Talvés seria interesante se tivesse início uma cobrança a mais por parte das pessoas que fazem Casting. Podem pensar que eu estou viajando querendo um mundo perfeito, mas se quem faz casting cobrar da agência fotos "fora de série" talvez ajudaria todo mundo, até mesmo a modelo que acabaria gastando mais do que o comum praticado hoje em dia, mas em contrapartida teria chances muito maiores de trabalho.
Claro que isso não é tão simples e mexe com a "cultura" do Brasil de preferir o mais barato mesmo se isso signifique ter menos qualidade. Afinal... "Foto é tudo igual né".
Acho que você está vendo a coisa por um lado "romântico" que eu, aliás, concordo. Mas quando você está escolhendo uma modelo para um anúncio não interessa se a foto é do grande K7 ou foi feita pelo vizinho com o celular. Você está atrás das expressões da pessoa, não apenas da sua beleza. isso que as agências nnao entendem e só socam fotos tipo editorial de moda nos books.
Um book, na minha opinião, deveria ser mais ou menos assim:
Começar com uma ou duas páginas 20x30 só com expressões do rosto da modelo, variando penteado e maquiagem. Plano fechado, fundo branco mesmo, close de rosto. Eu quero ver o sorriso, se ela passa verdade no olhar ou se é só bonita - a maioria das vezes beleza só não resolve nada.
Na sequência, umas quatro páginas de como ela se expressa com o corpo. Pode ser fundo infinito, ela de collant (aqueles de bailarina), saltando, andando, girando, sentada no chão, numa cadeira, deitada num sofá, numa cama. Fotos dela segurando coisas - pra ver a mão, como ela lida com objetos. O básico do básico.
A partir daí, fotos SOLTAS/ARTÍSTICAS dela com produções de roupa casual, biquini, noite, etc. e, também, dia-a-dia. Nesse ponto, produção de ambiente não conta, o que vale mais é a expressão da modelo, se ela sabe vestir uma roupa, usar o corpo, segurar uma xícara ou um copo, se não roe as unhas. POR ISSO O FOTÓGRAFO É IMPORTANTE!! Você pode ter uma boa foto sem uma produção cara. E aí entra forte o lado artístico, a competência de cada um. pode ser na cozinha da sua casa. Se a foto captar o que a modelo pode render, tá valendo.
Mas pra isso, a modelo tem que levar jeito pra coisa e, aí, está um ponto que vai contra a massificação. Se a agência selecionar muito, fica sem aquelas que "pagam para entrar", o que é uma fonte de renda também. Aí, nivela-se por baixo para todas ficarem no mesmo nível e, as que realmente se destacarem passam a ter um tratamento especial e um comando maior sobre o que vai ou não no seu book. Seleção natural?
Esse tipo de book que se baseia em produção ou mesmice é a maior roubada. Primeiro, porque todo mundo fica com a mesma cara e você não sabe quem é quem. Depois, por causa disso, você entra em cada fria que dá vontade de jogar o pessoal da agência pela janela. Você acha que a modelo vai fazer uma coisa e a coitada parece manequim de vitrine, você praticamente tem que colocar ela na posição que quer e, mesmo assim, não consegue uma expressão.
Eu também acho que pode e deve ser diferente, cansei de falar isso com os fotógrafos, que são quem se comunicam com as agências, mas elas não estão nem aí. Eles matam o mercado deles. Teve uma época em que os cachês, mesmo para as que estavam começando, eram absurdos, inviabilizavam qualquer produção. O que aconteceu? Os bancos de imagem sacara isso e aprimoraram MUITO as suas imagens de pessoas. As agências sífu legal, mas aprenderam. Hoje são mais flexíveis e os cachês menores. É melhor ter gente trabalhando por mil reais do que esperando alguém que pague cinco mil. Mesmo assim, o espaço que elas - e os fotógrafos e todo pessoal de produção - perderam para os bancos de imagem é irrecuperável a menos que os cachês sejam revistos mais uma vez. Tinha produção que o cachê da modelo (nenhuma top...) era maior que o do fotógrafo (bom) e da sua equipe! Parece a indústria fonográfica: o CD da trilha sonora custa mais caro que o DVD duplo do filme, sendo que a trilha sonora está no filme e tem muito mais gente envolvida na produção do filme que na da trilha!!! Vai entender!!!
