Vamos continuar a conversar???
Eu acho importante esse conceito de o que ou quem valida as obras e eleva ao status de "obra como arte". São varias questões envolvidas, inclusive o nome e o histórico do autor, que se for famoso e já reconhecido pela sociedade, fica mais fácil.
Vou tentar chegar lá.
A sociedade é construída por meio de pactos sociais. Por exemplo, não são as leis de trânsito que mantém o trânsito fluindo. É o pacto comum entre motoristas e pedestres. Estes não vão se enfiar na frente dos carros (embora os carros tenham que frear caso um pedestre entre-lhes na frente) e os carros vão se manter na rua e não invadir calçadas e parques (idealmente). O motorista da faixa ao lado vai tentar não te dar uma fechada se tiver que pegar a próxima saída. Claro que há violações, mas a regra geral (e não escrita) vale na maior parte dos casos.
O pacto social também diz o que é aceito, o que é encorajado e o que é reprovável em uma sociedade. Então um indivíduo tende a buscar mostrar à sociedade o que é encorajado. Na nossa sociedade, seria mostrar algo belo - por isso vemos tanta gente preocupada com a aparência. Se eu faço algo que julgo belo, meu impulso é mostrar à sociedade; se eu faço algo feio, meu interesse é esconder.
Também estas regras são mais ou menos conhecidas pela sociedade. Então, ao tirar uma foto que eu ache bonita, isso é porque eu cresci em uma sociedade que tende a achar aquilo bonito. Logo, ao achar aquilo bonito (ou artístico), seria justo achar que alguém mais vai concordar.
Conhece a Janela de Johari?
O é a zona oculta: eu sei, mas não mostro. São meus segredos.
A é a zona aberta: Eu sei e todo mundo sabe. Nossa aparência, nossa voz, nossas opiniões explicitadas.
C é a zona cega: Todo mundo sabe, menos eu: É nossa casca de feijão no dente.
D é a zona desconhecida: ninguém sabe o que é.
Como indivíduos, avançamos da zona O pra zona A por manifestação. Por exemplo, colocando uma foto pra apreciação da sociedade. Isso é espontâneo, só fazemos porque achamos aquilo digno de aceitação. Imagine neste momento que a zona O fica um pouco menor, e a zona A fica um pouco maior.
Daí ouvimos crítica. Isso seria um movimento da zona C pra zona A, é a crítica da sociedade pra sociedade, ou seja, aberto a todos. Algumas críticas deixam a gente ofendido, porque no nosso oculto, o que apresentamos é muito melhor que o pessoal da zona C nos diz. Mas de qualquer forma, só crescemos em conhecimento quando aceitamos o que vem da zona C. Note que, neste caso, a janela C fica um pouco menor e a janela A fica maior ainda.
A beleza deste jeito de ver a coisa é que, por meio de manifestação e crítica, avançamos sobre a zona D, a desconhecida. Veja que, após este processo, a janela A é maior; a janela C é mais estreita; a janela O é mais baixa. Já a zona D é mais estreita e mais baixa.
Tentando resumir tudo, "arte" seria o que eu acho que é arte, mas que eu acho que o mundo também vai achar que é arte.