Autor Tópico: Crítica fotográfica  (Lida 16219 vezes)

Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #45 Online: 12 de Setembro de 2006, 10:33:06
Citar
Ivan, eu posso nunca ter ouvido. Mas se me apresentarem uma música tcheca por exemplo e me pedirem para criticar, eu posso basear meus argumentos em compassos, notas, arranjos, melodia, riffs, etc.......

mas o significado da músuca não são os acordes, melodia, etc, mas uma sensação estética específica. os acordes, melodia são apenas a materialidade da mísica, os tijolos com os quais é construída. É a mesma coisa que você criticar uma construção pelo tipo de tijolo. Não faz sentido. Você vê o detalhe mas não vê o todo, e o todo para ser visto é preciso certa aproximação ideiológica e estética ao gênero.


Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #46 Online: 12 de Setembro de 2006, 10:41:56
Citar
Citar
....E nem por isso minha crítica será favorável.

Mas isso é óbvio. Nem toda crítica será favorável. Aliás eu acho que as melhores são as que apontam outras direções. Quem quer elogios só deve mostrar a obra para a mãe.....kkkk
Guto, há uma enorme diferença entre a pessoa querer elogios e querer que a crítica seja alguma coisa menos do que mera manifestação de preconceitos.

Vamos distinguir uma coisa da outra. Citei o exemplo do Danyel. Não sei se você lembra deste tópico no BrFoto. Se lembrar, saberá que foi assim mesmo, todo o ensaio dele, magnífico, reduzido a uma crítica idiota sobre a lente de contato da modelo. A grande maioria dos que se manifestaram foram incapazes de dizer que as fotos estavam ótimas, só falavam da lente de contato.

Isso, amigo, é menos que nada.

Não quero elogios, mas também não acho válido quando fotografo um poste e alguém diz que o poste está atrapalhando a foto do poste. Pode até dizer "Ivan, não gosto de fotos de poste". Mas evidentemente isso não é problema da foto, mas do gosto da pessoa. Mas dizer que o poste atrapalha a foto do poste revela que não houve um mínimo esforço para ir além da visão-padrão e sequer identificar de que era a foto. Perdoe-me Alex, citá-lo como exemplo, mas é fato o que digo.

Isso não é uma crítica válida, sinto muito.

Vai criticar? Ótimo, mas pare algum tempo observando a foto e não simplesmente fique procurando o que não gosta em uma foto. Isso é primitivo, e não saber lidar com a obra alheia.
 


Alex Biologo

  • Trade Count: (4)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 3.802
  • Sexo: Masculino
    • Olhares Dispersos
Resposta #47 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:13:57
Ivan, pelo que tenho lido a diferença em relação a crítica está no princípio.

Veja o artista pode ter duas maneiras de ver a sua obra.

a primeira é Pq determinado grupo não tem acesso ao meu pensamento? E ai analisar tudo oque se diz a respeito de sua obra e parecidas e entender exatamente o que leva a não ser bem aceito dentro de determinado grupo

a segunda é fechar-se dentro de um microuniverso e achar que só se deve produzir para um pequeno grupo.

Dentro disse provavelmente residam as diferenças entre correntes apresentadas aqui.

Sou do primeiro grupo, que vê arte como forma de discussão social entyão quero saber o que todos falam a respeito do que produzo, as impressões me são importantes, não pra que eu mude, tentando produzir pra um número maior de pessoas, mas sim para entender como a obra é lida e buscar interpretações escondidas a ponto de assim poder apurar mais minha linguagem artística e ter sim maior autocontrole do que produzo. Veja penso que como artista devo ouvir a cada pessoa que veja minha obra, pois se fiz a pessoa ter acesso a mesma é pq acredito que ela tem importância para a mesma, logo suas palavras ou impressões são impoprtantes pra mim.

