Autor Tópico: O motivo da fotografia ter acabado hoje em dia.  (Lida 19454 vezes)

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Resposta #60 Online: 30 de Outubro de 2017, 12:55:56
x2...

Como disse... é um assunto abrangente e que se não fizermos a lição de casa só vai causar tumulto... este tipo de tópico é igual ao Full Frame versus APS-C versus APS-H... e outros... todos defendem o que tem e criticam o que não tem...

Hoje em dia acredito piamente que a geração mimimi começou a muitas gerações atrás... e só agora conseguiu espaço... não se pode fazer uma crítica construtiva que o lado oposto já se revolta e faz escândalo... vê-se o que ocorre com o conceito de "arte" atualmente... se hoje arte é deixar uma criança pegar numa pica... fico pensando no que vai se transformar daqui alguns anos se as pessoas não começarem a perceber o senso de ridículo...
Veja que la na primeira pagina eu concordei com tudo que o @Bucefalo escreveu, porem o que ele opinou nao tem relevancia alguma para a questao do topico. Assim como o que vc tem opinado aqui que nao eh mera opiniao mas uma mistura de birra e provocacoes pessoais.

Que critica construtiva vc se refere? Vc chegou a buscara investigar e compreender a discussao antes de estar cheio de opiniao sobre o que nao sabe o que?

Que escandalo vc se refere? Mais alguem alem de vc esta causando provocacoes aos demais por pura birra?

Repetindo mais uma vez, o que adianta estar cheio de opiniao que nao esta relacionado ao assunto do topico?

Vc tem um comportamento e dialogo infantil que parece esconder alguma frustracao, impossivel de manter um dialogo de fato em seu comportamento birrento, e ainda quer falar de geracao mimimi para os outros?


fabianob

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Resposta #61 Online: 30 de Outubro de 2017, 13:25:52
Estou acompanhando o tópico, pois a discussão desse assunto vem de encontro com meu interesse social pela fotografia.
Em nenhum momento achei o tópico "abrangente" e defendo a ideia de "peneirar" as opiniões porque infelizmente algumas pessoas gostam de comentar apenas para encontrar alguém que concorde com seu pensamento, pois assim será mais fácil silenciar a inquietação psíquica de não ter de fato compreendido o assunto abordado ou de não ter o conhecimento específico da questão, e isso acaba deixando de lado a filosofia do tópico e deixando ainda mais claro a ideia de "distração" que nos domina e nos tira o senso.
Para compreender a investigação proposta pelo tópico é necessário ultrapassar as opiniões que nosso senso comum não pondera. É preciso deixar de lado as aparência sensíveis e quebrar a realidade empírica que cativamos.
O filósofo Vilém Flusser, escreveu em 1983 uma obra inquietante sobre uma futura filosofia da fotografia. Uma leitura difícil e chata as vezes, mas é incrível como ele previa esse desentendimento atual sobre o termo "fotografia". O livro se chama "Filosofia da Caixa Preta" e eu recomendo muito essa leitura.
Pra mim a fotografia está sim deixando de existir. Estamos alienados a produzir "imagens" que possam ir de encontro com a necessidade da massa e estamos perdendo o domínio sobre o ato de fotografar. Esse domínio à que eu me refiro está relacionado com cultura e tecnologia. Muitas vezes achamos que estamos eternizando um momento, quando na verdade, estamos seduzidos a criar uma imagem esteticamente bonita, porém sem valor algum. O pior é que estamos cada vez mais acostumados com isso e estamos deixando de pensar no valor da fotografia e no que ela quer dizer. Por isso a discussão desse tópico é tão importante, e não tem nenhuma comparação com a irrelevância de tópicos que por exemplo discutem FF ou APS-C. É difícil admitir, mas a tecnologia tem enfraquecido nossa capacidade de pensar o ato fotográfico. Muitas ferramentas que surgiram para nos poupar trabalho, tem em alguns casos no alienados a produzir e disseminar para a massa imagens que para eles não tem o menor valor.

 :clap: muito boa explanação... só não concordo com a questão do FF x APS-C. são questões que debatem frente a um assunto comum... a discussão sem cabimento.


Para com isso. O cara é estrangeiro.

ué... se ele é estrangeiro que escreva em inglês, espanhol... ou mandarim... mas escreva certo... desde quando escrever errado por ser de outra nacionalidade é desculpa?  :ponder:
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fabianob

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Resposta #62 Online: 30 de Outubro de 2017, 13:29:31
Veja que la na primeira pagina eu concordei com tudo que o @Bucefalo escreveu, porem o que ele opinou nao tem relevancia alguma para a questao do topico. Assim como o que vc tem opinado aqui que nao eh mera opiniao mas uma mistura de birra e provocacoes pessoais.

