Autor Tópico: A composição na fotografia - matéria Fotosite  (Lida 15256 vezes)

Marcelo Favero

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Resposta #15 Online: 14 de Maio de 2008, 15:14:06
Mas Ivan,
Falamos justamente da importância de conhecer os fundamentos antes de aventurar-se a deixá-los de lado. E as regras a que o tópico se refere são meras regras técnicas que facilitam uma leitura do observador de um modo geral, e como certos desvios do estabelecido "nos manuais" não podem ser considerados erros "técnicos" se realmente agradam ao mesmo. Coisa de beabá! Não se propôs uma ruptura sensorial nos conceitos estético-sociais, tão pouco uma reinvenção da fotografia. Não vi tal prepotência num mero bate-papo entre diferentes níveis de fotografos profissionais ou hobbistas.
Seu post é verdadeiro e válido, mas acho que não é esse o caso em questão. São apenas fundamentos como toda atividade humana tem. Inclusive a arte. E particularmente, fotografia para mim, nem sempre é arte. Mas existe da mesma forma.

Grande abraço
Marcelo dos Santos

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pontabranca

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Resposta #16 Online: 14 de Maio de 2008, 17:35:19
Ivan, você escreve muito bem, parabéns.
Mas acho que não captou o que eu quis dizer com quebras de regras. regras do beabá, como disse o Marcelo. Nem todos os fotógrafos entendem de arte mesmo. E nem todos devem entender de arte. Vi suas fotos e creio que temos conceitos completamente diferentes, mas nem por isso desvalorizo sua fotografia, tampouco super valorizo.
Sinceramente não gostei do "tom" das suas palavras, não coloquei este tópico para ter minha fotografia julgada ou meu conhecimento sobre artes avaliado (já que vc generalizou).
Não sou uma intelectual e não tenho pretensão alguma de ser. Minha escola foi bem específica e todo conhecimento que tenho foi na prática, pelo menos 5 anos, +- 12hs por dia dentro de um estúdio, trabalhando(ralando)junto aos melhores fotógrafos (nesta área) do Brasil. E garanto que muitos deles não tem a teoria da arte na ponta da língua, nem conceitos mirabolantes com palavras requintadas... Não creio ter sido arrogante ao falar sobre quebrar as regras, sei que há regras para quem começa a fotografar que devem ser obedecidas antes de quebrá-las. minha opinião continua sendo a mesma.
Portanto, Ivan, creio que vc tem toda a liberdade para expressar sua opinião, se não gostou do tópico, ótimo! diga e justifique! só não venha com esse papo intelectualzinho, elitista, porque o único que está sendo arrogante aqui, é você.
Banzai


Ivan de Almeida

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Resposta #17 Online: 14 de Maio de 2008, 18:54:35
Quem acha que vai aprender a história da arte na prática está dizendo que vai reviver a história da humanidade sozinho. Isso pode ser enfeitado com mil palavras, mas no fundo é isso.

Não desvalorizo o conhecimento prático, para aquilo que o conhecimento prático serve. Se conhecimento prático fosse tudo, pedreiro seria engenheiro, e não é.

Não existe isso de quebrar regras. Quem se imagina capaz de quebrar regras está imaginando que pode criar algo a partir do nada, e isso é de fato uma soberba, que só pode ter como alicerce o desconhecimento do que sejam as ditas regras.

O primeiro fundamento do desenvolvimento é abandonar o egocentrismo, a "pulsão original do artista" e estudar. Fora disso, é arte naif, fotografia naif. Disso o mundo está cheio, e não faz nenhuma diferença fazer mais uma ou outra fotografia naif.

Podem não ter gostado do que eu disse, e sei bem que escrevi de forma franca em demasia. Mas o que está dito é verdade.

pontabranca. Tá lagal, você tem conhecimento de estúdio e de contato com fotógrafos. Ótimo. Isso é o seu ponto forte. Agora, se de fato que fazer diferença, não durma sobre isso, achando que isso é tudo. Procure saber o que não sabe. É procurando saber o que não se sabe que as pessoas vão para frente.

E, especialmente, conhecendo a história da atividade que pratica que as pessoas conseguem enxergar o seu fazer em sua devida proporção, sem imaginar que a sensibilidade é a resposta, pois basta examinar a história da arte que se evidencia serem os artistas estudiosos da arte, e não pessoas sensíveis pura e simplesmente.

Se eu pudesse banir das mentalidades uma frase, que em minha opinião é a frase mais destrutiva de todas, que impede o progresso de tanta gente, é a frase "conhecer as regras para quebrá-las". Por que para quebrá-las? Por que não para conjugá-las? Mas não é para conjugá-las, pois essa frase já indica que não se quer as ditas regras (que, como já expliquei, não são regras coisa nenhuma) e poucos, muito poucos são capazes de conjugá-las. A enorme maioria repete essa frase como mera desculpa para não buscar conhecê-las e não buscar entendê-las. Essa frase é a grande defesa do não-saber.

