Autor Tópico: Aparados da Serra: em busca de sua identidade.  (Lida 1335 vezes)

Raphael Sombrio

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Online: 19 de Agosto de 2020, 12:31:04
Desde 1994 eu frequentemente visito as paisagens do local geológico conhecido como “aparados da serra”, que é a aparente ruptura entre os continentes sulamericano e africano, aqui no sul do Brasil, notadamente visível nos paredões e cânions que compõem esse lugar, resultado da divisão dos continentes e todas as intempéries planetárias que agem desde a 150 milhões de anos para criar o cenário atual.
Essa serra aparada se dá desde o nordeste do Rio Grande, entre o município de Tainhas ( RS ) e Praia Grande ( SC ), e vai no sentido norte até entre os municípios de Bom Retiro e Alfredo Wagner ( SC ). Quase metade do conjunto geológico compreende a divisa entre RS ( alto da serra ) e SC ( planícies ), passando a ser totalmente catarinense a partir de Bom Jardim da serra ( alto da serra ).

Mais precisamente a 4 anos, a convite de um conhecido, hoje amigo, viemos percorrendo as diversas gargantas, cânions, escarpas, planaltos e montanhas dos Aparados, além das pesquisas e estudos sobre a geografia, biologia e história do lugar, em busca de conhecer e registrar esse cenário único no planeta, e compilarmos esse conteúdo em dois livros impressos ( um sobre a formação no RS e outro sobre ela em SC ), um projeto totalmente novo para ambos, difícil, trabalhoso, complexo e que ainda possui muitos desafios que nem sabemos como vamos desbravar. Por se tratar de um livro técnico, com dados oficiais e tudo mais, não há margem para erros, já que é o primeiro livro especificamente sobre esse lugar, então a responsabilidade é grande, e confesso: assusta!

O conteúdo está sendo escrito por Douglas Hecher, idealizador do projeto e quem me convidou para participar, me deixando a cargo das imagens e design gráfico, layouts e estilo. 
Estamos na reta final em se tratando de reunir conteúdos para iniciar a diagramação do primeiro livro, e nessa postagem gostaria de compartilhar uma pequena fagulha de toda essa empreitada ( mais coisas da nossa busca ou making off ), como disse, ainda muito nova e experimental para nós.
Até aqui foram 12 incursões, sendo a maioria delas cada uma de 48 horas in loco, muitas atravessando diversos cânions. Testemunhamos de tudo: calor, secura, chuvas, tempestades, fortes nevoeiros, frios insuportáveis e muito, muito vento. Para se ter uma ideia, na última incursão, em maio desse ano, no ponto onde estivemos os meteorologistas registraram rajadas de até 130 km/h.
Cada expedição foi aproveitada ao máximo dentro do que o clima permitiu, restando pouco tempo para descansos, sono ou descontração, priorizando silhuetas, astros e estrelas a noite, paisagens e grandes cenas nas luzes laterais ( amanhecer/anoitecer ) e detalhes com luz a pino ou difusa ( nublado/escuro ).
Ainda há muito a ser feito, mas podemos dizer que agora o projeto já começa não só a ter cara, mas também corpo.

Então aqui vai um pouco dos bastidores e também algumas imagens.


Araucária desgarrada da floresta no início nos campos que circundam o pico Monte Negro, local mais alto do RS com 1.403 m, antes de um amanhecer estupidamente gelado. São José dos Ausentes - RS.









Formações do cânion da Coxilha com o topo do Monte Negro ao centro ( formato baú coberto de mata ) em uma tarde onde a “viração” ( fenômeno em que o ar quente das planícies sobe os penhascos e em contraste com o ar frio se condensa, formando nuvens ) começa a se formar. São José dos Ausentes - RS.








Travessia entre platôs da serra do Realengo. São José dos Ausentes - RS.