Que critica construtiva vc se refere? Vc chegou a buscara investigar e compreender a discussao antes de estar cheio de opiniao sobre o que nao sabe o que?

Que escandalo vc se refere? Mais alguem alem de vc esta causando provocacoes aos demais por pura birra?

Repetindo mais uma vez, o que adianta estar cheio de opiniao que nao esta relacionado ao assunto do topico?

Vc tem um comportamento e dialogo infantil que parece esconder alguma frustracao, impossivel de manter um dialogo de fato em seu comportamento birrento, e ainda quer falar de geracao mimimi para os outros?

Colega, quem ficou nervosinho foi você quando fiz apenas uma crítica quanto a sua escrita. Do mais só estou acompanhando o desenrolar do tópico.  :ok: se me chamar de novo eu volto a escrever se não me chamar eu paro...  :ok:
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Resposta #63 Online: 30 de Outubro de 2017, 14:44:40
Para com isso. O cara é estrangeiro.
[off-topic]
Nasci e cresci no Brasil.
Sou ignorante mesmo. :ok:
Mas em minha defesa, minha escrita esta muito melhor do que ja foi ha alguns anos atras.
Mas acho que a questao do topico mais interessante do que meus terriveis erros de portugues.  :ok:
[/off-topic]


Raphael Sombrio

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Resposta #64 Online: 30 de Outubro de 2017, 15:42:53
É difícil admitir, mas a tecnologia tem enfraquecido nossa capacidade de pensar o ato fotográfico. Muitas ferramentas que surgiram para nos poupar trabalho, tem em alguns casos no alienados a produzir e disseminar para a massa imagens que para eles não tem o menor valor.

Pelo que pude perceber lendo os comentários aqui, e até em outros tópicos, há uma tendência em enxergar o copo meio vazio, ao invés de meio cheio.

Conforme consensado, houve um crescimento na fotografia, tanto pelo fato do surgimento da fotografia digital, quanto pela facilidade em se obter uma câmera fotográfica, seja ela capaz de gerar resultados manuais ou automáticos. 

Fazendo uma analogia, parece que cresceu tbm o número de mentecaptos, que expõem suas opiniões sem nexo, base e conhecimento, simplesmente pelo fato de que esses, assim como qualquer pessoa, hoje tem condições de tornar público o seu manifesto.

Vivemos a era em que se pode ter conhecimento de quase tudo o que é feito, todos tem o direito e a oportunidade de expor aquilo o que quiserem, seja bom ou ruim, certo ou errado, com ou sem qualidade. E a fotografia entra forte nessa história.

Creio que essa realidade que causa espanto é por conta da revelação de quase tudo o que é produzido, assim, chega até nós uma correnteza de materiais, resultado da capacidade de cada pessoa, em sua maioria comum ( ou apenas produzindo com as condições que possuem, afinal, fotografamos com toda a bagagem que temos, seja ela muita ou pouca ), e eis a grande quantidade de conteúdo duvidoso.

Em suma, o fato de hoje haver mais pessoas produzindo fotos não significa que o que é produzido será melhor, ou que o número de resultados com qualidade crescerá na mesma proporção, ao contrário, considerando a deficiência na educação e falta de informação + a facilidade em se promover, a chance de se ver por ai uma grande maioria de porcarias é maior.

Eu acredito que quem tem capacidade e/ou interesse em criar bons conteúdos o fará, a realidade atual não depreciará aqueles que buscarem bons resultados, com conteúdo. Os demais, sem maiores intenções ou capacidade, todos munidos de uma câmera, irão espalhar aquilo que tiverem capacidade de produzir, seja considerado bom ou ruim.

Ainda, há uma outra questão que deve ser levada em conta, que é tudo com o qual temos contato. As informações que chegarem até nós é que irá determinar nosso senso, nossa percepção. Se vc vê uma maioria de conteúdo duvidoso todos os dias provavelmente irá julgar que as coisas estão piores, o contrário tbm pode ser verdade.
Eu conheço um sem número de fotógrafos que considero muito bons, e acho que praticamente todos os segmentos da fotografia melhoraram muito sua qualidade.

