Autor Tópico: Crítica fotográfica  (Lida 16217 vezes)

Carlos Magalhaes

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Resposta #60 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:27:18
Essa discussão me lembrou de uma nota extremamente irônica dos diários de Carlos Drummond de Andrade:


“Aturdido, leio no jornal o artigo em que se analisa um de meus poemas à luz das novas teorias lítero-estruturalistas. Travo conhecimento com expressões deste gênero: ‘dinamismo dos eixos paradigmáticos’, ‘núcleo sêmico’, ‘invariante semântica horizontal’, ‘forma de referência parcializante e indireta’, ‘matriz barthesiana’... O poeminha que me parecia simples, tornou-se sombriamente complicado, e me achei um monstro de trevas e confusão” (Carlos Drummond de Andrade. O observador no escritório).

Acho que a crítica da crítica que o Drummond faz mostra que a crítica interessa muito mais ao próprio crítico e que, como disse o Rodrigo, diz muito mais sobre o crítico do que sobre a obra criticada.

Estando a obra publicada, estará, inevitavelmente, aberta às críticas. E as críticas virão das mais diferentes direções e se pautarão pelos mais diferentes pressupostos interpretativos (conscientes ou inconscientes).

Obviamente cabe ao autor determinar o que lhe interessa ou não em relação às críticas que recebe. No limite, pode concluir que nenhuma crítica interessa. Aqui leva vantagem o amador, que não precisa, a rigor, agradar a ninguém. Quem não pretende vender as suas obras e não se interessa por reconhecimento ou prêmios pode simplesmente fazer o que bem entender.

Um ponto que me parece importante é a distinção entre a crítica externa e a crítica dos pares. Na nota do Drummond há uma ironia contra a crítica acadêmica ou academicista. Uma crítica externa que procura enfiar pela goela do autor questões que não são do seu interesse e que não lhe ocorrem no momento em produz as suas obras.

No caso das críticas dos pares, a relação pode ser mais sutil. Uma obra pode representar a crítica a uma outra escola estética. Pode haver um diálogo interessante. O autor pode levar a crítica dos pares em consideração não para se adequar àquilo que querem, mas para romper com os critérios que não aceita. Para ficar com o Drummond, não teria sido o que ele fez ao publicar o poema “No meio do caminho”?

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
               tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.  

Nunca me esquecerei desse acontecimento
  na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
               tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

 
Carlos Magalhaes
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Ivan de Almeida

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Resposta #61 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:47:51
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Se eu postar fotos de Céu e alguém me dizer que não gostou porque não acha graça em fotos de Céu e Núvens, porque eu deveria ligar para isso? É o gosto pessoal dela. Nem sequer é uma crítica.

Mudando um pouco o ponto de vista... Se você não gosta de fotos de céu, por que diabo de motivo você se acha obrigado a dizer isso ao autor? Não será uma mera descortesia? Eu acho que sim, pois a expressão de adversões puramente arbitrárias sobre a produção de alguém, desembasadas de tudo, somente manifestando um capricho, não me parece gesto delicado.

Veja, você mesmo diz que isso nem crítica é, de modo que o "crítico" se dá à liberdade de ser somente desagradável expressando um preconceito estético inútil...

Gente, é exatamente isso que digo ser descabido.

Então, vejamos... Temos de achar válido que o c´ritico a respeito de algo que não gosta (do gênero) expresse isso, sem haver nisso nada de construtivo (como se disse em outra mensagem que toda crítica é construtiva, e essa eidentemente não é), e cabe ao criticado unicamente achar a coisa mais natural do mundo que seja assim?

PelamordeDeus! Assim, volto a dizer, o que se quer preservar é somente o direito de dizer coisas desagradáveis aos outros, e não a crítica mesma.
 


Loas

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Resposta #62 Online: 12 de Setembro de 2006, 13:48:13
Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade
 


Ivan de Almeida

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Resposta #63 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:06:57
Leila.

A todo momento me parece que eu tenhomde reestabelecer o sentido do tópico.

Nós vivemos em uma comunidade. Uma comunidade tem regras escritas, regras implícitas e um segundi nível de regras que é o da cortesia.

Esse segundo nível de regras é fundamental, pois os contatos humanos são de natureza afetiva, e é através da cortesia que eles se constituem bons afetos.

Não se trata aqui de escolher qual metade da verdade nos agrada mais, conforme nossa miopia. O caso é que seja qual for a metade da verdade que nos interessa, devemos usá-la dentro das regras da cortesia evitando a pura manifestação de opiniões desagradáveis sem sentido.

Veja, eu, por exemplo, não gosto de fotos de pôr-do-sol. Posso gostar de uma ou de outra, mas no geral não me estimulam. Seria cabível, você acha, que a cada colega que postasse uma foto de pôr-do-sol eu viesse dizer isso para ele?

