Autor Tópico: Fotografia Feliz  (Lida 4378 vezes)

Ivan de Almeida

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Resposta #15 Online: 11 de Dezembro de 2006, 12:50:00
E está ótima, Álvaro. A foto é linda.

Sem querer discordar, eu prefiro dizer outra coisa em lugar de atribuir ao momento. Prefiro atribuir a um tipo de fotografia misturada na vida, onde ela se funde aos momentos que muitas vezes são momentos comuns (mesmo quando muito bons) e os transubstancia. Essa arte da presença fotográfica, essa sutileza, esse passar entre a vida sem perturbá-la e assim poder fazer da fotografia um gesto afetivo, não um roubar a alma como muitas vezes é, isso que aparece em todas as fotos postadas nesse tópico, é o grande barato.

Parabéns pela foto e pela esperteza do tratamento, que fez dela o que poderia ser, independentemente do ruído etc.

Abraços,
Ivan


Alvaro

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Resposta #16 Online: 11 de Dezembro de 2006, 13:54:31
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Parabéns pela foto e pela esperteza do tratamento, que fez dela o que poderia ser, independentemente do ruído etc.

Grato Ivan, inclusive, para ser sincero , adicionei grão nesta imagem :-)

Me pergunto qual o valor desse tipo de fotografia. Esse fundamento afetivo pode fazer com que só seja relevante ao fotógrafo ou aos seus, mas por outro lado há algo mais, que fica registrado e pode ser percebido, mesmo aos estranhos. Essas fotos são exemplo disso.

E uma preocupação que tenho quando tratamos dessa fotografia com simplicidade, ou, como naquele outro tópico, de usar um equipamento simples mas que permita determinado tipo de fotografia, é ser interpretado como fazendo apologia ao equipamento barato ou à falta de estudo, dedicação e técnica. Quando não é, de forma alguma, isso, mas apenas não deixar que equipamento sofisticado, porém inadequado, ou excesso de zelo técnico restrinjam a prática fotográfica.

[]s
Alvaro


Ivan de Almeida

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Resposta #17 Online: 11 de Dezembro de 2006, 14:05:26
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é ser interpretado como fazendo apologia ao equipamento barato ou à falta de estudo, dedicação e técnica. Quando não é, de forma alguma, isso, mas apenas não deixar que equipamento sofisticado, porém inadequado, ou excesso de zelo técnico restrinjam a prática fotográfica.

É claro. Não é questão de técnica. A técnica não é o que impede isso mas sim uma atitude psicológica. Técnica, quanto mais, melhor.

Eu percebi a adição de grão, e foi uma boa solução para a fotografia.

Qual o valor de uma fotografia? É uma resposta complicada, Álvaro. O que sei é serem fotografias boas de ver, evocativas, e não meramente estéticas. São estéticas mas não resumem-se a isso. Creio haver no mundo atual, esse mundo onde cada um é famoso por 15 minutos, uma irrelevãncia básica. Há uma quantidade imensa de fotos sendo produzida hoje, todas são irrelevantes para o mundo, pois nenhuma é "aquela". Mas se a foto for relevante para a nossa aldeia ou para o nosso clã, isso é outro valor.

A irrelevãncia é inversamente proporcional á abundância.


Vilso_Dall_Agnol

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Resposta #18 Online: 11 de Dezembro de 2006, 14:58:57
Ivan,

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A irrelevãncia é inversamente proporcional á abundância.

Não seria ...diretamente proporcional... ?

Vilso
A fé é louvável, mas é a dúvida que nos faz crescer


Ivan de Almeida

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Resposta #19 Online: 11 de Dezembro de 2006, 16:33:46
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Ivan,

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A irrelevãncia é inversamente proporcional á abundância.

Não seria ...diretamente proporcional... ?

Vilso
É claro que você tem razão. Perdi-me nas palavras -risos.


