Autor Tópico: Eu odeio Bresson  (Lida 23797 vezes)

lee.

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Resposta #195 Online: 17 de Novembro de 2016, 19:21:57
Interessante d+++, qdo comecei a fotografar, essas fotos não faziam sentido para mim.

... qto mais bagagem vc adquire, qto mais vc é desafiado a fazer fotos interessantes com menos, mais vc acaba gostando dessas fotos.

Fazia tempo que eu não parava para olhar.... estou muito feliz de conseguir admirar sem me esforçar...

Inclusive é um bom momento para repassar por todos eles e aprender alguma coisa.

Me lembra a primeira vez que li Macunaima na escola, e a professora tentando explicar. Anos depois resolvi ler de novo.. uau... e provavelmente daqui 20 anos, qdo ler novamente terei outro encantamento.

Para mim eh o oposto.
A primeira vez que vi muitas das fotos do Bresson, la na minha adolescencia, eu fiquei encantado. Mesmo sem saber pq, eu sentia a beleza, harmonia, momento e viajava no tempo.

Hoje em dias tais fotos ja nao causam mais apelo em mim, provavelmente por ja esta muito acostumado a elas. Eu gosto de ver trabalhos antigos que conheco, para relembrar, mas minha mente esta sempre anciando por novidades e descobertas.

Minha percepcao visual tambem mudou tremendamente nos ultimos 5 anos... Eu costumava ser muito mais sensivel e afinado visualmente, hoje eu sinto que pordi tal percepcao. Por outro lado eu costumava ser muito calado e introvertido. Hoje eu sou mais extrovertido e falador. Tenho cada vez mais apreciado o prazer de narrar, escrever, ... Estou pensando ate em experimentar ser um escritor fantasma (ou escritor anonimo?).

entendo ambos os casos :hysterical: vai entender como. Em um tipo de arte me identifico mais com um e vice versa. Vai do momento, experiência, evolução, gosto, etc.

Já o nosso amigo sumido deve ser mais o primeiro caso mesmo. Como lhe falta bagagem ele ainda não "enxerga"
"Not sharper photographs, not larger photographs, but better photographs — photographs that say something, that mean something, even if only to us."
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fabiomoreira

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Resposta #196 Online: 18 de Novembro de 2016, 22:26:50
O CROIX falou algo interessante:

Citar
Uma das coisas mais interessante eh ouvir narrativas de obras visuais historicas, o que envolve fatores historicos, culturais, biografico ate mesmo economico e social, tudo para explicar e entender o ambiente e motivo que se deu a foto e o que ela representa no contexto dela...

...e nao no contexto da tela de seu computador conectado a internet cheio de abas e propaganda, tendo o seu lar e seus bens em sua volta, e querem julgar uma obra descontextualizada como se fosse uma mera imagen com apenas valores esteticos para serem apreciados.

Para entender a importância de Bresson na fotografia, é preciso compreender o contexto em que ele vivia. E no fim, é esse contexto que nos ajuda a entender porque Bresson é um Bresson.

..

Aqui vai uma rápida "biografia", com alguns detalhes que você certamente não encontrará na Wikipédia ;)

Os pais de Bresson era donos de uma fábrica têxtil nas proximidades de Paris. Desde cedo Bresson teve contato com as artes. Seu tio foi uma das suas primeiras influências. Logo depois teve aulas com Andre Lhote, que embora também pintasse, era mais reconhecido pelo seu trabalho como professor e critico do que como pintor. Foi com ele que Bresson teve contato com a proporção aúrea. Lhote dava muito valor a composição na pintura. Bresson gostava muito da arte, estudava pintura e queria ser pintor. Certamente Bresson não se imaginava fotógrafo nessa época.

Vivendo em Paris, Bresson teve contato com todos aqueles intelectuais da época. Conviveu com vários artistas, conheceu muitas pessoas que se tornariam artistas influentes. Paris era o centro cultural do mundo na época. Dali surgiram muitos movimentos artísticos. O Surrealismo exerceu forte influência sobre Bresson - e não necessariamente o surrealismo dos quadros, dos pintores, mas a proposta de Surrealismo feita pelo escritor André Breton. Pois certamente Breton estava cansado daquela vida cheia de regras e norma impostas pela sociedade, lhe dizendo como você deveria viver sua vida, fazendo com que as pessoas sempre se censurassem sobre os seus desejos. Era uma busca por viver uma vida mais vívida e intensa.

VIDA
Certamente era pela vida que Bresson se interessava.

Mas como eu havia dito, a fotografia até então não era a prioridade para Bresson.
Certamente motivado pelos livros que leu, Bresson resolveu viver uma aventura na África, vivendo como caçador (e ele muitas vezes irá traçar comparações entre a sua aventura como caçador e sua atividade como fotógrafo).
Durante essa temporada, Bresson fez algumas fotografias, das quais não conseguiu aproveitar muita coisa, já que a umidade "destruiu" todo o seu trabalho. Talvez ele nem se importasse afinal.
Ao fim do primeiro ano, Bresson fica doente, e resolve voltar para a França. Ele fica internado em uma cidade do sul da França, e nesse momento que ele se depara com a fotografia de Martin Munkacsi dos três meninos negros correndo em direção ao mar. A fotografia que faria Bresson querer abandonar os pincéis e se dedicar a fotografia. O que Bresson viu ali? Certamente a VIDA. A VIDA ETERNIZADA.

Se me lembro bem, foi por volta de 1932 que Bresson e um amigo resolvem comprar um carro velho para viajar pela Europa. Bresson certamente estava interessado em muitas coisas. É interessante notar o equipamento que ele escolheu para a sua empreitada - a Leica. Pois na época, o filme de 35mm certamente era encarado com muitos poréns pelos fotógrafos profissionais. Era um formato muito pequeno, o qual não oferecia, segundo os fotógrafos da época, qualidade suficiente.
Mas para Bresson, a Leica era perfeita. Ela era pequena, leve, fácil de transportar, lhe permitia uma agilidade nos movimentos que certamente uma câmera de Médio ou Grande formato não poderiam lhe oferecer. E para capturar a vida é necessário agilidade, pois ela pode não esperar você.
Certamente Bresson estava muito interessado na vida simples e cotidiana. Direcionou suas lentes para o cotidiano, para as cenas de rua, para as pessoas normais. Não para os reis, não para as paisagens paradísicas perdidas em algum canto do mundo. Certamente esses temas não eram do seu interesse.

