Autor Tópico: THE AMERICANS - ROBERT FRANK  (Lida 5495 vezes)

Bucephalus

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Resposta #15 Online: 21 de Novembro de 2017, 18:45:17
Eu nao sabia que o livro de Robert Frank foi a base de um projeto apresnetado e financiado para realizar um livro final. Mas mesmo saindo com um tema, local e sabendo o que fotografar, ele planejou como seria a caracteristica, composicao, luz e demais aspectos de cada foto premeditadamente? Ou ele chegou no local e simplesmente fez de acordo com o que o momento inspirava? Ele fez cada foto ja sabendo que aquele clique vai para o livro? Ele fez as fotos com a mente pensando sobre em fazer algo que o expectador olhe mais de 1 vez? Ou ele simplesmente estava ali e so ali e foi fotografando sem ficar pensando em como cada foto vai ficar no livro?

Ele obviamente não planejou todos os mínimos detalhes de cada foto. Ele estava fazendo fotografia documental, e não de estúdio. Ele foi até o local que planejou, tirou umas 30 fotos lá, e selecionou 1 que funcionou para o livro. Ele fez o enquadramento que deu pra fazer na hora, com a luz que o local tinha.

Mas essa mentalidade de pensar nas qualidades do trabalho e nas qualidades do fotógrafo em termos de fotos individuais, como você está fazendo, é a lógica errada para esse trabalho. As fotos individuais são praticamente secundárias no The Americans, é o conjunto delas que importa.

A concepção que o Robert Frank teve, o conjunto, e como ele colocou as fotos juntas é o que importa. Certas frases em um livro são importantes, mas um grande romance não é medido pelas frases individuais que o escritor colocou nas páginas, mas sim pela história que é contada quando as frases são colocadas juntas. Certas cenas em um longa metragem são importantes, mas a qualidade de um filme e o talento do diretor não são medidos pelas cenas individuais, mas sim como o total é apresentado. Muitas fotos no The Americans mostram o talento do Frank, mas muitas fotos são extremamente comuns, com algumas indo contra o que muitos concebem como boa fotografia. O grande lance do The Americans é o conjunto, como um foto flui em relação a próxima, e como o conjunto todo comunica uma idéia que é a maior que a soma das partes.


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Resposta #16 Online: 21 de Novembro de 2017, 20:01:09
Ele obviamente não planejou todos os mínimos detalhes de cada foto. Ele estava fazendo fotografia documental, e não de estúdio. Ele foi até o local que planejou, tirou umas 30 fotos lá, e selecionou 1 que funcionou para o livro. Ele fez o enquadramento que deu pra fazer na hora, com a luz que o local tinha.

Mas essa mentalidade de pensar nas qualidades do trabalho e nas qualidades do fotógrafo em termos de fotos individuais, como você está fazendo, é a lógica errada para esse trabalho. As fotos individuais são praticamente secundárias no The Americans, é o conjunto delas que importa.

A concepção que o Robert Frank teve, o conjunto, e como ele colocou as fotos juntas é o que importa. Certas frases em um livro são importantes, mas um grande romance não é medido pelas frases individuais que o escritor colocou nas páginas, mas sim pela história que é contada quando as frases são colocadas juntas. Certas cenas em um longa metragem são importantes, mas a qualidade de um filme e o talento do diretor não são medidos pelas cenas individuais, mas sim como o total é apresentado. Muitas fotos no The Americans mostram o talento do Frank, mas muitas fotos são extremamente comuns, com algumas indo contra o que muitos concebem como boa fotografia. O grande lance do The Americans é o conjunto, como um foto flui em relação a próxima, e como o conjunto todo comunica uma idéia que é a maior que a soma das partes.
Eu concordo com vc. Todo livro deve ser feito com uma "narrativa". Ate revistas e Jornais as paginas sao pensadas e organizadas para que seguem uma logica narrativa, incluindo as paginas publicitarias, e nao jogados textos, imagens e publicidade de forma aleatoria. E nada disso impede que cada pagina, imagem e texto seja pensado e trabalhado individualmente.