DiogoLeal

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Resposta #20 Online: 11 de Dezembro de 2006, 23:25:58
Ivan,
tópico muito interessante!
Hoje eu busco algo como o Fábio tb. Mas ao contrário de você, eu me tornei até mais tolerante a alguns estouros do que antes.
Comecei a perceber que estava sempre me preocupando demais com esses aspectos técnicos e esquecendo do que eu realmentes queria nas fotos.
Estou conseguindo fotos melhores,mais "felizes"como vc mesmo citou.
É como uma amiga minha,fotógrafa por profissão, me disse de algumas fotos minhas:
"Diogo, suas fotos são lindas.Têm uma perfeição tão grande que não gera em mim nenhum sentimento.Tente trabalhar mais o erro.O que as pessoas dizem ser erros técnicos."
Claro que eu não virei um louco,batendo fotos de qualquer jeito.Mas depois disso aprendi a valorizar mais na foto aquilo que realmente é importante.
Agora estou mais feliz. :denken:

abs
Diogo de C. Leal
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fabio_yamauti

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Resposta #21 Online: 12 de Dezembro de 2006, 00:27:21
Para quem é novo no fórum e ainda não viu, é esta a fotografia feliz que mudou radicalmente minha forma de fazer retratos.
Antes desta, eu tinha feito algumas com uso de flash. As cores ficaram horríveis, os reflexos muito fortes, perderam-se as texturas e profundidade.
Então lembrei dos retratos sem flash do Ivan e resolvi tentar. Coloquei a 50mm f/1.8 devido à grande abertura e fiz a foto.
Quando cheguei em casa e vi no computador fiquei impressionado.
Acho muito bonita a luz, cores e texturas nesta fotografia. E também o momento e expressão capturados.

Fotografia Karatê Ecoturismo Geocaching


Ivan de Almeida

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Resposta #22 Online: 12 de Dezembro de 2006, 09:11:15
E é uma lindíssima foto! Legal você ter postado novamente pois permitiu ser revista.


julioguzman

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Resposta #23 Online: 12 de Dezembro de 2006, 15:09:00
Vocês estão tocando uma questão na qual estou pensando muito ultimamente.
Acho muito válido o jeito de encarar a fotografia que estão tratando, porém, eu o sinto e o pratico para registro íntimo na maioria dos casos. Com certeza, uma enorme porção das minhas memórias, especialmente as primeiras, estão misturadas, restauradas ou construídas com fotos familiares. Não é pouco valor! Também sei de casos de fotografias “familiares” que por possuir alguma particularidade acabam tendo um valor documental digno de exposições.
Mas tirando esse valor documental e deixando de lado a excelência técnica (ou a falta desta) e o frescor que podamos ganhar dessa forma, me desvela pensar no valor artístico da fotografia.

Nas artes plásticas consigo apreciar algumas obras por vinculá-las a referencias tais como estilo próprio do autor, ou do movimento, ou da época. Vejo um Miró e sei que estou frente a uma maravilha e não um desenho duma criança. Logo minha postura de apreciador muda. Quantos de nós conseguiríamos aprecia-lo se nunca se tivera falado nada desse artista? Em inúmeras exposições fotográficas fico frente às fotos pensando o que fez desse fotografo meritório de tal evento. Ai as referencias não sempre são claras. :denken:

Se trata de conhecer a história da arte, e ver e pensar a obra dos grandes fotógrafos? Se estuda a arte fotográfica? Ou só conta o potencial emotivo, e a quantidade de pessoas que as imagens capturadas conseguem tocar? Imagino que cada um terá sua própria resposta, mas como eu não tenho nenhuma gostaria muito de saber o que pensam vocês.
Valeu!  :thmbup:
 


Alvaro

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Resposta #24 Online: 12 de Dezembro de 2006, 15:17:56
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Para quem é novo no fórum e ainda não viu, é esta a fotografia feliz que mudou radicalmente minha forma de fazer retratos.
Antes desta, eu tinha feito algumas com uso de flash. As cores ficaram horríveis, os reflexos muito fortes, perderam-se as texturas e profundidade.
Então lembrei dos retratos sem flash do Ivan e resolvi tentar. Coloquei a 50mm f/1.8 devido à grande abertura e fiz a foto.
Quando cheguei em casa e vi no computador fiquei impressionado.
Acho muito bonita a luz, cores e texturas nesta fotografia. E também o momento e expressão capturados.

Bela foto, Fábio, parabéns !

[]s
Alvaro


Alvaro

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Resposta #25 Online: 12 de Dezembro de 2006, 15:19:38
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Vocês estão tocando uma questão na qual estou pensando muito ultimamente.
Acho muito válido o jeito de encarar a fotografia que estão tratando, porém, eu o sinto e o pratico para registro íntimo na maioria dos casos. Com certeza, uma enorme porção das minhas memórias, especialmente as primeiras, estão misturadas, restauradas ou construídas com fotos familiares. Não é pouco valor! Também sei de casos de fotografias “familiares” que por possuir alguma particularidade acabam tendo um valor documental digno de exposições.
Mas tirando esse valor documental e deixando de lado a excelência técnica (ou a falta desta) e o frescor que podamos ganhar dessa forma, me desvela pensar no valor artístico da fotografia.

