Uma fotografia “perfeita” é algo muito além de uma imagem bidimensional aprisionada em um quadro e cujo conteúdo apresenta-se em harmônica composição, com elementos impecavelmente combinados, ou mesmo algo carregado de um instante sui generis formatado segundo normas de excelência pré estabelecidas.
A fotografia pode nem mesmo ser um instante só, uma fração de segundos ou vários deles materializados em luzes, sombras, cores e formas, ela pode ter anos de duração, desde quando surge na mente do seu pretenso autor até o momento em que finalmente é concebida no ato fotográfico, ou pode ainda permanecer uma vida inteira viva no imagético pessoal de alguém sem jamais ter existido efetivamente.
Uma fotografia pode ser um conjunto de atos, ter uma história tão bela, trágica e complexa que nem mesmo o resultado mais espetacular irá se igualar ao que a mesma representou para quem a logrou alcança-la.
A fotografia “perfeita” pode surgir através do conjunto de fatores que a envolvem, desde o imaginar a cena até a edição, quando a ideia é finalmente expressada de acordo com o desejado, claro, dentro das limitações impostas pela situação.
A fotografia “perfeita” pode ser uma longa história sintetizada em uma única imagem, algo que consiga, pelo conjunto de elementos e características, ao menos dar a impressão de tudo o que levou o fotógrafo a chegar até ali, imprimindo riqueza e realização ao que foi executado.
A fotografia “perfeita” não tem de ser agradável a todos, nem tentar convencer utilizando-se de conveniências, antes disso precisa trazer em seu conteúdo as mais sinceras intenções do criador, sendo suficiente ao desejo do mesmo, transmitindo uma ideia que seja percebida com a mais clara possível mensagem.
A minha fotografia “perfeita” precisa ter começo, meio e fim, ela atravessa diversas fases, desde o desejo, a incerteza, a dúvida, a surpresa e a realidade que traz o júbilo. A construção desse “sonho” é muito mais importante do que a realização dele, ainda que a ideia seja fazer com que o resultado revele todo esse contexto.
Os acontecimentos que nos levam a conquistar o que pretendemos representam aquilo que nos faz viver enquanto fotógrafos, dão sentido a tudo o que realizamos, e por isso são - ou ao menos deveriam ser - o que realmente tem importância, afinal, de um jeito ou de outro toda fotografia é “perfeita”, ainda que somente para quem a fez, quando a imagem final mesmo não tendo capacidade de transmitir tudo o que a representou, traz naquele simples quadro, aprisionando elementos visuais, uma história única, que pertence somente a quem a housou vive-la.
* Vista a partir dos campos da nascente do rio Pelotas no Parque Nacional de São Joaquim poucas horas antes do nascer do sol, no inverno de 2014, para mim o momento mais belo na natureza em um lugar fantástico. Uma imagem que na época representou para mim uma excelência em quesito de realização..
O frio, o cansaço, o sono, as dificuldades de acesso e as dificuldades técnicas da execução e de conhecimento, uma vez que estamos em constante evolução, ficam implícitas, embora tenham muito mais valor pessoalmente.