O mito da arte livre é só um mito ingênuo. O mito da sensibilidade provém lá do Artista Romântico que morria tuberculoso. Mas é só mito, na verdade esse artista romântico era alguém que estudara arte como qualquer outro praticante.




Leo Terra

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Resposta #18 Online: 14 de Maio de 2008, 20:33:51
Concordo em grande parte com o Ivan. Penso que a questão aqui é como lidamos com nossa evolução.

Você pode evoluir partindo do zero, mas se tentar fazer isso terá que passar por tudo o que a humanidade já passou e é claro que isso é impossível. Como o Ivan disse temos ai quase 20mil anos de história relativamente conhecida do ser humano. Em termos de história da arte podemos dizer que temos o estoque de conhecimento acumulado desde que o primeiro homem pintou um pedaço de pedra. Ninguém irá romper paradigmas muito maiores do que os estabelecidos pelo homem que pintou a primeira pedra, se for tentar tirar todo este tempo de estoque de conhecimento sozinho. O aprendizado é necessário e  inclui experiências próprias, ver, sentir, ouvir, conversar, discutir (a dialética ainda é uma ferramenta super legal de aprendizado), estudar, etc. Não podemos renegar o legado que já nos foi deixado, por definição já temos um estoque de conhecimento que nos é transmitido e já rompeu diversos paradigmas. Quanto mais nos aprofundamos no que já foi feito (parte o próprio meio nos fornece, mas muito depende de nosso esforço), mais longe conseguiremos ir e mais preparados para “quebrar regras”estaremos. Só é possível quebrar um paradigma se conhecemos o que o embasa e o meio no qual estamos inseridos.

Ainda podemos dizer que ninguém vai evoluir, quebrar paradigmas e atingir a genialidade imitando. Imitar não é evolução ou revolução, é a simples estagnação e aceitação de um paradigma. Ninguém é genial por aceitar dizer o que querem que digamos, somos geniais quando conseguimos analisar o mundo por nós mesmo. Se nos prendermos a conceitos estéticos pré-definidos acabamos por estagnar. A estagnação e a cópia não farão de ninguém um gênio. Para quebrar ou reafirmar paradigmas é necessário entender o mundo e progredir em relação ao que já foi feito, seja contestando (até para contestar é necessário conhecer o que será contestado), seja aprimorando (o que nem preciso dizer que requer conhecer o que se está aprimorando) ou ainda reafirmando (que também requer a compreensão para não passar como dogma e massificação).

Sendo assim as “regras” não passam de modelinhos e receitinhas de como misturar certas técnicas para obter certos resultados, são dogmas ligados a uma práxis amparada pela visão de alguém. Tais regrinhas podem ser usadas de forma construtiva, se a pessoa sabe o que vai querer dizer e às usa para amparar isso, mas na maioria dos casos são usadas como uma “verdade”, mesmo que não se saiba o porquê delas. Assim acabamos cruzando com pessoas que não conhecem a técnica que está por trás de cada regrinha, não sabem o que querem transmitir com a imagem e acabam usando-as como paradigma absoluto e instransponível, quebrando os ciclos de revoluções necessários para a afirmação e a evolução de novas visões.

Por isso eu não acredito em “regras”, nunca acreditei. Eu tenho um conceito particular de arte, baseado em um binômio entre o estabelecimento do conceito e a técnica. Para mim o conceito e a técnica estariam vinculados um ao outro e sem a associação dos dois não haveria a comunicação artística.

Tentando aplicar este binômio à fotografia eu poderia dizer que a criação do conceito é o princípio da mesma, seria como você conceberia a idéia geral sobre o tema, a definição de o que você quer passar com aquele registro, quais são suas idéias, o que as pessoas precisam sentir ao verem aquela imagem para que essas idéias sejam compreendidas. A fotografia deve falar por si só, sendo assim, sem a criação de um conceito você não teria uma obra coerente. Isso porque se você não sabe o que falar, certamente não conseguirá dizer nada. Agora para criar um conceito é preciso aprender, a criatividade não vem do nada, não nasce com a pessoa, ela vem da experimentação, da busca, do contato com os elementos da arte, da visão sobre o mundo exterior (que nos é dada pelo que conhecemos dele), pela forma com a qual vemos nosso passado, entendemos nosso presente e esperamos que seja nosso futuro. Esta visão (que claramente requer estudo e reflexão), nos dá a idéia do que dizer, do que falar e do que buscar para edificar uma evolução concreta em relação ao que já foi edificado posteriormente.
Quanto à técnica ela também é de extrema importância neste binômio, tanto quanto a criação. A técnica seria o tipo de conhecimento necessário para nos levar aos resultados que esperamos obter, sendo que a escolha da ferramenta (equipamento) faz parte da técnica. As “regras” quase nunca conseguirão nos levar ao que esperamos obter, só nos levarão ao que os outros esperam obter de nós. Já a técnica, nos permite controlar as variáveis para que cheguemos aos resultados que esperamos obter e assim nos permite transmitir nosso conceito sobre o mundo e não os dogmas estabelecidos como verdade. Sem a técnica, por melhores que sejam suas idéias, não será possível passar os seus conceitos. Assim a técnica é tão fundamental para o processo fotográfico quanto a própria criação do conceito, necessitando ser aprendida tanto quanto. A grande vantagem (que também é a grande desvantagem) da técnica é que ela é bem mais fácil de aprender do que o processo criativo do conceito, com isso podemos aprender a técnica de forma bem mais rápida e perceptível. O lado negativo é que como o aprendizado é mais rápido e perceptível, muitos fotógrafos acabam aprendendo uma parcela pequena da técnica e se apegando às “regrinhas” (que normalmente acabam sendo passadas no pacote), para não precisarem pensar no processo criativo.