Nas artes plásticas consigo apreciar algumas obras por vinculá-las a referencias tais como estilo próprio do autor, ou do movimento, ou da época. Vejo um Miró e sei que estou frente a uma maravilha e não um desenho duma criança. Logo minha postura de apreciador muda. Quantos de nós conseguiríamos aprecia-lo se nunca se tivera falado nada desse artista? Em inúmeras exposições fotográficas fico frente às fotos pensando o que fez desse fotografo meritório de tal evento. Ai as referencias não sempre são claras. :denken:

Se trata de conhecer a história da arte, e ver e pensar a obra dos grandes fotógrafos? Se estuda a arte fotográfica? Ou só conta o potencial emotivo, e a quantidade de pessoas que as imagens capturadas conseguem tocar? Imagino que cada um terá sua própria resposta, mas como eu não tenho nenhuma gostaria muito de saber o que pensam vocês.
Valeu!  :thmbup:
 :snack:

Interessante o ponto. Esse merece boas respostas!

[]s
Alvaro

 


Ivan de Almeida

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Resposta #26 Online: 12 de Dezembro de 2006, 16:47:41
Julio;

É muito complexa a questão, e muito difícil de responder, e pior ainda, não há uma resposta clara.

Não concordo, absolutamente, com a ligação entre fama e apreciação artística, ou pelo menos eu mesmo sou bastante atento à produção fina, excelente de quem não tem fama. Gosto de ser influenciado por quem está do lado, não somente por quem está no pícaro, e boas influências eu tenho de fotógrafos amadores, amigos a quem admiro.

Por outro lado, entre os famosos há naturalmente uma proporção muito grande que merece a fama. Constumo contar, e já contei aqui, ter visto a primeira foto do Bresson há cerca de 30 anos ou mais, e eu não era muito ligado naquela época na dimensão do Bresson. Mas a foto ficou tão gravada na minha cabeça que não a esqueci até hoje, e continuo maravilhado.

Por outro lado, há inúmeros fotógrafos famosos cuja obra não gosto. Não gostaria de citar um nacional embora haja vários, mas pegando um exemplo reconhecido, o Galen Rowell.  Não gosto das fotos dele, acho-as enjoativas, sem profundidade. Então você vê que entre os fotógrafos afamados gosto de alguns e não de outros, e isso é um indicador de não ser a fama o determinante.

O mesmo se dá com as artes plásticas. Tenho uma vivência bastante razoável disso, estou acostumado a ver e conviver com obras de artistas afamados e catalogados nos livros de arte brasiliera. Gosto de uns, não gosto de outros. Detesto outros.

Não vou aqui ficar citando o que não gosto, pois acho deselegante, mas o Miró é o Miró não por ter fama, e sua obra nada tem a ver com os desenhos de criança.

Por outro lado, apreciação de arte é como apreciação de vinho, apreciação de cachaça, etc. Ela é desenvolvida com a prática. Provando, você vai distinguindo as nuances, e para quem não tem esse treinamento, tudo vale o mesmo. A cultura visual, a cultura da história da arte cria esse treinamento visual e por isso o público de artes plásticas não é "democrático", assim como o público de samba, de cerveja até, não é também. Só aqueles voltados para a coisa adquirem as experiências balizadoras. E esses sabem colocar cada fato artístico dentro do seu lugar na história e no jogo formal.

Gostar e não gostar é parte do jogo. Mas quando a pessoa não gosta do Bresson, do Picasso, do Niemeyer, do Salgado, aí há uma grande chance dela não ter experiências organizadas na área correspondente. É um direito dela não gostar, é claro, mas é um não gostar irrelevante para o mundo.
« Última modificação: 12 de Dezembro de 2006, 16:53:47 por Ivan de Almeida »