Em um livro sobre palestras da TEDX é usado como exemplo um palestrante que coloca totalmente em cheque a opinião das pessoas de que o mundo está piorando, crença bem comum desde sempre. Se vc assistir programas de tv que só mostrem crimes, guerras, tragédias e afins, vc não saberá de todas as ações de bem que tbm estão ocorrendo.
Com gráficos, números e fatos históricos ele consegue deixar claro que o mundo nunca esteve melhor, e melhora a cada dia.

Tlvz o nosso repertório de conteúdo visto deva ser modificado, para sabermos mais do que tem qualidade ao invés do que não tem.



GBJ

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Resposta #65 Online: 30 de Outubro de 2017, 17:02:04
(...)
Pra mim a fotografia está sim deixando de existir. Estamos alienados a produzir "imagens" que possam ir de encontro com a necessidade da massa e estamos perdendo o domínio sobre o ato de fotografar. Esse domínio à que eu me refiro está relacionado com cultura e tecnologia. Muitas vezes achamos que estamos eternizando um momento, quando na verdade, estamos seduzidos a criar uma imagem esteticamente bonita, porém sem valor algum. O pior é que estamos cada vez mais acostumados com isso e estamos deixando de pensar no valor da fotografia e no que ela quer dizer. Por isso a discussão desse tópico é tão importante, e não tem nenhuma comparação com a irrelevância de tópicos que por exemplo discutem FF ou APS-C. É difícil admitir, mas a tecnologia tem enfraquecido nossa capacidade de pensar o ato fotográfico.
(...)

Já vi esse ponto sendo levantado outras vezes. Não quero sequestrar o tópico, mas essa é uma dúvida que, como leigo, eu tenho: o que é, então, uma fotografia com valor?

Um colega aqui (Bucephalus) usa bastante o termo "inane" para descrever o grosso do que se produz atualmente. O que uma fotografia tem que ter/ser para não ser classificada como inane?
« Última modificação: 30 de Outubro de 2017, 17:11:37 por GBJ »


Elder Walker

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Resposta #66 Online: 30 de Outubro de 2017, 17:11:28
Já vi esse ponto sendo levantado outras vezes. Não quero sequestrar o tópico, mas essa é uma dúvida que, como leigo, eu tenho: o que é então uma fotografia com valor?

Um colega aqui (Bucephalus) usa bastante o termo "inane" para descrever o grosso do que se produz atualmente. O que uma fotografia tem que ter/ser para não ser classificada como inane?

Aí já entraria todo um debate de que depende do público a que se destina a fotografia, etc etc...
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AFShalders

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Resposta #67 Online: 30 de Outubro de 2017, 17:35:41
Já vi esse ponto sendo levantado outras vezes. Não quero sequestrar o tópico, mas essa é uma dúvida que, como leigo, eu tenho: o que é então uma fotografia com valor?

Um colega aqui (Bucephalus) usa bastante o termo "inane" para descrever o grosso do que se produz atualmente. O que uma fotografia tem que ter/ser para não ser classificada como inane?

Isso não é trivial de definir, pois o que pode parecer excepcional para muitos pode ser uma porcaria para outros. Some aí a seguinte questão: Para quem eu fotografo ? Para os outros ou para mim ? Tenho que fazer o que os outros gostam ou aprovam ou tenho que correr atras da minha satisfação ?

Se for extrapolar o raciocínio de que a fotografia morreu porque a fotografia digital banalizou, não tem representatividade unica como polaroide e tal, a coisa pode ficar preta. O contexto é o mesmo embora tenho certeza que alguem achará que não tem nada a ver:

- A industria automotiva morreu. Antigamente os carros eram feitos a mão e poucas pessoas merecedoras os possuiam, agora tem a sua produção massificada, são todos parecidos e qualquer um compra em 400x sem juros.

- A literatura morreu. Antigamente havia literatura clássica e poucas pessoas sabiam ler. Agora qualquer um compra um pocket book no jornaleiro, é o fim !

- O jornalismo de qualidade morreu. Antigamente o jornal de papel era mais pessoal, agora só tem site de jornais de pessima qualidade.

Não faz sentido.


Voltando ao W.

Isso de ficar remoendo que o significado da imagem morreu e tal é bobagem. Foi exatamente o mesmo papo quando o filme instamatic foi lançado. Tecnologias vem e vão e o mundo continua girando e não dá para ficar amarrado em uma época saudosista e sentando o pau no mundo atual. Ou adapta-se ou sai de cena.

Por que uma imagem em polaroid vale mais do que uma digital ? Ridiculo isso. Uma imagem boa é boa e uma imagem ruim é ruim e ponto.

