Autor Tópico: Ética profissional e pessoal  (Lida 5212 vezes)

bruno_sfc

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Online: 29 de Junho de 2016, 18:21:35
Pessoal, boa noite!

Gostaria de saber a opinião de vocês sobre um assunto cheio de nuances e pluralidades, além de bastante polêmico. Não busco uma resposta definitiva, abri este tópico apenas como um espaço para troca de ideias e também para fomentar este assunto que acho de extrema importância.

Acredito que todos buscam o equilíbrio entre ética profissional e ética pessoal, pois uma é intimamente ligada à outra.

Eventualmente existirão situações onde as duas entrarão em conflito, o que é natural. Como vocês lidam com isso? Existe algum tipo de trabalho que vocês não fariam? Pessoas públicas que não fotografariam? Veículos que não trabalhariam por falta de  identificação pessoal?


kleberpicui

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Resposta #1 Online: 30 de Junho de 2016, 09:00:37
Assunto bem interessante, Bruno. E na fotografia deve ensejar muito questionamento bem complexo mesmo.

Limitando ao tema de pessoas a fotografar, sempre confrontei questão semelhante desde que iniciei a faculdade de direito. É muito comum as pessoas (entre leigos e até colegas) vir questionar se eu defenderia um estuprador, um assassino ou ainda condenar os advogados desses sujeitos. Quando começo a argumentar que cabe ao juiz julgar se aquele sujeito é criminoso ou não e que a função do advogado não é acobertar o crime e sim garantir o direito de defesa que qualquer ser humano deveria ter, sou geralmente visto com maus olhos.

Estou em situação até fácil, já que não atuo como advogado, mas nem de longe coaduno com esse tipo de condenamento moral.

Na fotografia pode haver esse paralelo. O fotógrafo está exercendo sua função que cabe na sociedade - retratar - os julgamentos sobre a pessoa não devem recair sobre esse profissional.

Quanto ao tipo de trabalho ou veículo a questão talvez mereça outra abordagem. Uma coisa é retratar uma pessoa ou situação - como no exemplo do retrato acima - outra é deturpar ou ajudar a promover uma situação falsa, gravosa e imoral, como trabalhando de determinada forma ou em determinado veículo.

Faria o retrato da pessoa pública, mas não o faria se soubesse que seria algo forjado, por exemplo pago com dinheiro público de uma licitação superfaturada ou ainda fazer uma série de retratos de skinheads para um material de promoção dessas ideias.
Kléber

Vender fotos na internet: http://submit.shutterstock.com/?ref=976367


bruno_sfc

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Resposta #2 Online: 30 de Junho de 2016, 09:21:24
Assunto bem interessante, Bruno. E na fotografia deve ensejar muito questionamento bem complexo mesmo.

Limitando ao tema de pessoas a fotografar, sempre confrontei questão semelhante desde que iniciei a faculdade de direito. É muito comum as pessoas (entre leigos e até colegas) vir questionar se eu defenderia um estuprador, um assassino ou ainda condenar os advogados desses sujeitos. Quando começo a argumentar que cabe ao juiz julgar se aquele sujeito é criminoso ou não e que a função do advogado não é acobertar o crime e sim garantir o direito de defesa que qualquer ser humano deveria ter, sou geralmente visto com maus olhos.

Estou em situação até fácil, já que não atuo como advogado, mas nem de longe coaduno com esse tipo de condenamento moral.

Na fotografia pode haver esse paralelo. O fotógrafo está exercendo sua função que cabe na sociedade - retratar - os julgamentos sobre a pessoa não devem recair sobre esse profissional.

Quanto ao tipo de trabalho ou veículo a questão talvez mereça outra abordagem. Uma coisa é retratar uma pessoa ou situação - como no exemplo do retrato acima - outra é deturpar ou ajudar a promover uma situação falsa, gravosa e imoral, como trabalhando de determinada forma ou em determinado veículo.

Faria o retrato da pessoa pública, mas não o faria se soubesse que seria algo forjado, por exemplo pago com dinheiro público de uma licitação superfaturada ou ainda fazer uma série de retratos de skinheads para um material de promoção dessas ideias.

Legal, Kléber!