Nao eh tao obvio para mim que ele nao tenha planejado foto por foto. Eu tenho um projeto de livro que mistura narrativas de texto e fotos (sendo que as fotos nao sao mera ilustracao mas parte da continuacao da narrativa do texto). E cada foto em cada pagina foi pensada para ser de X maneira. Ou seja, para o livro eu preciso de aproximadamente 20 fotos e cada uma delas sera trabalhada individualmente para eu fazer 1 click para cada uma delas se possivel. Mas todas serao usadas para seguir uma narrativa entre elas, todas ja tendo sua pagina definida no livro. Mas como eu disse, por mais que eu tenha escrito a descricao de como sera cada foto, incluindo luz, local, poses de modelos, angulos, etc (tal como feito para cinema), tudo isso sao apenas motores. O momento da criacao sera aberto para expontaneidade e incorporar as ideias e inspiracoes que aparecerem ali na hora (capiturar a voz do momento, da criacao). Ou contrario de trabalhos em que vc tem que seguir o script de alguem a risca e por isso nao ha tal "voz" do momento no trabalho (o que foi chamado aqui no topico de "obvio").

Eu tenho 4 livros de fotografia e nenhuma das fotos que estao no livro foi feita pensando em fazer um livro. Mas todos os livros tem uma narrativa ao qual eu organizei as fotos. E nem as foto nos livros sao aleatorias. O meu livro de fotografia de "natureza morta" (still) sao fotos feitas em um periodo de mais de 5 anos de fazes diferentes, mas o sentido, proposito, motivacao e inspiracao de todas as fotos sao basicamente a mesma (corpo, expressao e alma).
« Última modificação: 21 de Novembro de 2017, 20:15:31 por C R O I X »


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Resposta #17 Online: 22 de Novembro de 2017, 00:04:09
Bom, no caso do The Americans (e imagino que qualquer outro trabalho documental) as fotos nao foram pensadas individualmente em todos os minimos detalhes. Talvez isso seja possivel com modelos ou em um estudio, mas nao eh algo que acontece ao se tirar fotos do mundo real. O Robert Frank planejou os locais, objetos e cenas que queria fotografar, e tudo isso esta registrado em cartas e documentos oficiais. Mas planejar exatamente como as fotos sairiam eh algo que ele nao pode controlar, obviamente.

E o ponto principal eh que isso nao importa. o Robert Frank nao se importava com fotos individuais -- alias, isso eh algo que ele disse em correspondencias com outras pessoas, esta registrado oficialmente na historia. Ele disse acreditar em sequencias de imagens, e nao fotos individuais. E olhando as fotos individualmente da pra ver que ele nao se importava com as minucias do enquadramento ou fotometria.

Essa foto no The Americans eh tao incrivelmente sem sentido e feia que ela acaba sendo bonita:



Que diabos de enquadramento eh esse? Ele queria fotografar a mesa e os cartazes, e ele nao centralizou esses elementos, deixando um monte de espaco negativo do lado esquerdo e embaixo da imagem.

Outra imagem que nao faz sentido, cortando o homem quase que pela metade e deixando a foto com uma harmonia desconfortavel:




A razao de todas essas cagadas nas imagens eh em parte porque ele estava fazendo fotos rapidas, na rua, e nao tinha tempo para enquadrar corretamente. Mas na maiorias das vezes o motivo principal eh que ele nao se importava. Fazer fotos bonitas nao importava pra ele. Calcular cada minimo detalhe na fotografia nao importava. Na foto da mesa e dos cartazes ele provavelmente tinha bastante tempo para enquadrar como quisesse, afinal estava fotografando um objeto inanimado em um lugar publico, mas ainda assim ele nao se importou com essas formalidades. O importante pra ele era capturar um momento, e fazer uma foto falar com a outra numa sequencia narrativa que declara a ideia que ele quer passar.

