticas não só podem como devem ser descartadas!

Vendo as coisas por um viés diferente dos colegas, que mais estão preocupados com arte: imagine uma mãe coruja que tira fotos dos seus bebês e põe na internet, com o maior gosto. Pôxa, tem várias.

Pois bem, eu estaria fazendo um desserviço gigantesco se dissesse a ela que as fotos são ruins, que eu tô cansado de ver foto de bebê daquele jeito, todas iguais e bla bla bla. É um absurdo, é uma crítica totalmente descabida, pois eu estou sendo tirano a ponto de ir contra as intenções que aquela pessoa colocou para sua fotografia.

É como eu disse: a idéia que fica por trás de críticas desse tipo é a tirania de querer, num auge de infantilidade, que toda a fotografia do mundo seja feita para agradar a você. Como sabemos, não é.

Abraços!

 -- thiago
Thiago desse ponto de vista sim, mas vc não concorda que essa é uma situação extrema de uma pessoa totalmente sem tato?

Eu penso que quem coloca fotos dos filhos quer comentários sobre os mesmos ( e no caso elogiosos), agora não é diferente de uma análise sobre uma foto?
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Thiago Sigrist

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Resposta #16 Online: 12 de Setembro de 2006, 02:18:45
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Thiago desse ponto de vista sim, mas vc não concorda que essa é uma situação extrema de uma pessoa totalmente sem tato?

Eu penso que quem coloca fotos dos filhos quer comentários sobre os mesmos ( e no caso elogiosos), agora não é diferente de uma análise sobre uma foto?
Hey Alex!

De fato é uma situação extrema, por isso mesmo que eu a escolhi como ilustração.

Mas acredito que coisa semelhante pode ocorrer com a análise de uma foto. É o que acontece quando, por exemplo, alguém critica certos elementos da foto sem ter consciência de que eles fazem parte de toda uma proposta estética.

Ou ainda, fazer o mesmo, isto é, criticar os elementos, mas não por desconhecimento da proposta estética, mas sim em expressão de uma falta de identidade com ela, sem dizer explicitamente isso. Existem estilos de fotografia que não me agradam, e se eu disser que não gosto de uma foto, acho necessário dizer isso, que aquele tipo de foto é que não me agrada.

Enfim, você pode muito bem fazer uma análise ruim, que não ajuda em nada, por mais bem-intencionado que seja. É como falei: escrever, de maneira geral, é algo difícil, e toma tempo. Coisa que nem sempre temos. E é justamente por isso que, sem tempo, dificilmente escrevo análises das fotos dos colegas. :)

Abraços!

 -- thiago
Thiago Massariolli Sigrist
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Ivan de Almeida

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Resposta #17 Online: 12 de Setembro de 2006, 07:53:47
Vocês me desculpem, mas achar que toda crítica deve ser considerada é quese uma ingenuidade. É um pensamento igualitário ingênuo. Os homens são iguais em seus anseios, devem ter oportunidades iguais, direitos iguais, etc, mas com o passar do tempo e formação de personalidade os homens especializam-se em áreas distintas, e não há mais simetria entre todos os seres humanos dentro de cada uma delas.

Existe uma coisa obvia em toda produção cultural: a maioria gosta de coisas fáceis de gostar imediatamente e não tem paciência para nada mais exigente. Isso pode ser observado na música, na literatura, na poesia, na pintura, em tudo, e na fotografia não seria diferente.

Há duas propostas fundamentais no campo da produção cultural: há os que fazem para agradar à maioria. leandro e leonardo, Roberto Carlos, etc. Há os que fazem para agradar a um certo tipo de gente e por um acindente do destino agradam a muitos (beatles), e há os que fazem para dialogoar com determinadas idéias estéticas que constituem especializações da cultura.

A arte de massas é repetitiva e permeada de chavões. São recursos diretos. No caso da fotografia, vamos lá, tomemos fotos de flores. Gente, a coisa mais fácil e fazer uma foto bonita de flor. Vá até o florista da esquina, compra meia dúzia de flores, sente em casa com tripé uns dois rebatedores e uma iluminação furreca mas controlada e fará fotos vistosas. Quantas dessas eu já vi? Centenas, milhares. Vá ao jardim, pegue uma flor e fotografe. A flor é bonita, é colorida , a foto agrada á primeira vista. Mas.... Quantos segundos você lembrará da foto depois que parar de vê-la? Você a esquece imediatamente, pois não há nada nela que não seja confirmação da beleza fácil. O mesmo para pores-do-sol, etc.

