Autor Tópico: Trechos de livros sobre fotografia  (Lida 3646 vezes)

Leoneves

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Resposta #15 Online: 04 de Março de 2021, 18:29:25

Olá, RFP. Veja aqui:

https://journals.openedition.org/etudesphotographiques/3593

Esse é um estudo fundamental do Dubois, dá uma perspectiva de toda a evolução do pensamento dele sobre fotografia, desde a década de 80 até hoje. Chama-se, em tradução livre, "Da imagem-rastro à imagem-ficção". O grosso da ideia que você busca está na 3a parte do artigo, "A fotografia numérica e a teoria dos mundos possíveis: a imagem como ficção".



RFP

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Resposta #16 Online: 04 de Março de 2021, 18:42:29
Olá, RFP. Veja aqui:

https://journals.openedition.org/etudesphotographiques/3593

Esse é um estudo fundamental do Dubois, dá uma perspectiva de toda a evolução do pensamento dele sobre fotografia, desde a década de 80 até hoje. Chama-se, em tradução livre, "Da imagem-rastro à imagem-ficção". O grosso da ideia que você busca está na 3a parte do artigo, "A fotografia numérica e a teoria dos mundos possíveis: a imagem como ficção".

Obrigado. Para facilitar, tem a versão em português aqui:

http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/viewFile/30295/21457


peridapituba

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Resposta #17 Online: 04 de Março de 2021, 18:43:23
Pois é Léo, isso vai na direção oposta ao que disse o Barthes.
Trago 1 citação do Ansel Adams que corrobora que o ato de fotografar não pode se resumir a um apertar de botão:

"Não fazemos uma foto apenas com uma câmara; ao acto de fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos."

Se existe este pensamento é porque a intenção, a criação e o propósito são explícitos.
E como disse o Ernest Haas:

"A câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo. Mas você precisa ver."

A gente nota que o pensar a fotografia está sempre presente.

Sem dúvida, Peri: a ideia do "rastro", do "vestígio", do registro, do recorte do tempo no espaço, tudo isso mudou tanto...

Vou propor mais um teórico super relevante, Philippe Dubois.

Essa é a abertura de seu livro mais conhecido, "o ato fotográfico" (aliás contemporâneo do Câmara Clara de Barthes):

"A foto não é apenas uma imagem (o produto de uma técnica ede uma ação, o resultado de um fazer ou de um saber-fazer, umarepresentação de papel que se olha simplesmente em sua clausura deobjeto finito), mas é também, e em primeiro lugar, urn verdadeiro ato icônico, uma imagem, se quisermos, mas uma imagem em trabalho; algo que não se podeconceber fora de suas circunstâncias, fora do jogo que a anima semcomprová-la literalmente: algo que é, portanto, ao mesmo tempoeconsubstancialmente, uma imagem-ato, estando compreendido queesse "ato" não se limita trivialmente apenas ao gesto da produçãopropriamente dita da imagem (o gesto da "tomada"), mas inclui também o ato de sua recepção e de sua contemplação."

Dubois é ainda bastante ativo em teoria da fotografia, do cinema e da literatura. Não são difíceis de achar suas recentes ideias sobre o impacto do fluxo vertiginoso contemporâneo na função final das imagens e a desconexão, por diversos motivos, da imagem com o factual, com o "isso foi". Sem dúvida, vivemos o momento em que uma imagem não prova mais a existência de nada; as imagens são um mundo absolutamente à parte do mundo real.


pkawazoe

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Resposta #18 Online: 05 de Março de 2021, 04:48:06
muito legal esse tópico,
gostaria de colocar o prefácio do livro Cameraworks do David Hockney,
mas não encontrei,
um texto muito interessante em um dos livros mais legais de fotografia.
se alguém conhece onde encontrar na internet, poderia me indicar, obrigado.

então vou desvirtuar um pouco e colocar 2 videos do Joel Meyerowitz





RFP

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Resposta #19 Online: 06 de Março de 2021, 07:38:50
Pois é Léo, isso vai na direção oposta ao que disse o Barthes.
Trago 1 citação do Ansel Adams que corrobora que o ato de fotografar não pode se resumir a um apertar de botão:

"Não fazemos uma foto apenas com uma câmara; ao acto de fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos."

Se existe este pensamento é porque a intenção, a criação e o propósito são explícitos.
E como disse o Ernest Haas:

"A câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo. Mas você precisa ver."

A gente nota que o pensar a fotografia está sempre presente.

