Umas e outras observações.
Em primeiro lugar, o objetivo incial declarado pelo Leandro visava o descobrimento/reconhecimento/aprofundamento da linguagem de cada um.
Quando falamos de linguagem de cada um, isso inclui algo muito amplo que é o propósito da foto, a poética da foto. Contudo, ao ser proposto o tema o Leandro enunciou uma finalidade "deixar as pessoas com vontade de comer maçã" (o que para mim tem uma dificuldade adicional... eu não gosto de maçã!
). Assim,
a definição do exercício contradisse sua finalidade, pois associou o exercício a uma finalidade típica da fotografia publicitária, e não da fotografia autoral. Impediu, por exemplo, uma foto de uma maçã já comida no chão, uma foto de uma maçã podre, uma foto de maçã em uma fruteira e outras tantas que poderiam ter uma carga poética maior que essas.
Assim, paradoxalmente, foi na fotografia do Leo que eu melhor reconheci a linguagem pessoal de alguém, pois sua linguagem está muito amarrada à fotografia de moda e/ou fashion, e sua fotografia trouxe essa marca à tona. Se o objetivo é reconhecimento de linguagem, ele descumprindo a regra de abordar a maçã como assunto principal foi a mais diretamente apontada ao objetivo. Aliás, é otro problema do exercício: assunto muito direto não combina com fotografia autoral.
A melhor fotografia, em minha opinião, apesar de alguns elementos de estranheza, foi a do Leandro. Elas não dão absolutamente vontade de comer , pois as cores algo secas tiram a eventual suculência associada à fruta.
Mas esteticamente ficou bom e com certo ar pop pela repetição. Nesta foto incomodaram-me duas coisas: uma aparente artificialidade entre os planos das maçãs, que podem ter sido provocados pela tele mas dão a impressão das maçãs terem sido recortadas e montadas, e a transição brusca da sombra na base. Está muito evidente o final da sombra cinza no fundo branco.
A foto Saúde e Frescor está mal realizada, pura e simplesmente. Não é uma má idéia, ao contrário é uma idéia comunicativa -
embora nada autoral e sim fortemente publicitária- mas a realização ficou muito insuficiente para desenvolver a idéia. Não dá para distinguir direito a água e nem mesmo a forma fechada da maçã. Não sei relacionar tal foto com a linguagem do fotógrafo.
Heber DM também mostra uma foto cuja concepção e realização estão descasadas, com uma saturação que chega ao incômodo e com um enquadramento muito fechado que se torna sem sutileza. Também uma boa idéia a léguas da realização compatível. Provavelmente, por paradoxal que seja, essa foto em PB e com um enquadramento mais folgado cumpriria melhor o projeto.
Tirando a foto do Leo, a qual associo ao que costumo ver dele e assim me faz sentir ser um depoimento de estilo pessoal, não vi isso nas demais. Pode ser por desconhecimento mais profundo da linguagem de cada um,
mas não se pode dizer que as fotos estejam linguisticamente tão caracterizadas a ponto de impor a nós a idéia de "uma personalidade assim fez essas fotos assim". São fotos que poderiam, ao que me parece, terem sido feitas por muitos fotógrafos não caracterizando linguagem pessoal nem autoria explícita. São, perdoe-me os companheiros,
"fotos genéricas", que poderiam ser substituídas por outras fotos genéricas.
Creio que o enunciado da meta como "ter vontade de comer uma maçã" é bastante comprometedor para o exercício. No caso de fotos autorais, a fixação do objetivo é parte necessária da autoria.
Quando o objetivo já é dado estamos falando de "fotos utilitárias" e a contribuição estilística de cada um é pequena, pois a natureza da demanda é de foto genérica.
Quero deixar claro que as críticas feitas ás fotos não as reduzem a más fotos, absolutamente. Gostei de ver o exercício e as fotos, mas se não é para analisar criticamente, não teria sentido escrever esta mensagem.
Abraços a todos,
Ivan