Interessante notar o fato de que nesse momento Bresson não era um fotógrafo profissional. Era ainda um jovem amante das artes querendo experimentar o mundo. Tinha ele aqui por volta dos 25 anos.
Pesquisem pelas fotografias de Bresson no Google e percebam que muitas das suas fotografias mais conhecidas fazem parte dessa primeira fase, quando ele ainda fotografava de forma descompromissada e "livre". A foto da bicicleta, a famosa fotografia do sujeito pulando a poça da água, e tantas outras, são todas feitas no inicio de sua carreira, e não ao fim dela. Tudo o que for próximo a 1932 pertence a essa fase.

Enfim..
Depois Bresson viajou para o México, e depois para os Estados Unidos, onde conheceu o fotógrafo (se não me engano) Paul Strand. Foi com ele que Bresson teve contato com os filme e documentários, e foi também nesse momento que ele achou que a fotografia já não conseguia dar conta da sua visão de mundo. Bresson queria ser cineasta.

A partir daqui, me confundo um pouco nos fatos, mas lembro-me que Bresson voltou para a França, fez um portfólio com as imagens que produziu e foi atrás de algum diretor francês para que lhe dessem uma oportunidade. Quem lhe deu a oportunidade foi Jean Renoir, filho do famoso pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir, que contratou Bresson para ser seu assistente. Aliás, Bresson também atuou em dois filmes, como figurante. Renoir acreditava que era importante que sua equipe soubesse como era estar na frente das câmeras. Suas aparições foram rápidas, claro, mas o suficiente para que alguns criticos puxa sacos atribuíssem a profissão de "ator" como sendo mais uma entre tantas outras habilidades.

Mas com o tempo, percebeu que o cinema não era para ele. Queria fazer algo mais ... "real". Decidiu ser documentarista. Fez alguns documentários aliás, dos quais pouca gente ouviu falar, e certamente não impressionaram o mundo, e é bem provável que muitos fotógrafos nem saibam desse fato.

Sinceramente falando??
Não creio que até esse momento Bresson desfrutasse de grande reconhecimento. Ele tinha realizado só 2 exposições em algumas galerias (que alias eu já cheguei a pesquisar mas não encontrei nada sobre elas). Certamente a influência de Bresson se limitava a uma pequena "elite" e ao seu ciclo de amigos. O mundo, ouso dizer, até aquele momento não sabia quem era Henri Cartier-Bresson.

Mas veja só como são as coisas.
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Bresson se alista no exercito Francês. Ele futuramente é capturado e feito prisioneiro de guerra. Tentou fugir três vezes, mas só na última obteve sucesso. Começou a fotografar para a resistência e para alguns jornais parisienses.

Mas o que acho mais interessante é que em 1946/7 o MoMA realiza uma exposição "póstuma" em sua homenagem. Tudo levava a crer que Bresson não havia sobrevivido a guerra, mas ele estava vivo e muito vivo. Tanto que quando ficou sabendo da exposição que seria realizada em sua homenagem, ele não demorou a pegar um avião com destino a Nova York e ajudar na organização de sua exposição.
(Talvez eu esteja falando besteira mas, preciso reler novamente a biografia dele. Mas é bem provável que na época, alguns dos organizadores desta exposição já tinham conhecido Bresson pessoalmente de outra época. E isso é um fato importante a se considerar)

Minha opinião?
Certamente esse foi um "momento decisivo" em sua carreira.
Não creio que até aquele momento Bresson tivesse uma carreira consistente. Ele havia feito várias coisas, se dedicado a várias atividades além da fotografia. Todo o seu trabalho fotográfico mais relevante até o momento tinha sido realizado em um pequeno espaço de tempo entre 1932 - 1934 e logo após o fim da Segunda Guerra. E em 1947 lá está ele, indo direto para as paredes do MoMA, a maior e mais influente instituição dedicada a arte do lado de cá do Atlântico.
Porque não o Louvre de Paris, cidade natal do fotógrafo?
Certamente não foi por mero acaso.
Além do mais, nessa época, Paris deixava de ser o centro cultural do mundo. Depois de da Segunda Guerra Mundial, Nova York se tornaria o centro do mundo. E Bresson estava lá.

1947 - Bresson tinha então 39 anos.

No mesmo ano é fundada a Magnum. Detalhe: segundo o livro "O Século Moderno", Bresson não se encontrava no almoço em que foi discutida a criação da Magnum. De qualquer forma, ele é considerado um dos fundadores da Magnum.

Bresson então é deslocado para a Ásia e vai fotografar algum dos maiores eventos do século, como o funeral de Gandhi (evento esse que fez com que Bresson atingisse reconhecimento internacional), a Revolução Chinesa (ele viria a fotografar a China anos depois, registrando as transformações ocorridas no país após a revolução), fotografaria também a vida na União Soviética, numa época em que poucos sabiam o que se passava naquela nação (ele foi o primeiro fotógrafo ocidental a fotografar o país). Em 1952 seria publicado seu livro com o título de 'Images à La Sauvette', o qual foi incluído um texto de Cartier-Bresson contando um pouco do seu modo de fotografar (texto esse que foi escrito a contra gosto aliás). Esse livro receberia, nos Estados Unidos, o título de 'The Decisive Moment'.

Em 1975 Bresson considerou que já tinha dito tudo o que poderia ter dito com a fotografia e então passou a dedicar-se ao desenho.

Se me perguntarem, afinal, o que faz de Bresson um Bresson, eu diria:

- Bresson nasceu em uma família RICA, que lhe permitiu vivenciar muitas coisas. Morando em Paris, viveu toda aquela efervescência cultural. Pode estudar e se dedicar as estudos, comprar livros, tintas, almoçar em restaurantes, viajar para a Africa, comprar um câmera, viajar pela Europa. Ele teve uma segurança que certamente muitos de nós nunca tivemos.

- Foi uma época favorável aos fotojornalistas - afinal, a televisão praticamente não existia, e as pessoas conheciam e ficavam sabendo do mundo através de revistas como a LIFE (uma das revistas mais vendidas de todos os tempos) Harper's Bazar e Vougue (revistas voltadas ao público feminino, e que atingiam um público bem abrangente - e que muitas vezes levavam Bresson a fotografar assuntos "menos nobres") e os inúmeros jornais e publicações ao redor do mundo.

- Ele tinha CONTATOS. Muitos!!! Teve a oportunidade de conhecer todos, ou quase todos, artistas e intelectuais de sua época. Conheceu Capa e vários outros fotógrafos muito antes de começar a trabalhar como fotojornalista. (p.s. Foi Capa aliás que o aconselhou a se tornar um fotojornalista. Capa disse a Bresson que se ele se considerasse um fotógrafo surrealista, logo seria esquecido, mas que o fotojornalismo lhe permitiria fotografar o que quisesse). Algumas pessoas podem até considerar que o talento é algo importante para um artista - mas certamente que talento sem contatos não significa muita coisa.