O termo fotografia não é mais válido ? Para mim é óbvio que é. O meio é que mudou, todo mundo continua fazendo seus snaps como faziam desde a decada de 1950, só que mais massificado. Ficar remoendo que a qualidade caiu é bobagem, tem muita gente fazendo muita coisa boa hoje, e se bobear melhor que muitos do passado. Tem que levar em conta o contexto da época em que as coisas aconteceram.

Lembra também a época quando apareceram os primeiros PCs com processadores de texto. Um monte de "gurus" cansaram de martelar a mesma coisa mas desta vez em relação à maquina de escrever e o computador. Ridiculo.


A mesma matéria publicada no The Guardian foi publicada na BBC

http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-41686678


Algumas pérolas:

But doesn't a modern smartphone produce images far more sophisticated than any Polaroid camera did 40 years ago? Wenders says the basic character of the technology was part of the appeal.

"I think people who look at the images will find a sort of beauty here. The colours the process produced are great, though the monochrome images are attractive too."


Nada que não dê para fazer igualzinho com digital (e olha que eu adoro filme, uso medio formato até hoje)

"But they remain unique: they only existed once and there's no negative and you can't duplicate it. Forty years later they seem quite precious."


Outra bobagem. Tire a foto digital, imprima e depois apague o arquivo. Dá no mesmo. FIca única e em 2080 vai estar com a mesma degradação, se não pior.

Wenders thinks digital photography is now so problem-free and so cheap that a lot of the creativity has gone.


Da mesma forma que as instamatics foram.

"It's so easy for a professional photographer to take hundreds or even thousands of pictures of a particular face or of a scene and of course a few of them will be good and the rest are wiped. It can be an impersonal, industrial process.


Ele mesmo foi um dos que mais fizeram isso.


"The Polaroid was instant but it was still connected to the original idea of photography. There was always something sacred about the act of stealing an image from the world."

Sério ? Por que o digital seria diferente ?

Tem tudo a ver com o tópico, só que de forma muito mais ampla.
« Última modificação: 30 de Outubro de 2017, 17:40:08 por AFShalders »


Bucephalus

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Resposta #68 Online: 30 de Outubro de 2017, 20:51:54
Já vi esse ponto sendo levantado outras vezes. Não quero sequestrar o tópico, mas essa é uma dúvida que, como leigo, eu tenho: o que é, então, uma fotografia com valor?

Um colega aqui (Bucephalus) usa bastante o termo "inane" para descrever o grosso do que se produz atualmente. O que uma fotografia tem que ter/ser para não ser classificada como inane?

A típica foto postada em rede social é uma foto inane. Fotos que são usadas para registrar um momento, para serem descritivas, e sem terem nenhum conteúdo ou intenção narrativa por parte do fotógrafo. Tirar fotos daquela pizza que você comeu ontem, ou de uma festa de aniversário do seu filho, ou de uma flor que você viu no jardim, ou do por-do-sol, ou de um pássaro.

Isso não quer dizer que essas fotos não tenham conteúdo. A questão é:

1) a foto tem conteúdo, mas é um conteúdo cotidiano, comum, e que provavelmente foi repetido milhões de vezes por várias outras pessoas antes;
2) não existe intenção por parte do fotógrafo em dizer nada além do descritivo. Ex.: a foto de uma festa de aniversário está somente registrando e comunicando isso, uma festa de aniversário. A foto serve somente um propósito descritivo; a foto é somente uma ferramenta para gravar um facsimile do objeto real.
 
O que a fotografia de arte faz é subverter uma dessas duas características.

No caso do número 1, o fotógrafo com conteúdo vai provavelmente retratar algo exótico, importante ou histórico. Exemplos são fotos de guerra, fotos de momentos sociais importantes, de tribos exóticas da Amazônia, etc. É isso o que basicamente o SS faz, retratar o mundo de forma descritiva igual o povo do Facebook, mas ele descreve partes do mundo que não são cotidianas, além de apresentar as fotos com um visual ultra-produzido.

No caso do número 2 nós teríamos um fotógrafo que tira fotos de certas cenas, pessoas ou objetos, mas a intenção dele é ir além da descrição visual. Ravens do Fukase não é um livro sobre pássaros. Ele explora temas de solidão, perda e alienação. A maioria das fotos é de pássaros, mas ele vai além da simples comunicação visual.

