É Rafael esse é um terreno nebuloso, não dá para dualizar as coisas nem tampouco fazer tábula rasa. O que a gente faz aqui é mais um exercício de reflexão do que uma tentativa de convencimento. Falo por mim que tenho muito mais dúvidas do que alguma certeza.
Vejo que a retratação do nu está envolvo de muitos aspectos que envolvem ou não
representação ou sugestão sexual.
- Têm projetos de nu que não almejam qualquer sentido sexual, a exemplo do trabalho "Naked New York", de Greg Friedler.
http://www.studium.iar.unicamp.br/tres/pg5.htm- Têm fotógrafos que preferem retratar a plasticidade dos corpos sem contudo revelar a intimidade ou até mesmo a identidade dos modelos, a exemplo do trabalho citado acima. Essas imagens, do link abaixo, arrasam nesse sentido.
http://blog.uncovering.org/archives/2007/08/fotografia_a_pr.html- Têm outros que preferem questionar o padrão estético e a idéia de beleza ao retratar pessoas que se encontram à margem dessa convenção, mas não só isso, a exemplo do Witkin.
http://www.edelmangallery.com/witkin-main.htm- Mas também têm alguns que utilizam de uma abordagem mais literal da nudez com implicação sexual, a exemplo do fotógrafo que você citou e também de Martin Kovalik que brinca inclusive com a questão da censura; de Vlastimil Kula que tem fotos fantásticas e nem por isso "bem comportadas".
http://blog.uncovering.org/archives/2007/06/fotos_ousadas_d.htmlhttp://www.kulaphotography.com/taschen/1.html- Têm outros trabalhos muito interessantes. Gosto muito do projeto "Topless nas ruas de Nova York", de Jordan Matter.
http://blog.uncovering.org/archives/2007/02/topless_nas_rua.html- Ah! Tem a nudez masculina, pouco citada se comparada ao nu feminino. Por que será?
http://blog.uncovering.org/archives/2007/06/homens_nus.html- Sem mencionar fotos "pertubadoras", como diz a matéria abaixo, mas que não tem nada em evidência.
http://blog.uncovering.org/archives/2006/01/eros.htmlEnfim, penso que a história da arte e o estudo da linguagem pode nos ajudar a encontrar as fronteiras entre a pornografia simplesmente, explorada pela indústria do sexo e voltada para fins comerciais, da expressão artística que se vale da nudez para se manifestar, independente da abordagem.
Nesse campo, a definição de obra de arte vai além do domínio da técnica. Veja que o conceito de arte está intimamente relacionado a seu tempo. Hoje, por exemplo, é possível manifestar-se sem contudo dominar a técnica. Muitos trabalhos atuais, que se enquadram na categoria abrangente de arte contemporânea, não se expressam através de nenhuma técnica, por exemplo. (Mas estou sendo superficial aqui, há outras implicações para isso também). Por outro lado, dominar a técnica não garante o título de artista, nem mesmo no mundo da fotografia cujo debate entre técnica e arte e suas fronteiras é infinito.
Bem, esse tópico foi bem interessante pra gente sair da esfera dos rótulos, do universo técnico especificamente e discutir questões inerentes ao métier do fotógrafo. Essa discussão que a princípio parece enfadonha ajuda muito a definir uma linha de trabalho e uma abordagem do nu que não é só técnica mas também conceitual. Além de ampliar nosso capital cultural com imagens tão impactantes. Conheci muitos desses trabalhos só agora, com a discussão do seu tópico.
Vou pesquisar mais sobre arte e pornografia na história da arte, logo da fotografia, para tentar formular uma linha de raciocínio menos instável e sair um pouco desse universo da opinião, do juízo de valor e da especulação que empobrece muito o debate.
Grande abraço.
P.S.1: Alterei o tópico para postar esse artigo que analisa a fetichização do corpo/gozo na arte contemporânea. Tem relação com essa discussão.
http://www.geocities.com/vladimirsafatle/vladi004.htmP.S.2: Rafael, andei lendo que música é um elemento muito importante no estúdio para desinibir o(a) modelo, acho que instrumental seria mais indicada. Vinho, como alguém mencionou, pode pegar mal e travar de vez o(a) modelo. A menos que seja uma prática do(a) modelo. Além disso, pra segurança do fotógrafo penso que é interesse fazer como os médicos ginecologistas, ter sempre um(a) assistente do seu lado, de preferência do mesmo sexo do(a) modelo. Isso talvez traga segurança para o(a) modelo, não sei, mas principalmente evita qualquer acusação de assédio sexual. Não sei como isso é pensado no meio fotográfico.