- Pensem: Se você resolve abrir uma empresa de fotografia de casamentos, e esteja precisando de alguns assistentes, é muito mais provável que você contrate alguns amigos ou conhecidos do que uma pessoa totalmente desconhecida. Se você abrir uma galeria, ou for chamado a organizar uma exposição afim de apresentar "Os Novos Talentos da Fotografia Brasileira', as chances de expor o trabalho de um artista talentoso que você desconhece são menores do que o de expor o trabalho de um artista mediano que você conhece. Digo isso pensando na exposição do MoMA dedicada a Bresson em 1947.

- Depois ter suas fotografias expostas em um dos mais influentes museus do planeta, depois de fazer parte de uma agência de fotografias pioneira, de ter fotografado eventos da magnitude que fotografou (os quais tantos outros não tiveram a oportunidade de fotografar), depois de lançar um livro que seria muito aclamado pela crítica, quem ousaria questionar Henri Cartier-Bresson?
Eu já pesquisei bastante coisa sobre ele, e poucos críticos ou pesquisadores ousaram questionar sua autoridade. Todas as pesquisas são feitas para idolatrar e ressaltar ainda mais a genialidade do fotógrafo. O mundo entrou em automático - é o efeito manada. Aliás, quem é você para criticar o olhar do século XX seu fotógrafo novato que não conhece nada?!! Faça melhor antes de criticar!!

- Definitivamente as fotografias da primeira fase de Bresson são as minhas preferidas. Ele soube explorar as potencialidades que a Leica oferecia. Enquanto outros fotógrafos ainda estavam interessados em fotografia de médio e grande formato por causa da qualidade, ele aproveitou a liberdade que seu equipamento possibilitava para registrar cenas de uma forma que poucos fotógrafos tinham feito até então. Ele voltou suas lentes para o povo, não para os poderosos. Para as coisas simples, não para os castelos.

Enfim ..

Eu considero que sua fama tem muito mais haver com o contexto do que com os seu talento. Não que Bresson fosse alguém desprovido de talento, mas, certamente se fosse outro fotógrafo a ocupar seu lugar na Magnum, dificilmente estaríamos falando dele nesse momento.
Além do mais, só para deixar claro que não considero que talento tenha haver com foco cravado, exposição correta, horizonte alinhado, boa composição, etc. Tudo isso pode atrair nossos olhos num primeiro momento, e certamente comprova que o fotógrafo em questão possuí competência. Mas saber operar uma câmera e flashs não significa que você tenha talento. Não considero que habilidade técnica seja o que faz um fotógrafo se destacar entre os demais, nem mesmo composição. Eu particularmente adoro os fotógrafos William Eggleston, Stephen Shore, Luigi Ghirri, Antoine D'Agata principalmente. Fotógrafos que muita gente desconhece e considera suas fotografias feias e mal feitas, mas que me fazem sentir algo que Bresson não consegue me fazer sentir. E embora eu goste muito das fotografias da sua primeira fase, não posso apontar uma fotografia de Bresson que realmente me toque, me comova de fato e me faça pensar. De todo modo, não deixo de reconhecer sua importância e sua influência.

Enfim, tudo vai depender de um contexto, que muitas vezes fogem do próprio controle do fotógrafo.

E, mais uma vez, faço mais uma observação:

Qual o melhor video game? Atari, Snes, Mega Drive, PS1, PS2?
Qual o melhor desenho? Caverna do Dragão, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, Naruto?

Sei que essas perguntas parecem idiotas mas, certamente, se você é da mesma época que a minha, é bem provável que você não tenha deixado de gostar do Snes, mesmo com os gráficos ultrarrealistas do PS4.
Eu passei minha infância chegando da escola e assistindo Dragon Ball Z durante o almoço. Mas eu poderia citar também Tom e Jerry, Pica-Pau e tantos outros que fizeram parte da minha infância e sinto carinho enorme.

Agora, pode ser difícil para um adolescente de 14 anos entender afinal, o que tem de bom em um Atari, ou um nintendinho ou Mega Drive. Dificilmente um adolescente irá ver graça Caverna do Dragão ou Dragon Ball (meu irmão aliás nunca assistiu e faz cara feia quando eu digo pra ele assistir).

Esses dias fiquei reparando que fico ouvindo a trilha sonora do Medal of Honor, e eu gosto muito dela. Em compensação, embora muitos falem de Mozart, ou de Bach, eu quase não os ouço, e confesso que prefiro ouvir a trilha sonora do Medal of Honor do que os clássicos eruditos. Por alguma razão eu consigo "entender" essas músicas de forma que com as mais antigas não consigo. E talvez o problema aqui não sejam os compositores, mas eu que desconheço a história da música.

Os amigos, colegas e demais pessoas que Cartier-Bresson conheceu ao longo de sua carreira foram fundamentais para o seu reconhecimento como fotógrafo. Mas isso não significa que suas fotos não possuíam beleza ou que não comoviam as pessoas. É difícil para nós hoje compreender os efeitos que a fotografia de Bresson exercia sobre as pessoas.
É como o CROIX também lembrou:

Citar
...e nao no contexto da tela de seu computador conectado a internet cheio de abas e propaganda, tendo o seu lar e seus bens em sua volta, e querem julgar uma obra descontextualizada como se fosse uma mera imagen com apenas valores esteticos para serem apreciados.


Hoje nós já não vemos mais fotografias como elas eram vistas antigamente. Ver uma fotografia pela tela do computador ou celular em uma época de internet não é a mesma coisa que ver fotografias em revista em uma época sem televisão, sem computadores e internet.

Enfim..
Cansei..
Não digo mais nada..
Ainda farei um canal no Youtube só para contar essas histórias..

x)


C R O I X

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Resposta #197 Online: 19 de Novembro de 2016, 15:34:41
...

Sucesso, nesse sentido falado aqui, eh em boa parte sinonimo de "ter contatos".


fabiomoreira

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Resposta #198 Online: 20 de Novembro de 2016, 03:59:59
Sucesso, nesse sentido falado aqui, eh em boa parte sinonimo de "ter contatos".

"Sucesso" - confesso que tenho problemas com essa palavra?
Que significa sucesso?
Ser conhecido por um monte de pessoas? Ter obtido exito naquilo que nos propomos a fazer?
É possível considerar, por exemplo, que um fotógrafo que realiza um trabalho o qual considera bem sucedido, capaz de transmitir sua visão de mundo, ou de arte, de fotografia, etc.., mas que todavia não obtém o reconhecimento nem da crítica nem do público, poderíamos considerar este fotógrafo, e este trabalho como um "sucesso"?

Confesso que posso ter me equivocado ao dizer, por exemplo, que ..
Citar
Algumas pessoas podem até considerar que o talento é algo importante para um artista - mas certamente que talento sem contatos não significa muita coisa.
...como se as pessoas devessem passar mais tempo fazendo contatos do que buscando conhecimento e aperfeiçoando suas técnicas por exemplo.

