Juliana Domingos de Lima 17 Ago 2016 (atualizado 18/Ago 14h09)Imagens para revista de Nova York já antecipavam algumas das características do cultuado cineasta americanoStanley Kubrick (1928-1999) dirigiu “Lolita” (1962), “Dr. Fantástico” (1964), “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), “Laranja Mecânica” (1971), “O Iluminado” (1980) e outras produções cultuadas pelos cinéfilos. Antes disso, Stanley, garoto do Bronx de família judia, foi o fotógrafo mais jovem que a revista nova-iorquina “Look” havia tido até então.
Kubrick fotografou para a revista entre 1945 e 1950. Quando começou, tinha apenas 17 anos. Aos 16, tinha ganhado sua primeira câmera, uma Kodak Monitor 620. Com a câmera apontada para sua cidade natal, fazia fotos de temas variados: cenas de rua, o interior dos vagões do metrô, sempre com foco nas pessoas. Produziu 15 000 negativos, cuja vasta maioria nunca foi publicada.
“Tem permissão [para fotografar no metrô]?” o guarda perguntou.
“Sou da revista ‘Look’”, Kubrick respondeu.
“É, filho”, foi a resposta do guarda, “e eu sou o editor da coluna social do ‘Daily Worker*.’ ”
*jornal publicado em Nova York pelo partido comunista americano entre os anos 1920 e os 50
O diálogo acima foi reproduzido por Mildred Stagg, jornalista a quem Kubrick concedeu uma de suas primeiras entrevistas, em 1948, para a revista especializada em fotografia "The Camera".
No caso de sua série de fotos tiradas no metrô, o protótipo de cineasta usava uma câmera Contax - analógica, compacta e simples de ser disparada. A falta de luz no subsolo também dificultava o trabalho do fotógrafo, recompensado pela captura da ação espontânea que Kubrick considerava o uso “mais válido e expressivo” da fotografia.
A Contax já havia sido usada debaixo do casaco do célebre fotógrafo americano Walker Evans, no fim da década de 1930, com o mesmo propósito de captar passageiros do transporte nova-iorquino.
Helen O'Brian era a editora de fotografia da “Look” nos cinco anos em que Kubrick esteve lá. Foi ela quem escolheu usar a primeira foto que o fotógrafo amador tentou vender para a revista e era quem o encorajava a fazer mais reportagens fotográficas depois da aula. Segundo ela, Kubrick foi o fotógrafo freelancer com a mais alta porcentagem de fotos aproveitadas com quem trabalhou.
“Kubrick constrói retratos psicológicos que combinam drama, ironia e, muitas vezes, mistério - antecipando de maneira fascinante seu estilo cinematográfico”
Sinopse do livro “Drama & Shadows: Photographs 1945–1950”, de Rainer Crone
No site da editora Phaidon Uma das ambições impossíveis dos espectadores obcecados por seu universo é entrar na cabeça de Kubrick. Primeiro produto de seu trabalho artístico, as fotos são uma pequena janela para o que se passava lá dentro nos anos de formação de seu olhar e das imagens que viria a produzir através do cinema.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/08/17/Como-a-carreira-de-fot%C3%B3grafo-ajudou-a-%E2%80%98treinar%E2%80%99-Stanley-Kubrick