Fotógrafos número 1 são menos artísticos. Eles são muito mais documentaristas do que artistas, pra ser sincero. Fotógrafos número 2 são artistas genuínos.

Existe um terceiro tipo de fotógrafo, que é uma mistura do tipo 1 e 2. The Americans do Frank é um exemplo: as fotos do livro não são, literalmente como o título indica, somente fotos de cidadãos americanos. Sim, elas são fotos de americanos, mas elas também vão além disso. The Americans é uma obra sobre a sociedade americana, sobre as tensões raciais, sobre a divisão de classe e a cultura política e financeira da nação em 1950. Olhando superficialmente, The Americans tem o valor histórico de ser um documento que registrou uma fatia do tempo em 1950, mas ao mesmo tempo o livro é também cheio de valor artístico. O livro é tanto uma simples documentação como também é uma visão pessoal do Frank sobre os problemas do EUA, e as impressões dele durante uma viagem por vários estados do país.

Muitos fotógrafos fazem essa mistura muito bem; hoje em dia a Magnum é cheia desses tipos de fotógrafos. E pra mim o Frank (ou pelo menos o The Americans) é o melhor exemplo dessa mistura perfeita.


GBJ

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Resposta #69 Online: 30 de Outubro de 2017, 21:11:53
(...)

Muitos fotógrafos fazem essa mistura muito bem; hoje em dia a Magnum é cheia desses tipos de fotógrafos. E pra mim o Frank (ou pelo menos o The Americans) é o melhor exemplo dessa mistura perfeita.

Obrigado pela resposta e pelas referências. Dessa vez eu já conhecia os livros citados. (Fui atrás deles exatamente após uma resposta sua em outro tópico, onde você também os colocou).

Mas diante das suas explicações, me veio outra dúvida:

Excetuando-se aqueles que possuem uma veia artística e aqueles que têm possibilidade de estar diante de situações atípicas (como inseridos em uma guerra ou frente a uma tribo exótica em um lugar onde poucos pisaram), sobra chance para que o "homem comum", vamos dizer, possa tirar fotos que não sejam vazias?
« Última modificação: 30 de Outubro de 2017, 21:15:19 por GBJ »


Bucephalus

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Resposta #70 Online: 30 de Outubro de 2017, 21:26:27
Excetuando-se aqueles que possuem uma veia artística e aqueles que têm possibilidade de estar diante de situações atípicas (como inseridos em uma guerra ou frente a uma tribo exótica em um lugar onde poucos pisaram), sobra chance para que o "homem comum", vamos dizer, possa tirar fotos que não sejam vazias?

Uhm... na minha opinião não. O Masahisa Fukase tirou fotos de lugares comuns, na cidade natal onde ele nasceu. O William Eggleston é o mestre em tirar fotos de objetos e cenas cotidianas, muitas na pequena cidade onde ele vive. Então é possível fazer grande fotografia sem ter que ir para um lugar exótico. Mas pra isso é preciso ter a intenção de comunicar algo além do descritivo. Se for pra tirar fotos sem nenhuma intenção além de descrever o mundo como ele é, tirando fotos de coisas comuns, o resultado final vai ser igual às pessoas no Facebook. É tudo fotografia, é tudo documental, mas também é tudo muito descartável, não memorável e sem importância.


Leonardo Tonin

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Resposta #71 Online: 30 de Outubro de 2017, 23:46:04
A fotografia perdeu a identidade,  disolveu-se. Assim como o jornalismo.  O conhecimento se disolveu-se,  espalhou-se mas perdeu a a potencia. 


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Resposta #72 Online: 31 de Outubro de 2017, 06:24:14
Pelo que pude perceber lendo os comentários aqui, e até em outros tópicos, há uma tendência em enxergar o copo meio vazio, ao invés de meio cheio.

Conforme consensado, houve um crescimento na fotografia, tanto pelo fato do surgimento da fotografia digital, quanto pela facilidade em se obter uma câmera fotográfica, seja ela capaz de gerar resultados manuais ou automáticos. 

Fazendo uma analogia, parece que cresceu tbm o número de mentecaptos, que expõem suas opiniões sem nexo, base e conhecimento, simplesmente pelo fato de que esses, assim como qualquer pessoa, hoje tem condições de tornar público o seu manifesto.

Vivemos a era em que se pode ter conhecimento de quase tudo o que é feito, todos tem o direito e a oportunidade de expor aquilo o que quiserem, seja bom ou ruim, certo ou errado, com ou sem qualidade. E a fotografia entra forte nessa história.