Um exemplo, escrevi um poema a tempos atrás, onde brincava com a idéia das hors de claro serem mais curtas no inverno e associava a noite e o frio aos medos de uma mulher e a tristeza de um homem em não conseguir alcançar determinado tipo de amor. Era uma idéia na qual trabalhei bastante tempo, o poema ficou relativamente interessante nesse momento. Comcei a fazê-lo rodar por pessoas diversas (alunos, amigos, professores, outros poetas) e recebi de um aluno uma pergunta que me fez corrigir em duas estrofes algo que enriqueceu e muito o que eu estava falando, ele me disse: - Professor, essa frase aqui não está legal, não é assim que acontece, ninguém leva isso a sério.

Peguei a frase dele e as outras que recebi e fui pra cima do poema, pra ver se aquilo estava mesmo certo ou não, e depois de muito ler, e reler, de visualizar a cena e tal, vi que ele estava certo, que grande parte das pessoas que leriam o poema entenderia como ele, troquei o verso e confesso que o poema melhorou muito e reforçou a idéia que eu queria.

Você faz parte de outro grupo, o que produz para si e seus pares. Um grupo tão importante quanto o outro, muito mais ligado a técnica e forma que o anterior, que se apega a detalhes que interessaram mais ao grupo (e até por isso acaba definindo as regras de um movimento), só que de entrada mais restrita. Pq só se importa com o que o grupo pensa a respeito do que produz. E ai a sua obra passa a ser meramente contemplativa para grande parcela da população, pois foi pensada nessa forma, vejo na literatura alguns exemplos.

Joyce é contemplativo, com certeza ele não se importava com quem fosse ler o que escreveu, tinha já um público definido de pares que adoraria ler Ulisses, Saramago passou pelas duas fases, mas suas obras mais recentes têm-se tornado mais palatáveis a cmprensão geral e mais acessíveis a todos (que podem gostar ou não), mas segundo o próprio mesmo, ouvir as pessoas na rua falarem sobre a sua obra é uma maneira de fazê-la melhorar (lançamento mundial de As intermitências da Morte em 2005).

Se conseguirmos dividir a questão dessa forma, percebemos que ambos os lados estão corretos no que pensam, um que espera toda repercussão sobre seu trabalho e outro que só dá ouvidos ao seu próprio grupo.

A questão ai passa a ver a divulgação do trabalho, como fazê-la? Onde colocar o trabalho? Como lidar com as críticas que se recebe? Vale a pena mostrar o trabalho a quem não faz parte do meu grupo? Será que a obra do meu grupo já consegue ser aceita por uma parcela maior? Dentre outras perguntas viáveis

o outro grupo se pergunta: PQ estão lendo desse jeito? A forma está adequada ao meu público principal? Como minimizar o ruído comunicatvo? O local escolhido dá acesso ao meu público principal? Estou evitando as pessoas certas de verem minha obra? Dentre vários outros questionamentos
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
Fuji S5100
Pentax MZ-50
Canon 10D e 300D + lente  28-135 is Canon + lente 70-300 TAmron


Roberto O. Almeida

  • Trade Count: (0)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 1.423
Resposta #48 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:23:37
Se não é o conhecimento sobre o assunto, o que diferencia a simples opinião da crítica?


Alex Biologo

  • Trade Count: (4)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 3.802
  • Sexo: Masculino
    • Olhares Dispersos
Resposta #49 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:34:43
Citar
Se não é o conhecimento sobre o assunto, o que diferencia a simples opinião da crítica?
Roberto, eu vejo a opinião como um tipo de crítica e pro meu trabalho ela é importante. Afinal na minha obra a emoção é mais importante do que a forma. Veja por isso que no texto acima tentei relativizar as coisas, separar em grupos, até pra que se possa entender o que cada um espera quando mostra uma obra sua (independente da manisfestação artística).

O tipo de crítica que faço é o que espero receber, algo do tipo essa palavra incomoda nesse lugar ou essa flor na foto está muito feia, devido a isso, isso e isso.

É claro que a crítica de quem realmente conhece vai te dar informações de natureza diferente do que a opinião, mas dentro do MEU trabalho, ambas são importantes. Quando quero uma crítica mais embasada, simplesmente mando o material para determinadas pessoas. Quando quero opiniões, mostro ao maior número de pessoas possível
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
Fuji S5100
Pentax MZ-50
Canon 10D e 300D + lente  28-135 is Canon + lente 70-300 TAmron


Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #50 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:36:40
Alex, eu acho que voc~e sintetizou bem não digo auas correntes, mas duas tendências. Ninguém está em uma das posições de forma absoluta, mas em algum lugar dessa reta.