Aliás, será que essa busca por "sucesso" - aqui entendido como fama - é uma busca legitima?

Deveria o artista se preocupar em obter sucesso? Ou ele deveria se manter "puro", e fazer apenas aquilo que acredita?

De fato, muitos artistas buscam uma forma de reconhecimento. O reconhecimento, seja por parte da crítica, seja por parte do público, dá ao artista uma espécie de certeza - é na aceitação do "outro" que nós/nosso trabalho se "completa". Essa espécie de "identificação" entre o artista que produz e o público que recebe é algo que, creio eu, todos nós ansiamos alcançar. É esse reconhecimento que legitima o trabalho realizado pelo artista e também o próprio artista. É isso o que nos dá a sensação de de "estou no caminho certo".
Acho difícil existir artista que busque a desaprovação - mesmo que o fizesse, certamente ele o faz como critica a um certo padrão já hegemônico, e com essa critica talvez consiga a aceitação de outras pessoas que como ele não estão satisfeitas com aquilo que lhe é colocado como verdade.

Ora, eu acho que o sucesso pode ser muita coisa, e depende de muita coisa também. Atualmente eu não procuro mais uma qualidade da qual eu possa apontar e dizer "faça isso e terá sucesso". Seria muita ingenuidade da minha parte.

Mas eu acredito que exista muita "romantização" acerca do "talento". Sinceramente, eu me questiono até que ponto é possível medir o "talento" de alguém. O talento não é algo que possa ser medido, avaliado objetivamente, cientificamente. Do contrário, bastaria o artista seguir uma espécie de cartilha, regras já pré definidas. Mas a história da arte dos últimos cinco séculos prova t justamente o contrário - os artistas hoje reconhecidos sempre foram aqueles que, de alguma forma, ousaram desafiar os limites impostos pelos artistas que lhes antecederam.

E ai fica a questão: o que é Talento? Como posso medi-lo?
Essa é, acredito eu, uma questão que ficará para sempre em aberto, nunca chegando a uma resposta definitiva. Isso não nos impede de buscar esta resposta. Mas no fim, toda argumentação levantam dúvidas que podem ser questionada.
Eu custo a acreditar que um dia se encontrará a fórmula do talento e do sucesso, válido para todos, em todos os lugares, em todas as épocas.

Mas voltando a questão do talento/sucesso..

Podemos analisar casos como o dos pintores Impressionistas, que foram, no inicio de suas carreira, menosprezados e desaprovados pela critica. Porém ao final da vida o reconhecimento veio para praticamente todos aqueles que participaram do movimento. Hoje muitos deles figuram como gênios dentro da história da arte.
Van Gogh, hoje considerado um dos maiores gênios da pintura, viveu uma vida miserável e só obteve reconhecimento após a morte. E por mais reconhecimento por parte da critica que ele possua, entre os leigos desconfio que ele não seja unanimidade.
Outro que é quase que unanimidade entre os críticos e historiadores de arte é o pintor norte-americano Jackson Pollock, embora o público leigo dificilmente considere seus "rabiscos" uma obra de arte, e custam acreditar que "jogar tinta em uma tela" possa ser considerado um trabalho de gênio. "Isso até uma criança é capaz de fazer".
Que dizer então de Marcel Duchamp, do qual sua obra mais icônica é um simples urinol branco invertido intitulado 'A Fonte'? 

Por outro lado, podemos analisar casos mais contemporâneos e mais próximos a nossa realidade.
Zezé di Camargo já havia gravado dois discos solos antes de gravar um disco com seu irmão Welson, mais conhecido como Luciano. Com o disco gravado, foi preciso ainda um pequeno incentivo do senho Francisco, pai dos cantores. Francisco comprava 500 fichas telefônicas por semana e as espalhava pela vizinhança. Ele dizia para que ligassem para a rádio e pedissem a música que seus meninos haviam acabado de gravar. Depois de 15 dias a música 'É o Amor' era a música mais pedida da cidade de Goiânia.
Que podemos dizer então do movimento sertanejo universitário, e dos funkeiros e pagodeiros?
Afinal, talento é ser reconhecido pelo público ou pela critica? Onde é que acaba o talento e começa o marketing?

Mas enfim, onde entra a questão dos "contatos" nisso tudo?

Oportunidades.

Mais uma vez, não creio que ter "sucesso" - aqui entendido como fama - seja a principal motivação de um artista.
Certamente que certos artistas anseiam mais um sucesso/fama do que outros, enquanto outros buscam mais um sucesso no sentido de realizar um trabalho que satisfaça as suas próprias necessidades como artista.

Mais uma vez, eu não sei medir o talento de alguém. E um critico de arte contemporâneo provavelmente também não saberá dizer exatamente o que é o talento. Mas certamente ele ira reconhecer um "talento" quando ver um. Mas é bem provável que esse talento tenha mais haver com a visão de arte do próprio critico do que com a obra de arte em si mesma. O curador, o critico de arte, já tem uma visão e um entendimento de arte que lhe faz aceitar um tipo de arte que já está de acordo com sua própria visão de arte. Aquilo que não se encaixa no seu conceito de arte dificilmente lhe atraíra a atenção.

Da mesma forma, o público em geral também tem suas preferências. Como desconhece a história da arte, desconhece também o valor de obras como as de Pollock e Duchamp. O público leigo costuma acreditar que o artista deva ter uma espécie de "dom" - algo quase que sobre-humano, um talento natural, algo que pessoas comuns não possuem. Ele acredita que o artista deva fazer algo que uma pessoa "comum" não conseguiria. Ora, mas quando ele vê um quadro cheio de "rabiscos" e de tinta jogada na tela ou um traço ou uma tela rasgada sendo expostas num museu e pensa "isso aí qualquer um pode fazer", certamente ele não entende como isso pode ser considerado arte. Não vê ali esforço, não vê ali aquele "dom" sobre-humano, não vê ali beleza nem qualquer coisa capaz de agradar os seus sentidos (o mesmo pode ser dito em relação aos funkeiros, mas essa é uma questão que podemos avaliar à parte)

E aí entre a questão do contato/marketing

Já foi dito que a melhor propaganda é aquela feita no boca-a-boca.