Creio que essa realidade que causa espanto é por conta da revelação de quase tudo o que é produzido, assim, chega até nós uma correnteza de materiais, resultado da capacidade de cada pessoa, em sua maioria comum ( ou apenas produzindo com as condições que possuem, afinal, fotografamos com toda a bagagem que temos, seja ela muita ou pouca ), e eis a grande quantidade de conteúdo duvidoso.

Em suma, o fato de hoje haver mais pessoas produzindo fotos não significa que o que é produzido será melhor, ou que o número de resultados com qualidade crescerá na mesma proporção, ao contrário, considerando a deficiência na educação e falta de informação + a facilidade em se promover, a chance de se ver por ai uma grande maioria de porcarias é maior.

Eu acredito que quem tem capacidade e/ou interesse em criar bons conteúdos o fará, a realidade atual não depreciará aqueles que buscarem bons resultados, com conteúdo. Os demais, sem maiores intenções ou capacidade, todos munidos de uma câmera, irão espalhar aquilo que tiverem capacidade de produzir, seja considerado bom ou ruim.

Ainda, há uma outra questão que deve ser levada em conta, que é tudo com o qual temos contato. As informações que chegarem até nós é que irá determinar nosso senso, nossa percepção. Se vc vê uma maioria de conteúdo duvidoso todos os dias provavelmente irá julgar que as coisas estão piores, o contrário tbm pode ser verdade.
Eu conheço um sem número de fotógrafos que considero muito bons, e acho que praticamente todos os segmentos da fotografia melhoraram muito sua qualidade.

Em um livro sobre palestras da TEDX é usado como exemplo um palestrante que coloca totalmente em cheque a opinião das pessoas de que o mundo está piorando, crença bem comum desde sempre. Se vc assistir programas de tv que só mostrem crimes, guerras, tragédias e afins, vc não saberá de todas as ações de bem que tbm estão ocorrendo.
Com gráficos, números e fatos históricos ele consegue deixar claro que o mundo nunca esteve melhor, e melhora a cada dia.

Tlvz o nosso repertório de conteúdo visto deva ser modificado, para sabermos mais do que tem qualidade ao invés do que não tem.

Nessa questao do mundo esta pior ou melhor, eu piamente acredito que esta muito melhor. Vivemos a epoca de ouro da humanidade e penso que nao houve melhor epoca para se viver. Inclusive em se tratando de fotografia em termos praticos. Mas nao existe mundo perfeito. Tudo tem seu efeito colateral que nao podem ser ignorados para compreender a nos mesmos e nossa relacao com a sociedade e com o mundo.

Sobre qualidade da fotografia, ai ja penso que depende imensamente do tipo de qualidade que vc se refere. Qualidade tecnica, qualidade de linguagem, qualidade expressiva/artistica, qualidade de imagem, qualidade da instrucao de quem fotografa, etc.

A foto inane que Bucephalus se refere eh ruim? Nao, ela nao eh ruim, fotos inanes fazem parte de muitas das minhas boas memorias. Massss... sao fotos inanes e nao podemos ignorar isso ou fingir que foto eh tudo foto e ponto final.

Na questao aqui do topico eh sobre a linguagem fotografica, que hoje em dia eh influenciada pela linguagem do entretenimento e publicidade (linguagem das telas). E quais sao as caracteristicas de tais linguagens atuais e no que se difere da de antes?

O entretenimento eh uma linguagem de mensagens e atencao curta para manter o expectador atento, pq nas telas paradas e longas informacoes com profundas explanacoes tendem a entediar as pessoas. Na tela as pessoas ficam esperando o que vem a seguir, eh uma linguagem da anciedade do que ira apresentar apos, da surpresa, do apeno em forcar a atencao, do movimento, a distracao tecnica como forma de forcar a atrair nossa a tencao, da baixa incitacao a memoria visual e imaginacao. A publicidade eh uma linguagem de evidenciacao, anceio ao material e a tangibilidade do visual, idealismo individual de desejos, etc Em resumo, saolinguagens de distracao.

Distracao vs apreciacao. E tal caracteristica nao esta apenas no ato de apresentar e observar fotografias, mas tambem no ato de produzir fotografias (e tudo mais hoje em dia, inclusive literatura).

Em outra palavras, o que comunicamos hoje e como nos comunicamos, assim como o proposito e anceios que nos fazem querermos comunicarmos e o que queremos transmitir, eh bem diferente de decadas atras. Eh outra linguagem e outra comunicacao.

