Prezados:
A respeito da célebre foto O Beijo do Robert Doisneau recentemente leiloada por 155 mil euros, ela é de fato uma foto espantosa.
A foto é esta:
Mesmo sendo a cena do beijo combinada, a captura é tão interessante que fico olhando meio bobo para ela.
Observem que tudo na foto está em movimento. Não é uma foto nítida, não há nada nela precisamente definido. Ou está em movimento, ou borrado pela curta profundidade de campo. Disso deriva uma espécie de atmosfera, uma espessura espacial e temporal, como se a foto não estivesse reduzida a um instante nem a um plano. O tempo dá uma escorridinha nos borrões de movimento, o espaço escorre na ausência de referência clara de foco, pois mesmo os amantes foram capturados durante o gesto, e estão um tanto borrados especialmente no rosto e cabelos do rapaz. A parte mais nítida são as vestes deles e o passante de óculos e boina atrás, que é uma espécie de punctun (elemento estranho e perturbador na foto, segundo Barthes) no conjunto.
Saber que a foto foi combinada -só com os namorados- e naturalmente escolhido o enquadramento de antemão não diminui minha admiração. Isso é o de menos.
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