Nikon D5300Quando a Nikon lançou essa câmera no final de 2013 eu decidi que seria a minha primeira DSLR. Por questões de preço cheguei a cogitar sua antecessora, a D5200, mas especialmente a nitidez que o novo sensor CMOS DX de 24MP sem o filtro "low pass" trazia me chamou a atenção nesse modelo. Em maio de 2014 eu finalmente realizei esse sonho e estou até hoje com essa câmera.
Como toda câmera de entrada da Nikon esse modelo possui as limitações típicas dessa linha, como ter apenas uma entrada para cartão de memória, apenas um dial para controle de exposição, dependência maior de interação com menus e ausência do motor de foco embutido no corpo (limitando o uso de lentes AF sem "S"), mas que já possui alguns atrativos bastante interessantes como o já citado novo sensor CMOS DX de 24MP sem filtro "low pass", sistema de foco de 39 pontos com 9 do tipo cruz (um salto de possibilidades frente às linhas D3000 e da antiga D5100, com seus 11 pontos e apenas 1 do tipo cruz), a possibilidade de se usar valores de ISO "quebrados" em modos manuais (coisa que as D3000 não fazem - mas com a ressalva de que valores muito irregulares só são possíveis ao se ativar a sensibilidade automática de ISO), tela retrátil de boa qualidade sem touchscreen (pouco útil debaixo de sol forte) e algumas firulas que não fazem diferença no meu uso, como o Wifi e o GPS integrados.
Sobre qualidade de imagem, o sensor da D5300 é simplesmente fantástico para uma câmera dessa faixa de preço. A nitidez, especialmente com lentes melhores (a exemplo da AF-S Nikkor 85mm F/1.8G e da AF-S Nikkor 70-200mm F/4G ED VR), simplesmente surpreende, principalmente em ISO baixo. Comparando com a D5100 que eu testei antes, a D5300 a faz parecer míope de tão nítida que é e os arquivos de 24MP são grandes e ricos de detalhes, permitindo inclusive crops em composições erradas, especialmente nos valores de ISO mais baixos. São fotos dentro de fotos, literalmente. O desempenho de ISO também não decepciona. Claro que não chega perto do que uma full frame ou uma caríssima D500 entregam, mas já atende muito bem quem está saindo de sistemas com sensores menores ou mesmo DSLR antigas. Para quem não tem neura com ruídos nas fotos, eu classificaria o ISO 1000 dela como ótimo e o ISO 2000 como bom. À partir de ISO 2500 as cores começam a ficar visivelmente estranhas e os ruídos um pouco mais visíveis, mas é usável até valores mais altos. Inclusive eu mesmo fiz uma foto com ISO 12800 que gostei bastante. Não é nenhum registro que ganhará prêmios de riqueza de detalhes ou fidelidade de cores, mas que não me decepcionou e me mostrou que fotografia vai muito além de preciosismos técnicos. Vejo muita gente perdendo ótimas fotos por achar que só pode usar ISO baixo, mas isso vai muito do gosto e da visão de cada um. Contudo, os valores expandidos de ISO, a exemplo do ISO máximo de 25600, eu já não considero usáveis em fotos coloridas, devido à presença clara de artefatos coloridos e nitidez inaceitáveis, mas que pode vir a ser usado em preto e branco na hora do desespero. Entretanto, eu não sou adepto desse recurso (ISO expandido), que enxergo como forçação de barra. Fala-se muito no fato de que a retirada do filtro "low pass" acarreta na aparição de moiré nas imagens, mas francamente com mais de dezessete mil cliques com minha câmera se eu tiver sofrido com essa aberração em algumas dezenas de fotos é muito. Até hoje foram pouquíssimas as fotos que o moiré ficou realmente visível, então sou um grande defensor da retirada do filtro nos sensores atuais, pois ganha-se um tanto considerável em nitidez e essa questão do moiré considero como praticamente irrelevante, principalmente para o meu uso.
Outro destaque importante do sensor da D5300, que salvo engano é fabricado pela Sony, é o "dynamic range" ou latitude de exposição. Dá para se recuperar muitos detalhes de áreas superexpostas e principalmente de áreas subexpostas das fotos tratando os arquivos RAW corretamente, algo que já me salvou várias vezes, mas claro que não se pode abusar demais desse recurso, pois em situações extremas não existem milagres. Ainda não testei uma full frame para sentir a diferença, mas considero essa possibilidade na D5300 já muito boa, especialmente levando em consideração o fato de ser uma câmera de entrada. É realmente algo muito útil, que funciona bem e que eu adoro. As áreas com sombras fortes ganham ruídos ao se recuperar detalhes, mas é algo bem administrável. A única coisa que me irrita é nas áreas superexpostas, onde o tom de pele tende a puxar para um verde amarelado em situações de sol forte, algo que eu acho muito feio e que é muito difícil de corrigir, mas isso não tira o mérito do sensor na minha opinião.