A linguagem de antes era da atencao, do silencio, do profundo olhar ao momento, sem expectativa ou anceio mas meramente do que ha ali em frente aos nossos olhos, e por isso observar sem pressa ou anceio para o a seguir na foto ou da proxima imagem. Eh do olhar sem relacao pessoal de desejo e anceio de tangibilidade do que nos eh apresentado, sem expectativa de idealismo de materialidade pessoal, mas meramente uma realidade a parte que nao incita o idealismo pessoal, da imagem que nao torna tudo evidencializado mas deixa espaco para que a nossa imaginacao e memoria visual participe da apreciacao nos permitindo nos relacionar mais com ela, com tais relacoes de troca de imaginario entre imagem e espectador. Em resumo, a comunicacao do imaginario.

A grosso modo eh como a pornografia vs erotismo. A pornografia eh sobre ir direto ao ponto, o mais rapido possivel, mostrando/evidenciando tudo e provocando o anceio de acessibilidade (tangibilidade) do que esta sendo apresentado, como um idealismo pessoal a ser atingido, da anciedade em ver o que vira a seguir, dos efeitos e demais taticas apelativas de obter atencao do espectador, que torna tudo muito artificial mas ao mesmo tempo cria anceios de desejos reais. Ja o erotismo eh o oposto de tudo isso. Eh sobre mostrar simbolos e arranjos que provoca nossa imaginacao, eh sobre o a historia por tras do ato sexual em si, eh sobre mostrar uma realidade a parte que nao tem a ver com sugestao de ideamismo individual a ser atingido mas somente imaginario, nao ha apelativos para forcar nossa atencao mas sim espaco para a apreciacao do momento em si.

Eh a cultura e linguagem da hyper-realidade que nao existia antes e por isso eh outra coisa do que foi um dia.


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Resposta #73 Online: 31 de Outubro de 2017, 07:27:16
AFShalders,
Bucephalus,
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Leonardo Tonin.

Essa questao da foto inane eh bem relevante mas podemos ir muito maos alem. Para o artista, critico de arte e filosofo Baudrillard, a arte nao tem como existir em uma epoca hyper-realista.

Hyper-realidade corresponde com a desaparencia da intencidade. Ela se torna "cool" - sem mais a intensa energia efetiva e o poder do simbolico e fantasia. Por exemplo, a calorosa dedicacao ao trabalho eh subistituido pela execucao "cool" das atividades. A calorosa arte e filmes de investimento historico eh subistituida pelo "cool" funcional e mecanico prazer da perfeita ficcao simulada. Baudrillard eh frequentemente mal interpretado, ele nao usa o temo "cool" no sentido de ser algo da moda ou aproveitoso. Ele se refere a perca da alma. A alma eh a metafora para intensidade, aproveitamento (o oposto de prazer) e investimento emocional. Ser "cool" eh ser apatico, desiludido, sem comitimento.

Hyper-realidade se difere de outras realidades pq a divisao entre a realidade e imaginario desaparece. Realidade se torna um jogo cibernetico. Eh como se em um certo ponto da historia deixamos a realidade para tras sem nunca perceber, somente agora. Mal podemos perceber a diferenca da realidade de antes com a hyper-realidade de agora, e nao perceberiamos se a realidade retornasse. Eh dificil dizer exatamente quando a perca da realidade aconteceu, mas podemos deduzir que figuras como JFK e Marilyn Monroe como ainda tendo uma forca simbolica, mas tambem eh possibel situar tal transicao em 1973 e 1979.

Em hyper-realidade, simuladores procuram fazer todas as realidades coincidir com seu modelo de msimulacao. O resualtado eh que 'o real nao eh mais real'. Producao eh agora primariamente virtual, a circulacao irreal de valores. Cinema se aproxima da realidade absoluta em toda sua obviocidade nua. Arranjos funcionais procura criar a maior correspondencia possivel entre o objeto e sua funcao. Tudo isso muda as expressoes de uma atitude de sinais misturando o naivos e paranoicos, puros e terroristas, o que cria um imenso efeito social. A linear sequencia deixa de existir e tudo passa a ser apresentado como o (over-)presente eterno e obsceno.

Podem ler o texto original aqui mas a publicacao usa inflienciado por ideologias politicas, entao eh melhor beber da fote, mas lendo com cautela tal texto tambem eh ilucidador no ponto de vista filosofico:
https://ceasefiremagazine.co.uk/in-theory-baudrillard-9/


Uma leitura interessante tambem eh de Humberto Eco: Travels in Hyperreality
“Once upon a time there were mass media, and they were wicked, of course, and there was a guilty party. Then there were the virtuous voices that accused the criminals. And Art (ah, what luck!) offered alternatives, for those who were not prisoners to the mass media.


