Eu penso, Bruno, que o dito por você está muito próprio, e no entanto não dá conta do principal que é evitar a tomada citativa. O pesonagem do Proust vai ao teatro (No Caminho de Guermantes) ver uma famosa atriz e fica decepcionado, pois ela não "representa" como ele esperava. Ela o decepciona por não dar a ele a caricatura da representação que ele esperava ver. Ela dá algo somente mais tarde compreendido, que é a reprensentação que não se afirma como tal, somente (somente?!) apresenta o personagem, sem a toda hora demonstar "estou representando". Os americanos chamariam de Cool.
Nos espetáculos, via de regra, são manifestadas por parte dos atores ou músicos diversas atitudes do tipo "estou representando", ou "estou em delírio com o instrumento", que na verdade são falsas atitudes, são atitudes que regalariam o personagem do Proust no primeiro momento, pois são atitudes de confirmação do tipo "aqui estou fazendo arte". Mas a tal grande atriz era grande porque recusava isso, somente representava, não ficava citando a própria representação como substituta da verdadeira representação.
Então, eu digo que me agradam mais as fotografias de espetáculo que não se acumpliciam com o "estou representando", com o "estou solando a guitarra", etc, mas simplesmente capturam a imersão verdadeira de quem atua no que faz, para além dos gestos excessivos com que muitas vezes pensam passar suas emoções que no fundo não passam de más representações.
Grande abraço,
Ivan