Interessante a analogia do advogado!

Quando abri o tópico não esclareci, mas não pensei em questionar o aspecto legal trabalhista, nem na ética entre fotógrafos; mas mais na responsabilidade de comunicação das imagens. Acho fundamental manter a coerência entre a opinião pessoal e a postura profissional, certo? Será que me fiz claro?

Para simplificar, vou dar um exemplo. Eu trabalhei muito tempo com publicidade, e nas agências já trabalhei com marcas e campanhas que não sentia identificação e até não concordava. Nessas ocasiões não cabia a mim recusar ou não um trabalho por motivos éticos pessoais, pois existia uma estrutura maior que gerenciava os "recursos" da empresa. No caso da fotografia independente, há a possibilidade de recusar ou não trabalhos onde não exista essa identificação ideológica.

De qualquer forma, acho que tenho algumas coisas claras pra mim. Uma delas é que cada caso precisa ser analisado dentro de suas peculiaridades, e é preciso sempre tomar a decisão da maneira mais honesta possível. Mesmo com isso claro, não torna as decisões mais fáceis. :D


Humberto Yoji

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Resposta #3 Online: 30 de Junho de 2016, 09:33:03
Ontem mesmo comentei isso com uns colegas. Eu aceito qualquer tipo de trabalho, desde que não seja algo que sou ideologicamente contra. Tenho minhas convicções pessoais do que acho certo e errado (que não cabem ser ditas aqui), e não aceitaria algum trabalho que fosse contra essas minhas convicções.

Ainda não tive essa experiência, mas já pensei muito sobre o assunto.


kleberpicui

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Resposta #4 Online: 30 de Junho de 2016, 09:37:56
Quando abri o tópico não esclareci, mas não pensei em questionar o aspecto legal trabalhista, nem na ética entre fotógrafos; mas mais na responsabilidade de comunicação das imagens. Acho fundamental manter a coerência entre a opinião pessoal e a postura profissional, certo? Será que me fiz claro?

Eu havia entendido sim, Bruno. E apesar de usar argumentos meio jurídicos (função social ou a comparação com a carreira de advogado) tratei exatamente da compatibilidade ideológica.

Abomino sujeitos como Bolsonaro, mas nunca condenaria um fotógrafo que vai fazer as fotos de seu casamento. Talvez nem condene o cara que vai fazer seu retrato de campanha. Mas se o sujeito é chamando pra fazer uma foto dele assinando um documento que falsamente seria divulgado como de apoio a uma minoria a ser divulgado com fortes elogios eleitoreiros num jornaleco panfletário aí a situação seria outra.

Mas concordo com seus argumentos, cada caso merece análise e são muitas situações difíceis de avaliar que aparecem. Eu tenho uma premissa bem simples e talvez até simplória sobre ética: correr atrás do que me faz bem desde que não faça mal a mais ninguém.
« Última modificação: 30 de Junho de 2016, 09:39:10 por kleberpicui »
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bruno_sfc

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Resposta #5 Online: 30 de Junho de 2016, 09:42:17
Ontem mesmo comentei isso com uns colegas. Eu aceito qualquer tipo de trabalho, desde que não seja algo que sou ideologicamente contra. Tenho minhas convicções pessoais do que acho certo e errado (que não cabem ser ditas aqui), e não aceitaria algum trabalho que fosse contra essas minhas convicções.

Ainda não tive essa experiência, mas já pensei muito sobre o assunto.

Sim, claro! Concordo! O problema é que não é sempre fácil tomar essa decisão, porquê na maioria das vezes não existe essa dicotomia entre o que é certo e errado, entende?

Por exemplo, se você não consome o alimento A, mas consome B, faria fotos para campanhas publicitárias do alimento A? Se você não concorda com a postura de mercado da marca C, cobriria um evento da marca C? Se você não tem identificação ideológica com a pessoa pública D, ainda sim faria um retrato dessa pessoa?