A maior parte das pessoas não tem NENHUMA  formação estética. Elas não se educaram para isso, e é natural que não a tenham, e aí é o pior: por absoluta falta de humildade imaginam que têm aquilo que não pagaram para ter. Se são dentistas, sabem que tratar dos dentes foi aprendido. mas no terreno estético julgam que o Espírito Santo as iluminou no nascimento. na verdade, o Espírito Santo que as ilumina cotidianamente é a estética fácil da publicidade, e aí tornam-se não apenas reprodutores desta estética (e não criadores} como também passam a julgar o mundo e tudo a partir desta estética empobrecida.

Dizer que todos e cada um podem formular críticas válidas é o mesmo que dizer que cada um e todos podem com um alicate e uma chave de fenda realizar um tratamento odontológico. É achar que no campo da estética as pessoas nascem prontas, e aí não tem jeito, é tal o grau de convencimento que não se pode nem argumentar.

Se em nenhuma área a opinião do público destreinado tem valor, por que na área da estética teria?

Vejam bem, quando falo de crítica falo de algo que se pode considerar para mudar um ponto de vista ou um aperfeiçoamento pontual. Falando francamente, são raríssimas as críticas que vejo, não apenas a mim, desta qualidade. A maioria é completamente sem nenhum critério, é meramente o "gostei" correspondendo a "bem, isto está parecido com o que vi na revista, então é bom".

Quase nenhuma crítica que vejo escrita em fórins tem com preocupação a proposta do fotógrafo. Se tem uma cor que o cara acha que não está igual a da Canon, ele diz "a cor está estranha". Esquece que as cores dos filmes sempre foram em algum grau estranhas, mas tudo bem, o padrão novo é como sai da câmera digital, e aí o "estranho" é tudo o que foge ao padrão.

Noventa e nove por cento das cr´ticas só aponta em uma ffoto aquilo que o cr´tiico vê como defeito. Um "crítico" observa uma foto que tem diversas opções de fotometria, de composição de tratamento simbólico do objeto, etc, mas parece que só consegue ver que no fundo da cena tem uma garrafa que o incomoda. Tudo na foto ele resume à garrafa que seu preconeito estético diz que não deveria haver ali, pois não há garrafas fora de lugar em fotos publicitárias. Isso é profundamente vazio e tolo, é profundamente egóico, pois no fundo o que há é vontade de diminuir a produção alheia. Tudo pode ser resumido a "odiar o que não compreende"

A arte é para todos. Mas não é para todos em seu estado natural, mas para todos os que a mama e prodcuram acercar-se dela. Em anos passados em Friburgo fui a alguns espetáculos de música erudita lá. Ao mesmo tempo, aconteciam espetáculos de música popular. Uns tinha 2000 pessoas, outros 200 pessoas. Todos eram gratuitos, mas somente 200 pessoas queriam ir nos de música erudita, havia lugar para todos, em corerias, etc. Bem, ao fim e ao cabo, na hora de julgar uma execução, será que o cara que gastou seu tempo assistindo o "Tchan" tem o mesmo cri´terio dos duzentos que procuram assistir à dita música clássica? Isso é tolice. Vejam, ambos os espetáculos eram gratuitos, mas simpesmente a maioria não quer nada de difícil ou de mais difícil apreensão, então, sendo a arte para todos, nem todos a querem, e é bobagem dizer que esses que nunca a quiseram têm condição de formular críticas válidas.

---------------------

Alex. Os Impressionistas (não Expresionistas, isso já foi outro movimento que já encontrou as porteiras da arte mais abertas) foram severamente combatidos pela arte oficial. Sua produção não é devida a essa crítica, mas unicamente à persist~encia de um grupo em seguir suas verdades. É um caso clássico da História das Artes de ignoramento da crítica.


Ivan de Almeida

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Resposta #18 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:19:45
Exemplo de absurdo crítico.