É muito mais fácil fazer sucesso entre os críticos se você seguir uma carreira acadêmica, frequentas as exposições, as vernissages, os congressos, conhecer um jornalista aqui, conhecer um secretário de cultura ali, ir conversando, trocando idéias, sabendo o que eles pensam e falando o que você pensa, vendo o trabalho dos outros e mostrando o seu trabalho também. Conhecendo professores universitários, críticos, galeristas, curadores, etc.
Pode ser que surja a oportunidade de você dar uma palestra. Assim mais pessoas tem a oportunidade de conhecer o seu trabalho e também já enriquece o seu curriculum. Uma palestra, duas, três, logo uma exposição coletiva, outra individual, mesmo que pequena, mas a cada evento são novas pessoas, novos contatos, mais visibilidade e ai por diante. Mais uma vez, quanto mais exposições, mais completo o seu curriculum. E nos dias atuais, onde muitas exposições são feitas com análise em "conceitos", um curriculum de um estudante acadêmico com graduação, mestrado e exposições já realizadas conta muito mais do que o do sujeito interessado em fazer desenhos ultra-realistas que acabou de sair do ensino médio - o acadêmico com mestrado tem uma "legitimidade" que o adolescente sem diploma ainda não tem.

Do outro lado, o público em geral, leigo em sua esmagadora maioria, ignorando boa parte da história da arte, vê na técnica bem executada uma boa medida para julgar a qualidade de uma obra. Ele não está preocupado em conceitos. Ele busca alguma outra coisa. Ele busca uma espécie de "prazer estético" - uma pintura que ele julga bonita (pode ser uma pintura "realista", ou então uma pintura de uma bela paisagem) ou uma voz bem afinada ou que fale sobre o amor ou sobre a revolução, ou um filme cheio de efeitos especiais etc e tal. Mas, mais do que talento, você precisa ser visto. Aparecer na TV é o auge - é o que faz a sua carreira alavancar da noite pro dia. Muitas bandas e músicos devem muita de seu "sucesso" aos seus video-clipes e equipe de marketing. Quantos artistas não alavancaram suas carreiras por terem seus clipes exibidos na MTV? E quantos outros foram ignorados, permanecendo até hoje desconhecidos, pelo simples fato de não se enquadrarem a uma certa estética proposta por um canal de TV?
No caso do funk, embora muitos o critiquem, é justamente por ser tão criticado que o funk faz sucesso. As pessoas acabam fazendo marketing justamente daquilo que odeiam. Compartilham com seus amigos e dizem "olha essa porcaria". Eles fazem "sucesso" por um tempo, evidentemente, embora tempos depois ninguém mais se preocupe em saber o que esses artistas estejam fazendo.

Nos dois casos, é difícil traçar a linha onde termina o "talento" e onde começa o marketing.
E mais uma vez, é difícil definir o que é o talento.

Sobre Cartier-Bresson

Bresson NÃO é unanimidade!!!
Perguntem ao público LEIGO, aquelas que não tem contato com arte, e perguntem a eles qual é a melhor foto de Bresson - é bem provável que eles nem saibam quem é Bresson.

Perguntem ao público iniciante, aqueles que estão dando os primeiros passos na fotografia ou até mesmo um fotógrafo mais experiente que não se dedicou muito a estudar a história da arte ou da fotografia - verá que entre esses poucos ousarão desafiar a "legitimidade" do fotógrafo francês - mesmo que não entendam exatamente o porque de ele ser considerado o fotógrafo do séc. XX.

Entre os críticos de arte, a fotografia de Bresson pode até ser admirada, mas certamente seus valores hoje são muito questionados no contexto da ARTE CONTEMPORÂNEA. A fotografia no âmbito da arte está muito mais preocupada com questões conceituais do que questões de ordem estéticas/documentais.

Eu queria deixar claro que eu não atribuo o "sucesso" de Bresson ao simples fato de ele possuir contatos, embora eu considere o fato de ele ter conhecido uma série de pessoas influentes tenha lhe proporcionado muitas oportunidades e facilidades.

Recomendo muito a leitura da biografia 'Henri Cartier-Bresson - O Olhar do Século XX'.
Verão a quantidade enorme de pessoas com as quais Bresson conviveu e conheceu, e como eles foram fundamentais para a sua carreira. Cartier-Bresson sempre contou com o suporte de muitas pessoas, e certamente aprendeu muito com elas também. Muitas de suas decisões foram influenciadas pelas pessoas com as quais ele convivia - A exposição no MoMA (que ainda não tenho certeza, mas se não me engano, foi facilitada pelo fato de já conhecer os organizadores antes mesmo da Segunda Guerra Mundial e, principalmente, antes de fazer parte da Magnum e fotografar todos os eventos que iria registrar), a participação na Magnum (ele já conhecia Endre Friedmann {mais conhecido como Robert Capa - ele trocou seu nome para soar mais "americano", e assim conseguir vender suas fotografias por um preço mais alto}, Chim e cia muito antes da fundação da Magnun). Na Magnum ele ficou responsável por cobrir os eventos na Ásia aconselhado por Capa, e também por sua primeira esposa ser natural da ilha de Java (não me recordo exatamente se era Java mesmo). Fotografou a URSS pois na sua juventude já havia militado em favor dos comunistas na França, e seus contatos no passado lhe facilitaram o acesso a nação soviética. Ele já conhecia de longa data aquele que viria a ser o editor de seus clássicos 'Images à La Sauvette' (The Decisive Moment) e 'Les Européens' (The Europeans) e foi esse mesmo editor que o aconselhou a abandonar a carreira de fotógrafo anos mais tarde. Enfim.. Lendo o livro fica muito mais claro.

Para mim, o sucesso da carreira de Bresson não se explica unicamente por suas fotografias possuírem uma "qualidade única e excepcional". Certamente não é a qualidade técnica, nem a composição de suas imagens, nem o conceito de "momento decisivo". A essas qualidades se somam vários outros fatores e fatos que muitas vezes ficam apenas nos "bastidores" e nós, na maioria das vezes, jamais ficamos sabendo.
Se Bresson foi um gênio, certamente que sua genialidade não se limitou apenas a saber "por na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração".

Finalizando

Sei que é um saco para vocês ler esse textões enormes, mas eu queria fazer algumas considerações:

- Ao meu ver, as relações e amizades foram fundamentais e exerceram grande influência sobre o trabalho do Henri Cartier.
Isso basta para explicar o seu sucesso? Certamente que não. E no meu post anterior eu já coloquei aquilo que, no meu ponto de vista, foi importante para o seu reconhecimento.

