o texto é incrível.
dilacera a figura de um cara que é tido - por alguns - como um deus vivo da fotografia.
por que vocês insistem bater na relação dele com a Vale?
pra mim há coisas muito mais interessantes a serem questionadas. exemplo:
"Na mesma autobiografia, ele conta que “uma divisão em diferentes setores se impunha, a fim de responder às necessidades específicas dos fotógrafos, de gerenciar melhor seus arquivos e comercializar melhor suas imagens. Propus à Magnum a criação de unidades de produção. Tenho certeza de que isso teria permitido maior rentabilidade e coerência. Minha ideia não foi aceita”. A insistência de Salgado e Lélia na necessidade de reestruturação da agência passou a ser percebida pelos colegas como uma atitude personalista, segundo um perfil do fotógrafo publicado pela The New Yorker em 2005. “Salgado me contou que Lélia participava de reuniões da Magnum. A verdade é que ela tem um papel crucial e quase ninguém sabe direito da sua importância”, diz Nair. Ele costuma dizer que seu trabalho é possível graças à organização empresarial e ao equilíbrio afetivo oferecidos por Lélia."
"utra faceta pouco conhecida da produção de Salgado refere-se a suas influências, sobre as quais ele faz silêncio. Em conversas com o fotógrafo para escrever um dos textos do catálogo da Territoires et Vies, exposição realizada em Paris em 2005, Joaquim Marçal Ferreira de Andrade percebeu que o período de Salgado em Aimorés pode ter sido o de sua formação mais essencial. Foi quando conheceu a iconografia cristã e a linguagem clássica do fotojornalismo da primeira metade do século 20. “O simbolismo religioso é muito presente. Salgado menciona que ficava à porta das igrejas católicas da região. Ele admite ter herdado a cultura barroca”, diz Andrade."
"Sischy preferiria o ponto de vista de Walker Evans (1903-75), conhecido por seu trabalho sobre a Grande Depressão, feito para a Farm Security Administration (órgão do governo norte-americano), e autor de retratos de meeiros pobres do Alabama, reunidos em Elogiemos os homens ilustres (1941), com texto de James Agee. Ao contrário de Salgado, Evans não seria nem didático nem sentimental ao fotografar pessoas desfavorecidas, que na obra do brasileiro seriam “cuidadosamente compostas à semelhança de naturezas-mortas”. “E o embelezamento da tragédia resulta em imagens que, ao fim e ao cabo, reforçam nossa passividade em relação à experiência que elas revelam”, escreveu Sischy. “A estetização da tragédia é o caminho mais rápido para anestesiar os sentimentos daqueles que a testemunham. A beleza é um chamado para a admiração, não para a ação.” Sischy reclamou do culto a Salgado, um fotojornalista a cujo trabalho se atribuiria um poder transformador sobre noções classistas, raciais e étnicas." (Arlindo Machado mandou um abraço aqui)