Nesse sentido, o Robert Frank eh o anti-Cartier Bresson. O Bresson queria comunicar uma ideia atraves do momento ideal que soh dura uma fracao de segundo, e captar essa ideia em uma imagem individual perfeita. O Bresson nunca se importou em fazer livros com sequenciamento ou narrativa, essa nao eh a escola de pensamento dele, e da pra ver isso claramente na fotografia dele. Todas as fotografias do Bresson sao incriveis, mas nenhum livro dele tem o mesmo nivel do The Americans. Ja o Frank queria tirar varias fotos, a maioria completamente imperfeita e ruim pelos padroes classicos, e coloca-las em um conjunto que se transformaria em perfeito.
« Última modificação: 22 de Novembro de 2017, 00:11:12 por Bucephalus »


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Resposta #18 Online: 22 de Novembro de 2017, 12:07:29
Bucephalus,

O que vc descreve eh que ele nao fotografa pela foto mas pelo momento. A relacao dele nao eh com a foto mas com o momento. A comunicacao dele nao eh um monologo com a foto mas um dialogo com o momento. Em outras palavras, nao eh registrar um ideal da aparencia fisica para atrair as pessoas com o apelo da tangibilidade material da imagem (distracao), nao eh mostrar o obvio. Mas sim tocar o que esta alem das aparencias fisicas e transmitir a experiencia (dialogo dele) com a essencia da experiencia do momento (chamado aqui de sutileza).

"My film is not a movie. My film is not about Vietnam. [Making it is] what it was really like" - Francis Ford Coppola on Apocalypse Now (1979)


----------------

Eu estou vendo essas duas fotos pela primeira vez e pela descricao que vc deu sobre a relacao de Robert Frank com a fotografia, eu discordo que essas duas imagens nao tenham sentido ou tenham enquadramento feio ou sem sentido.

O que a primeira foto visualmente diz nao eh sobre a mesa. Se a espectativa for em ver a mesa como o tema ou motivo da foto entao nao faz sentido mesmo. A foto eh sobre o ambiente em que a mesa se encontra. O espaco que vc chama de vazio nao eh vazio. Ali eh o horario do dia, o clima, a proximidade da janela e o ambiente.

A segunda foto tambem nao ha nada de errado com o enquadramento. Na verdade eh um enquadramento bem feito que so nao fara sentido se a atencao for feita exclusivamente ao casale ignorando o resto. A vitrine, a linha da passagem de pedestre e talvez ate mesmo o letreiro "Infants wear" pode comunicar algo em relacao com o estilo do casal. Pode ter sido um enquadramento acidental como vc disse, mas eu tenho forte impressao de que nao foi.

Mas minhas fotos de rua sao nesse estilo e meus enquadramentos, por mais que eu tenho poucos segundos para tomar a decisao e fazer a foto, sao sim pensados o tanto quanto possivel. Nao de forma verbalizada dizendo mentalmente "olha isso, vou colocar assim na foto". Mas simplesmente sentindo o momento com a imagem (o que pode ser chamado de tocar/sentir com os olhos, pq se tentar ver nao vera).

Veja essas minhas fotos por exemplo:






Eh a mesma historia do jogador de basquete que acerta 99% na cesta sem pensar na distancia, forca e posicao exata da cesta, do musico que toca algo perfeito ali criado na hora sem pensar nas notas, do cozinheiro que cria um prato delicioso sem medir ou saber exatamente cada grama de cada ingrediente que usa, e do construtor que cria uma incrivel e bem feita casa sem blue print. E se cada um for explicar como fazem para acertar eles nao sabem dizer, eles apenas dizem que nao pensam muito, apenas vao com o momento.

Boccaccio diz a Giotto que com o seu pincel ele eh "capaz de retratar qualquer coisa criado pela natureza, ate o ponto da decipcao". E ele diz isso como crotica "a real arte que ha centenas de anos foi enterrada por causa do erro daqueles que pintam para o prazer dos olhos dos ignorantes, do que para a satisfacao do conhecimento dos inteligentes". Palavras dele.


Arnalsan

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Resposta #19 Online: 22 de Novembro de 2017, 12:11:14
Croix,

"Na arte a execução é que faz a criação". Eu não entendo desta forma. Se considerarmos que Da Vinci fez milhares de sketches de partes do corpo humano para se esmerar nas suas grandes obras em detalhes que chegam a ser espetaculares me leva a crer que o processo de criação se inicia muito antes do ato, seja ele qual for.