...Key Magazine, revista com 160 páginas e preço de capa R$20,00 impressa em papel couché fosco 115g e com várias apliacações de veniz localizado e tiragem de apenas 10.000 exemplares. Acho que posso afirmar com toda a segurança que a Key tem uma receita infinitamente menor que a Veja e muitas outras revistas. Mesmo assim no exemplar que eu tenho aqui 46 das 160 páginas são com algum tipo de editorial e tem poucos anunciantes, mesmo assim a revista vêm sobrevivendo. Utilizando material de 1ª para imprimir e com fotos muito bonitas em seu editorial.
O lance aqui é o tamanho. A Key tem uma receita infinitamente inferior à da Veja, mas não é isso que pesa. O que pesa é a estrutura dela, que certamente é infinitamente inferior também, por isso ela pode ser mais rentável proporcionalmente. Se eu ganho 1000 mas gasto 900, eu sou menos rentável do que quem ganha 250 mas gasta 100.
Os dados que eu vou passar agora não são os mais atualizados, mas são os que eu tenho de uns três anos atrás. Uma revista desse tipo custa, na parte de impressão, entre 15 e 20 mil reais. Não tenho um valor para distribuição. Coloque sobre isso o quanto você quer ganhar e monte sua equipe com a tabela do sindicato (
http://www.sjsp.org.br/index.php?option=co...id=29&Itemid=48 ) para fotos (mesmo as de banco de imagens são mais baratas para editorial), dois jornalistas, 1 diretor de arte e um assistente, uma pessoa para tráfego, uma como art-buyer, boy, aluguel de sala e já tem gente demais para fazer uma revista mensal tipo essa e várias outras semelhantes. Muitas das matérias podem ser compradas de agências de conteúdo ou mesmo de outras publicações.
Vamos dizer que eles cobrem 10 mil reais por página simples (baratinho, já com desconto) e 18 por página dupla e verso de capa. Os outros formatos você calcula a partir de frações do preço da página simples. Pegue o exemplar que você estava folheando e faça o dever de casa para ter uma idéia da receita deles. Fora que muitas dessas revistas são montadas por pessoas bem relacionadas que querem mais é se beneficiar com as permutas...
A verdade é que aqui no Brasil todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer morrer. O meu bolso vem antes do seu e eu te empurro qualquer coisa, eu me especializo mais em vender porcaria do que produzir qualidade - que seria mais fácil de vender pois se vende sozinha, mas eu não lucraria tanto... É triste.
Já li esse bate papo da Fnac, o Bob Wolfenson participou né?!
Exatamente. Acho que o Crispino e o Klaus também, mas não me lembro com certeza absoluta.
O x da questão é convencer que assim todos ganham mais. Que temos que condordar que não é a coisa mais fácil do mundo para se fazer. Até porque não se pode ter certeza dos resultados o que é bem óbvio, caso contrário todos já estariam fazendo dessa "nova forma".
Eu acho que o tempo vai cuidar disso, Leandro. Acho que estamos no meio de uma transição cultural, entre a fase do "só eu ganho muito" para a fase do "vamos ganhar todos, mas menos". Acho que o nosso papel é o de SEMPRE valorizar a qualidade do que fazemos mas com a consciência de que estamos REALMENTE fazendo um trabalho de qualidade. É necessário desenvolver e aprimorar o discernimento sobre o nosso trabalho, forçar a capacidade de produzir, estudar, exercitar o que aprendemos e elevar o nosso padrão de exigências para com o nosso trabalho. Só assim a gente cresce, a qualidade do nosso trabalho cresce e podemos passar a cobrar por isso um valor justo para os dois lados.
Abraços,
José Azevedo