Entenda que não estou colocando a prova sua integridade, são apenas situações comuns que podem acontecer com qualquer profissional e gostaria de saber sua opinião nessas situações.
« Última modificação: 30 de Junho de 2016, 09:51:42 por bruno_sfc »


amador47sc

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Resposta #6 Online: 30 de Junho de 2016, 09:42:33
Interessante o tema  :ok:

No meu entendimento, existe uma variável que vai além do equilíbrio entre ética profissional e pessoal: a Necessidade. Logicamente não sou profissional da fotografia (nick  :D) mas isso pode valer para qualquer profissão. Alguém pode ter que ultrapassar sua ética pessoal fazendo um trabalho em favor da manutenção da família, por exemplo.


vangelismm

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Resposta #7 Online: 30 de Junho de 2016, 09:44:04
Acho que já tivemos um tópico com um assunto parecido, que era a recusa em fotografar um casamento gay.

Assim como um restaurante não pode impedir a entrada de quem o dono não gosta, seja qual for o motivo, um fotografo não pode se negar a realizar um trabalho, sobre o risco de ser acusado de discriminação.
Mas claro que na pratica sabemos que existem outras maneiras de recusar um trabalho que não temos afinidade.
"A perspectiva de uma imagem é controlada pela distância entre a lente e o assunto; mudando a distancia focal da lente muda o tamanho da imagem , mas não altera a perspectiva . Muitos fotógrafos ignoram este fato, ou não têm conhecimento de sua importância." -  Ansel Adams, Examples – The Making of 40 Photographs


bruno_sfc

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Resposta #8 Online: 30 de Junho de 2016, 09:45:42
Eu havia entendido sim, Bruno. E apesar de usar argumentos meio jurídicos (função social ou a comparação com a carreira de advogado) tratei exatamente da compatibilidade ideológica.

Abomino sujeitos como Bolsonaro, mas nunca condenaria um fotógrafo que vai fazer as fotos de seu casamento. Talvez nem condene o cara que vai fazer seu retrato de campanha. Mas se o sujeito é chamando pra fazer uma foto dele assinando um documento que falsamente seria divulgado como de apoio a uma minoria a ser divulgado com fortes elogios eleitoreiros num jornaleco panfletário aí a situação seria outra.

Mas concordo com seus argumentos, cada caso merece análise e são muitas situações difíceis de avaliar que aparecem. Eu tenho uma premissa bem simples e talvez até simplória sobre ética: correr atrás do que me faz bem desde que não faça mal a mais ninguém.

Novamente, ótimo exemplo!

No caso do casamento, acho compreensivo. Mas no caso da campanha acho muito mais delicado... Eu entraria em conflito pois a campanha faz parte de um esforço efetivo para sua eleição, sabe?


bruno_sfc

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Resposta #9 Online: 30 de Junho de 2016, 09:48:43
Acho que já tivemos um tópico com um assunto parecido, que era a recusa em fotografar um casamento gay.

Assim como um restaurante não pode impedir a entrada de quem o dono não gosta, seja qual for o motivo, um fotografo não pode se negar a realizar um trabalho, sobre o risco de ser acusado de discriminação.
Mas claro que na pratica sabemos que existem outras maneiras de recusar um trabalho que não temos afinidade.

Eu até busquei no fórum, mas não achei nada muito nesse sentido que queria abordar.

A história do casamento gay é um assunto diferente. Se você fotografa casamento, lida basicamente com registro. Este serviço não deve ser limitado pela opção sexual do contratante, como não deve ser limitado por cor, etc. — pois isso sim é discriminação, e é crime.

A questão maior é de responsabilidade de comunicação, que eu acho muitas vezes subvalorizada.
« Última modificação: 30 de Junho de 2016, 09:51:00 por bruno_sfc »


Humberto Yoji

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Resposta #10 Online: 30 de Junho de 2016, 10:00:48
O problema é que não é sempre fácil tomar essa decisão, porquê na maioria das vezes não existe essa dicotomia entre o que é certo e errado, entende?

Por isso deixei bem claro no meu post que tem a ver com a minha ideologia e as minhas convicções pessoais. Que podem ser completamente diferentes das de outras pessoas.  ;)

Eu tenho o que é certo ou errado pra mim, e até onde eu chegaria ou não de acordo com isso.  :ok:


kleberpicui

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Resposta #11 Online: 30 de Junho de 2016, 10:02:14
Novamente, ótimo exemplo!