Acampamento no cânon do Realengo, como o pico Realengo ao fundo ( lembra um submarino ) e as luzes do município de Criciúma nas planícies de serra abaixo. Em muitos locais de borda de serra houve a tentativa de cultivo de reflorestamento de pinus, porém nas proximidades dos peraus o solo raso e pedregoso, aliado ao clima severo, não permitiram que essa espécie “vingasse”. Ficam lá, abandonados, em muitos pontos todos crescem inclinados por causa do vento muito forte ( não é o caso da foto ). São José dos Ausentes - RS.








Borda em frente a Pedra da Catedral praticamente tomada pela viração, na primeira tentativa ( maio de 2018 ) fomos surpreendidos por uma virada de tempo que se antecipou, trazendo tempestades e uma chuva que ficou. Tivemos que abortar a missão. São José dos Ausentes - RS. 









Fim de uma noite de lua minguante no cânion Encerra, também conhecido como “Amola-facas” pelos diversos penhascos estreitos que avançam em direção ao abismo. Ao fundo, atrás da outra borda, espia o pico Realengo. São José dos Ausentes - RS.






As águas de uma cachoeira sendo lançadas pelo forte vento que sobe contra os paredões, um fenômeno comum nos Aparados, aqui no cânion da Cruzinha. São José dos Ausentes - RS.










Douglas Hecher contempla a paisagem nas bordas do cânion da Coxilha em uma tarde seca de agosto.
O efeito no céu não é edição, havia uma nuvem de fumaça das queimadas de campo, comum entre os meses de julho e setembro. São José dos Ausentes - RS.









Acampamento no cânion da Coxilha com as luzes do município de Criciúma nas planícies litorâneas. Nessa noite, enquanto executava fotos noturnas, minha câmera, touca e luvas ficaram cobertas de gelo ( uma leve geada ).
São José dos Ausentes - RS.









Momento de prosa ao pôr do sol entre os amigos Douglas Hecher e Diego Angeli no cânion Realengo. São José dos Ausentes - RS.









Acampamento próximo a borda do cânion Encerra, justo no momento em que o forte nevoeiro que se estabeleceu ao fim da tarde começa a se dissipar. São José dos Ausentes - RS.









Mar de nuvens sobre as planícies litorâneas vista no cânion Boa Vista antes do nascer do sol. São José dos Ausentes - RS.









Araucárias de uma mata nebular na encosta do pico Monte Negro em uma tarde de chuva e clima muito fechado. São José dos Ausentes - RS.









Douglas Hecher aquecendo água para o jantar em nosso mais recente acampamento no cânion Tabuleiro. São José dos Ausentes - RS.









Eu fazendo “panca” no vértice do cânion do Tabuleiro. Foto de Douglas Hecher. São José dos Ausentes - RS.









Cascata das Andorinhas,  localizada próximo ao vértice do cânion Itaimbezinho, ao pôr do sol.
As nuvens amarelas que aparecem ao fundo, em frente ao sol, são fumaça de queimadas nos campos ao redor, fora da área do Parque Nacional dos Aparados da Serra. Cambará do Sul - RS. 





LeandroR

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Resposta #1 Online: 19 de Agosto de 2020, 12:53:21
Muito legal Rapha! Parabéns!
Já venho acompanhando o trabalho de vcs há algum tempo pelo Facebook e Instagram! Esta ficando bom demais, as imagens estão lindas!  :clap:

Vai pra lá fotografar esta semana? Parece q há grande chance de neve por lá.

Abraço e parabéns pelo trabalho!  :worship:


atpaula

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Resposta #2 Online: 19 de Agosto de 2020, 13:07:35
Que bacana esse trabalho! Arte e ciência juntas.
As fotos estão excelentes, principalmente as com as barraquinhas coloridas.
Parabéns.