- Algumas das suas fotografias mais icônicas foram feitas enquanto ele era ainda um jovem fotógrafo novato de 24-26 anos. Sua exposição no MoMA acontece quando ele tem 39 anos. E o livro que o iria rotular até hoje como o "fotógrafo do momento decisivo" só viria a ser publicado com a idade de 44 anos. O que isso significa? Primeiro que eu não preciso necessariamente ser um fotógrafo profissional para realizar um belo trabalho em fotografia (as primeiras fotos de Bresson são prova disso, assim como o belíssimo trabalho de Lartigue). Segundo que, se Bresson que é Bresson só foi reconhecido aos 39 anos, não vejo problema nenhum em ser reconhecido só depois do 70  :D

- Bresson era um cara que não gostava de aparecer. Muito, mas muito raramente aparecia na TV. Também pouco falou sobre fotografia e pouco compartilhou sobre sua visão em relação a esse meio. Tudo o que escreveu (a contra gosto) sobre fotografia foi esta espécie de "prefácio" de 15 páginas para o seu livro de 1952. Ansel Adams, pelo contrário, publicou três livros clássicos, oferecia oficinas, palestras e ao fim da carreira escreveu uma auto-biografia.
(Existe um livro muito bom intitulado 'Ver é um Todo - 1951-1958' com várias entrevistas concedidas por Bresson. Vale à pena para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre ele)

- Ler esse artigo vai te fazer repensar muita coisa sobre Bresson:
http://observador.pt/especiais/cartier-bresson-os-equivocos-humanismo/
 
- Não existe fórmula para o sucesso.
Bresson viveu em um contexto artístico, cultural, social, tecnológico diferente do nosso. O que funcionou para ele pode não funcionar para nós.

- Super estimamos o "talento". Mas se começarmos a discutir aqui, dificilmente saberemos dizer o que isso significa.
--E dificilmente alguém irá bater em sua porta querendo conhecer melhor o seu trabalho. Se você busca algum tipo de reconhecimento, pode ser uma boa você começar a se socializar mais vezes.

- Não sei dizer o que é uma boa fotografia. Acho que existem vários tipos de "boas" fotografias. Fotógrafos de moda/estúdio compartilham de certos critérios que podem não ser os mesmo que valem para os fotojornalistas. Foto documentaristas certamente estão preocupados em registrar coisas que não necessariamente despertem o interesse de um público mais voltado para uma fotografia artística. Será possível mesmo entrar em consenso?


C R O I X

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Resposta #199 Online: 20 de Novembro de 2016, 09:17:51
...

Existem inumeras formas de sucesso. Cada um determina suas prioridades.

Mas a que eu me refiro, eh no sentido tradicional ocidental judaico capitalista. Ou seja, de ter um nome reconhecido e respeitado dentro da industria, tendo ofertas de sobra para escolher de acordo com o interesse financeiro ou artistico, se nao ambos. E se sentir preenchido e confiante condigo mesmo pelo respeito e reconhecimento de alheios e o conforto financeiro.

Para esse tipode sucesso ao qual me referia, eh basicamente sinonimo de contatos.

E tal tipo de prioridade nao eh necessariamente bom nem ruim. O que adianta buscar conhecimrnto, tecnicas e ser um intelectual em todos os aspectos teoricos, e nao ter dinheiro para colocar tais conhecimentos em pratica? E essa acaba sendo a fonte de depressao, angustia e demais mazelas psicologicas de muitas pessoas. Saber ou sentir que tem potencial e que pode fazer algo muito melhor, maior, etc... mas nao ter meios de realizar, e viver sempre insatisfeito. Eis o ditado "ignorancia eh uma benca".

Mas claro, pessoas que tem como metas na vida apenas o reconhecimento alheio e dinheiro (reconhecimento e dinheiro tambem sao quase sinonimos), tambem eh uma mazela psicologica. Sao pessoas que nao conseguem se sentir satisfaitas por elas mesmas. Dependem em dar satisfacao de seu suposto valos para os demais, para que atravez dos demais consiga reconhecer o proprio valor.










Agora, se quiser ir alem, obviamente a pessoa pode ter sucesso e criam algo que se sente preenchido, mesmo nao sendo reconhecido, mesmo nao ganhando nenhum centavo, e ate mesmo nao sendo bom no que faz. O mero fato de se sentir preenchido no que faz ja pode ser um sucesso.



Para mim, so tem uma forma de traduzor sucesso de maneira universal a todos. E essa eh liberdade.
Para uns liberdade eh dinheiro, mesmo que tenha que ficar preso horas em um estabelecimento trabalhando, ou preso a inumeras tarefas e responsabilidades extressivas, rotineiras e sociais.
Para outros, liberdade eh nao depender de dinheiro e da sociedade, e ter uma vida simples em um pequeno terreno, mesmo que nao tenha meios de viajar e explorar o mundo, e mesmo que nao tenha meios de ter acesso a inumeros bens que o daria um lar, vestimentas e tempo livre mais confortavel.

A liberdade acaba sendo o sentido da vida para cada pessoa:

https://www.youtube.com/watch?v=Ebt0X5ybm9Y
« Última modificação: 20 de Novembro de 2016, 09:49:14 por C R O I X »


fabiomoreira

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Resposta #200 Online: 23 de Novembro de 2016, 21:17:34
Olá C R O I X

Então..
Nesse sentido, o sucesso até pode ser atribuído em grande medida a ter contatos.
É bem provável que um artista/profissional razoável, mas que conheça muitas pessoas e tenha bons contatos, tenha mais chances de ter sucesso na sua carreira do que aquele artista/profissional talentoso mas que não possua contatos.

Também não acho que fazer contatos seja algo menor e menos relevante do que buscar conhecimentos teóricos, práticos etc.
Mas eu também acredito que quando você tem domínio sobre o seu ofício as coisas se tornam mais fáceis. As pessoas sentem confiança em você, sentem na sua fala ou no seu agir que você sabe sobre o que está falando/fazendo. Quando isso acontece, é muito mais fácil para elas se interessem pelo seu trabalho, pelo seu modo particular de enxergar ou fazer as coisas.
p.s. Aliás, talvez seja esse um dos motivos pelos quais fotógrafos tecnicamente impecáveis acabam, na maioria das vezes, chamando mais a atenção de um público leigo do que fotógrafos artísticos/conceituais. O público leigo vê os borrões de movimento, "erros" de foco e horizontes tortos como meros "erros" de principiante. O bom fotógrafo seria aquele que, tendo o conhecimento e o domínio do seu equipamento, jamais cometeria os erros tão comuns na fotografia do fotógrafo principiante.
Talvez isso explique aquela frase, dita lááá no começo, pelo autor desse tópico "Eu acho curioso ele ter fundado a Magnum e hoje termos por lá fotógrafos infinitamente melhores que ele esteticamente falando. Acho as fotos do Bresson feias! Fotos fora de foco, com erros de alinhamento que intencionais ou não ao meu ver continuam sendo feias ao meu olhar."
p.s.2 Inclusive, eu também já tive essa mesma opinião que o xande_mike.