Não seria. Seria desagradável e inútil, pois o colega está fazendo aquilo que quer fazer, em um processo onde aquela feitura interessa a ele.

Eu poderia dizer, de forma soberba: "apenas exprimi minha opinião! Esse é o meu gosto, e quem mostra uma foto tem de estar disposto a ouvir críticas!". Bem, eu estaria revestindo minha falta de cortesia de discurso objetivo, fingindo ignorar que esse tipo de comentário é na verdade agressivo.

Então, volto ao ponto: para criticar é preciso entrar no jogo da obra e criticar de dentro do jogo. Se não queremos entrar no jogo, aí criticar é somente ser desagradável.

Se trouxe esse assunto aqui é porque muitos de nós convivemos em fóruns já há algum tempo, e creio que certas coisas que no início são possíveis tornam-se impossíveis depois. Será que é um bom projeto para uma comunidade que se alimenta de críticas e opiniões mútuas o projeto de validar críticas que são somente manifestações desagradáveis de um gosto sem análise? Sinceramente, eu acho que não, e eu mesmo evito fazer esse tipo de crítica.

Acho, sim, e concordando com o Carlos, que o problema da crítica é mais do critico que do criticado. Mas as críticas repercutem sobre todos, seja fromando opiniões, seja validando preconceitos estéticos, seja mesmo desagradando inutilmente o criticado sem nada contribuir. Criticar é um ato de extrema atenção, e não essa manifestação caprichosa. Desculpe-me a sinceridade, mas parece haver em algumas críticas uma espécie de gozo secreto em ser desagradável, como se a cr´tica fosse um espaço social onde ser desagradável fosse lícito. Não é, Leila. Exatamente por ser coisa tão delicada, é exatamente onde a verdadeira crítica negativa, quando há, precisa ser embalada em algodão para diminuir sua capacidade de incomodar.

 


Alex Biologo

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Resposta #64 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:07:55
Carlos e Leila  :clap:  :clap:  :clap:

Esse é o meu MESTRE Drummond rs

Ai está um cara que eu invejo muito, queria escrever um décimo do que ele escreve, já me sentiria um grande escritor
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Loas

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Resposta #65 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:22:18
Ivan me desculpe, acho que vc não me entendeu, em nenhum momento eu quis  brincar nem deturpar o tópico. Acho apenas que esta poesia define bem o que é a crítica, A crítica  só pode existir com base no que vivemos e sentimos.
A verdade existe a partir de nós mesmos, e acho que o que o poeta quis dizer com miopia , pelo menos é o que entendo pelo que vivi e senti, é que miopia seria o que vemos depois de procesarmos nossos sentimentos.
Não é uma crítica a ninguém, eu sempre fui partidária daquele  lema : mesmo que não concorde com o que o outro diz , eu luto até o fim para que ele tenha o direito de dize-lo.

O que eu quis falar com a poesia, foi que a critica só existe a partir de vivências , de preconceitos ( eu tenho preconceito contra alface e cenoura , por ex), de dores e  amores. O que a gente vive é que cria a miopia emocional de cada um. O que somos é o que determina o que amamos, o que odiamos. O modo que criticamos os outros  vem do que vivemos.

Ivan desculpe mais uma vez se de alguma forma te deixei chateado, indignado, irritado ou qualquer outra coisa. Não foi minha intenção arranhar os sentimentos  de ninguém, apenas achei que o Drummond ( minha paixão , ele e o Konrad Lorenz) saberia dizer o que penso melhor que eu.

Bj


Guto Marc

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Resposta #66 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:31:59
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Eu analisei a foto do jeito "puro". Foi como disse: se você antes da foto colocasse:

"Fiz essa foto pensando em como a distorção da lente aliado a um ambiente complexo pudesse retratar a ambiguidade de fatores. Incluí um Guaraná "Champagne" e um pedaço de um logo "Skol" para mostrar as bebidas na sociedade moderna e sua influência nos jovens. O reflexo da luz na janela funciona como uma auréula na cabeça do jovem, como que se ele fosse um anjo alheio ao consumismo do capitalismo dos engradados e alcoólicos, e ao mesmo tempo é a representação do sol iluminando seus pensamentos. Ao mesmo tempo, metade da janela aberta traduz a vontade de fuga, sempre com ressalvas."


Mas guto, sem querer ser chato e já sendo -risos.

Não é isso. É o seguinte...

É uma foto de composição dura, complexa, onde eu não mexi em nenhum elemento do cenário, mas apenas olhei para eles de certa maneira e vi certo potencial. Ela retrata uma pessoa comum -meu filho- em uma mesa de restaurante sob a luz ambiente a qual, como luz artificial que é, dá tons às cores que não são aqueles que habitualmente percebemos.

O conjunto da composição dura, da luz dura, das cores e posições da coisa cria um certo estranhamento que é exatamente o interesse da foto. A mancha amarela da reflexão da luz na prota azul aumenta a estranheza, sendo assim uma foto pacata -pois meu filho está com uma exprssão calma- e uma foto estranha.

