Apenas para contribuir com a discussão, algumas coisas que aprendi com algum tempo estudando fotografia:
1) Fotografia não é arte. Fotografia pode ser usada como arte, mas por si só, não é. (E a maioria das fotos feitas hoje no mundo estão longe de ser). Segundo os críticos, para ser arte tem que ter uma proposta, um questionamento, uma ideologia, uma defesa, uma pergunta, uma reposta.
2) Fotografia não é realidade. Fotografia é uma abstração da realidade vivenciada pelo autor. É um recorte. Se a fotografia fosse necessariamente realidade, não poderia existir por exemplo foto em preto e branco, pois o mundo não é assim. Não existiria longa exposição. Não existiria nada capturado com distância focal diferente dos 50mm, que é a mais aproximada ao olho humano. Não existira profundidade de campo rasa e focus stacking seria obrigatório.
3) Tecnologicamente, não existe hoje no mundo nenhum tipo de fotografia que não sofreu algum tipo de processamento ou interferência (nos casos do digital, o mínimo é o processamento interno da câmera, que aplica filtros de contraste, saturação, balanço de brancos, etc). No analógico, os produtos químicos e as escolhas no ampliador.
4) A grande maioria das pessoas que [eu] conheço, quando dizem que não gostam de montagem/mesclagem/arte digital/coloque o que preferir aqui, é porque não sabem fazer. Por que no cinema pode e na fotografia não? Por que um filme cheio de efeitos especiais ganha até Oscar (de efeitos e de direção de fotografia) e a fotografia precisa ser "crua"?
A imagem abaixo é uma fusão de duas "fotos" tiradas com filme, mescladas direto no ampliador. Ela nasceu no papel fotográfico dessa maneira, aparecendo aos poucos na bandeja do revelador, transferida no momento certo para o interruptor e finalizada no fixador. Ela é foto? Uma montagem? (digital não pode ser) uma mesclagem? Uma imagem?
Ela nasceu com uma proposta. Segue:
"A intenção foi representar os delírios que os sonhos proporcionam, com suas fantasias e distorções da realidade. Para tal, foi usada a técnica de dupla exposição. Os negativos foram colocados no ampliador em dois momentos distintos. O primeiro desafio era o de causar a sensação de distorção da realidade, que foi conseguido “abaulando” o papel na hora da ampliação."
Ela é arte?
Eu tenho um pensamento parecido com o da Pris, não dando muita importância no processo quando o resultado é bacana. Adoro o trabalho do Fan Ho e do Ionut Caras. Ansel Adams é mestre e Alexander Koshelkov um gênio. Robert Frank quando fez as imagens do "The Americans" já tinha chutado o balde disso tudo muito antes de inventarem essa plataforma aqui pra gente discutir. David LaChapelle manipula até a alma, mas fala mais do mundo que vivemos que muito pseudo-documentarista.
Enfim, para mim, o que tem faltado é mais escolha de uma boa proposta do que no processo utilizado.
E seguimos juntos, estudando, discutindo e aprendendo fotografia.