Quando entrei no fórum BrFoto estava rolando um debate acirrado. O Danyel, fotógrafo que gosta de fotografar garotas e fazer books, havia postado umas cinco fotos de uma menina linda e muito bem fotografada. Todas as fotos ótimas, cores quentes, luminosas, com e discreto uso de rebatedores e enchimento, a menina em boas expressões, boas posaes, o fundo (binquedos em um playground) coloridos e alegres.

Pois bem, sabem qual a polêmica? Pois de tudo o que ele apresentou, em nível certamente superior à quela que quase todos os críticos tinha condição de fazer, a grande maioria só conseguiu dizer que em uma determinada fotodava para se notar a lente de contato azul que a menina por vaidade usava...

Entendem... pelo menos cinco fotos (era mais, era um ensaio) de excelente nível. Tudo o que havia de bom, os críticonão conseguiam dizer, mas foram procurar em uma foto o único defeito que conseguiram encontrar, e deram a esse defeito a isntância de julgamento de toda obra.

Desculpem-me  a sinceridade, mas isso não dá para levar a sério. Não dá mesmo. O Danyel, muito bem, parou de postar seus ensaios nos fóruns. Fez muito bem, pois receber esse tipo de iinsanidade coletiva ninguém merece. Infelizmente isso termina sendo o caminho. Há um momento em que não dá mais para lidar com esse tipo de manifestação redutora. No caso das fotos do Daniel, o que motivou tais críticas? Será que uma lente de contato em uma foto é parãmetro para julgar todo um ensaio? Não srá sintomático que tão poucas pessoas tenham conseguido elogiar o excelente trabalho e tantos se pegaram na lente para quase linchá-lo?

Eu mesmo já recebi tanta crítica sem pé nem cabeça que só mesmo ganhando casca para não me importar. O cara vi observar a foto como se fosse o jogo-dos-sete-erros. A ele parece não interessar absolutamente o que a foto tem de bom, só a sanha de encotrar um defeito para botar em relevo.

E achar que isso vale alguma coisa? PelamordeDeus. Isso é nada. Vejo a obra do Danyel. Ela é alguma coisa. Com lente aparecendo ou não, ela é alguma coisa.

Esse é apenas um exemplo dessa sanha irracional.

 


AluiZio

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Resposta #19 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:31:26
Subjetividades à parte prefiro comentar os trabalhos que vejo à
partir da forma como os sinto.
Até por que não me considero tão profundamente conhecedor de
técnicas fotograficas para fazer comentários sob estas luzes.
Um pouco de convivência com o mercado de arte que me obrigou a frequentar galerias,museus, ateliers, livrarias atrás de ver livros de arte que nem sempre meu bolso podia alcançar, me faz olhar as fotografias da mesma forma: como obras de arte.
Sendo assim sinto-me pouco à vontade para maiores comentários além daqueles que a minha satisfação pessoal produz.
Já recebi críticas sobre meus trabalhos, mas, nunca me deixei influenciar porelas exceto no tocante a encontrar alguma informação que me ajudasse a melhorar.
Acredito que aquele que se propuzer a fazer críticas deve, acima de tudo, possuir uma auto crítica aguçada sobre sua própria condição de crítico.
AluiZio -


Paulinho Cé

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Resposta #20 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:49:23
Ivan, permita-me uma pergunta bastante relevante: a sua crítica à minha série "A miséria humana" foi correta, no seu ponto de vista?
Pergunto porque não há nenhuma alusão às fotografias e sim um julgamento do título da série, que mesmo documental tem material fotográfico para ser analisado.
Não seria uma contraposição do que voce disse quando respondeu:
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Quem não preza suas idiossincrasias não é um criador, é no máximo um repetidor hábil. Quem só produz para agradar a todos não é um criador.
Provávelmente voce viu as fotografias mas contrariado pelo tema abordado limitou-se à condená-lo, revelando-se um crítico radical.
Não seria um sentimento igual ao que senti ontem quando fui criticado, o que voce está sentindo com as críticas à sua fotografia?