O ponto eh que nao existe hoje uma alternativa a midia em massa. Tudo, inclusive a arte se tornou "mass media" e assim sao expressadas.

Michael Crichton explica um pouco pq a arte hoje em dia nao eh possivel (nao existe), ou mesmo pq a expressao e relacao com o mundo de hoje eh diferente de antes:


“But where will this mania for entertainment end? What will people do when they get tired of television? When they get tired of movies? We already know the answer—they go into participatory activities: sports, theme parks, amusement rides, roller coasters. Structured fun, planned thrills. And what will they do when they tire of theme parks and planned thrills? Sooner or later, the artifice becomes too noticeable. They begin to realize that an amusement park is really a kind of jail, in which you pay to be an inmate.
‘This artifice will drive them to seek authenticity. Authenticity will be the buzzword of the twenty-first century. And what is authentic? Anything that is not devised and structured to make a profit. Anything that is not controlled by corporations. Anything that exists for its own sake and assumes its own shape. But of course, nothing in the modern world is allowed to assume its own shape. The modern world is the corporate equivalent of a formal garden, where everything is planted and arranged for effect. Where nothing is untouched, where nothing is authentic.”

― Michael Crichton, Timeline




E uma outra forma de ver a questao eh sobre a perfeicao vs o potencial. Arte, realidade a capacidade humana nunca eh perfeita mas buscamos perfeicao, e quando buscamos apresentar tudo como perfeito vivemos em uma hyper-realidade. A realidade nao eh perfeita mas sim sobre o potencial. E quando a perfeicao subistitui o potencial ja nao eh mais "alma" na coisa, comitimento, essencia. A coisa simplesmente eh. Nao eh mais um andar mas sim um ponto final.

“In-existence, the soul’s greatest imposition is its perfection. It is projected as a perfected form of the physical embodiment, an emblem of things, perhaps hyperreal and untouchably perfect as existence. It can not be! The soul in-existence is nothing of perfection. It is raw potential. The soul is nothing but potential. To be specific, the soul is unordered potential!”
― Dew Platt, The Rudeness of Soul


Antonio Miguel

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Resposta #74 Online: 31 de Outubro de 2017, 10:36:03
Quando eu fotografava casamentos, no milênio que se acabou, eu me sentia profundamente infeliz com a fotografia. Explico: não havia espaço para criar. Você tirava as mesmas fotos em todos os casamentos. Mudavam os noivos e padrinhos, mas o padrão era aquele: noiva no carro, noiva entrando na igreja, noivo recebendo a noiva, padrinhos, anel, beijinho...
Não interessa que a foto era feita com uma Hasselblad 500, lentes Zeiss, flash Metz. Era sempre a mesma receitinha de bolo que o patrão falou no primeiro dia: "4,5,6"  (tradução: a quatro metros de distância, abertura a 5.6, flash normal, basta fotografar...). Qualquer foto fora do padrão não saia da fase de contato. As fotos da festa eram as piores: noivo e noiva cortando o bolo juntos, noivos com os pais, noiva com a mãe e sogra, noiva com pai e sogro, noiva e noivo tomando champanhe com as mãos entrelaçadas (essa era a morte, principalmente se a cidra era Cereser).
Li por aí que a cada dois minutos o Instagram recebe um número de uploads que equivale a todas as fotografias tiradas nos primeiros 70 anos da técnica. Técnica, não arte: desenhar é técnica, pintar é técnica. O que vai distinguir é como o artista usa a técnica para produzir arte.
Acabou a fotografia arte? Não acredito. Acredito, sim, que a técnica é muito mais fácil hoje que há vinte ou trinta anos. Hoje em qualquer ônibus lotado de qualquer periferia você tem 150 telefones celulares, todos prontos a tirar uma foto. Vá num show do Iron Maiden, Victor & Léo, Ivete ou Safadão e em todos você verá milhares de pessoas ocupadas demais fotografando ou filmando para curtir. Qualquer crime ou acidente de trânsito é registrado imediatamente por um curioso que estava passando.
A arte não acabou. A arte está aí, escondida em meio aos montes de fotos de pizza que foram postadas enquanto eu digitava esse texto...
« Última modificação: 31 de Outubro de 2017, 10:36:38 por Antonio Miguel »
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