No caso do casamento, acho compreensivo. Mas no caso da campanha acho muito mais delicado... Eu entraria em conflito pois a campanha faz parte de um esforço efetivo para sua eleição, sabe?

Eu não condenei porque vejo de outra forma, como o direito que todo cidadão tem de se candidatar e dos eleitores em votar em quem quer que seja. Por isso fui além para condenar, citando exemplo de situações fraudadas. Aí sim.

Fazendo uma ponte entre os comentários de Humberto e Vangelis, esses dias recebi o convite para fazer um ensaio da filha de uma recém conhecida. Topei, mas acabou não se concretizando. Dias depois, fiquei sabendo de comentários dessa mulher com teor extremamente homofóbicos que me enojaram e confesso que fiquei feliz de não ter realizado aquele ensaio. Mas isso pura e simplesmente porque não tenho a fotografia como profissão, só fotografo amigos e conhecidos e quando quero, todos sabem disso. Caso tivesse o nome na praça como fotógrafo, aí teria que colocar esses julgamentos de lado e fazer o trabalho com muito profissionalismo.
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Humberto Yoji

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Resposta #12 Online: 30 de Junho de 2016, 10:07:11
Dias depois, fiquei sabendo de comentários dessa mulher com teor extremamente homofóbicos que me enojaram e confesso que fiquei feliz de não ter realizado aquele ensaio.

Tomando esse tema como exemplo. Embora insatisfeito, eu teria feito o ensaio da mesma forma. Aí ainda é um limite que eu consigo tolerar. Mas eu jamais fotografaria, por exemplo, uma campanha exaltando a homofobia, ou algo do tipo.


bruno_sfc

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Resposta #13 Online: 30 de Junho de 2016, 10:08:57
Eu não condenei porque vejo de outra forma, como o direito que todo cidadão tem de se candidatar e dos eleitores em votar em quem quer que seja. Por isso fui além para condenar, citando exemplo de situações fraudadas. Aí sim.

Uau, sua colocação me faz pensar...

Fazendo uma ponte entre os comentários de Humberto e Vangelis, esses dias recebi o convite para fazer um ensaio da filha de uma recém conhecida. Topei, mas acabou não se concretizando. Dias depois, fiquei sabendo de comentários dessa mulher com teor extremamente homofóbicos que me enojaram e confesso que fiquei feliz de não ter realizado aquele ensaio. Mas isso pura e simplesmente porque não tenho a fotografia como profissão, só fotografo amigos e conhecidos e quando quero, todos sabem disso. Caso tivesse o nome na praça como fotógrafo, aí teria que colocar esses julgamentos de lado e fazer o trabalho com muito profissionalismo.

Mas indo um pouco além, novamente: um ensaio é diferente de uma campanha.

Por isso deixei bem claro no meu post que tem a ver com a minha ideologia e as minhas convicções pessoais. Que podem ser completamente diferentes das de outras pessoas.  ;)

Eu tenho o que é certo ou errado pra mim, e até onde eu chegaria ou não de acordo com isso.  :ok:

Sobre isso seu comentário não deixa dúvidas. Eu gostaria de saber sua resposta sobre as situações que coloquei: "Por exemplo, se você não consome o alimento A, mas consome B, faria fotos para campanhas publicitárias do alimento A? Se você não concorda com a postura de mercado da marca C, cobriria um evento da marca C? Se você não tem identificação ideológica com a pessoa pública D, ainda sim faria um retrato dessa pessoa?"


vangelismm

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Resposta #14 Online: 30 de Junho de 2016, 10:09:51
Eu até busquei no fórum, mas não achei nada muito nesse sentido que queria abordar.

A história do casamento gay é um assunto diferente. Se você fotografa casamento, lida basicamente com registro. Este serviço não deve ser limitado pela opção sexual do contratante, como não deve ser limitado por cor, etc. — pois isso sim é discriminação, e é crime.

A questão maior é de responsabilidade de comunicação, que eu acho muitas vezes subvalorizada.

Não vejo diferença nenhuma no seu exemplo de politico.
Discriminação do mesmo jeito, só mudou a opção sexual para opção politica.
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