Você tem razão quando diz que
E essa acaba sendo a fonte de depressao, angustia e demais mazelas psicologicas de muitas pessoas. Saber ou sentir que tem potencial e que pode fazer algo muito melhor, maior, etc... mas nao ter meios de realizar, e viver sempre insatisfeito. Eis o ditado "ignorancia eh uma benca".
No fim, creio que se trata de uma caminhada: haverá momentos em que você estará mais preocupado em buscar conhecimentos técnicos/teóricos, noutros momentos você passa a se dedicar a conhecer pessoas e fazer contatos para que eles saibam do seu trabalho. Um passo de cada vez. Querer se dedicar somente a buscar conhecimentos ou somente a fazer contatos não vai nos permitir ir tão "longe" quanto gostaríamos de fosse.

Para mim, so tem uma forma de traduzor sucesso de maneira universal a todos. E essa eh liberdade.
Para uns liberdade eh dinheiro, mesmo que tenha que ficar preso horas em um estabelecimento trabalhando, ou preso a inumeras tarefas e responsabilidades extressivas, rotineiras e sociais.
Para outros, liberdade eh nao depender de dinheiro e da sociedade, e ter uma vida simples em um pequeno terreno, mesmo que nao tenha meios de viajar e explorar o mundo, e mesmo que nao tenha meios de ter acesso a inumeros bens que o daria um lar, vestimentas e tempo livre mais confortavel.

A liberdade acaba sendo o sentido da vida para cada pessoa:

Interessante seu ponto de vista.
Acho que sou um pessimista..

Você disse que a liberdade acaba sendo o sentido da vida de cada pessoa.
Mas ao mesmo tempo você diz que essa liberdade pode ser traduzida de diversas maneiras: para uns é dinheiro, para outros é não depender de dinheiro, etc.
Ou seja, essa liberdade não é algo objetivo e igual para todo mundo, mas algo que varia de pessoa para pessoa.
No fim, a liberdade nunca é uma coisa absoluta completa em si mesma, mas sim algo que está sempre atrelado a alguma outra coisa "fora" dela.

Mais: analisando os teus exemplos, penso:
Toda "liberdade" acaba custando um pouco de ... liberdade.

Se quero dinheiro, sou obrigado a fazer coisas que não gostaria de fazer, trabalhar em algo que não é exatamente do meu interesse, acabo ficando preso a rotinas e a compromissos. Não posso simplesmente abandonar as coisas porque quero. Tenho responsabilidades com os demais.

Se não quero depender de dinheiro nem da sociedade, acabo me privando de certos prazeres, de certas vantagens de viver em sociedade. Ter acesso a museus, bibliotecas, livrarias, cinemas, restaurantes, universidades, palestras, variedade de roupas, móveis, alimentos, etc.

A liberdade nunca parece ser completa e total. Sempre existe um limite.

Eu creio que o ser humano seja insatisfeito por natureza.
Estamos sempre em busca daquilo que ainda nos falta, na esperança de que ao alcançarmos o objeto ou objetivo do nosso desejo seremos mais felizes, mais completos. Mas o prazer da conquista dura pouco. Todo iniciante em fotografia deseja comprar uma câmera DSLR, passa meses e meses pesquisando, angustiando, quer fazer a melhor escolha. Depois que compra, já está pensando em comprar uma nova lente, depois um flash, depois uma câmera ainda mais cara. Ele quer um cliente, depois quer um cliente que valorize o trabalho dele, quer ser reconhecido pelos colegas de profissão. E por aí vai.

A história da arte do séc. XX é uma busca pela liberdade.
O artista do séc. XX desejou se livrar de toda preocupação de ordem religiosa, moral, politica, social. Quis se livrar até mesmo da responsabilidade de agradar o observador, o crítico. Buscou se livrar de toda e qualquer influência, ansiou criar algo original nunca criado antes. E essa ânsia de ser intocável arrastou a arte para o "canto da sala" no qual ela se encontra ultimamente. A busca pela liberdade total, ao invés de permitir ao artista a liberdade de andar por onde quisesse, na verdade só lhe levou a assumir uma outra obrigação.

Por isso, não acredito em uma liberdade absoluta. E ter consciência disso é estranhamente ... "libertador".

O que você acha?

Obs: obrigado por ter compartilhado esse vídeo. Achei bom demais!
Obs²: Estamos fugindo um pouco do tema do tópico né?!
Obs³: Gosto de discutir sobre esses assuntos, embora esse tipo de conversa seja bem menos frequente do que discussões que giram em tono da técnica/marketing.


C R O I X

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Resposta #201 Online: 24 de Novembro de 2016, 05:57:16
Mas eu também acredito que quando você tem domínio sobre o seu ofício as coisas se tornam mais fáceis. As pessoas sentem confiança em você, sentem na sua fala ou no seu agir que você sabe sobre o que está falando/fazendo. Quando isso acontece, é muito mais fácil para elas se interessem pelo seu trabalho, pelo seu modo particular de enxergar ou fazer as coisas.

As pessoas podem ter mais confianca, mas nao quer dizer que isso determine o sucesso.

Laguerre na sua infancia, fazia fotografias de rua e de acoes com uma grande formato, como se estivesse fotografando 35mm. Podemos dizer que eh o primeiro fotografo de rua e de acao de verdade, antes de existir cameras 35mm. E ele tinha um dom e conhecimento naturalpara a coisa. Mas na idade adulta, nunca conseguiu realisar seu sonho de ser um fotografo profissional.

E a mesma coisa acontece com inumeros artistas que sao bons tecnicamente.

O sucesso esta em fazer com que as pessoas gostem de vc, se relacionem com sua personalidade, e confiem em vc mesmo vc aparentando saber o que faz.

Existem uma pesquisa que nos EUA, asiaticos tendem a terem menos chances de serem contratados, ou passar na entrevista de empregos, mesmo sendo altamente qualificados e conhecedores de suas respectivas areas, pq esses sao mais introvestidos e tem menos habilidade em manter uma conversa fluindo, natural e descontraida. Empregadores entao, acabam tendendo a dar preferencia para pessoas com uma personalidade mais "cativante", mesmo que menos qualificados.


fabiomoreira

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Resposta #202 Online: 24 de Novembro de 2016, 15:09:40
Concordo contigo. Confiança não determina sucesso.
Mas ainda custo acreditar que exista apenas uma explicação para o sucesso.

Mas, voltando a questão do Cartier-Bresson. É difícil admitir que seu o sucesso advém unicamente dessa espécie de "talento" ou "genialidade". Vários fatores contribuíram para isso. O lugar onde nasceu, as pessoas que conheceu, as condições próprias da sua época, etc.

Eu acredito que se as pessoas se derem conta de que o sucesso de Bresson não se deve necessariamente pelo fato de suas fotografias possuírem um tipo de composição "sagrada", ou por ele ser um mestre em capturar o "momento decisivo", ou por ele ser o "pai do fotojornalismo", ou enfim, todo esse tipo de explicação que já foi amplamente difundida, cara, eu acredito que isso já é um grande avanço.