PS: Estive em Cambará do Sul em 2017 de motocicleta e visitei o cânion Fortaleza. Achei deslumbrante.
Contratei um guia  para nos levar lá e no meio da caminhada, no alto do morro e longe de tudo, encontro com um colega de trabalho aqui do RJ. Coincidência incrível.
Aguinaldo
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Vinicius Lima

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Resposta #3 Online: 19 de Agosto de 2020, 15:51:16
Espetacular.  :clap:
Livro já incluído na lista de desejos. :ok:


Lucas M. Dias

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Resposta #4 Online: 19 de Agosto de 2020, 18:28:34
Muito bom, é um belo projeto!  :worship:


angelone

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Resposta #5 Online: 19 de Agosto de 2020, 23:33:16
Fotos lindas, Raphael!  :clap:

A da Cascada das Andorinhas é minha preferida..

E é muito bom ter o contexto de cada foto contando uma história: enriquece muito a imagem..

E o seu Projeto é nota mil! Muito importante para valorizaçao, popularizaçao da história natural e divulgaçao das belezas únicas de Aparados da Serra..


* há muitos e muitos anos rs..  desci o Itaimbezinho inteiro, do planalto até a cidade de Praia Grande, experiencia incrível! Pelo q sei, há muito tempo essa travessia esta proibida (se nao fosse faria novamente rs..)
« Última modificação: 19 de Agosto de 2020, 23:37:53 por angelone »
Olympus OM-D E-M5 mk II  e uns vidros..


cfcsosa

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Resposta #6 Online: 20 de Agosto de 2020, 01:11:29
Parabéns Raphael! Acompanho aí seu projeto nas redes sociais!

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Raphael Sombrio

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Resposta #7 Online: 20 de Agosto de 2020, 16:42:05
Obrigado a todos!! :ok:


Raphael Sombrio

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Resposta #8 Online: 20 de Agosto de 2020, 16:44:06
Muito legal Rapha! Parabéns!
Já venho acompanhando o trabalho de vcs há algum tempo pelo Facebook e Instagram! Esta ficando bom demais, as imagens estão lindas!  :clap:

Vai pra lá fotografar esta semana? Parece q há grande chance de neve por lá.

Abraço e parabéns pelo trabalho!  :worship:

Obrigado Leandro!

Não cara. Ainda não consegui sair pra fotografar a neve ou sincelo, e não vai ser dessa vez ( ainda ). Com essa pandemia acho mais adequado ficar em casa.

Como esses fenômenos ocorrem mais em SC, quando formos fazer os trabalhos de campo aqui, para o livro de SC, ai sim será prioridade.


Raphael Sombrio

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Resposta #9 Online: 20 de Agosto de 2020, 16:47:48
Fotos lindas, Raphael!  :clap:

A da Cascada das Andorinhas é minha preferida..

E é muito bom ter o contexto de cada foto contando uma história: enriquece muito a imagem..

E o seu Projeto é nota mil! Muito importante para valorizaçao, popularizaçao da história natural e divulgaçao das belezas únicas de Aparados da Serra..


* há muitos e muitos anos rs..  desci o Itaimbezinho inteiro, do planalto até a cidade de Praia Grande, experiencia incrível! Pelo q sei, há muito tempo essa travessia esta proibida (se nao fosse faria novamente rs..)

Obrigado Angelo!

O cara que está em parceria nesse projeto, o Douglas, tambem desceu o Ita ( com uma permissão especial do ICMBio ) mas não concluiu o trajeto até a saida do rio do Boi.
Fora ele, alguns poucos conseguiram esse intento, eu conheci um cara ( falecido já ) que também desceu algumas vezes, mas também nos tempos em que quem ia lá era considerado louco.

