Esse tópico é para os que estão em dúvida se vale a pena o investimento alto numa tele série L, mas principalmente para os "passarinheiros" e fotógrafos de vida selvagem em geral.
Depois de dois anos usando a EF-S 55-250MM F/4-5.6 IS II, resolvi pegar uma lente mais completa, por diversos motivos que vou explicar durante o tópico. Por um bom tempo estive pesquisando, e estava em dúvida entre a lente que comprei e as Sigma e Tamrom que vão até 500mm ou 600mm. Também seria uma opção a nova EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS II USM, mas esta já ficava fora do meu orçamento.
*Essa revisão foi feita com base no uso prático, e não com fotos em ambientes controlados com objetivo de produzir um review.
- Qualidade de imagem (olhar as fotos com zoom no Flickr):
Sem dúvida a EF-S 55-250MM F/4-5.6 IS II é uma lente espetacular, pois a mesma, ao meu ver, está no mesmo nível da EF 300mm f/4L IS USM nesse quesito, custando essa cerca de 9x o valor da outra. Até então eu não pude notar nenhuma diferença gritante na qualidade de imagem entre elas.
Acerca da nitidez, eu esperava mais dessa lente. Sempre acabo tendo expectativa de mais quando vou comprar algo novo, e dessa vez não foi diferente. Eu achava que teria um grande ganho na nitidez das fotos, mas foi algo bem sutil, que só pode ser notado em condições de luz excelentes, e se tratando do tipo de fotografia que eu faço, não dá pra escolher a luz ou preparar o ambiente da foto.
Como pode ser visto abaixo, não há nenhuma grande diferença na nitidez entre ambas as lentes. As duas primeiras fotos foram feitas com a 300mm, e as duas últimas com a 55-250mm. Ambas com a mesma câmera (7D) e com o mesmo tratamento de imagem.
Eupetomena macroura by
Rafael Lima, no Flickr
Elaenia cristata by
Rafael Lima, no Flickr
Camptostoma obsoletum by
Rafael Lima, no Flickr
Cathartes burrovianus by
Rafael Lima, no Flickr
Com relação ao desfoque (bokeh), a EF 300mm f/4L IS USM já leva um pouco de vantagem. Achei o bokeh dela mais homogêneo, e mais bonito no geral, sem contar que ela parece ter uma profundidade de campo bem menor que a 55-250mm, mesmo estando ambas em f/5.6. Abaixo coloquei duas fotos com a 300mm (as duas primeiras), e a última com a 55-250mm. Repare também que nas fotos abaixo, dá pra notar novamente que a nitidez de ambas as lentes é muito equivalente, quando o foco está bem cravado.
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Rafael Lima, no Flickr
Athene cunicularia by
Rafael Lima, no Flickr
Polioptila plumbea by
Rafael Lima, no Flickr
Já em relação a aberração cromática, essa lente me decepcionou. Esse foi o único ponto negativo que vi nela, mas ainda vou averiguar esse ponto, visto que em todas as fotos que fiz com ela até agora, estive usando filtro de proteção (um Hoya HMC UV(c) 77mm). Não sei se o filtro pode ter culpa nisso, mas para ter certeza, vou fotografar uma vez sem ele, e depois acrescento aqui o resultado. Seguem abaixo alguns exemplos, mas em quase 90% das fotos que fiz com ela até agora tive que corrigir, mesmo que pouco, a AC.
Em f/4:
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Rafael Lima, no Flickr
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Rafael Lima, no Flickr
Em f/5.6 (além de diminuir um pouco a AC, percebe-se também um ganho em nitidez):
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Rafael Lima, no Flickr
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Rafael Lima, no Flickr
Outro exemplo da AC:
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Rafael Lima, no Flickr
Eu poderia postar muitos exemplos da AC dela aqui, visto que apareceu em praticamente todas as fotos, mas essas acima já exemplificam bem. Fiquei decepcionado nesse ponto, pois a 55-250mm que é 9x mais barata tem essa mesma AC, então eu esperava isso corrigido ou pelo menos mais controlado na 300mm.
- Corpo da lente e funcionalidades:
Comparação de tamanho entre a EF-S 55-250MM F/4-5.6 IS II e a EF 300mm f/4L IS USM:
Como dá pra ver acima a diferença de tamanho é grande (e de peso também, rsrs). Falando em peso, o conjunto dessa lente com a 7D fica com cerca de 2kg, o que torna um pouco desconfortável fazer longas caminhadas com ela pendurada no ombro pela alça da câmera, quem dirá no pescoço, então já encomendei uma alça transversal daquelas genéricas que engatam na rosca de tripé. Acredito que distribui melhor o peso, tornando o uso contínuo mais confortável.
Alguns amigos e conhecidos meus passarinheiros, que têm lentes maiores e mais pesadas, como 300mm f/2.8, 500mm f/4, e por aí vai, usam geralmente aquelas alças originais da Black Rapid. Quem sabe indo aos EUA eu pego umas dessas.
Aqui nesse ponto vem o segundo principal motivo que me levou a trocar de lente, e que também me fez escolher uma Canon série L, e não uma Sigma ou Tamrom daquelas que vão até 500 ou 600 mm: robustez. Quem fotografa aves, ou vida selvagem em geral, sabe que é preciso um equipamento resistente, que aguente bem umidade, chuva e poeira quando for preciso.
Eu achei que essa lente vinha com aquela borrachinha no mount (weather sealing rubber) que ajuda a vedar a câmera, mas infelizmente não vem. Na verdade nunca vi nenhuma lente Canon com isso, então nem sei se têm, mas quando eu usava Nikon, até a minha 35mm 1.8G tinha, e olhe que era uma lente DX de entrada. Mas no geral, ela passa bastante confiança, e tem uma construção excelente, diferente da 55-250mm que de boa só tem a ótica, porque o corpo é todo de plástico e a mecânica não é lá essas coisas, como vou descrever nos pontos seguintes.
