Boa, RFP!
Também gostaria de ouvir o que os colegas acham... afinal essas questões ontológicas são a base de um longo debate, talvez um dos pilares da teoria fotográfica, né!
Falando nelas, não sei se tenho (ou ainda, não tenho!), ou se precisamos ter todas as respostas... de todo modo, e aí tratando de uma colocação particular que vc fez, suspeito que muitas impressões do Arlindo e do Berger mais se aproximam que se afastam. Já explico: ambos pra mim reforçam o quanto a fotografia se estira do real, do "isso foi" de Barthes, algo que está na tradição de outros autores também. Gosto de como o livro de Machado sutilmente derruba a "ilusão especular" dessa fidelidade ao mundo, esse "simulacro da realidade"; e muito do que li em Berger também caminha pra essa "distensão" (ainda que me lembre também de um texto dele assertivo, direto, pictórico, aquele que compara a emblemática foto de Che Guevara morto à aula de dr Tulp, de Rembrandt).
Enfim, desconfio que a fotografia pode ser muitas coisas, mas devo confessar que aprecio quando se delimitam bem esses espaços semióticos; a fotografia é uma coisa pra quem a viu antes, pra quem a imaginou, pra aquele que se surpreendeu com o "retângulo na mão", com o "instante decisivo", como Larrain e Bresson... é outra coisa pro "aparelho", que também, a seu modo, "interpretou" o real... e também pode ser (e deve ser, em um senso estético!) outra ainda pra quem a vê, pra quem a lê, pra quem a admira.
Pra citar Berger novamente, "a ambiguidade natural da imagem, o abismo que se abre entre o momento em que a fotografia é produzida e o segundo momento, quando ela é observada".