julioguzman

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Resposta #27 Online: 13 de Dezembro de 2006, 12:44:31
Obrigado Ivan! A sua resposta foi bastante completa para ser uma questão sem respostas claras!  Eu sei que as minhas colocações não foram muito bem formuladas e que o exemplo do Miró foi exagerado (rsrsrsrs), mas queria citar um pintor abstrato que ficasse claro para todo o mundo. De fato, dos meus primeiros contactos com a pintura na minha infância, eram as pinturas de Miró as que mais estimulavam a minha imaginação.
Agora você deixou tudo pronto para continuar com a minha intenção.
Tomo seu bom exemplo de vinho. Eu não sou uma eminência no tema, mas se alguém que conhecesse menos do que eu, me perguntasse como se introduzir nesse mundo eu lhe facilitaria informação sobre os tipos de vinhos existentes, as suas características, sobre os parâmetros que em geral são levados em conta (aroma, corpo, textura, taninos, álcool, permanecia na boca, etc.) e lhe recomendaria alguns vinhos de diferentes tipos e faixas de preços para que compare. Logicamente, também lhe diria que não sempre os mais caros são os melhores ou pelo menos, em relação ao gosto pessoal. E que finalmente, se sinta livre de escolher seus preferidos fora de qualquer convenção.
Bem, na arte isto é bem mais complexo. Mas, com certeza, depois de ter sido orientado e depois de ter degustado e conhecido vários vinhos, esse amigo terá maior sucesso descobrindo vinhos de preços inferiores que satisfaçam seu paladar. Com a fotografia “simples” que trata este tópico suponho que acontece algo similar. Acho que com os meus magros conhecimentos e trajetória em arte fotográfica, qualquer fotografia “simples” que eu faça, somente será feliz para os meus íntimos e para mim. Mas como eu gostaria muito de que a minha fotografia cresça -e acho que também será assim para quem participa da secção Arte Fotográfica deste fórum -, gostaria de aproveitar do seu saber e pedir algumas dicas de livros, sites, autores, ou orientações para nos introduzir nesse mundo. Também fiquei curioso pela obra dos seus amigos não famosos que admira.

Muito obrigado, um abraço e desculpe a minha ignorância. :thmbup:


PS: Lembro que na fundação Miró tem um enorme quadro de fundo branco com apenas uma linha curva negra que o atravessa. Demais está dizer que essa obra absolutamente mínima produz muitas emoções. Mas o anedótico é que a gravação com que se pode acompanhar a mostra, diz que essa obra foi planejada pelo Miró muitos anos antes da sua realização, e que só conseguiu chegar a esse ponto de condensação da idéia, no final da sua carreira como sintese desta. Acho que era ele mesmo quem explicava. -=+

 


Ivan de Almeida

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Resposta #28 Online: 13 de Dezembro de 2006, 12:58:39
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Muito obrigado, um abraço e desculpe a minha ignorância. thmbup.gif

Caro Julio:

Com uma ignorância desse tipo, fina e atilada argumentadora, dá para fazer umas três sabedorias e ainda sobre material -risos.

Estou chegando em casa, li sua resposta e depois converso mais.

Abraços.


Ivan de Almeida

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Resposta #29 Online: 13 de Dezembro de 2006, 14:31:49
Bem, Julio, vamos tentar ir em frente...

Quero que você saiba eu não pretender dar qualquer resposta cabal à questão, mas somente elaborar melhor a ignorância que não é minha nem sua, mas fundamental, essencial ao ser humano e que abrange sobre tudo o que interessa de fato. O homem nada sabe, mas comporta-se como se soubesse tudo. Nós aqui somente poderemos, em meu entendimento, explorar melhor esse território do não-saber.

Fotógrafos que me cercam e eu admiro? Digo logo que não vou citar nenhum colega de fórum, embora haja aqui também, mas iniciaria um processo de citações circulares prejudicial ao debate. Quanto aos outros, externos, bem seria mais fácil se todos eles tivessem página na rede. Um é o Emmanuel Valle Bitttencourt, fotógrafo de Belo Horizonte. Eu o conheci no antigo Mundo Fotográfico, não este fórum que tem o mesmo nome, mas um site que houve, com outras pessoas à sua frente, onde há pouco mais de três anos alguns fotografadores mostravam suas fotos uns para os outros. É até difícil falar assim, coisa de três anos, pois nesses três anos a fotografia na rede ganhou uma dinâmica extraordinária e pulou de sites pequenos, com 300 ou 1000 participantes como aquele (acho que nos últimos tempos havia pouco mais de 1000 pessoas, 300 quando eu entrei) para essa dimensão atual. Mas não havia ali, como não há nos fóruns, hierarquia ou sinais distintivos de excelência a não ser as fotos mesmas de cada um. As do Emmanuel chamaram minha atenção desde logo. Era diferentes das outras, tantas das outras meras estetizações. Eram humanas, falavam do interior de Minas Gerais, depunham de uma maneira mineira sobre a vida mineira, e assim mostravam uma verdade que me atingia, me encantava. Até hoje correspondo-me com ele e fascinado por sua fotografia durante mais de um ano esforcei-me para compreender sua abordagem técnica/estética, pois a mensagem, a estética e a técnica são interligada nas boas fotografias, somente distinguíveis para efeito de análise. O Emmanuel tem uma forma muito interessante e tridimensional de captura, com ele aprendi muito sobre o uso das Grande Angulares, e emerge da sua fotografia aquela verdade somente possível quando somos tão universais quanto mais estamos ligado à nossa aldeia.

