Autor Tópico: Fotografia: História e Arte  (Lida 11789 vezes)

rodrigortb

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Resposta #45 Online: 03 de Outubro de 2015, 18:37:07
Será que, tirada hoje em dia, ainda seria uma foto de 2 milhões?

Isso era exatamente o que ia comentar.  Tinha visto a foto ontem a noite, mas não tinha tempo pra escrever.
A delicadeza sútil do elefante (sim, eles são destrambelhadamente delicados), pra mim, é o que da o toque na foto. A beleza de dois mundos, distintos, porém belos.
Canon 70D
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Carlos HP

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Resposta #46 Online: 05 de Outubro de 2015, 11:26:53
Acho que o valor de US$ 2 milhões vai muito além da questão artística da foto. Dando uma lida no texto do blog compartilhado, vê-se que há uma história do mundo da moda aí que certamente influenciou o valor final da peça. Talvez o vestido tenha pesado mais do que a modelo e os elefantes. Em muitas fotos marcantes da história, a história por trás acaba sendo muito mais importante do que atributos técnicos. Contudo, esta foto tem fortes atributos técnicos: a perfeição da modelo e seu vestido em contraste com a natureza bruta dos elefantes, reforçada pelas correntes que os atam. Os detalhes de forte contraste da pele dos elefantes contrastam em menor grau com a parede ao fundo e em maior grau com a pele da modelo e a sutileza do vestido. Acho que a foto conseguiu unir o belo, o técnico e o histórico muito bem. Apesar de não ser uma história que vá muito além do mundo da moda. Hoje, quem sabe, poderia levantar alguma polêmica com respeito às correntes dos elefantes.


angelo di candia

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Resposta #47 Online: 05 de Outubro de 2015, 17:11:55

​caros amigos, ​estou com vcs.

​imagin​o que avedon quis marcar aqui o contraste entre a bela e a fera, entre o delicado e o nauseabundo, entre o sutil e o disforme, entre a casca enrugada e a pele de pêssego, entre o desejo e a repulsa, entre os grossos grilhões e o diáfano tecido.

a ousadia e o apuro estético de avedon marcam um terreno muito claro d​e forte ​impacto visual. ​

entretanto, e ​mais que o impacto por si só, ​imagino ​que a pretensão de avedon era escancarar contrastes. fazer a revolução. quebrar o paradigma. ruir o velho mundo, construir o novo.

é, de fato, o que dizem dessa foto. até onde ​li, ela é o divisor de águas na história da fotografia de moda. há uma fotografia de moda antes e uma fotografia de moda depois de "dovima com elefantes".

em seu livro fundamental ​"c​amera ​l​ucida" ( http://tinyurl.com/odt7y7o​ )​ roland barthes impõe uma espécie de condição para o que seria a qualidade de uma "boa fotografia": um equilíbrio entre ​o ​studium e ​o ​punctum, onde studium é "o elemento que se eleva a partir da cena como um todo" e punctum "o elemento que vai perturbar o studium... que pica, fere e é pungente para ambos, vc e o studium".

assim, o studium tb pode ser o elemento cultural, político e de linguagem da fotografia, a "intenção" do autor; e o punctum a interpretação pessoal, o detalhe, ou a perturbação que mesmo pequena, enche toda a foto.

poucas fotos na História coisificam a teoria de barthes de forma tão definitiva como "dovima com elefantes". e mesmo hj, a própria mudança como a sociedade hj enxerga os grilhões nos elefantes de que vcs falaram, dá uma nova dimensão para o studium e punctum, o presente e o passado. é, tb por isso e pra mim, a grande fotografia de richard avedon.

o que não ​o desmerece​: se há alguém que tem centenas de fotos genais e igualmente históricas, esse é avedon. quem quiser se aventurar na riqueza fecunda de retratos e fotografias desse gênio, recomendo o melhor livro dele, "photographs 1946-2004": ​​​​​http://tinyurl.com/p5ffxcy . a qualidade da impressão dessa edição é espantosa, um dos melhores papéis pra livro de fotografia que já manuseei.



