Quando a televisão surgiu, nos anos 50, disseram que seria o fim do rádio. Pergunto: o rádio acabou? Que nada, continua firme e forte, apesar dos discos de vinil, dos cds e do mp3. Eu ainda acho que o filme não vai acabar, e talvez não venha a ficar tão absurdamente caro, como muitos dizem.
Provavelmente existem cerca de um bilhão de máquinas fotográficas espalhadas pelo mundo inteiro, de todos os tipos, tamanhos, marcas, etc, e centenas de milhões certamente no Terceiro Mundo, região onde a maior parte da população não está digitalmente incluída, nem socialmente, nem escolarmente. Então, como dissociar a tecnologia fotográfica digital da posse e domínio básico de um microcomputador?
Conheço gente instruída, de bom nível sócio-econômico, que abandonou a fotografia digital para retornar para a fotografia analógica SLR por que detestou a tecnologia e toda a chatice de se usar um micro. Sim, gente, nem todo mundo gosta de micro, muitos consideram o micro um porre!
Lembro um comentário aqui neste tópico, feito pelo Francisco, que diz sobre a portabilidade que ele adquiriu ao longo do tempo com respeito ao equipamento dele, tanto faz se o filme ou o digital é melhor em termos de resolução. Essa dúvida também não me afeta. Cada vez mais chego a conclusão de que se um dia inventarem a melhor máquina digital do mundo, daquela bem fodona, com 100 milhões de megapixels e toda uma parafernália criativa, eu ainda vou preferir o equipamento que eu venho montando ao longo do tempo.
Noutro dia desses, estava eu fotografando no Pão de Açúcar, e tinha um gringo lá, com uma camiseta australiana, com uma SLR toda manual. Vai me dizer que o padrão de vida deles, na Austrália, não permite que o cara compre uma puta digital? Esse é o ponto que me faz ter a certeza de que o filme não vai acabar, se não nunca, ao menos não tão cedo. E por isso continuo investindo em filme, filtros e lentes para minhas analógicas. E com certeza ainda há centenas de milhões de consumidores arredios a tecnologia digital do filme.
Bem, num quesito particular, nada me faz trocar a ansiedade de esperar até uma semana para poder revelar meus filmes, aquela curiosidade igual criança de pensar como as fotos ficaram. Essa coisa de ver na hora, numa digital, por certo não me seduz, ao contrário, irrita-me profundamente. Um saco!
Resta sabermos se a explosão da tecnologia fotográfica digital não está também intimamente associada ao capitalismo voraz consumista dos EUA e de países que a ele se alinham, como o Brasil, por exemplo. Como está essa questão na Europa, por exemplo?