Mas minha tentativa aqui não é separar, mas tenar antes incorporar os odis lados da coisa e tentar uma reflexão sobre o processo de criticar que faza a crítica ser de fato válida e útil, em qualquer ponto da reta em que estejamos.

Creio que o dito pelo rRoberto é bem verdadeiro: é difícil criticar de forma relativamente isenta uma coisa com a qual antipatizo. Mas aí isso remte ao crítico, não à obra, a apergunta: "Por que antipatizo?"

Se tivesse de fazer um roteiro básico de minha própria maneira de criticar, seria algo assim:

1) Compreendi a i´dia básica da foto? Compreendi o que o fotógrafo quis fazer?

Se não compreendi, então não estou em posição de criticar. Primeiro devemos ter certeza que temos clareza a respeito do que foi tentado. É prciso compreender a proposta para a partir daí ver se ela foi perseguida com sucesso ou não.

Neste caso, não compreendedno a proposta, cabe perguntar. Por exemplo, agora mesmo no BrFoto me perguntaram "Ivan, voc~e sempre presta atenção á composição, por que deixou o poste na primeira foto?". Veja, Alex, é a mesma questão sua, mas enunciada de forma diferente. A pergunta demonstra que a presença do poste foi considerada, e a pergunta poderia ser reformulada em "Quais os valores que o poste acrescenta à foto?", ou "Por que fotografar um poste?". Isso abre um debate, não o fecha por rejeição. Nessa caso, a pessoa tenta entender o porquê, mesmo tendo estranhado.

2) percebida a inteção, a concepção geral da foto atende à intenção?

3) Os meios técnicos foram empregados corretamente em relação á intenção?


Para além disso,. podemos gostar ou não, e fazer uma análise simbólica da foto, mas já em um campo onde temos de vigiar bastante nossos preconceitos para que não interfiram em demasia.


helder84

  • Visitante
  • Trade Count: (0)
Resposta #51 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:45:57
Citar
Se não é o conhecimento sobre o assunto, o que diferencia a simples opinião da crítica?
Roberto, no meu ponto de vista criticar é examinar, apreciar ou até maldizer. E com isso, concluo que uma simples opiniao já é por si só uma critica (construtiva ou não)
:D


Alex Biologo

  • Trade Count: (4)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 3.802
  • Sexo: Masculino
    • Olhares Dispersos
Resposta #52 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:48:25
Ivan, compreendo o que diz, ai é que vem uma diferença de postura (decorrente da diferença de local na reta...rs).

Quando alguém me diz que o posto incomoda, o próximo passo pra mim é perguntar pq ou tentar dizer ele está ali devido a tais coisas, mas me diz pq tá te incomodando? entende?

Veja aproveitando o espaço, o que me incomodou no poste não foi ele estar na foto, foi ele estar li....rs Eu olhei a foto bastante tempo e ficava preso a área cercada pelos postes e fios, não conseguia me dirigir ao resto da imagem, ai comecei a me perguntar o motivo, fui pra estradinha no canto, ela tb me jogava pra fora da imagem. O estranhamento nesse caso foi o fato de pra mim a foto a todo instante me jogar pra fora dela ou pra apenas um pedaço, que o poste poderia estar nela é claro, que ela está bem fotometrada, mais claro ainda, que existem outros pontes de atenção na foto, também ficxou claro. Ao me expor daquela forma, esperava apenas que vc (e ai no caso foi o erro, pois esperei de vc o que eu faço) explicasse o que fez.

Como pra mim esses arroubos são importantes na concepção da minha produção, agi como gostaria que agissem comigo.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
Fuji S5100
Pentax MZ-50
Canon 10D e 300D + lente  28-135 is Canon + lente 70-300 TAmron


AluiZio

  • Trade Count: (0)
  • Freqüentador(a)
  • **
  • Mensagens: 258
  • Sexo: Masculino
  • D800 105 1:2.8G ED 28~300 1:3.5-5.6 G 50 1:1.4D
    • https://www.flickr.com/photos/aluizioderizans/
Resposta #53 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:55:27
Os comentários, tantos e tão vários, já estão parecendo voltas de 360 gráus .