pkawazoe

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Resposta #48 Online: 09 de Outubro de 2015, 18:15:18
Essa semana eu vou tomar a iniciativa de postar uma foto,
na verdade eu acho mais interessante o trabalho como um todo,
assim procurem saber um pouco sobre as outras fotos desse fotografo

que é Eugene Smith

http://artoncampus.rit.edu/images/art/smith_toimoko2.jpg

esse foto em questão é do trabalho de Minamata no Japão,
um vila de pescadores onde as crianças nasciam deformadas,
por causa da contaminação de metais pesados na agua e nos peixes…..
esse foi o segundo trabalho fotográfico tão importante, que chegou a mudar a leis de um país,
o primeiro foi sobre trabalho infantil do Lewis Hine……
Smith fotografou por 2 anos, sofreu pressão, foi espancado, levou um tiro, chegou a perder a visão de um olho,
e no fim, depois da vila ter ganho os processos contra as fabricas que poluíam, ele se aposentou e faleceu poucos anos depois.
 


pkawazoe

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Resposta #49 Online: 13 de Outubro de 2015, 00:04:22
ninguém se manifestou, então vou falar mais um pouco…..
o trabalho do Eugene Smith é um dos mais importantes do mundo por várias razões

-um conceito mais elaborado de matéria jornalística
-o impacto social e politico das suas fotos
-e o processo laboratorial

e é desse último que eu quero falar……isso mesmo, o processo de ampliação de suas fotos,
eu não sei se vcs sabem, mas Eugene Smith era um tremendo laboratorista….
ele tinha um controle que beirava o absurdo……mas diferente do Ansel Adams ele não queria tirar o melhor
do negativo para ter a melhor ampliação,
ele queria imprimir uma ideia na imagem, manipular a imagem para passar uma intenção,
ou seja, ele criou o que hoje conhecemos como pós-processamento,
a fotografia não terminava no click mas em como se finalizava a imagem no laboratório,
ele não foi o primeiro, mas foi o que levou essa idéia a todos os fotógrafos.

no inicio do séc.XX acho que a ideia de ampliação fotografica vinha da gravura,
não interferir na imagem…..
no séc. XIX quando um gravurista recebia um desenho do artista, ele tinha que gravar a chapa
o mais fidedigno possível, e o impressor tbm……
eles reproduzem de maneira técnica…..
o laboratorista era o mesmo, é claro que exista as técnicas de apagar ou por alguém na foto,
mas nada como Smith fez…..
alteração de contraste, dodge and burn,
usar ferricianeto de potassio, etc

https://iconicphotos.files.wordpress.com/2009/05/flam298.jpg
como essa que ele fez do medico Albert Schwartz, onde a camisa está mais clara que o abajur

algumas alterações eram tão complicadas que ele fotografava as suas ampliações, para ter como base para novas copias

os conceitos que Smith criou em laboratório nos anos 50 e 60 são o que todos nós usamos no Lightroom nos dias de hoje….
« Última modificação: 13 de Outubro de 2015, 00:26:00 por pkawazoe »


angelo di candia

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Resposta #50 Online: 13 de Outubro de 2015, 15:53:55
caro kawazoe,

perdoe-me, mas só te li agora. que legal sua explanação sobre o método de smith.. uma aula! valeu mesmo!  :clap:

olha, concordo com vc. tb sou muito fã de eugene smith. penso q toda a obra e fotografia documental dele é primorosa, e atingiu mesmo seu ápice na última série que ele desenvolveu. o q ele fez em minamata é absolutamente histórico e relevante, um claro exemplo da importância que a fotografia pode ter como elemento social, de largo senso crítico e revolucionário.

segue um curto texto sobre a foto mais famosa da série, "o banho de tomoko uemura"
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Tomoko_Uemura_in_Her_Bath

vai tb um pequeno texto muito legal q li e guardei há alguns meses:
http://lens.blogs.nytimes.com/2013/10/01/revisiting-minamata-and-a-storied-mentor/?_r=0

a série de eugene smith em minamata pertence ao catálogo da magnum, de modo que boa parte das fotos pode ser encontrada no magnum contact sheets, ou na internet aqui:
http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=SearchResult&VBID=2K1HZOLZUL5M10&SMLS=1&RW=980&RH=1184#/SearchResult&VBID=2K1HZOLZULF85V&SMLS=1&RW=980&RH=1184






pkawazoe

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Resposta #51 Online: 14 de Outubro de 2015, 12:00:00
legal Angelo.....gostei muito dos links.....  :ok:


