Autor Tópico: O frango desnutrido - relato  (Lida 1366 vezes)

Macrolook

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Online: 22 de Setembro de 2017, 15:03:54
Depois de ter apanhado no fliperama, na escola, na rua, no clube, na creche, na biblioteca e no cemitério, já não queria mais ser espancado em qualquer local que fosse.

Era muito magro, devia ter uns 45 kilos na época, com 1,65 m de altura, usava óculos fundo de garrafa de whisky, usava roupas de metaleiro, devia ter uns 25 cm de braço (quase um graveto), pensando no que poderia fazer, um amigo sugeriu que fosse a uma academia, eu, na minha ignorância (achava que nascia magro, morreria magro, que cada um era como tinha que ser), recusei, então ele disse:

–Então, que tal ajudar? Vamos para um campeonato de supino, precisamos de alguém para tirar fotos e sei que curte isso, vamos? Como era um bom amigo, e já me havia livrado de muitas surras (ele parecia o Chang Koehan do KOF), decidi ir, mas não curtia os caras bombados (vivia apanhando deles), então, uma semana depois fomos para o campeonato.

Nunca tinha visto tanta gente musculosa em um só lugar, umas mulheres gatas, tipo a dos quadrinhos e dos games, nossa, que visão maravilhosa era aquela, comecei fotografar igual um doido, tinha levado uns 6 rolos de filme.
Começa o campeonato, fotografo, faço amizades, quando meu amigo Chang me fala que precisam de mais um nome para ganhar por equipe, me perguntou se poderia me inscrever, eu, viajando nas meninas, disse que sim.
Logo me trazem uma camisa, bem maior que eu, visto, e logo me mandam para o banco do supino, eu, nunca tinha visto supino na minha vida, para mim era um jogo de encaixar peças, sei lá.

Me ensinam o básico no aquecimento, meus braços tremam igual a uma vara verde, mas consegui tortamente executar o movimento.
Foi então, que anunciaram meu nome, gelei, lá fui eu, naquele estádio lotaaaaaado de gente, morrendo de vergonha, deitei, peguei a barra, desci no peito... e esta, por ali ficou.
O estádio inteiro gargalhando, rindo, zuando, vaiando... apontando, queria desaparecer dali, nossa, foi foda.
A barra de competição, era bem mais pesada que a barra normal, e eu era muito frango para aquele peso.
Humilhado, chateado, ganhando olhares e muita zuação, voltei para a tarefa das fotos, ao menos o peso da camera, conseguiria aguentar.

Virei a piada do dia, o povo passava por mim e imitava frango, galinha, voltamos ao onibus da equipe e retornamos.
estava descendo do onibus e fui abordado por um cara, o dono da academia que eu estava "ajudando", ele, gigante, me pediu desculpas, e me ofereceu 3 meses grátis na academia dele, aceitei, mas não fui.
Uma semana depois ele me parou na rua e me perguntou por que não havia ido, eu disse que tinha vergonha, ele riu e falou:
–Acho que depois daquele dia do campeonato, vergonha é o que você não deveria ter, vá lá na academia, preciso de umas fotos, gostei daquelas que tirou.
Fui, depois comecei a treinar, era zuado, tirado, sacaneado, enganado, trolado, feito de escravo, humilhado, até que percebi, que a maioria daquele povo era limitado, aprendiam empiricamente, foi então, que um dia na banca procurando uma revista Playboy (minhas namoradas na época), vi uma edição da revista Muscle Fitness, toda em inglês (ahá, professores disseram que nunca serviria de nada), com um cara chamado Dorian Yates, comprei a revista (cara pra diabo), li, reli, assinei a revista, comecei a me informar, não havia internet (ao menos pra mim).
 Por minha conta, depois de muito ler, pesquisar sobre nutrição e hipertrofia, 2 anos depois, estava lá eu, na mesma academia, sendo requisitado por muitos daqueles que outrora me haviam zuado, querendo saber como tinha chegado aquele resultado, ao invés de ser arrogante, ensinava, ao invés de zuar, explicava.
Conhecimento é poder, frase de Arnold schwarzenegger que levei a risca.

Coloquei em prática uma nova conduta na academia, que virei sócio, os novos alunos não seriam humilhados, trolá-los, uma vez ou outra, mas como brincadeira positiva, muitos são meus amigos até hoje, não por que era grande e forte, mas por que os respeitei, mesmo fisicamente sendo fracos, pois já estive na pele deles.
O que me trinca é que o ser humano é bem sádico, tão sádico que se ver alguém caindo vai rir, ao invés de ajudar.
Ou talvez seja eu, que tenha a personalidade do Mickey e Batman ao mesmo tempo...


« Última modificação: 22 de Setembro de 2017, 15:31:34 por Macrolook »
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Elder Walker

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Resposta #1 Online: 22 de Setembro de 2017, 17:07:58
Mais um relato bacana, embora não tão polarizado quanto os demais. Vai inclusive no sentido oposto do método colocado no outro caso (dos colchões magnéticos)...

Compartilho da parte de buscar conhecimento em tudo o que me interesso, tendo por vezes que me policiar para não polemizar em conversas mais despretensiosas para não parecer pedante, quando na verdade é apenas um gosto por discutir e compartilhar mais informações. Hipertrofia também foi uma destas que me aprofundei, juntamente com alimentação/nutrição, bioquímica entre outros assunto correlacionados, embora tenha me faltado disciplina para executar o que fui julgando correto nestes aprendizados.
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Macrolook

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Resposta #2 Online: 22 de Setembro de 2017, 17:19:58
Compartilho da parte de buscar conhecimento em tudo o que me interesso, tendo por vezes que me policiar para não polemizar em conversas mais despretensiosas para não parecer pedante, quando na verdade é apenas um gosto por discutir e compartilhar mais informações.
É bem por aí, uma coisa leva a outra, musculação, leva a nutrição, que leva a fisiologia, que leva a química e por aí vai...
Tal qual fotografia e outras disciplinas, a fome de informação nunca é saciada, ao contrário de parecer peante, adoro quando conheço alguém que tenha muita informação para compartilhar, e não falar da novela, do tempo, dos BBB e quando digo que não vejo TV, me olham como se fosse retardado.
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