Concordo que durante o processo de execução haverá uma criação, porém,  como os grandes artistas tem um “assinatura invisível” esta só pode ser expressão de um processo reflexivo ou seja uma consciência da criação.
Sobre seu processo criativo, onde você diz “O expectador da foto para mim não existe na hora de fazer a foto” eu realmente não compreendo, eu isto porque estou tentando me entender neste caso, como você poderá comunicar a sua intencionalidade (seja a beleza da cena, a luz, qualquer coisa) se não se preocupar como o espectador irá apreciar aquela imagem? Talvez exista este dialogo do “como isto será entendido?”, evidentemente se você tiver este interesse.

Eu penso que se digo em qualquer língua “Men yaxshi fotograf bo'lishni xohlayman” eu tenho uma intenção ao expressar isto, porém, o receptor tem que ser capaz de entender.


Bucephalus,

Talvez esta falta de harmonia desconfortável no exemplo da fotografia que você postou seja uma característica da intencionalidade dele para realmente imprimir no trabalho dele este desconforto que ele sentiu com a situação Americana há época


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Resposta #20 Online: 22 de Novembro de 2017, 13:02:43
Arnalsan,

Quando eu digo que a execucao eh a criacao ou a arte, eu nao quero dizer que nada foi pensado, preparado ou obtido como inspiracao antes do artista pegar no pincel/camera/etc. O que eu quero dizer eh que a relacao do artista com o momento eh a arte ou a criacao. Observe que os rascunhos de Da Vinci nao tem os movimentos, texturas, tonalidades, presao e experiencia visual que vc ve na pintura, pq a pintura a experiencia do momento foi outra.

E pelo que sabemos de Da Vince, ele nao costumava terminar suas encomendas tendo concluido pouquissimas obras. Muito talvez pq como artista, o que ele experienciava nos rascunhos, ao buscar transcrever para a pintura nao obtia, e o desapego da experiencia o fazia abandonara a criacao. Pq pessoas que sao profundamente artistas, nao conseguem realmente fazer nada que nao tenha um apego e relacao com a apreciacao do momento.



Ja o que vc chama de assinatura invisivel eu nao tenho certeza ao que vc se refere. Mas eu sinto que vc se refere a esse "invivivel", ou "essencia", ou chamado aqui de "sutileza". Mas que nao tem nada a ver com algo meramente de efeito visual igual de alguem que diz que o DOF curto ou contrast X eh assinatura da pessoa, o que nao tem absolutamente nenhuma relacao com o que talvez vc se refira a "assinatura invisivel".

Muitos podem falar que o triangulo de luz no rosto que ha nas pinturas de Rembrandt eh a "assinatura" dele, como se a luz no rosto fosse apenas uma forma e efeito visual vazio e feito repetidamente para ele mostrar tal efeito. Eh uma forma muito errada e vazia de ver o que significa o uso da luz dele que se refere ao instante momento (atemporalidade) e silencio visual. E essa essencia por tras das aparencias. E isso nao eh assinatura ou mero efeito visual concientemente pre planejado, mas sim a impressao que obtem durante o momento que trabalha a pintura. O mesmo para os labios e olhos de Mona Lisa. O mesmo para as pinceladas de Monet e movimentos de Van Gogh.

Eu nao sei se vc ja pintou ou desenhou, mas chegue a um pintor ou desenhista e pergunte a ele o que ele pensa, planeja, tenta, quais sao as palavras que vem e vao em sua cabeca durante o momento de execucao da pintura, mesmo que a pintura seja de um predio, um retrato ou algo imaginario. A resposta que vc tendera a ouvir sera que ele nao pensa, tenta, planeja nada, mas simplesmente observa e faz, pq se pensar muito perde a atencao, se destrae e assim nao faz o que deseja de forma satisfatoria, ficauma obra vazia, sem voz, sem relacao com momento algum. Sem essencia.


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Resposta #21 Online: 22 de Novembro de 2017, 13:23:22

Sobre seu processo criativo, onde você diz “O expectador da foto para mim não existe na hora de fazer a foto” eu realmente não compreendo, eu isto porque estou tentando me entender neste caso, como você poderá comunicar a sua intencionalidade (seja a beleza da cena, a luz, qualquer coisa) se não se preocupar como o espectador irá apreciar aquela imagem? Talvez exista este dialogo do “como isto será entendido?”, evidentemente se você tiver este interesse.

