Tarde normal de domingo. Enquanto meu amigo prepara um café, eu me escondo entre a cortina e as folhas da árvore que parecem estrategicamente colocadas em frente a janela. Meu objetivo é claro e nada nobre: fotografar alguma coisa na festinha que tá rolando no ap da frente. Nenhum sucesso. Tudo o que eu consegui foi alguém ao telefone e outro alguém metendo a colher no vinagrete. "Que merda" eu pensei, essa é a festa mais flopada que eu já vi.
Neste momento, num ap mais abaixo, um homem de cabelos brancos saca seu cigarro e põe-se a fumar na varanda. Parece perdido em algum lugar que as pessoas se perdem quando não piscam os olhos.
Enquanto o cara degusta 4,7 mil substâncias tóxicas fitando a parede do prédio e pensando nos boletos, seu fiel companheiro o observa de dentro, também preocupado, aflito, pensando no seu amigo que deixara tudo dentro de casa pra sair e fazer fumaça.
O significado de conexão que essa foto representa é forte. Os dois estavam tão sincronizados naquele momento, que para o cachorro faltou mãos e cigarros, e ao homem, pêlos brancos e coração canino.
Conexão Involuntária by
Felipe Machado, no Flickr