Não consigo deixar de achar que os comentários estão se repetindo.

Mas, por favor, não leiam este comentário como sendo uma crítica, ok?
AluiZio -


LuizNdo

  • Trade Count: (0)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 4.407
  • Sexo: Masculino
  • Tente, invente.
Resposta #54 Online: 12 de Setembro de 2006, 11:59:35
Tendo cursado uma faculdade de Belas-Artes, posso dizer que a arte tem a crítica que merece.

Arte popular, tem a crítica do público. O fator de peso é o impacto emocional da obra, a dramaticidade da imagem, a emoção transmitida na música, o momento captado na fotografia.

Arte técnica tem a crítica dos especialistas. Aqui o que conta é a técnica empregada, é a precisão da pincelada, a complexidade do acorde, a nitidez da profundidade de campo, etc.

Mas na Arte uma coisa não exclui a outra e a bem da verdade elas se complementam para formar a arte. Separadas não passam de ensaio e testes.

O que o Ivan vem dizendo é importante para uma crítica técnica que nos ajude a melhorar nossos parâmetros fotográficos. Para que possamos fotografar com mais segurança, com mais certeza do que estamos fazendo. Para não ficarmos à cargo de "felizes imprevistos" nas exposições... que mais constantemente são infelizes imprevistos.

Por outro lado o "gostei" "não gostei" pode nos ajudar a apurar o senso artístico em captar momentos e emoções.
>> Belo Horizonte <<
Fotógrafo Entusiasta.
Sony P100
Canon 7D e XT + 18-55 mm + 75-300 mm USM III + Canon 50mm f1.8 + Sigma 10-20mm + Canon 100-400mm L IS + Adaptador de Telescópio!
Meu Flickr


Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #55 Online: 12 de Setembro de 2006, 12:04:52
Alex, veja bem, eu não tenho nenhuma bronca de você ou de qualquer colega devido a uma crítica ou a uma forma de crítica. No seu caso, menos ainda, pois é um bom e antigo companheiro daqui. Mas veja, poderíamos ficar por ali mesmo, mas preferi abrir um debate sobre a crítica em geral. Eu creio que criticar é como tudo, vamos nos tornando mais hábeis se prestamos mais  atenção ao que fazemos.

Se voltei ao assunto do poste é porque para mim, pelo menos da forma como foi expressa, a crítica me pareceu exatamente exemplificar uma visão pronta. Toda obra pode ser criticada e toda obra pode ser debatida, mas é preciso que nenhuma parte feche a porta.


Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #56 Online: 12 de Setembro de 2006, 12:07:31
Citar
Por outro lado o "gostei" "não gostei" pode nos ajudar a apurar o senso artístico em captar momentos e emoções.

O gostei franco é extremamente válido.
 