Eu penso que se digo em qualquer língua “Men yaxshi fotograf bo'lishni xohlayman” eu tenho uma intenção ao expressar isto, porém, o receptor tem que ser capaz de entender.

So existe uma intencao quando se fala de Arte, a experiencia do momento e o dialogo com a essencia do momento por tras das aparencias. Essa eh a verdadeira arte, ciencia e religiao.

Quando vc esta se banhando no mar, curtindo o momento vc esta experienciando o momento, mas entao vc decide comunicar ou mandar uma mensagem para seua amigos no facebook, titando uma foto e postando para eles verem. A mensagem pode ser vc curtindo, vc relaxado, vc de ferias, o tempo bom, a sua boa vida, o quanto vc eh da hora, etc... Mas uma vez que vc tem essa intencao de transmitir por transmitir, fazer as pessoas terem uma impressao que vc busca criar nelas, a sua ligacao e experiencia do momento em si eh outra, eh desconecta, a sua mente e etencao esta nao ali, mas no facebook, nas expectativa da reacao de quem ve seu post, nos "likes" e "comentarios", no visor da sua camera.

Outra coisa eh vc fazer uma foto pq sente algo apreciavel ali, nao o sol, o ar ou a luz mas algo que esses elementos visuais transmitem que vai muito alem da apreciacao do sol, mar, luz, etc... E muito menos pq vc quer transmitir algo a alguem, mas sim apenas experienciar tal momento com a ferramenta que vc registra.  E so depois quando o momento passou, vc esta em casa atoa, sem o que fazer, ou no transito, entao vc lembra da foto e compartilha para as pessoas verem. Talvez ninguem entenda a sua experiencia e o que vc viu, talvez as pessoas so vejam o sol, o mar ou "olha a vida boa". Mas nao faz mal pq vc nao tem expectativa de que as pessoas compreendam ou conhecam o contexto em que vc se encontrava e da motivacao da foto.


----

indo alem:

Vc pode escrever uma pequena frase no mais correto e claro portugues e mesmo assim haver muita gente que nao compreendera, ou dara inumeras interpretacoes ao que foi dito. Pq a compreencao esta no contexto ao qual nem sempre todos compreendem ou captam. Certos contextos so se entende ou percebe apos uma previa experiencia e sem aqual muita gente nao entendera.

Na verdade, hoje em dia quase ninguem, ou talvez ninguem mesmo que tenho estudado profundamente pinturas renascentistas entendem elas. E muita gente que estudou arte tambem continuam nao entender achando que entendem. As pessoas mal entendem as historias e ensinamentos de suas proprias religioes, mesmo os mais fanaticos, e talvez esses sejam os que menos entendam.

Hoje em dias as pessoas leem imagem de forma literal. A simbologia abristrada da linguagem visual do passado as pessoas ja nao conhecem hoje em dia. Pq hoje em dias vivemos em um mundo meramente materialista e apelativa a experiencia material.
« Última modificação: 22 de Novembro de 2017, 13:27:30 por C R O I X »


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Resposta #22 Online: 22 de Novembro de 2017, 21:13:27
Bucephalus,

O que vc descreve eh que ele nao fotografa pela foto mas pelo momento. A relacao dele nao eh com a foto mas com o momento. A comunicacao dele nao eh um monologo com a foto mas um dialogo com o momento. Em outras palavras, nao eh registrar um ideal da aparencia fisica para atrair as pessoas com o apelo da tangibilidade material da imagem (distracao), nao eh mostrar o obvio. Mas sim tocar o que esta alem das aparencias fisicas e transmitir a experiencia (dialogo dele) com a essencia da experiencia do momento (chamado aqui de sutileza).

Correto, mas o lance principal, que eu nao sei se voce esta captando da mesma forma que eu estou, eh que essa comunicacao para o Frank nao acoontece com uma unica imagem. Ele nao se preocupa em esculpir uma unica foto com os minimos detalhes do que ele quer transmitir. Ele transmite a mensagem dele atraves do conjunto de imagens, de diferentes momentos e cenas. Ele usa uma fotografia para potencializar a outra, ou para demonstrar similaridades, ou contrastes.