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Resposta #52 Online: 16 de Outubro de 2015, 12:10:55
segue uma foto do mesmo tomoko uemura 1 ano dps, numa das conferências de acordo judicial entre as vítimas de minamata e a corporação chisso, responsável pela intoxicação dos rios com mercúrio.

segundo smith relatou aos arquivos da magnum, nesse dia os pacientes e familiares exigiram que todos os membros da empresa sentados à mesa olhassem, tocassem e mesmo segurassem no colo o jovem acometido pela doença. a foto de smith captura esse momento.





Carlos HP

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Resposta #53 Online: 16 de Outubro de 2015, 15:31:31
Certamente um trabalho incomparável este de Eugene Smith, tanto do ponto de vista histórico quanto fotográfico. Fotos e links lidos e favoritados para estudos, valeu!!


angelo di candia

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Resposta #54 Online: 26 de Outubro de 2015, 21:07:39
garry winogrand é fonte inesgotável e obrigatória de inspiração pra todas as gerações de pessoas que se aventuraram, aventuram e aventurarão nas ruas para criar uma foto.

como nas vezes anteriores, escolhi uma das minhas prediletas do autor.

central park zoo, ny, 1967 - gde destaque da primeira exibição de winogrand no MoMA, tornou-se um ícone da luta pelos direitos civis de negros no final dos anos 60 e uma imagem absolutamente fundamental na História da fotografia.





o que acham?


pkawazoe

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Resposta #55 Online: 27 de Outubro de 2015, 00:31:09
sou fã incondicional do Garry Winogrand,
no youtube tem vários videos sobre ele

https://www.youtube.com/watch?v=3RM9KcYEYXs


angelo di candia

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Resposta #56 Online: 28 de Outubro de 2015, 16:55:21
muito bom o vídeo, kawazoe!

segue outra foto da mesma série - como a anterior, nada menos que genial (reparem em quem olha pra câmera, quem encara o fotógrafo, na inversão de papéis, na roupa das pessoas, em quem está encaixotado, no desnível, etc... o elemento dissonante, divergente, perturbador, o punctum, é uma constante na arte de winogrand):





a quem interessar, o livro com todas as obras expostas em 1967 pode ser adquirido aqui: http://tinyurl.com/qc2r59o

« Última modificação: 28 de Outubro de 2015, 17:05:53 por angelo di candia »


Alexandre Ranieri

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Resposta #57 Online: 28 de Outubro de 2015, 21:34:01
Tópico que faltava a esse forum, marcando para acompanhar.  :clap:

- Cara, que foto bacana, que equipamento vc usa?
- Um dedo, olhos e um cérebro.
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angelo di candia

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Resposta #58 Online: 29 de Outubro de 2015, 20:30:43
há tanto, mas tanto que posso falar de winogrand...

confesso que só me debrucei na arte fotográfica há um ano.

e me lembro claramente do dia em que folheei meu exemplar de "the animals". lembro do impacto. que parece não acabar ainda, não acabar jamais.

por isso não poderia me furtar de tentar expressar, em algumas palavras, o deslumbramento que experimento ainda ao "ler" essas fotografias.

o fascínio de "the animals" não está só no amplo domínio da técnica de winogrand.

não está só em como narrativa, conteúdo e forma se embatem.

não está só em como o punctum confronta o studium.

não está só em como o fotógrafo se conecta com os animais, o tempo todo, em várias fotos, deslocando as pessoas retratadas do contato direto com a câmera.

não está só nas incongruências, na tensão e no estranhamento, e em como isso serve a um propósito especialmente inteligente e rico.

o fascínio, o poder dessa obra, a meu ver, está principalmente em como ela, que se define muito claramente como uma crítica social e política bastante ligada ao seu tempo, ao seu momento, tem a imensa capacidade de se prolongar e transcendê-lo.

essa é uma das características mais relevantes do chamado "poder da arte".


--


ps: valeu, alexandre! participe tb!!
 


andregani

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Resposta #59 Online: 30 de Outubro de 2015, 11:01:41
Muito legal a ideia!