Acho que minha opinião é bem diferente da dos colegas.
Não é tão diferente, não... mesmo.
Concordo totalmente que nosso modelo focado no vestibular estimula mais a decoreba que o pensamento crítico.
Mas minha crítica é à forma, e não ao conteúdo.
Isso já não é questão de opinião, nem bom senso. Creio que a enorme maioria dos especialistas em educação, na verdade TODOS os que conheço ou já li dizem que o conteúdo de nossa Educação Básica é absurdo. Há um estudo da Universidade de Chicago que diz que, nos EUA, retem-se menos de 7% de todo o conteúdo visto na escola... mais de 93% vai para o lixo, tempo, dinheiro e esforço jogados fora.
É claro que não usamos a maior parte do que aprendemos na escola. E nem na faculdade. Isso quer dizer que podemos excluir tudo que não será útil no dia a dia da nossa profissão? Acredito que não.
Isso é o que se chama educação preventiva: ensino coisas porque pode ser que um dia o sujeito vai precisar. Só que isso não funciona porque o sujeito não aprende. O que não se usa e só se aprende para fazer prova se ESQUECE, simples assim. Quem é mais velho já experimentou isso mesmo acerca de coisas que o interessavam muito. Outro dia revi minha dissertação de Mestrado, defendida há quase 15 anos e me assustei: como eu sabia daquela porra!!! Parece que outra pessoa escreveu. Mudei de área e aquilo é uma vaga lembrança. Total: a gente guarda o que usa, nada mais. Há que aprender o básico: ler e escrever BEM (o que não se faz com aula de gramática); desenvolver raciocínio lógico matemático; sensibilidade artística; capacidade de leitura de fenômenos sociais, políticos, filosóficos e pouco mais. Daí poderemos, quando precisarmos, aprender qualquer coisa. O resto do "conteúdo" é pretexto para manter criança/jovem ocupado, sem fazer besteira na rua - e lógico que a molecada saca isso.
O dentista precisa só de biologia e química? E se depois da faculdade quiser se especializar em ortodontia? Vai ter que usar muita física, e por consequência vai ter que dominar a matemática envolvida.
Mas eu DUVIDO que, nesse caso, as Física e Matemática da escola ajudem em algo. Ele vai, isso sim, aprender nesse momento em que realmente precisa os pedaços de Física e Matemática de que precisa. Pode ter visto ou não isso na escola e não fará a menor diferença. Ou não haveria dentistas no Canadá ou Finlândia, ou não haveria desenvolvimento tecnológico nesses países onde o ensino de ciências, feito com projetos, tem muito menos "conteúdo" que o do Pindorama.
O mercado de trabalho busca o engenheiro que sabe se expressar bem por escrito. Vamos ter que ensinar redação na faculdade?
Exato!!! Corretíssimo!!! O tempo que está aprendendo as funções do Complexo Endoplasmático Rugoso ou fazendo que cálculos que NUNCA fará na vida pois o computador faz para ele, devia estar lendo e escrevendo e aprendendo de verdade a fazer isso e principalmente a pensar - o que é útil para toda a vida, todas as profissões
O ensino médio tem a função de dar uma formação generalista, um conhecimento geral sobre o mundo.
Mas é tudo o que o Ensino Médio não é. Não é generalista e sim um acúmulo e especificidades, gramática muito profunda e específica, biologia muito profunda e específica, física muito profunda e específica e assim por diante. Não se é generalista por simples soma de especificidades - em geral inúteis e mantidas aí por pura reserva de mercado.
Se não houvesse vestibular, poderíamos dar o mesmo conteúdo focando mais no raciocínio que na memorização.
A tabela periódica, por exemplo, é uma ideia genial demais, mas pouca gente se dá conta da sua importância, porque somos forçados a decorar letras e números, em vez de entender o princípio da coisa.
Sugiro que deem uma olhada nas provas atuais da Unicamp e do Enem. Se o vestibular ainda é um mal necessário, essas provas são o começo de uma mudança. Que leva muito tempo, e possível jamais se concretize, mas precisamos lutar por ela.
Só posso concordar