RenataV

  • Trade Count: (0)
  • Conhecendo
  • *
  • Mensagens: 91
    • http://renatavidaldacunha.multiply.com/
Resposta #57 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:06:28
Achei esse tópico bastante interessante e compreendi que existem pontos de vista diferentes entre as pessoas aqui, e me parece que muitas não compreenderam o ponto de vista dos outros, porque estão falando dentro de suas próprias esferas, o que me remete ao próprio assunto desse tópico, que acho que pode ser sintetizado em quanto se consegue compreender do outro, do que o outro quer dizer.
Creio que há que se separar que tipo de trabalho você faz, por mais que isso possa parecer estranho, mas o fato é que a grande pergunta sobre o aspecto crítico da fotografia, me parece, ao menos, é que se ela tem como proposta ser uma obra de arte. Veja bem, não é nem de longe a mesma coisa se falar sobre um trabalho técnico do que se falar de arte. Todas as críticas devem ser ouvidas? Sim e não. Há que se haver um filtro, claro, nem todas são válidas. E se se preocupar com o que o outro faria, se todas as especificações técnicas do que seria correto, se a luz é boa, se isso ou aquilo, é válido sim para quem quer ser um profissional no ramo, se quer um trabalho perfeito técnicamente. Aí sim, creio que essas preocupações são válidas. Agora se você está falando de arte, isso é algo completamente diferente. Arte não é algo que deva ser perfeito técnicamente. Existem obras de arte perfeitas técnicamente, mas creio que todas elas em seu tempo procuraram mostrar algo mais do que uma obra perfeita técnicamente. A obra de arte sim é um discurso tirânico do artista, é a subjetividade dele, o olhar dele sobre algo, é isso que a retira do lugar comum para um "posto" de obra de arte. Se você é um profissional, você é um cara que sim lida com o gosto do público, das massas, você sim deve ter um trabalho perfeito técnicamente, deve agradar aos outros, principalmente quem estiver te pagando para isso. Ou se por outro lado, você faz uma obra porque quer fazer algo perfeito de fácil gostar para ser elogiado, aí sim você precisa se preocupar com o que os outros vão gostar, aí você faz um trabalho para agradar aos outros.
Em todos os casos, críticas, boas ou ruins, são sempre construtivas, ensinam algo, pelo menos da forma como os outros lêem as coisas. Se vai se levar em conta a crítica ou não, aí são outros quinhentos. Daí, vai o filtro pessoal.
De qualquer modo, o caso do artista é completamente diferente, não estou dizendo que seja um cara egocêntrico (num sentido ruim do termo) que só vai se preocupar com ele mesmo e fazer algo só para ele, é claro que o artista se preocupa com o que os outros vão ver, mas não creio que seja do mesmo jeito que o profissional técnico. Enquanto o profissional técnico está preocupado em agradar, o artista me parece mais preocupado em mostrar um determinado olhar sobre algo que pode agradar ou não, ser compreendido ou não. É aí que reside a preocupação do artista, do que ele quer mostrar, do que ele vê, não se os outros vão aplaudí-lo de pé, embora isso seja sempre desejado e ninguém pode negar. Mas muito difícil mesmo, até mesmo porque se formos analisar bem os grandes gênios, grandes artistas não são exatamente aqueles que têm um trabalho perfeito técnicamente, eles podem até ter isso, mas são mais que isso, são o que têm algo diferente, a famosa idiossincrasia, são o que rompem com o padrão, com o comum que qualquer um pode fazer, são o que realmente têm algo diferente para mostrar e que pode nos tocar de alguma forma.
Além disso, o desarmônico é importante sim, mas isso é uma concepção pessoal, baseadas em várias convicções sobre o mundo atual. Só que nem todo mundo sabe "usar" o desarmônico e nem sempre se quer usá-lo. Só que em determinadas obras, ele é tão fundamental que se pode dizer que é a própria obra, a própra razão desta existir. Como uma novela, há de se ter um conflito no meio que possa ser arranjado no final.