Um abraço

Paulinho Cé
« Última modificação: 12 de Setembro de 2006, 08:57:56 por Paulinho Cé »
Fotografe com a alma...<br />http://www.flickr.com/photos/paulinhoce/


Ivan de Almeida

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Resposta #21 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:50:55
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Acredito que aquele que se propuzer a fazer críticas deve, acima de tudo, possuir uma auto crítica aguçada sobre sua própria condição de crítico.

Disse tudo.

É preciso para criticar um extremo rigor e equilíbrio. Como venho dizendo aqui -e não sou compreendido, não sei porque- crítica não é co-autoria! nem mero jogo-dos-sete-erros de encontrar defeitos.


RFP

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Resposta #22 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:55:18
Como eu havia colocado, a crítica revela mais sobre o crítico do que sobre a obra em si. Revele seus preconceitos, sua capacidade de ser empático, de compreender, de aceitar, ou sua inflexibilidade, sua rigidez em relação às normas.

Publicando uma foto dentro do padrão publicitário, recebe-se uma série de elogios e produz-se algo pasteurizado, logo esquecido, vazio. Quando há na foto algo que subverte esse padrão, como uma garrafa fora de lugar ou a lente aparente, a leitura é mais difícil. O "incômodo" ao ler a foto é tratado como "erro", "defeito". Como se algo estivesse fora de lugar. Ora, é justamente essa fora de lugar que produz as fotos mais interessantes dentro de uma proposta mais ampla. Por conta da dificuldade, nem todos conseguem gostar, como nem todos gostam de música clássica.

Há outras fotos que, além de subverterem o padrão publicitário, subvertem a captura fotográfica em si. No livro do Arlino Machado há o exemplo dessa aqui, do Bill Brandt:

Nude - Bill Brandt

A iluminação produz um recorte que causa estranhamento, ao desprover a foto de uma perspectiva mais congruente. Olhando apenas a imagem, podemos fazer uma série de críticas técnicas, afinal, ela não obedece ao padrão ao qual estamos acostumados. Mas a volta que a foto faz em torno de si mesma, o estranhamento que ela causa, a ruptura com o próprio método, tudo de forma consciente e refletindo uma intencionalidade crítica do autor colocam essa imagem num patamar muito diferente do que qualquer retrato publicitário.


Guto Marc

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Resposta #23 Online: 12 de Setembro de 2006, 08:59:07
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Ivan, mas aí é simples: o artista só deve divulgar sua obra, circular e se relacionar com os "do meio", pois assim só receberá críticas baseadas na técnica.
Isso acaba transformando a arte numa ciência exata.

Se for observar, nas artes termina havendo isso mesmo.

Não são críticas baseadas na técnica, Guto, mas, cá entre nós, quantas pessoas voc~e conhece que são capazes de ouvir uma obra do John Cage e gostar? Não se gosta do Cage pela técnica, mas pela educação do ouvido para lidar com outras sonoridades.

Você acha que isso é problema do John Cage? Né não...

Agora, quantas pessoas são capazes de ouvir o Capital Inicial e gostar? Muito mais não é verdade? Mas e daí? isso faz do Capital melhor que o Cage? O Cage deveria fazer pop para ser popular? Ser popular é a medida da excelência artística?
Ivan, aproveitando seu gancho de música, já que sou músico.......

Detesto música clássica. Acho um saco..... não ouço. Sei a qualidade técnica envolvida e o alto nível de detalhamento de uma obra de Mozart, mas passo longe. Isso me faz menos músico, só porque não ouço a "música-mestre" ? Não acredito nisso.
E para mim a opinião de um leigo pode sim despertar uma nova visão que os técnicos e os "bitolados" não percebem.
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Ivan de Almeida

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Resposta #24 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:02:39
Paulinho:

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Pergunto porque não há nenhuma alusão às fotografias e sim um julgamento do título da série

Um homem se move em diversas esferas.

Acima da esfera da fotografia, há a esfera da vida humana. Eu não critiquei suas fotografias, pois me vi impedido de fazê-lo por uma premissa referente à vida humana.