Abaixo coloco algumas fotos para exemplificar a qualidade de imagem que o sensor da D5300 entrega:
Nikon D5300 | AF-S DX Nikkor 18-55mm F/3.5-5.6G VR II
55mm | F/5.6 | 1/160s | ISO 100Nikon D5300 | AF-S DX Nikkor 35mm F/1.8G
35mm | F/2.8 | 1/160s | ISO 900Nikon D5300 | AF-S Nikkor 50mm F/1.8G
50mm | F/4.0 | 1/320s | ISO 1000Nikon D5300 | AF-S Nikkor 50mm F/1.8G
50mm | F/2.8 | 1/160s | ISO 2000Nikon D5300 | AF-S DX Nikkor 18-55mm F/3.5-5.6G VR II
55mm | F/5.6 | 1/1600s | ISO 220Nikon D5300 | AF-S Nikkor 50mm F/1.8G
50mm | F/4.0 | 1/800s | ISO 200Nikon D5300 | AF-S Nikkor 85mm F/1.8G
85mm | F/2.8 | 1/320s | ISO 100Nikon D5300 | AF-S DX Nikkor 18-55mm F/3.5-5.6G VR II
18mm | F/3.5 | 1/60s | ISO 12800O sistema de foco da D5300, que consiste em 39 pontos, sendo apenas 9 deles do tipo cruz, com sensibilidade entre -1EV até 19EV de acordo com a Nikon, funciona bem, mas não é merecedor de prêmios na minha opinião. Eu já enxergo essa característica como algo positivo ao se comparar com o que a Canon EOS T5i, sua grande concorrente no mercado, entrega. Mas não é o sistema de foco ideal para quem quer precisão em situações desafiadoras. Há muitos recursos interessantes e que funcionam relativamente bem, especialmente no AF-C, desde o 3D Tracking ou mesmo os sistemas com pontos auxiliares, mas quase sempre vai ter algum registro fora de foco ao se usar o disparo contínuo. Importante ressaltar que o desempenho da objetiva usada influencia bastante também. Com objetivas melhores a tendência é o recurso funcionar nitidamente melhor, mas ainda assim corpos mais caros com sistema de foco mais elaborados trarão maior confiabilidade. Contudo, para uso amador ou para situações menos desafiadoras, o sistema atende e inclusive cobre boa parte do quadro, facilitando as composições e limitando apenas quando se quer usar pontos de foco muito nas extremidades do quadro. Quem usa a técnica de focar e recompor será um feliz usuário com essa câmera, pois além do ponto de foco central funcionar muito bem, a câmera tem o clássico recurso de luz auxiliar para foco, que é uma mão na roda especialmente nas situações de pouca luz. Concluindo o raciocínio, para fotos ensaiadas ou posadas a câmera atende muito bem nesse ponto, mas ela peca um pouco para situações extremas, como esportes e cenas em movimento, algo que inclusive não é tanto o foco desse modelo, embora seja possível sim de se fazer.
A construção da câmera é basicamente em plástico, típico das câmeras DSLR de entrada, algo que é positivo levando em consideração a leveza e que é sim bem construída, mas que não é ideal para o uso em situações desafiadoras, por não ter selamento climático nem ser feita de metal. Contudo, isso nem é a proposta de uma câmera de entrada, então não é um problema, apenas uma característica. Inclusive devo citar que o fato de que ela é um pouco menor e mais leve que a D5100 que eu usei antes dela, o que pode ser algo positivo para muitos usuários. O flash pop-up não serve para acionar flashes externos da Nikon como as D7000 já fazem, servindo apenas como quebra galho na hora do desespero. A bateria é um destaque à parte, pois dependendo do uso pode variar entre 500 a 600 cliques, com a ressalva do uso do Wifi (e talvez do GPS, que não testei), que faz com que a câmera faça pouco mais de 100 cliques. O desempenho de vídeo é muito bom, mas não tem tanto controle quanto outras câmeras possuem (não ajusta abertura enquanto está filmando, por exemplo). Contudo, para essa finalidade a compra de um microfone avulso é obrigatória, pois o microfone sterio integrado tem desempenho vergonhoso, muito inferior ao que eu já tinha testado nas minhas antigas Canon PowerShot SX50 HS e Canon PowerShot S110, algo que considero lamentável.
O view finder da D5300 é típico das câmeras de entrada: pequeno, mas funcional. Não chega perto dos de câmeras de segmentos mais altos, mesmo as D7000 logo acima dela, mas "funciona". Sobre o Wifi o que posso dizer é que infelizmente é de pouca utilidade, pois em modo de disparo ele não permite controlar a exposição da câmera à distância, fora que ele simplesmente detona a bateria em poucos minutos, fazendo a D5300 parecer uma compacta em matéria de autonomia. Cheguei a testar esse recurso em 2014, quando eu tinha um Galaxy SIII, mas depois de ver o estrago que isso faz com a bateria eu simplesmente não usei mais. Junte isso ao fato de ser um recurso pouco intuitivo, que exige o uso de aplicativo específico (disponível apenas para Android e iOS) e que não é tão simples num primeiro momento de parear com a câmera, então é realmente um recurso mais marketeiro do que prático, algo simplesmente broxante na minha opinião. Nunca nem tive curiosidade de testar o GPS. Enxergo isso mais como uma besteira que gasta bateria a toa e que não tem nada a ver com tirar fotos, mas muita gente vai gostar desse recurso e é bom ele estar presente (inclusive foi ridículo terem retirado esse recurso da D5500).
Concluindo, se alguém me perguntar se eu recomendo a Nikon D5300, a resposta é um sonoro "sim", desde que a pessoa tenha consciência de suas limitações e se identifique com sua proposta.