Fotos de flores, por exemplo, com toda certeza são as mais fáceis de fazer e ficarem lindas, a própria flor é uma representação de senso comum de beleza. O que mais vemos é foto de flor, flor em todos os lugares, eu mesma adoro fotografar flores. Mas o que difere fulano de beltrano em relação à foto da flor??? Ah, todas perfeitas técnicamente, ou uma mais do que outra, não importa, o que vai fazer com que você se lembre daquela pessoa por causa daquela foto de flor. É um retrato simplesmente de algo, ou o artista imprimiu naquela foto sua idiossincrasia? Ele mostrou algo diferente, ele teve um olhar diferente? Há alguma singularidade naquela flor que permita ser lembrada? Acho que aí reside o artista. Veja, passei há um tempo um link de fotos de uma artista espanhola. Há fotos lá, entre muitas outras dignas de nota, de árvores de galhos secos que ela chama de nus. Não são nus no sentido só de galhos nus, há nus nos retorcidos dos galhos, no ângulo que ela pegou, que ela viu. Olhe bem para aquelas fotos, além de serem completamente diferentes do pasteurizado, do mais comum, você verá algo mais, um olhar singular e acho que essa é a grande beleza da fotografia de forma geral, a de permitir não só gravar memórias, como a de mostrar o que você viu ali, como você viu aquilo ali.
Sobre formação para entender uma obra, acho novamente que sim e que não. A obra em si é aberta para o público geral. A pessoa precisar ser formada para gostar de algo é um pensamento comum largamente publicado, mas acho realmente uma bobagem, uma pretensão, e algo totalmente artificial, como toda generalização, é absurda. Embora concorde que para a grande massa, a maioria que não teve uma educação um pouco melhor, seja difícil compreender a singularidade, a beleza de determinada obra. Concordo, existe sim cultura de massa, o pasteurizado fácil de gostar da era da reprodutibilidade técnica. Mas há sim pessoas que sem a menor "formação" são capazes de entender aquela obra e apreciá-la, ou não, porque mais que tudo uma obra de arte é algo que conversa com nosso íntimo, com a alma das pessoas. O que ocorre é que nossos ouvidos e olhos atualmente estão destreinados, não temos tempo para sermos reflexivos, introspectivos, conversar com uma obra de arte. Acho que a formação é um clique, um despertar para aquilo na cabeça da pessoa, ajuda, mas não é essencial. Além disso, uma pessoa não formada pode gostar mesmo não tendo todo o conhecimento técnico e teórico, a história da arte, etc para compreender porque aquilo é singular, mas pode perceber que é singular de alguma forma. Entretanto, uma pessoa que gosta somente porque conhece toda a história da arte e sabe que aquilo é singular, é um gostar diferente, técnico, quase matemático. E nem acredito que porque a pessoa é "formada" para aquilo que deva gostar daquilo, num sentido "sou muito cabeça para gostar de cultura de massa" ou pior "só quem gosta de arte é o homem superior culto", ou pior ainda "porque sou culto só posso gostar de algo erudito chamado, dito culto", o que novamente é outra pasteurização. Se olhar bem, estão novamente dizendo a você o que pensar e gostar. Não estou dizendo que seja o caso de ninguém aqui, pelo amor de deus, mas é que é a coisa que mais vi acontecer com as pessoas. Quando estava no mestrado, por exemplo, a coisa que mais me entediava eram pessoas que não conseguiam pensar por si mesmas, só sabiam repetir pensamentos dos outros, dos reconhecidos pensadores, repetiam técnica e teoria, mas não sabiam inovar, criar, pensar por si, nem aplicar aqueles pensamentos e relacioná-los. Não era novamente uma pasteurização? Alguém disse que aquele cara era bom e você acredita e repete o que ele diz, gosta do que ele diz. Mas não há exatamente uma reflexão profunda sobre o que ele falou, não há um diálogo entre o seu eu subjetivo e a subjetividade exposta daquele pensador. Não é um concordar com reflexão, veja bem, existia para aquelas pessoas uma diferença, a maioria não estava concordando e repetindo porque tinha refletido, mas sim porque tinham dito que era legal pensar aquilo, que a teoria era aquela. Daí a pessoa não conseguia aplicar aquele pensamento, dialogar com si mesma e com outros fatos. Simplesmente não conseguia pensar por si mesma. E é o que ocorre com a maioria absoluta das pessoas, aliás posso dizer até que com todos nós, em muitos ou poucos momentos de nossa vida, só vai variar mesmo a capacidade que podemos ter de pensarmos por nós, termos "auto-crítica" e uma crítica dos outros bem fundamentada num diálogo das subjetividades, isso sim acredito que seja uma crítica bem-feita.
Beijinhos