O que eu lhe disse não foi uma crítica às fotografias. Aliás, nem falei delas. Falei somente que "miséria humana" não deve ser motivo de fotografia. As mesmas fotos sem essa conotação poderiam ser vistas como fotos que são, mas sob o rótulo miséria humana evidencia-se que é a miséria dos outros o interesse das fotos, e isso invade a esfera da vida humana em um sentido com o qual não concordo, e mais do que não concordar, sou obrigado a combater.

Ver todos os homens como iguais, não iguais na validade de suas opiniões sobre um assunto específico, mas idguais na existência, irmãos no mistério de existir, nas trancend~encias da vida, isso é para mim fundamental. Infelizmente, o que ocorre é tantos acharem que os homens são iguais naqueilo em que não são -na proficiência em que operam determinados conjuntos de símbolos- e não os verem iguais na humanidade ounde de fato são iguais.

Suas fotografias daquela série não são em si ofensivas ao humano, mas ao titulá-las de Miséria Humana você deslocou o centro de interesse delas. Não mais estamos vendo homens, iguais a nós no transe da existência, mas "miseráveis".

Podemos fotografar ricos, pobres, belos, feios, miseráveis, gloriosos, etc, desde que nossa fotografia seja do ser humano que são. Nesse sentido é que lhe disse que toda fotografia humana deve ser uma fotografia de afeto, que não podemos fazer da má condição de vida de alguém o interesse de nossa foto. Podemos sim retratar a vida de alguém, mas sem de antemão qualificá-la de "miserável".

Acima do ivan que fotografa, há o ivan que luta por humanizar suas relações com outros seres humanos, dentro do sentido que lhe falei de compaixão = co-paixão.

Nunca fazer de um ser humano um objeto. Nunca fazer de um ser humano uma coisa. Nunca fazer da vida de alguém uma caricatura.
« Última modificação: 12 de Setembro de 2006, 09:14:29 por Ivan de Almeida »


Ivan de Almeida

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Resposta #25 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:09:56
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Ivan, aproveitando seu gancho de música, já que sou músico.......

Detesto música clássica. Acho um saco..... não ouço. Sei a qualidade técnica envolvida e o alto nível de detalhamento de uma obra de Mozart, mas passo longe. Isso me faz menos músico, só porque não ouço a "música-mestre" ? Não acredito nisso.

Ninguém lhe obriga a gostar, mas é lógico que sua crítica á execução de uma peça clássica não será válida.

Não estou dizendo que você deve gostar de música erudita. Estou dizendo que se não lhe atrai, é evidente que você não pode se arvorar em crítico dela, não acha?

Isso mostra exatamente que nem toda crítica é válida. Para criticar música erudita é preciso conhecê-la, conhecer suas especificidades, etc. Do contrário, caímos exatamente nisso "acho um saco". O que isso pode significar para alguém que pratica música erudita? Nada. Ele está cansado de saber que a maioria acha um saco, e nem por isso mudará seu interesse ou maneira de executar.

A verdade, Guto, é que há um público para a música popular, há um público para Mozart e há outro para os concertos de Brandemburgo. O cara que gosta de múisca popular pode achar Mozart difícil, o cara que gosta de Mozart pode achar Bach difícil (e é exigente de ouvir mesmo), e assim vai, mas o executante de Bach não deve tentar transformar Bach em Mozart, nem o executante de Mozart "popularizar" sua execução.


Guto Marc

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Resposta #26 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:11:15
E só aproveitando já que o tópico está bem visitado:

Quem for criticar minhas fotos, sinta-se à vontade para achar defeitos, dizer como faria, o que mudaria, o que destoa e o que combina. Pode elogiar, meter o pau, o que quiser. Isso abre uma porta para debate.

