Eu normalmente não gosto da maneira como alguns fotógrafos tratam a questão dos moradores de rua, principalmente dos fotógrafos tímidos, que mantem distancia, das fotos que são tiradas de longe, que acabam destacando algumas realidades do morador de rua como a pobreza, a falta de higiene, as doenças, a fome e o abandono, como se eles fossem apenas mais um objeto que precisasse ser retirado do meio do lixo, das sobras e do desprezo social.
Sim eles precisam ser retirados do meio do desprezo e do lixo, afinal essas questões são tão evidentes e incomodam profundamente a sociedade. Mas de tantas fotos abordando desta maneira esse sofrimento, acaba desvalorizando ainda mais a questão. Em um mundo tão povoado de imagens onde prevalece o feio e a dor profunda que incomoda, chega uma hora que cansa, e o expectador não quer mais olhar para isso. Este exagero acaba desvalorizando ainda mais essa questão.
Não é o caso do Lee Jeffries, que percebeu que existem outras realidades dentro desse mundo. Ele deu um passo a frente para isolar os elementos tão evidentes, e com essa proximidade trouxe para a sociedade uma abordagem diferente: ora, “são seres que tem alma”.
Sim a melancolia, a tristeza e o sofrimento continuam ali, somados ao tempo do vazio, da espera por algo que não vem, e a referência clara á insegurança e incertezas do futuro.
Mas agora eles são protagonistas de um mundo diferente, que não ficava evidente para a sociedade, sim, eles são belos, tem personalidade, são seres humanos, gente como a gente, estão sofrendo, mas estão ali.
Lee Jeffries, é um mestre dos gestos, da expressão, da segunda exposição, um mestre do dodge and burn, da dramaticidade da luz, é o cara que fica ali por horas e horas fazendo o tratamento de uma única foto.
Muito bacana o trabalho dele!!!