Outro que admiro e muito, e cujas fotografias também servem de tema para pensamento é o Álvaro Vilela, fotógrafo baiano com quem também tive contado através da rede. Esse tem página Multiply, e recomendo especialmente as séries dele Cuba dos Cubanos e A Natureza do Homem no Raso da Catarina. Não falarei mais sobre ele porque as fotos falam sozinhas.

E ao apontar esses dois, descrevendo o Emmanuel, dando o endereço das fotos do Álvaro, na verdade já estou indicando algo. Em ambos há uma relato de certas verdades que os cercam, do mundo em sua volta, e esse relato não é de natureza midiática, louvativa, mas uma espécie de co-padecimento, uma espécie de relato compassivo, de "sentir junto".  

Esse sentir junto, isso é um núcleo de afeto, uma estrada de identificação. As fotografias feitas assim são envelopes onde dentro delas está mais que a estética, está essa tradução da vida particular -e cada vida particular é um mirante para a existência. Se eu tivesse de buscar em alguma coisa o que me agrada nas fotografias, isso seria o núcleo principal. Aliás, identifico isso também nas fotos do Bresson, do Salgado. Não são fotos de fora, são fotos de dentro.

Uma outra suposição necessária a partir do dito acima é acreditar haver nessas imagens capacidade de impartir ao observado um sentir semelhante, uma aproximação à maneira como o fotógrafo experimentou a circunstância da fotografia, aquilo que ele viu nela de excepcional, mesmo sendo por vezes uma cena aparentemente banal.

Não pretendendo citar muita coisa, nem podendo lhe oferecer a bibliografia mencionada por você, citaria aqui as poéticas do Bachelard como importantes para ancorarem um entendimento racional dessa intersubjetividade possibilitadora de sermos sensíveis ao depoimento de outra pessoa. Basicamente na vida em comum há um núcleo de experiências afins e sobre essas experiências afins cresce um universo de representações mais ou menos estruturadas, que podem ser uma cor e o que ela nos desperta, e podem ser uma palavra altamente rígida em seu significado, como "cadeira" ou "não". Cadeira remete a uma experiência subjetiva de cadeiras, e por isso, mais do que por podermos tolamente criar uma definição de cadeira, por estar apoiada em uma experiência pessoal de diversas, infinitas cadeiras já vistas e usadas em nossa vida, a palavra cadeira ressoa em nós com significado. Como todos experimentamos "cadeiras", e todos mostramos uns aos outros que "aquilo" é cadeira, o termo para esse compartilhar é intersubjetividade.

Mas, fora dessa significação algo rígida, a foto de uma janela acesa de uma casa perdida no meio da chuva nos lembra o aconchego de uma sala, assim como a foto de alguém relaxadamente fotografado nos lembra os sentimentos que temos a respeito dos entes queridos em paz e, porque não, nós mesmos. Tudo ressoa, tudo reverbera.

A fotografia é em certo aspecto esse jogo de reverberações mais do que uma técnica. Nossas fotos pessoais podem reverberar em outros quando elas evocam nesses outros vivências análogas. Não é a pessoa retratada, mas algo nela e na maneira de descrevê-la.

Creio ser dessa fonte a origem da capacidade de nossas fotografias pessoais, ou de nossas fotografias felizes interessarem a mais alguém. Elas interessam por evocarem no observador as experiências de felicidade correlatas, e assim são felizes para além de nosso afeto familiar pelo retratado.

Grande abraço,
Ivan
« Última modificação: 13 de Dezembro de 2006, 17:00:09 por Ivan de Almeida »