Bem, há muitas fotos boas neste tópico e vou postar uma foto apenas com algum interesse para mim, mas longe de ser cabal. É apenas uma foto mediana que já foi muito criticada em outros fóruns. Por que? Pois bem, porque as fotos feitas seguindo uma idéia, mesmo quendo não ficam cabais são mais claramente intencionais. Eu frequentemente sigo uma idéia durante meses, vou aperfeiçoando, cercando experimentando. Cada foto deste caminho de experimentação é uma etapa de meditação, e não necessariamente a mais interessante é a foto "boa". As fotos intermediárias apontam mais que as outras as questões, às vezes.
Por que tirei esta foto?Em primeiro lugar porque eu saio para fotografar quando estou na serra. Assim, como a finalidade do passeio é a fotografia, volto com uma dúzia delas sempre. Neste dia eu tinha recebido a MC Mir 20M e a estava experimentando tanto com filme quanto com a digital. Esta foto foi com filme. Ent~]ao eu fiz esta foto porque ela sintetiza uma abordagem de paisagens com grande-angular conforme explicado abaixo. Ela visou experimentar se minha idéia de arranjo em paisagem com GA resultava naquilo desejado.
2 - O que quis mostrar a quem ver a foto?Uma das questões importantes da paisagem, ou melhor, da descrição do ambiente rural ou natural é o primeiro plano. A paisagem fotografada sem primeiro plano fica fria, distante, desinteressante na maioria das vezes. O primeiro plano dá a sensação de estarmos presentes. Observando as fotos de paisagens do Adams reparei anteriormente a presença de um primeiro plano muito desenhado e desde então tento incorporar isso nas minhas paisagens.
A questão do desenho é interessante, pois não necessariamente o desenho fotográfico é de algo dito belo. Pode ser um detalhe de cerca, um mourão, etc. No caso eu quis usar a moita de capim com suas grandes folhas laminares, ela mesma geradora de um rico desenho. Quis encher de desenho este lado da foto. propositalmente deixando este lado rústico, áspero, terroso. Barranco e capim, coisa completamente rural. Esse é o desafio, fazer fotografia com aquilo que é, não com a linda flor mas com a moita de capim.
3 - Qual a técnfica fotografica que usei?É uma foto em filme. Fotometrei o verde/capim como cinza médio devido ao fato da miita ser o desenho principal, usei um diafragma objetivando nitidez e DOF, no caso creio que f8. Observei na escala de DOF da lente se todos os elementos, desde o primeiro plano ao infinito ficavam nítidos. Regulei a distãncia pela escala de DOF e não visualmente.
4 - Como usei a composição para valorizar a foto?Já expliquei a concepção básica. Nesta concepão a paisagem, paradoxalmente, ocupa apenas um terço da foto do lado direito. Além da divisão no terço, há duas dominâncias leves diagonais, uma a diagonal que cai junto com o barranco e prolonga-se com a sombra até o canto direito inferior, outra sugerida pelo galho que emerge do barranco à média distãncia e aponta para o céu na outra diagonal. O perfil das montanhas ficou próximo ao áureo vertical. O sentido da estrada e o fato dela terminar no terço horixzontal e aproximadamente no outro áureo vertical e por sua margem também ser uma linha que continua a queda do barranco faz com que a vista sempre termine no fim da estrada, embora ela seja uma parte menor da fotografia. Desarte, fica assim realizada a estrutura planejada de um elemento muito desenhado no primeiro plano mas com a "verdaeira paisagem" embora menor mantendo a dominância.
5) Acrescento uma pergunta... O que não deu certo?Todas as concepções e intenções acima estão perfeitamente realizadas na fotografia. Em nenhuma delas houve erro, no entando a fotografia não funciona tão bem quanto intentada. Por que? Essa é uma questão interessante. Na verdade há uma diferença de luz muito grande entre o barranco e o céu, de modo que o céu fica claro em demasia e o barranco escuro em demasia, assim diminui o impacto do desenho laminar das folhas de capim e empalidece o céu. Também a lente não estava perfeitamente regulada (posteriormente ela passou por uma revisão acertando-a) de forma que não houve no segundo plano a nitidez prevista. A questão da luminosidade seria resolvida, em meu entendimento, por um filtro polarizador, pois assim eu teria intensidade no céu (axul profundo) e saturação nos verdes do capim. Contudo, a lente é bojuda e não é possível usar polarizador nela exceto do tipo placa.
Pois bem, aí está. A escolha de uma foto que ficou aquém do resultado intentado em minha opinião é melhor para esclarecer as intenções do que seria uma foto cabal, pois na foto cabal terminamos nos perdendo em gostar.