No artigo que o Leoneves indicou, o autor argumenta que o digital enterrou de vez essa noção do Barthes da fotografia como emanação do real e que ela é claramente apenas um procedimento técnico. Um trecho do texto:

A  segunda  marca  que  me  interessa  é  uma  consequência  da  primeira: a  partir    do  momento em   que   a  fotografia não   é  mais definida “absolutamente”, em   seu   princípio “original”, como    uma captação do real; a partir do momento que sua identidade não tem mais relação com sua natureza de simples “captura” de um lampejo do mundo, mas com alguma coisa que faz dela uma representação que  pode  não  corresponder  a  uma  coisa  real,  ou  seja,  que  pode  (essa  é  apenas  uma  possibilidade,  não  uma  necessidade)  ter  sido  “inventada” (no todo ou em parte) por uma máquina de imagem, então como podemos pensar essa tal imagem?

Como  pensar  a  imagem  quando  o  suposto  real  que  ela  representa não é mais dado necessariamente como um traço daquilo “que foi”?

Philippe Dubois — Da imagem-traço à imagem-ficção: O movimento das teorias da fotografia de 1980 aos nossos dias


peridapituba

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Resposta #20 Online: 06 de Março de 2021, 08:33:44
Sim.
Minha percepção é que à medida que o mundo avançava e com ele novas possibilidades apareciam, certos conceitos caíam por terra, pois não se sustentavam mais.
Não foi diferente com a fotografia.


No artigo que o Leoneves indicou, o autor argumenta que o digital enterrou de vez essa noção do Barthes da fotografia como emanação do real e que ela é claramente apenas um procedimento técnico. Um trecho do texto:

A  segunda  marca  que  me  interessa  é  uma  consequência  da  primeira: a  partir    do  momento em   que   a  fotografia não   é  mais definida “absolutamente”, em   seu   princípio “original”, como    uma captação do real; a partir do momento que sua identidade não tem mais relação com sua natureza de simples “captura” de um lampejo do mundo, mas com alguma coisa que faz dela uma representação que  pode  não  corresponder  a  uma  coisa  real,  ou  seja,  que  pode  (essa  é  apenas  uma  possibilidade,  não  uma  necessidade)  ter  sido  “inventada” (no todo ou em parte) por uma máquina de imagem, então como podemos pensar essa tal imagem?

Como  pensar  a  imagem  quando  o  suposto  real  que  ela  representa não é mais dado necessariamente como um traço daquilo “que foi”?

Philippe Dubois — Da imagem-traço à imagem-ficção: O movimento das teorias da fotografia de 1980 aos nossos dias



Leoneves

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Resposta #21 Online: 09 de Março de 2021, 18:37:35
Boa tarde, amigos.

Vou pedir licença para citar 2 autores que, sem falar especificamente de fotografia, dizem muito sobre como enxergamos as imagens no mundo contemporâneo.

“O que quer dizer civilização do espetáculo? É a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal. A distinção entre preço e valor se apagou, ambos agora são um só, tendo o primeiro absorvido e anulado o segundo. É bom o que tem sucesso e é vendido; mau o que fracassa e não conquista o público. O único valor é o comercial. O desaparecimento da velha cultura implicou o desaparecimento do velho conceito de valor. O único valor existente é agora o fixado pelo mercado.” 
Mário Vargas Llosa, em "A civilização do espetáculo"


Assim o capitalismo-artista não só criou uma economia estética, mas pôs em movimento uma sociedade, uma cultura, um indivíduo estético de um gênero inédito. A estética se tornou um objeto de consumo de massa ao mesmo tempo que um modo de vida democrático. Isso para o bem e para o mal. O bem está no universo cotidiano cada vez mais remodelado pela operatividade das artes, pela abertura de todos os prazeres do belo e das narrações emocionais; o mal, numa cultura degradada em show comercial sem consciência, numa vida fagocitada por um consumismo hipertrofiado.
"A estetização do mundo", de Gilles Lipovetsky.






RFP

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Resposta #22 Online: 10 de Março de 2021, 09:34:29
Acho que falar de imagens está bem dentro do escopo do que discutimos. Os trechos são bem relevantes. De fato, hoje tudo é material de consumo. Não apenas consumimos coisas, mas também imagens, textos, ideias... É raro olharmos de fato para uma foto; passamos rolando por elas nas redes sociais.

Por outro lado, pensando no segundo trecho, talvez seja possível estabelecer um valor individual para as artes. Se eu continuo atribuindo alto valor a boas fotografias e outras formas de arte, a abundância de material que existe hoje, pensando na lógica do consumo, pode permitir uma experiência sem igual. Poder ouvir atentamente a uma música que acesso facilmente por plataformas de streaming, olhar demoradamente para uma foto que acesso pela internet, ler livros que hoje são disponíveis ou de graça ou facilmente obtidos em sites é algo assombroso e impensável até poucas décadas atrás. Tudo depende de como nos relacionamos com todo esse material. Se dermos a ele o devido valor, somos incrivelmente ricos.