Acredito que pro Frank o "momento" nao eh toda essa magica poetica, pra ele o momento eh somente um artificio que ele vai usar para contar uma historia.

A sutileza da fotografia dele esta na narrativa muito mais do que nas fotos individuais. As fotos individuais do The Americans praticamente nao significam nada; o significado de cada uma soh existe ao se observar todas elas, em conjunto.


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Resposta #23 Online: 22 de Novembro de 2017, 21:21:56
A segunda foto tambem nao ha nada de errado com o enquadramento. Na verdade eh um enquadramento bem feito que so nao fara sentido se a atencao for feita exclusivamente ao casale ignorando o resto. A vitrine, a linha da passagem de pedestre e talvez ate mesmo o letreiro "Infants wear" pode comunicar algo em relacao com o estilo do casal. Pode ter sido um enquadramento acidental como vc disse, mas eu tenho forte impressao de que nao foi.

Uhm... eu nunca ouvi essa interpretacao para essa foto. Nao que a sua interpretacao esteja necessariamente errada, mas duvido que esteja correta. Essa foto do casal esta na primeira parte do livro, que informalmente lida com "figuras de autoridade" da sociedade americana. O foco da foto eh o casal, e mais especificamente o oficial uniformizado. Essa imagem faz parte de uma serie de fotos retratando politicos corruptos e oficial publicos bonachoes, e a faixa de pedestres ou a vitrine ao fundo provavelmente pouco importam, pois o foco eh o militar gordo que mal cabe dentro do proprio uniforme, representando a arrogancia e prepotencia das autoridades de estado -- essa eh a interpretacao que mais faz sentido em relacao as fotos que aparecem antes e depois dessa no livro, todas seguindo o mesmo tema narrativo.


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Resposta #24 Online: 22 de Novembro de 2017, 21:31:15
Bucephalus,

Talvez esta falta de harmonia desconfortável no exemplo da fotografia que você postou seja uma característica da intencionalidade dele para realmente imprimir no trabalho dele este desconforto que ele sentiu com a situação Americana há época

Sim, essa eh certamente uma das interpretacoes, e uma que eu tambem tive por muito tempo. Talvez a realidade seja uma mistura dos dois: primeiro, o Frank nao se importa com beleza, harmonia e composicoes classicas, assim como nao se importa com fotos individuais; segundo, ao descobrir que a sociedade americana era feia e cruel, ele decidiu fazer fotos igualmente "feias" para retratar o pais.

Eu tenho uns livros do Frank que ele criou antes da viagem pelos EUA, e apesar de algumas composicoes serem meio esquisitas, em geral elas eram menos caoticas do que as imagens do The Americans.

Uma curiosidade sobre o Frank que mostra como ele nao se importa com beleza visual: durante uma decada ele usou uma lente desalinhada na Leica dele. Ele usava uma 50mm que tinha caido no chao e que nao estava mais alinhada com o negativo. O resultado eh que muitas fotos dele eram impressas com as perfuracoes do filme 35mm em um dos cantos, e ele nem ao menos se importava em cortar elas da foto final.

Capa do livro Valencia, com os buracos do filme na parte inferior:



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Resposta #25 Online: 22 de Novembro de 2017, 22:59:26
Ele nao se preocupa em esculpir uma unica foto com os minimos detalhes do que ele quer transmitir. Ele transmite a mensagem dele atraves do conjunto de imagens, de diferentes momentos e cenas. Ele usa uma fotografia para potencializar a outra, ou para demonstrar similaridades, ou contrastes.

Concordo integralmente e realmente ao olhar pela primeira vez para as fotografias isoladas e sem entender o contexto em que ele e a América estava inserido as fotografias não faziam sentido. Ao entender o contexto eu fiz as conexões entre as fotografias e uma potencializa a outra realmente, mostrando, uma América caótica muito diferente do que o governo queria vender no pós guerra e no cinema holywoodiano.

Na exposição faz mais sentido ainda ao olhar as folhas de contato e entender porque ele escolheu uma fotografia ao invés de outra (apesar que ele não tirou muitas da mesma, no máximo 5 tomadas - baseado no que vi na exposição) e a preocupação dele era a de montar um discurso antagonico a "impressão da realidade", para usar um termo do Croix usou ou cunhou!