Não encontrei na internet nada a respeito das entranhas dessa lente, ou o quão ela é protegida contra intempéries, mas se até a 55-250mm aguentou, ela não deve ter problemas com isso.
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Rafael Lima, no Flickr
Essa lente também tem a funcionalidade "Full-time manual focus" - isso é extremamente importante para o meu uso, vocês verão no próximo ponto.
- Velocidade e precisão do foco:
Aqui estamos no principal motivo pelo qual comprei essa lente, exatamente esse modelo. A 55-250mm peca nesse ponto. É uma lente com ótica excelente, mas o foco, assim como a construção não são lá essas coisas. E as Sigma e Tamrom, daquelas que falei que vão até 500 ou 600mm, também não são muito legais aqui nesse ponto.
Em 13 de maio desse ano, fiz minha primeira viagem com objetivo exclusivo de fotografar aves. Fui até Guaramiranga (um polo de mata úmida no Nordeste brasileiro, repleto de raridades que ficaram isoladas na serra do Baturité, após a divisão da mata atlântica e floresta amazônica, há algumas centenas de anos), no Ceará, que fica a mais ou menos 6h de carro daqui de Mossoró-RN, onde eu moro. Lá eu me encontrei com um amigo, Sanjay, que me guiou na serra, onde pude fotografar muitos bichos raros (pude, mas em alguns casos não consegui o fazer direito). Lá foi onde eu vi que tinha que trocar de lente se pretendesse seguir mais sério nisso de fotografar aves.
Abaixo temos a foto do Vira-folha-cearense (
Sclerurus cearensis). Bicho extremamente raro, de ocorrência muito restrita, e ameaçado de extinção. Pois é, eu tive a chance de fotografar esse bicho. Isso durou uns 60 segundos, onde fiz umas 30 fotos, todas sem foco. A lente não focava de jeito nenhum, e para passar para foco manual eu tinha que desligar uma chavinha na lente, caso contrário o anel de foco ficava travado. Desliguei, consegui fazer uma foto (abaixo), e o bicho sumiu.
Sclerurus cearensis by
Rafael Lima, no Flickr
Essa não foi a única foto que perdi por causa da lentidão e falta de precisão no foco da 55-250mm em situação de pouca luz, mas acredito que ela seja suficiente para exemplificar.
Agora, depois desse exemplo, vamos falar da lente do tópico. Até então ela se saiu muito bem comigo. O foco é muito mais rápido e preciso que a 55-250mm, além de que eu tenho uma 7D há dois anos, e essa finalmente é uma lente a altura dessa câmera, que pode aproveitar todo o potencial do sistema de foco dela.
Ainda não testei a lente em situações como a de Guaramiranga, mas acredito que ela atenderá bem. E mesmo se não atender como eu espero, posso utilizar da funcionalidade "Full-time manual focus" para fazer o foco manualmente sem precisar desligar nenhum seletor da lente, garantindo ao menos um bom registro.
* Para fazer funcionar o "Full-time manual focus" no meu conjunto 7D + EF 300mm f/4L IS USM, eu tive que fazer uma mudança: tirei o AF do botão de disparo, deixando ele exclusivamente para disparar a foto, enquanto o AF é feito agora no botão traseiro AF-ON. Caso contrário, sem fazer essa mudança, o botão de disparo só liberava o disparo quando a câmera entendesse que a cena estivesse focada, o que em situações de baixíssima luz pode não acontecer, mesmo eu tendo feito o foco manual perfeitamente pelo anel de foco da lente. Nesse caso, a foto estaria focada, mas a câmera sem detectar foco não liberaria o disparo. Também passei a usar agora o modo AI-SERVO o tempo todo, recomendado pelo amigo Luciano Queiroz que tem a mesma lente. Estou gostando. Antes eu usava o ONE-SHOT.
Aqui a lente me surpreendeu positivamente. Eu não esperava nada de mais no sistema de estabilização dela, achando que seria igual ao da 55-250mm, mas é bem melhor!
Ela tem dois modos de IS, sendo o segundo para fotos do tipo "panning", pelo que li a respeito, mas ainda não o testei na prática.
Ela é uma lente pesada e balança bastante na mão, ainda mais no mato onde se está sempre em solo irregular e não se tem o apoio ideal, mas o IS dela supre bem isso. Abaixo deixei duas fotos que fiz com ela usando uma velocidade mais baixa (1/60 e 1/50) e o IS segurou muito bem. Na segunda foto, não foi usado flash, havendo apenas uma lanterna apontada para a coruja.
Não lembro de ter muitas fotos com velocidades baixas assim com a 55-250mm, mas lembro que ela não segurava tão bem, e olhe que é uma lente levinha que não balança na mão como essa.
Tolmomyias flaviventris by
Rafael Lima, no Flickr
Megascops choliba by
Rafael Lima, no Flickr
Deixo também um vídeo que fiz com ela segurando a lente na mão, mostrando a eficácia do IS da mesma.
No geral eu posso dizer que estou satisfeito com esse upgrade, e recomendo muito essa lente para os "birdwatchers". É um excelente custo-benefício nessa faixa de preço, e que pode ser combinada com um teleconversor de 1.4x por exemplo, tornando-se uma 420mm f/5.6, cobrindo o range que uma 100-400mm cobriria, e mantendo o range de 300mm em boa abertura (f/4) para usar em mata mais fechada quando preciso.