Croix obrigado por seus pontos de vista, sempre adicionando conhecimentos valiosos no fórum. Vou somar sua opinião e a o que Lindsay disse muito bem sobre o fotógrafo querer algo e o cliente outra. Vou adicionar um pouco do meu ponto de vista (lá vem texto longo,
)
Sobre o tópico em si: creio que o autor do mesmo falou sobre a regra dos terços para retratos. Eu entendo que no retrato, há uma expressão e um sentimento expressos na fotografia. Podemos dizer que a linguagem estética não está presa a regra de terços e a nenhuma outra regra da fotografia e vou explicar alguns motivos:
O primeiro deles é que muito mais importante que regras, são a direção de modelos. E quando eu falo de direção de modelos estou falando de humanos. Humanos tem pontos fortes e fracos. E usar esse recurso na fotografia é algo realmente espetacular. Por exemplo, eu trabalho a 5 anos com ensaios, não gosto de retratar tristeza.Por isso eu já sei de ante-mão que o estado emocional do cliente ANTES do ensaio começar é muito importante. Sabe fazer umas piadas, demonstrar um interesse genuíno em conhecer a pessoa, faz ela se soltar e ser natural nas fotos.
Segundo ponto é a iluminação. Embora a luz natural seja perfeita pra muitas situações, uma foto com iluminação ruim não será uma foto boa. Nosso cérebro enxerga por contraste. Então estudar cores complementares e opostas por exemplo, é uma "regra" de fotografia bem mais interessante pra ensaios de pessoas do que regras de terços.
Terceiro: foco. Nossos olhos se voltam aonde há foco na imagem. POr isso se eu usar uma lente que tem bom desfoque como uma 50 ou 85MM por exemplo, o olhar de quem vê a foto irá para onde está o foco. Por isso achei um avançado incrível as últimas mirrorless terem foco cravado no olho. Os olhos expressam muito sobre quem a pessoa é e como ela se sente na hora da foto (vide acima sobre direção de modelos, quebrar o gelo, deixar a modelo bem humorada, etc) .
Quarto: a linguagem estética. A linguagem estética na fotografia depende sobretudo do tipo de lente que se usa. Uma linguagem estética ativa é quando fotografamos pessoas incluindo o cenário. Lentes grande-angular são muito boas para esse tipo. Particularmente, no Fullframe, distância entre 24-45 milímetros passam essa linguagem visual onde se eu der um passo, eu estou dentro da fotografia. Por isso é uma estética mais ativa, com o elemento humano inserido dentro de um contexto que o convida a adentrar a cena, fazendo com que, mesmo inconscientemente, quem vê a fotografia , sente que se der um passo está dentro do ambiente.
Jà as lentes mais "normais" (a partir de 50MM ) e as lentes tele, possuem linguagem mais passiva, ou seja, um olhar de observação. Nesse tipo de retrato, o foco é mostrar o rosto, a expressão facial, algumas roupas e poses do modelo, ignorando o cenário de fundo. Nesse contexto, a estética é passiva, de observação. Quem vê a foto sente que está observando uma pessoa à distância e o cenário é apenas um leve complemento da exposição da foto.
Vou colocar dois exemplos de fotos minhas. Não sou um fotógrafo top das galáxias (mas estudando e praticando pra ser kkkk ) .
Foto 1:
Chefferson Amaro. Instagram @cafefocofoto. by
Chefferson Amaro, no Flickr
Essa foto é do meu filho que estava brincando de correr. Usei a 40MM 2.8 pancake da Canon. Notem que essa foto possui uma estética ativa, já que isso acontece porque inclui o cenário na composição. Eu ignorei totalmente a regra dos terços. Notem que não importa onde o modelo está. Se há um cenário e apenas 1 ser humano nele, nossos olhos irão olhar para o ser humano.
No exemplo desta foto, eu usei o espelho como parte da composição. Reparem que vc olha primeiro meu filho, depois o espelho e depois ele de novo, pra ser o destaque da foto. Ou seja, o cenário e o espelho que são as "regras" de composição da foto, onde ignorei qualquer regra de terços, mas explorei essa e outras "regras" (por exemplo, usei as linhas guia da calçada e do meio fio pra dar uma sensação maior de profundidade na cena) .
Também me agachei pois meu filho é uma criança e uma foto feita no mesmo ângulo do fotografado faz a composição ficar 1.000 vezes melhor , principalmente em crianças.
Como se pode notar, veja que usei (ainda que não totalmente consciente) uma série de "regras", mas também dei minha personalidade e olhar à imagem, quebrando essas regras, e ignorando totalmente regras de terços. A 40MM é uma lente ainda angular, então ela incluirá uma boa parte do cenário na composição. Nisso precisamos sempre pensar em posicionar o ser humano de maneira que nosso olhar vá pra ele em primeiro e o cenário é usado de maneira ativa pra complementar a composição da fotografia.
É uma estética ativa: se eu der um passo, quem vê a foto se imagina lá dentro brincando um pouco.
Foto 2:
Chefferson Amaro. Instagram @cafefocofoto. by
Chefferson Amaro, no Flickr
Jà esse retrato foi feito com uma 58MM em sensor APSC o que me dá um enquadramento praticamente de uma 85MM , ou seja, um enquadramento de uma lente do estilo "retrato clássico" .
Nesse tipo de composição, o fundo pouco aparece, e o destaque deixa de ser o cenário. Passamos a contemplar a beleza da modelo, seus olhos, expressão facial, de um jeito passivo, ou seja, observador. Não é assim que observamos uma obra de arte de pessoas?
É claro que podemos usar uma lente tele pra paisagens, por exemplo, mas elas sempre irão gerar essa linguagem de observação.
Pra finalizar: em fotos de pessoas, regras de terço são apenas uma referência, nunca uma obrigação. E centralizar a foto pode gerar algo muito mais interessante principalmente se minha linguagem for mais passiva/de observação /apreciação, ex:
Chefferson Amaro. Instagram @cafefocofoto. by
Chefferson Amaro, no Flickr