Na exposição tem algumas fotos do livro Valencia e eu não sabia o porque dos buracos dos filmes.

Pelo jeito voce conhece muito mais de Robert Frank do que eu e a razão do post foi realmente provocar esta discussão sobre a importância deste trabalho para a fotografia documental e de rua (em menor grau).







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Resposta #26 Online: 23 de Novembro de 2017, 17:23:27
Correto, mas o lance principal, que eu nao sei se voce esta captando da mesma forma que eu estou, eh que essa comunicacao para o Frank nao acoontece com uma unica imagem. Ele nao se preocupa em esculpir uma unica foto com os minimos detalhes do que ele quer transmitir. Ele transmite a mensagem dele atraves do conjunto de imagens, de diferentes momentos e cenas. Ele usa uma fotografia para potencializar a outra, ou para demonstrar similaridades, ou contrastes.

Acredito que pro Frank o "momento" nao eh toda essa magica poetica, pra ele o momento eh somente um artificio que ele vai usar para contar uma historia.

A sutileza da fotografia dele esta na narrativa muito mais do que nas fotos individuais. As fotos individuais do The Americans praticamente nao significam nada; o significado de cada uma soh existe ao se observar todas elas, em conjunto.

Sim, eu capturei o que vc quer dizer.

Uhm... eu nunca ouvi essa interpretacao para essa foto. Nao que a sua interpretacao esteja necessariamente errada, mas duvido que esteja correta. Essa foto do casal esta na primeira parte do livro, que informalmente lida com "figuras de autoridade" da sociedade americana. O foco da foto eh o casal, e mais especificamente o oficial uniformizado. Essa imagem faz parte de uma serie de fotos retratando politicos corruptos e oficial publicos bonachoes, e a faixa de pedestres ou a vitrine ao fundo provavelmente pouco importam, pois o foco eh o militar gordo que mal cabe dentro do proprio uniforme, representando a arrogancia e prepotencia das autoridades de estado -- essa eh a interpretacao que mais faz sentido em relacao as fotos que aparecem antes e depois dessa no livro, todas seguindo o mesmo tema narrativo.
Eu posso estar errado na minha descricao da foto, mas essa descricao que vc deu da foto nao nega ou elimina a que eu dei da mesma.
« Última modificação: 23 de Novembro de 2017, 17:41:05 por C R O I X »


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Resposta #27 Online: 23 de Novembro de 2017, 17:36:44
Sim, essa eh certamente uma das interpretacoes, e uma que eu tambem tive por muito tempo. Talvez a realidade seja uma mistura dos dois: primeiro, o Frank nao se importa com beleza, harmonia e composicoes classicas, assim como nao se importa com fotos individuais; segundo, ao descobrir que a sociedade americana era feia e cruel, ele decidiu fazer fotos igualmente "feias" para retratar o pais.

Eu tenho uns livros do Frank que ele criou antes da viagem pelos EUA, e apesar de algumas composicoes serem meio esquisitas, em geral elas eram menos caoticas do que as imagens do The Americans.

Uma curiosidade sobre o Frank que mostra como ele nao se importa com beleza visual: durante uma decada ele usou uma lente desalinhada na Leica dele. Ele usava uma 50mm que tinha caido no chao e que nao estava mais alinhada com o negativo. O resultado eh que muitas fotos dele eram impressas com as perfuracoes do filme 35mm em um dos cantos, e ele nem ao menos se importava em cortar elas da foto final.

Capa do livro Valencia, com os buracos do filme na parte inferior:



Segundo John Dewey, a palavra estetica se refere a experiencia de uma obra no ponto de vista do expectador da obra. Denota o ponto do consumidor e nao do produtor da obra.

Ele diz tambem que real obra de arte eh a que faz parte de uma experiencia. A estetica em puramente dita eh essa distracao das aparencias.

Aqui um video falando do livro dele chamado "Art as Experience":
https://www.youtube.com/watch?v=Nb4meto0Oqs


Pelo o que vc fala de Frank, se eu nao soubesse quem eh Robert Frank eu iria pensar que eh um cara qualquer ai tentando me imitar. Mas falando serio, Robert Frank eh um artista, nos entido de buscar explorar a "essencia" e nao a "aparencia". Tal como qualquer artista que faz Arte de fato, ou pelo menos busca tentar fazer. Pq arte eh a busca da "essencia". A aparencia eh distracao da "essencia".