Ela tem uma dureza enorme de contrastes, quase como uma foto em PB, mas em lugar do PB tem essas cores estranhas derivadas da iluminação.

Não há na foto nenhuma outra mensagem além dessas, creio. Eiu  não quis dizer nada nem simbolizar nada, só criar uma composição que tenha certo grau de incômodo que assim obrigue o observador a um tipo de atenção diferente.
Legal Ivan...... sua explicação para a foto é interessante.
Mas percebe que a minha também se aplica ? Isso que estou dizendo....... uma obra de arte quando não está "explicada", abre portas para interpretações diferentes daquela proposta pelo autor. Isso é errado ? eu não acho....... para mim isso pode valorizar o trabalho, e até servir de inspiração para um novo projeto do artista.  :)
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Bucephalus

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Resposta #67 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:34:38
O artista é o dono do carro que não sabe o caminho pra festa. O crítico sabe o caminho da festa mas não tem carro. Ou alguma coisa assim... o que importa no fim das contas é que os dois vão ficar em casa.


Guto Marc

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Resposta #68 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:34:53
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Ivan, eu posso nunca ter ouvido. Mas se me apresentarem uma música tcheca por exemplo e me pedirem para criticar, eu posso basear meus argumentos em compassos, notas, arranjos, melodia, riffs, etc.......

mas o significado da músuca não são os acordes, melodia, etc, mas uma sensação estética específica. os acordes, melodia são apenas a materialidade da mísica, os tijolos com os quais é construída. É a mesma coisa que você criticar uma construção pelo tipo de tijolo. Não faz sentido. Você vê o detalhe mas não vê o todo, e o todo para ser visto é preciso certa aproximação ideiológica e estética ao gênero.
Usando sua analogia, se os tijolos estiverem tortos, a construção inteira pode ruir. E só quem olhar de perto e for crítico o suficiente para reparar nos tijolos que perceberá a fragilidade da construção.
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Ivan de Almeida

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Resposta #69 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:40:39
Leila

Eu que peço desculpas pela incisividade da respota.

Isso talvez seja um traço meu, não totalmente positivo, o de ser enfático demais ao debater. A ênfase não significa irritação ou chateação, ao contrário, adoro o contraditório. E às vezes insiro em uma respota algo relativo ao debate geral.

Não me chateei nada e espero não ter lhe chateado também ao responder.
« Última modificação: 12 de Setembro de 2006, 14:53:37 por Ivan de Almeida »


Loas

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Resposta #70 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:52:49
Ivan, sinceridade  nunca vai me deixar down de maneira alguma.

Vc é o Ivan por ser enfático, exigente consigo mesmo e sem muita paciência com besteiras  :thmbup: , tá certíssimo.

Eu sou a Leila , por ser teimosa, implicante  e não conseguir ver nada sem tomar um partido, até em jogo de bolinha de gude eu torço por um lado

Bj


Ivan de Almeida

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Resposta #71 Online: 12 de Setembro de 2006, 14:55:07
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Eu sou a Leila , por ser teimosa, implicante  e não conseguir ver nada sem tomar um partido, até em jogo de bolinha de gude eu torço por um lado

Bj
E assim que é legal -risos.


RenataV

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Resposta #72 Online: 12 de Setembro de 2006, 16:05:28
Oi Ivan!
Tem toda a razão, me expressei mal quando falei sobre as críticas. O que quis dizer, na verdade foi que a crítica é construtiva (na verdade, a melhor palavra seria útil) a partir do momento que aprendemos sobre a leitura do outro. Se o outro é simplesmente desagradável e/ou preconceituoso, é algo que aprendo sobre ele. De qualquer modo, acho que sempre SEMPRE deve haver um filtro através do qual passam todas as críticas, positivas e negativas, inclusive a própria.
Se é algo interessante colocado de forma contextualizada sobre técnica, estética, subjetividade etc, enfim algo que tenha a ver com a proposta do trabalho, um debate bacana e enriquecedor, maneiríssimo! Sempre se aprende com isso, mesmo que eu não concorde, e/ou queira fazer de outro jeito ou mesmo que leve em consideração a proposta do outro e coloque nela o olhar pessoal. A troca de informações, perspectivas e conhecimento é sempre boa, é a interação do artista ou criador e sua obra com o público.
Agora, uma pessoa descortês nem deve ser levada em consideração se se mostra apenas preconceituosa, invejosa e/ou desagradável. Mas acho interessante saber que é esse tipo de pessoa, a partir disso, essa pessoa vai ganhar um novo filtro para mim. Ufa, foi mais ou menos isso que quis dizer sobre críticas, vejo utilidade sempre, levando ou não em conta para o próprio trabalho criticado.
Beijinhos
Renata