Pensando sobre o tema mais amplo, acho que esse comportamento de usar os bens materias para definir a própria identidade é muito mais primitivo do que se pensa. Nas sociedades pré-históricas ou mesmo em outras espécies animais, muitas vezes tem maior status social, e consequentemente maior aptidão darwiniana (deixa mais filhos), o indivíduo que acumula maior quantidade de recursos: alimento, parceiras, território etc. Sendo assim, mesmo alguns animais se definem socialmente através do "patrimônio", num sentido amplo.
A diferença, no caso dos humanos, é somente o grau de abstração, mais uma vez. Além de nos definirmos pelos recursos realmente úteis que temos, também nos definimos por recursos inúteis, fúteis. Por exemplo, uma câmera da moda, que nem sabemos usar direito. No fundo, comprar e ostentar uma Nikon D2X sem ser fotógrafo profissional quer dizer: "olhem fêmeas conspecíficas, eu sou capaz de acumular muito dinheiro e, portanto, posso ser melhor pai para seus filhos" ou "olhem machos conspecíficos, tenho mais poder social que vocês, portanto me respeitem".
Defender calorasamente a Nikon, a Canon ou a Minolta significa dizer: "olhem, eu faço parte de um grupo social, não sou um pária". É a mesma coisa que torcer para um time de futebol, outro comportamento "fútil". Quantos torcedores "roxos" realmente frequentam o clube, ou são amigos ou parentes dos jogadores?
É claro que o sistema capitalista incentiva esse comportamento, porém não foi ele quem o "inventou". Em qualquer outro sistema político-econômico ele pode ser observado.