Complementando:  Se o artista faz uma obra complexa, e quer mostrar para um público leigo, deve então direcionar e explicar sua obra.
Quer um exemplo ? A um tempo atrás vc postou uma foto de um garoto sentado em uma mesa com uma garrafa de coca-cola. Para você era uma experiência "xyz", envolvendo tais fatores. Para mim era apenas uma foto instant, com cores distorcidas e poluída de elementos. Isso faz de mim um crítico medíocre desconhecedor de fotografia ? Ou sua exposição da obra foi falha ? A culpa é só do crítico ou também do criticado por querer uma única interpretação de seu trabalho ? Volto ao meu ponto inicial, de que a arte existe para justamente instigar e aguçar sentimentos, e a liberdade de interpretação faz parte deste processo.
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Resposta #27 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:15:34
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Ninguém lhe obriga a gostar, mas é lógico que sua crítica á execução de uma peça clássica não será válida.
Discordo. Porque não ? Só porque não gosto ? Então só posso criticar o que gosto ? Mas tenho conhecimento musical, sei do que falo. Há uma contradição no seu ponto de vista então.
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Não estou dizendo que você deve gostar de música erudita. Estou dizendo que se não lhe atrai, é evidente que você não pode se arvorar em crítico dela, não acha?
Mesma resposta acima.......só posso criticar o que gosto ? Estranho....

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Isso mostra exatamente que nem toda crítica é válida. Para criticar música erudita é preciso conhecê-la, conhecer suas especificidades, etc. Do contrário, caímos exatamente nisso "acho um saco". O que isso pode significar para alguém que pratica música erudita? Nada. Ele está cansado de saber que a maioria acha um saco, e nem por isso mudará seu interesse ou maneira de executar.
Mais uma vez, discordo ( nossa, só discordo de vc, hein ? rs )
Você percebe que eu disse que acho um saco, mas reconheço a qualidade técnica envolvida ? Posso sim criticar, basta me ater a qualidade técnica, e não ao meu gosto pessoal.
 
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Resposta #28 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:23:49
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A um tempo atrás vc postou uma foto de um garoto sentado em uma mesa com uma garrafa de coca-cola. Para você era uma experiência "xyz", envolvendo tais fatores. Para mim era apenas uma foto instant, com cores distorcidas e poluída de elementos. Isso faz de mim um crítico medíocre desconhecedor de fotografia ?

Diria, Guto, que você analisou a foto dentro de um cãnone do que acha que é uma boa foto, sem observar exatamente o que havia naquela foto de arrajo estético e proposta.

Você observou com o viés "cores estranhas", "ambiente poluído". O que deveria ser então a foto? Cores "Canon", ambiente asséptico e limpo? A vida é assim? Não. O que é assim é a publicidade.

Eu diria que há aí certa pressa de vazar a foto observada no molde do hábito estético. Se tivesse parado e tentado observar a foto sem esse hábito, talvez encontrasse nela uma série de elementos interessantes, mas a análise rápida lhe fez achar que ela era não-conforme ao seu hábito e expectativa.

Antigamente, quando comprava LPs, o disco que eu mais gostava ao fim de um ou dois meses não era o que eu tinha gostado mais de cara. Em geral eu tinha de aprender o disco, enquanto o que eu gostava de cara saturava e enjoava. É preciso ter receptividade, do contrário nunca ultrapassamos a imediatez.

Aliás, é uma das fotos recentes que mais gosto. Apenas para lembrar, é esta aqui:



Apenas complementando:

Uma coisa é a pessoa ser receptiva, estranhar e perguntar: Ivan, por que você fez assim? E aí ela receberia uma explicação, que poderia concordar ou não mas abriria um viés de leitura. Outra coisa é dizer que tem uma garrafa de guaraná e isso invalida a foto.

O mundo que quero fotografar, Guto, não é o da publicidade. É o das mesas com garrafas e cinzeiros e o das estradas com postes. Eu quero reencantar o mundo, e não subetituí-lo por um muindo de arrumação publicitária.
« Última modificação: 12 de Setembro de 2006, 09:31:29 por Ivan de Almeida »


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Resposta #29 Online: 12 de Setembro de 2006, 09:27:56
Guto:

Não sofisme meu amigo -risos. Se não gosta e não tem o hábito de ouvir, é claro que não tem um vocabulário auditivo compatível com a música clássica para ter dela um juízo.

Dizer o contrário é um sofisma.

Se não gosto de vinho, não sei distinguir um vinho bom de um ruim.

Se não gosto de bebidas destiladas, toda bebida é ruim.

Se não gosto de arte moderna, o Picasso é tão ruim como qualquer outro.

Para criticar algo é preciso que a pessoa faça a crítica DENTRO DO GÊNERO da coisa. Se ela não gosta do gênero, sua crítica não tem nenhum significado.