Mas eu digo: depois de tudo percorrido já, nem o Ita, nem a Fortaleza dos Aparados são os mais bonitos. Há outros muito mais impressionantes!


batman2001

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Resposta #10 Online: 20 de Agosto de 2020, 18:05:13
Parabéns Rapha pela empreitada, da Hora mesmo!!! :clap: :clap:
Também estou acompanhando seu projeto pelo Face, e cara, confesso desde que abriu este tópico fiquei admirado com este registro da Cascata das Andorinhas...showww :worship: :worship:
"Dê a um homem um peixe e Ele o alimentará por um dia. Compre uma câmera para Ele e você o manterá ocupado por anos." Michael Connor 1965


Raphael Sombrio

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Resposta #11 Online: 21 de Agosto de 2020, 10:49:44
Parabéns Rapha pela empreitada, da Hora mesmo!!! :clap: :clap:
Também estou acompanhando seu projeto pelo Face, e cara, confesso desde que abriu este tópico fiquei admirado com este registro da Cascata das Andorinhas...showww :worship: :worship:

Valeu, muito obrigado!

Olha, não querendo ser pretensioso, mas conseguimos algumas fotos bem interessantes ( claro que as melhores ficarão especificamente para o livro impresso ). Acredito que quem adquirir o livro vai se surpreender....tomara!


batman2001

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Resposta #12 Online: 21 de Agosto de 2020, 18:57:23
( claro que as melhores ficarão especificamente para o livro impresso ).

Beleza Rapha, vamos aguardar para conferir..... :ok:
 :snack:
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cltctba

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Resposta #13 Online: 22 de Agosto de 2020, 14:58:05
Raphael, show de bola todas as imagens.

Conheço São José dos Ausentes, porém todas as vezes que cheguei aos Aparados (e foram muitas), o tempo estava fechado.

Como é para acampar nas áreas e fazer travessias? Pediu permissão antecipada aos fazendeiros?
César L. T.


Raphael Sombrio

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Resposta #14 Online: 24 de Agosto de 2020, 09:53:12
Raphael, show de bola todas as imagens.

Conheço São José dos Ausentes, porém todas as vezes que cheguei aos Aparados (e foram muitas), o tempo estava fechado.

Como é para acampar nas áreas e fazer travessias? Pediu permissão antecipada aos fazendeiros?

Obrigado!  :)

Realmente o clima, ou melhor, o microclima dos Aparados, pode ser complicado. Em dias de ar frio e seco, predominantemente no inverno, é mais garantido conseguir ver a paisagem.

Respondendo a tua questão, sim, em todas as incursões nós solicitamos autorização do proprietário ou responsável pelos locais, e sendo uma travessia, onde passaremos por mais de uma propriedade, pegamos autorização com o proprietário de alguma das terras por onde passaremos, quando o mesmo meio que se responsabiliza pelo nosso acesso as demais, ou se encarrega de informar aos outros a nossa entrada.

Na nossa mais recente exploração, por exemplo, no cânion Tabuleiro, como passaríamos por várias áreas de donos diferentes, muitos que nem moram aqui no sul, o guia autorizado pelas travessias nessa região ficou responsável pelo nosso acesso, inclusive nos dando permissão para irmos sem ele, uma vez que ele conhece nossa histórico e portanto sabe que pode confiar. Mas é complicado tanto para quem vai, como para quem permite, pois se algo errado acontecer ( alguém morrer em uma queda, ficar preso em algum ponto - por ferimento, acidente com ofídios/javalis/búfalos, ou mesmo uma forte viração - acabar provocando um incêndio, deixar animais se desgarrarem por uma porteira esquecida aberta ) a incomodação está garantida.

Além disso, no nosso caso específico, por se tratar de um projeto oficial, temos de ter autorização de acesso, captura de imagens e uso delas, só por garantia. Então não é o caso de chegar lá e entrar, mesmo sem ninguém saber.

Optamos sempre por conseguir as autorizações antecipadamente, contactando os responsáveis via internet ou telefone, mas já aconteceu de irmos e acertarmos tudo na hora, pessoalmente.

No caso das áreas dos Parques, aí a burocracia é um pouco maior, mas sempre tivemos o apoio do pessoal do ICMBio.