A real beleza da arte nao eh a estetica das aparencias, mas sua essencia. A primeira eh o que costumamos chamar de arte de mau gosto, ou arte para quem pensa que arte eh objeto de decoracao.
« Última modificação: 23 de Novembro de 2017, 17:51:14 por C R O I X »


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Resposta #28 Online: 23 de Novembro de 2017, 18:13:24
Bucephalus,

Eu acabei esquecendo de dizer.
A questao da "experiencia" que eu tenho tratado aqui nao eh uma coisa meramente poetica. Na verdade nao tem nada de poetico. Experiencia que eu falo eh no sentido de descoberta, percepcao, aprendizado, conhecimento. Nesse sentido, a criacao de uma obra sem aatencao da experienciacao do momento eh mera encenacao. Nao no sentido de ser uma encenacao conciente, ou fingimento, mas sim acreditar em desempenhar um papel por nao compreender de fato o que significa o ato de criacao artistica, que nao eh uma mera forma de criar algo para apreciacao de expectadores em museus e decoracoes de casas, mas a percepcao de uma descoberta, conhecimento, aprendizado. A essencia por tras das aparencias. Tal como os EUA de Robert Frank que mostra a essencia vs. a aparencia da america mostrada pela publicidade, politica e entretenimento.

Apesar de nao ter nada a ver com mero "ser poetico", certas coisas nao tem como entender sem buscar uma forma diferente de explicar, e que pode ser uma forma poetica de explicar, ou que pareca uma forma religiosa ou espiritual, como a metafisica que nao tem nada de religioso ou espiritual.

Eh por isso que as tragedias gregas, a literatura biblica, o Taoismo entre muitas outras coisas carregam profundos conhecimentos que nao tem nada de poetico, religioso, espiritual, mas que foi a maneira mais facil de explicar algo que na eh facil de dizer claramente de forma direta.

Por isso mesmo a arte existe. A arte eh a precursora da religiao que eh a precursora da ciencia. Mas que esencialmente eh tudo a mesma coisa. Mas para quem so ve a "aparencia" pensa que sao coisas distintas, lendo a biblia, as tragedias gregas e as pinturas renascentistas de forma literal.
« Última modificação: 23 de Novembro de 2017, 18:16:49 por C R O I X »


Arnalsan

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Resposta #29 Online: 29 de Novembro de 2017, 20:36:19
Um livro muito influente no campo da fotografia de arte que eu descobri uns meses atrás e não tenho conseguido parar de pensar a respeito é "The Pond", do John Gossage. Esse livro é provavelmente o exemplo mais perfeito de uma obra que precisa de muito contexto pra ser compreendida.

Eu recomendo fortemente que dêem uma olhada no livro. Dá pra ver ele aqui, nesse vídeo do YouTube:


Bucephalus, atendi a sua recomendação e foi atrás do livro "The Pond" de John Gossage e hoje o folhei e lí numa biblioteca.

Minhas impressões: Eu achei bem complexo e de uma certa forma perturbardor, isto claro, não vendo as fotografias individualmente mais no conjunto do livro como se Gossage o publicou, e minha leitura é que ele construiu o livro como  que levando o espectador para dentro daquela situação fazendo-nos penetrar e leva-nos ao encontro da civilização e sua destruição dos recursos naturais. De repente a cena muda para fotos sem a linha do horizonte, para cima, e depois as barreiras humanas começam a desenhar as fotografias até colidir nas casas e ou casa de alguém.

Ele não tem o preciocismo das fotografias de landscape como Ansel Adams evidentemente, porém, ele constroiu uma narrativa muito interessante e cada fotografia puxa a próxima.

Se aproxima inclusive do livro "The Americans" pela narrativa onde se mostra a verdade e não a impressão da verdade.

Voce sabe que fiquei com vontade de começar um projeto! foi inspirador..obrigado pela indicação


« Última modificação: 29 de Novembro de 2017, 20:37:59 por Arnalsan »