Estou no fórum há um bom tempo, mas nunca me inscrevi - sempre achei tudo o que necessitava sem precisar fazer perguntas, e também nunca vi uma discussão que me obrigasse a dar uma resposta.
Para iniciarmos, precisamos falar sobre a qualidade dos fotógrafos e do serviço prestado. Se você for no tópico de sites deste fórum e analisar as fotos, não verá nada demais. Fotos genéricas, direção de modelos ruim, edição básica... Erros grotescos também, como problemas na velocidade do obturador (fotos tremidas em quem supostamente já está em um nível fotográfico capaz de iniciar o marketing digital).
Eu não contrataria ninguém dali.
Este é o mercado brasileiro: quem reclama da concorrência desleal faz o básico na fotografia e trabalha em nichos ultra saturados, como casamentos. Não dá, gente.
No mercado estrangeiro, mais do que a própria fotografia, o que realmente atrai o cliente é a edição utilizada. Brandon Woelfel é jovem e tira fotos que começaram a aparecer constantemente no Tumblr e Pinterest. O cara tem 2 milhões de seguidores no instagram e quem vê uma foto dele sabe que é dele. Beleza é algo subjetivo, é possível que vocês achem as fotos dele horríveis, mas ele parece se dar muito bem com meninas adolescentes e jovens. Lucra horrores.
A única vez que eu vi algo parecido no Brasil (edição como assinatura e como característica principal para a escolha do fotógrafo), foi quando uma blogueira recebeu um ensaio gratuito com temática sobre Harry Potter. A edição se assemelhava muito a própria fotografia dos filmes (achei chocante, admito). Este fotógrafo cobrava R$800,00 por um pacote com 15/25 fotos... As fotos ficaram boas do ponto de vista técnico, mas o que realmente me pegou foi a edição e a ambientação (o ensaio foi em uma biblioteca).
Por mais que haja um saudosismo em relação a uma fotografia do passado que era mais inacessível, mais técnica e com pouca concorrência, é preciso encarar a situação presente e não reclamar diante de um futuro inevitável: as DSLR estão ficando cada vez mais baratas e fáceis de manusear; os celulares com boas câmeras, apenas de ainda caros, conseguem suprir facilmente as vontades do consumidor médio, aquele que considera uma foto boa aquela com fundo desfocado (iPhone 8 em diante); e a democratização do conhecimento (é possível aprender muito gratuitamente pela internet).
Além disso, não dá pra reclamar de quem põe o preço lá embaixo. Quem está começando vai cobrar aquilo que acha que seu trabalho vale.
Eu concordo com o que vc disse, eh basicamente o que eu disse so que sem relacionar ao trabalho dos fotografos aqui.
O que me chamou atencao foi vc falar de qualidade mencionando fotostremidas/obturador lento. Olha, eu tenho dois livros interessantes "Faces Up" e "Vogue fashion Models", em abos so tem fotos dos fotografos mais renomados e tidos como os melhores. E sem exagero, aproximadamente 1/20 das fotos em ambos os livros sao fotos tremidas.
As fotos que o Terry Richardson faz eram "ruins" ate as revistas de moda comecarem a usar as fotos deles, e a partir de entao, da noite para o dia passou a ser "bom".
Eh ai que entra a questao do julgamento da qualidade que eu falei. Eh subjetivo (para o mercado o bom eh o que vende, para o artista o bom eh o que melhor transmite a sua expressao, para os tecnicistas o bom eh o que segue certas regras tecnicas). A grande maioria dos fotografos hoje, que mal comecaram a se interessar pela fotografia e ja pensam em virar fotografos profissionais, aprendem e costumam se limitar ao aspecto tecnico, pq eh o mais facil, basta memorizar certas regras e copiar.
Nao adianta falar da qualidade do outro fotografo para reclamar da industria. O outro fotografo pode ter as fotos com as edicoes mais fora do padrao, as fotos mais tremidas e com pessoas cortadas nas bordas, se ele tiver publico para as fotos dele ele esta atendendo o que seu publico quer e gosta (e acha bom).
Talvez o publico brasileiro nao gosta e nao quer fotos que sejam diferentes do familiar. Na Alemanha eh assim, o publico em geral nao esta interessado em fotografo criativo, artista, mas sim em fotografo que reproduza o familiar que tal publico considera bom. Para esse grande publico, o fotografo eh apenas um tecnico tal como o eletricista, o pintor de parede e o pedreiro. Eu fui pedir opiniao para uma amiga sobre um flyer que eu criei, e basicamente qualquer inspiracao e ideia minha ela rejeitava. Para ela, o bom se limitava as regras inquebraveis que ela aprendeu no Ausbildung. Ela disse que se eu fizesse do meu jeito, fora das regras (considerado ruim), ninguem ira me contratar. De fato, a maioria do publico nao gosta mesmo, mas por outro lado funciona como peneira para eu contrar o meu publico, o que eu gosto de fotografar e o que gosta das fotos como eu gosto de fazer.
O negocio eh isso, aceitar a realidade da industria, sem choro, sem lamentacoes, sem querer ficar culpando e apontando dedo. Encontrar o seu publico quando se sai do padrao em que a industria esta saturada nao eh facil, demanda experimentos, riscos, criatividade, inspiracoes e casuais oportunidades (lugar certo, hora certa entre as pessoas certas). Eh assim a vida.
Eu me sustento com trabalho bracal e nao estou culpando ninguem por eu nao me sustentar com a fotografia. Eu apenas procuro ver o lado positivo e as diferentes perspectivas (o trabalho bracal eh mais gratificando para mim do que fotografar sem tesao para os outros). Gracas a esse mercado inflado com fotografos barateiros e "ruins" muita gente que no passado nao teria condicoes de pagar um fotografo para seu casamento, hoje tem, e isso eh otimo.