obrigado a todos pelas considerações.
cristiane, permita-me discordar: vc tem muita sensibilidade, sim!
gostaria de agradecer especialmente ao kawazoe, por interpretar com precisão o espírito da composição. por isso o ângulo baixo, a proximidade (tentei chegar o mais perto possível sem descaracterizar que é uma cadeira), a impressão no veludo, etc.. de fato, o aspecto fundamental que quis sugerir nessa foto foi a disparidade que há na percepção do tempo, entre todos os atores envolvidos.
senão, vejamos:
há o tempo do espanto, anterior à foto, o tempo da criação, da ideia original (original na acepção do termo, como em inicial).
há o tempo da marca no veludo, efêmera, volátil, que se dissipará fácil e rapidamente.
ele é (quase) similar ao tempo do registro, o tempo do instante, o tempo do "isso foi" de barthes.
há o tempo do pé que ali pisou, um tempo que se arrasta: presente estando ausente, ausente estando presente, vazio estando cheio, cheio estando vazio, fato se tornando memória, memória se convertendo em fato.
há outro tempo do pé, pé que nunca é o mesmo, que foi nenhum, que depois foi um, que foi o da foto, que é então outro, que será outro ainda.
há o tempo daquele que olha, que se aproxima da foto como quem se abaixou e se aproximou da cadeira, que descobre a foto como quem descobriu a marca ali deixada, tempo da percepção, da compreensão, da análise; tempo de quem vê a foto de fora, de quem se insere nela, de quem se apropria dela. tempo de quem viu-a de um modo, e agora vê de outro: tempo de quem é um e é outro, vendo a foto em tempos diferentes.
há o tempo do espaço representado, tempo ao mesmo tempo passado e transcendental, tempo que se dilui no recorte do espaço (mas não do tempo) que é ela própria, a fotografia.
há o tempo metafísico, o tempo que trespassa e distorce as divagações cronológicas (como se fossem chronos o incerto e a metafísica, uma ciência exata!). o tempo "impalpável", quase impossível de ser representado na fotografia, mas que pode ser medido fora dela.
há o tempo que engana a fotografia, ela que julga possuir o poder de pará-lo. tudo muda, mesmo a fotografia, e nada resiste à inexorabilidade do tempo, nem mesmo ela.
e há o tempo da finitude, tempo de heidegger, tempo que nos une a todos no fim da imagem, da cadeira, do pé, do fotográfo e do espectador; o próprio tempo da existência. é principalmente aqui, nesse fim, que a foto se assemelha ao lindíssimo e extenso poema do título (leiam-no, os que ainda não o fizeram...). nele, elliot elabora reflexões sobre o tempo tomando o nome de um castelo que foi consumido em chamas no norte da inglaterra no século XVII - o burnt norton, hj reconstruído.
há muitas texturas e tons do mesmo tempo, aqui.
novamente, obrigado,