E, quanto a pesquisa que você mencionou:
- Cara, é complicado. É desanimador na verdade.
Isso me lembrou um vídeo. Não tem nada haver com sucesso e negócios, mas mostra o quanto o ser humano é influenciado pelas aparências.
[A parte do vídeo a que me refiro começa aos 02:27]




Vai ver, no fim, o importante nem é necessariamente ser um sucesso. Aparentar ser um sucesso já é mais do que suficiente - e essa pode até ser uma boa maneira de iniciar uma carreira de .. "sucesso".




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Resposta #203 Online: 25 de Novembro de 2016, 09:00:55
Concordo contigo. Confiança não determina sucesso.
Mas ainda custo acreditar que exista apenas uma explicação para o sucesso.

Mas, voltando a questão do Cartier-Bresson. É difícil admitir que seu o sucesso advém unicamente dessa espécie de "talento" ou "genialidade". Vários fatores contribuíram para isso. O lugar onde nasceu, as pessoas que conheceu, as condições próprias da sua época, etc.

Eu acredito que se as pessoas se derem conta de que o sucesso de Bresson não se deve necessariamente pelo fato de suas fotografias possuírem um tipo de composição "sagrada", ou por ele ser um mestre em capturar o "momento decisivo", ou por ele ser o "pai do fotojornalismo", ou enfim, todo esse tipo de explicação que já foi amplamente difundida, cara, eu acredito que isso já é um grande avanço.

E, quanto a pesquisa que você mencionou:
- Cara, é complicado. É desanimador na verdade.
Isso me lembrou um vídeo. Não tem nada haver com sucesso e negócios, mas mostra o quanto o ser humano é influenciado pelas aparências.
[A parte do vídeo a que me refiro começa aos 02:27]




Vai ver, no fim, o importante nem é necessariamente ser um sucesso. Aparentar ser um sucesso já é mais do que suficiente - e essa pode até ser uma boa maneira de iniciar uma carreira de .. "sucesso".
Eh a velha e ja antiga conhecida regra do lugar certo, entre as pessoas certas e no momento certo. E o sucesso esta na capacide de cada um criar tais condicoes favoraveis a si mesmo.

Isso vale para todo mundo e nao somente para Bresson.

Isso tambem nao significa que bresson nao mereca nengum recongecimento, que suas  fotos nao tenham qualidade, etc.

Muitas pessoas que fazem algo sem real talento e qualidade, obtem grandes oportunidades atraves de seus contatos e dinheiro. Mas esses nao duram, nao ficam para a historia. Igual musica que toca em radio, apenas as musicas que mais influenciam e fala atravez das pessoas, ficam imortais. Bresson eh imortal pq ele tem suas qualidades e influenciado muitos fotografos.

Obviamente, ha muitas pessoas com grande talentos e habilidade, mas que nunca atinge tal sucesso, por nao encontrar as condicoes favoraveis a si.


victorreis777

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Resposta #204 Online: 28 de Novembro de 2016, 13:24:38
Como fui passando as páginas e lendo não guardei o nome dos usuários, mas meu comentário não é de pontuações pessoais, sendo só o que eu estava refletindo aqui depois de ler as respostas e argumentos...

Fulano faz sempre a mesma coisa/PB demonstra isso ou aquilo

Será que fulano sempre faz a mesma coisa ou você não compreende o que ele quis dizer por não se identificar com o motivo, sentimento, ter conhecimento teórico ou apreciar o estilo? Além disto, mesmo a mais “objetiva” das imagens não é nenhum pouco objetiva podendo ser interpretada de maneiras consideradas absurdas e grotescas de acordo com o observador (vide os casos de autores como o poeta Manoel de Barros que não gostava de suas poesias em provas por auferirem interpretações que não condiziam) . Outro ponto que considero mister é como é para o artista o processo de criação, pois nem sempre a obra é uma “escolha” , aquilo vem das entranhas e mede forças com o “homem”. A obra é mais forte que o homem?
O que significa a repetição? Talvez a repetição seja a forma como essa intuição, alma, inconsciente ou eu lírico tenta expressar-se ou expressa-se através do bicho homem. Lembro do “recordar, repetir e elaborar”1 e me vem a ideia de que algo ali está tentando ser elaborado e compreendido. Um sonho? Um sentimento? Um amor? O que move um homem? A arte é expressão e/ou técnica? Seria a repetição do SS algo pessoal e/ou a expressão do momento, das pessoas e do ambiente/mundo que ali apresentava-se?

Quais suas bagagens? O que lhe traz prazer? O que espera da/de uma fotografia? Qual sua área na fotografia? Algumas áreas são analíticas, outras visam mais a emoção... e isto poderá influenciar o sujeito no seu modo de ver e é por onde ocorre o “através”, o entrecruzar da percepção, sensação e talvez até cognição. Moldamos o mundo à nossa volta? (!)

Vivemos em um período de fetiche científico, este é o mito da contemporaneidade, o analítico, a obsolescência e os superlativos. Claro que alguns profissionais precisam de 100MP e lentes ultranítidas, mas muitos adquirem o equipamento e não possuem conhecimento técnico/teórico e/ou nem entendem realmente o que significa aquilo ali e mesmo as exigências que são feitas pelo equipamento. A aparência sobrepõe-se à essência, mas com um disfarce de aparência como essência. Obviamente se existem condições financeiras não há motivo de não ter o melhor equipamento, pois este possui sua importância no processo, podendo ser mesmo limitador em alguns casos.
Necessário também considerar o bombardeio de imagens que ocorre na internet, televisão, etc... E que temos redes sociais com bilhões de "fotógrafos". Acredito que nossa percepção sobre fotografia é bastante diferente daquela época também por conta disto e da facilidade que se tem tanto referente ao equipamento quanto conhecimento gratuito...

As fotos do SS ou HCB não são minha preferência, mas o que representam naquele meio e momento? O equipamento e técnica são adequados e preenchem os requisitos para o sucesso da produção da obra? Em Êxodos, SS disse "Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…”  Será que este homem precisa de uma Hasselblad de 200MP para viajar o mundo fotografando por aí e representando isto? HCB  tinha background artístico como já foi citado aqui por colegas, será que precisava de equipamento tão clínico/analítico para realizar suas fotos? O que isto mudaria nas fotos dele?



1 Aos interessados em Psicanálise ou em compreender a alusão de maneira mais completa só buscar por “recordar, repetir, elaborar Freud”


« Última modificação: 28 de Novembro de 2016, 13:36:33 por victorreis777 »
"O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias."  Friedrich Nietzsche