LuizNdo

  • Trade Count: (0)
  • Colaborador(a)
  • ****
  • Mensagens: 4.407
  • Sexo: Masculino
  • Tente, invente.
Resposta #58 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:23:47
Arte se faz de emoção e técnica.

Emoção pura é a mãe coruja.
Técnica pura é o engenheiro.

O artista está nesse meio termo tentando abraçar as duas extremidades. Não é atoa que uma técnica apuradíssima é dita como 'estado de arte', pois ela arranca adimiração, emoção.

Nem sempre o artista está em busca do ideal estético. Às vezes ele quer ressaltar um valor técnico, contestar um ponto de vista, protestar contra algo ou simplesmente divagar e perder-se num ponto que lhe agrade.

É importante o crítico conseguir captar isso. Mas geralmente a obra se torna tão fechada que é preciso conhecer o artista e suas idéias para entender a própria obra. E é nessas horas que a obra pode ser relegada ao ostracismo por ignorância.

Esse é um ponto delicado, pois a arte merece o público. Mas o público carece o entendimento da arte. Se ela tem a necessidade de algum conhecimento específico para ser apreciada (biografia, técnica ou ideologia), ela corre o risco de ser ignorada.

------------------------------------------------------------------------------------------------

Se eu postar fotos de Céu e alguém me dizer que não gostou porque não acha graça em fotos de Céu e Núvens, porque eu deveria ligar para isso? É o gosto pessoal dela. Nem sequer é uma crítica.

Já se alguém disser que não gostou porque não está nítido ou não está com boa fotometria, será uma crítica técnica. Essa pode realmente ajudar a apurar o trabalho fotográfico.

Se alguém disser que não gostou porque a foto não tem dinamismo, movimento, composição ou cores que cause algum efeito, será uma crítica estética que também pode ajudar a aprimorar o olhar.

Gostar, ou não, é opinião subjetiva.
Ela pode vir acompanhada de alguma explição/sugestão/crítica, e essa exige um pouco de conceito para ser traçada.

------------------------------------------------------------------------------------------------

Eu não gosto de Pagode, Axé, Forró. Pra mim é tudo ruim e pronto.
Só alguém envolvido no meio poderia classificá-los, definir o melhor e o pior, dizer quais tendências existem, etc...
Me restrinjo a dizer que não gosto de nada disso e pronto.

Quem não entende de fotografia costuma dizer o mesmo das fotos que tiro à título de teste. São "fotos sem graça" até que eu explique o que eu pretendia com elas... daí muda para "Oh, que foto interessante".

Obs: Não adianta ninguém tentar me explicar sobre Pagode, Axé e Forró porque não há a menor chance de eu apreciar essas músicas.  :boxing:  
>> Belo Horizonte <<
Fotógrafo Entusiasta.
Sony P100
Canon 7D e XT + 18-55 mm + 75-300 mm USM III + Canon 50mm f1.8 + Sigma 10-20mm + Canon 100-400mm L IS + Adaptador de Telescópio!
Meu Flickr


Ivan de Almeida

  • Trade Count: (1)
  • Referência
  • *****
  • Mensagens: 5.295
  • Sexo: Masculino
  • . F o t o g r a f i a .
    • Fotografia em Palavras
Resposta #59 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:25:34
Muito boa análise, Renata.

Toda a questão é que o criador (evito falar artista), tem de equilibrar-se entre suas idiossincrasias e a mínima comunicação.

É certo que não -é preciso formação para gostar de algo, entendendo formação no sentido estrito. mas é preciso pelo menos uma predisposição de personalidade que em si é também uma formação.

Alguém que diz ser determinado tipo de criação "um saco" não está aberto a diexar-se conduzir pela coisa, já de plano opóe resitência.

Citar
Em todos os casos, críticas, boas ou ruins, são sempre construtivas

Não é verdade. Somos todos uma psique, e estamos todos sujeitos a um balanço emocional. Dizer que toda crítica é contrutiva, até a mais rasa e destrutiva eclipsa o fato de haver um patamar mínimo de admissiblidade da cr´tica, exceto naturalmente para o Buda, que por certo não temos a pretensão de sermos.

A crítica construtiva é aquela que respeita o protocolo das interações humanas baseado na atenção ao outro. Não é o caso de dizer "qualquer crítica é boa, a pessoa é que tem de lidar com ela". Dizendo isso, todo o debate é inútil, pois não se contempla aqui nem a possibilidade de educarnos para a crítica (para fazê-la), remetendo o problema ao criticado apenas.

A crítica que não leva em conta a especificidade da obra não é construtiva, aliás, nem destrutiva, é somente inútil e desagradável.

Criticar de verdade, ser atento ás interações humanas dá trabalho.