Sendo assim a concepção de uma obra (podemos entender por obra mais de uma fotografia) dependeria de um enorme aprendizado e de um enorme empenho do fotógrafo, pois para conseguir quebrar um paradigma e produzir um salto qualitativo na arte, o conhecimento do passado, do presente e a reflexão sobre o futuro são tão fundamentais quanto o conhecimento das ferramentas que serão usadas para tal, assim passariam sempre por este binômio, o estágio criativo (onde você irá conceber o conceito que será transmitido) e o estágio técnico (onde você irá converter o que pretende falar em algo que fala por si só e expressa corretamente este novo conceito). Portanto, para conceber uma obra fotográfica genial passaríamos pelo mesmo processo necessário para obter qualquer tipo de quebra de paradigma, que certamente envolve um amplo estudo e pouca acomodação com relação aos paradigmas vigentes.
« Última modificação: 14 de Maio de 2008, 22:00:24 por Leo Terra »
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Ivan de Almeida

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Resposta #19 Online: 14 de Maio de 2008, 20:58:33
E por aí, Leo.

Na verdade o que seria "quebrar regras" nada mais é do que conhecê-las em seus fundamentos, tanto que aplica os fundamentos ao invés das regras. Mas a própria visão desses fundamentos precisa de uma prática de regras, precisa de vivência delas para saber a que se referem.

Regras simples, como a "Regra dos Terços", são prisões, mas são também caminhos. Quem as entende como regra, a terá prisão. Quem a entende como um caso particular de um jogo geométrico, a tem como exemplo. E entendendo por que o exemplo é eficaz, pode entender a eficácia do jogo geométrico que toda fotografia contém.

Mas não é quebrar regras, esse nunca é o objetivo. É como alguém que acorda de manhã e diz: hoje eu vou fazer algo novo! Mas o novo não nasce da vontade de fazê-lo, e sim de um aprofundamento nas coisas que permite conjugá-las de uma forma mais vasta. Assim, paradoxalmente, quando se fala de "quebrar regras", que é, em minha opinião, uma locução enganosa, o que está contido nela é exatamente o contrário disso: é saber o fundamento das regras e conjugar os fundamentos, e não as estruturas-exemplo. Quebrar regras, na verdade, é segui-las. Não seguir o bobo terço, mas seguir aquilo que faz do terço eficaz. Quebrar regras é saber usá-las de tal forma que sequer pareçam usadas, e não negá-las.

Mas encontramos gente que nunca colocou algo no terço, que nunca apoiou uma linha na diagonal, que nunca usou repetições de forma, proporções, nada disso e não sabe fazer, dizendo que quer quebrar regras. E, geralmente é quem não sabe usar que diz isso. É sintomático que quem sabe não diga que quer quebrar regras, simplesmente as usa conforme a ocasião sem sentir-se preso a uma ou outra, a uma estrutura-exemplo ou outra.

É o mito da arte espontãnea que aparece aí. O mito do criador individual, o mito da arte que emerge de um algo possuído pela pessoa. E, infelizmente, isso provoca a estagnação, a repetição. Paradoxalmente, quem pensa que pode criar sozinho é quem mais repete, e repete porque ao invés de ir pescar nas profundezas, de mergulhar, através do estudo e do conhecimento, nas profundezas do caudal da cultura humana (por favor, falo de cultura humana, não da cultura de cada um), que pescar no raso, quer pescar na superfície midiática. E aí, achando que é um livre criador, é de fato um repetidor do comum.


Ivan de Almeida

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Resposta #20 Online: 14 de Maio de 2008, 21:52:29
Marcelo;

Fotografia pode não ser Arte sempre (nada é arte sempre), mas fotografia sempre sará uma arte visual. E toda arte visual tem os mesmos fundamentos.

Tais fundamentos afloram como regras primárias, que nada t~em de primárias de fato, mas em certo sentido as podemos dizer primárias, ou como voc~e diz "coisa de manual".

Qual a porta de entrada para entender os fundamentos? Qual a porta de entrada para entender a percepção? Pois bem, a porta de entrada para entender os fundamentos são os fenômenos-exemplo.

Então, as regras snão são tão somente algo que aprendemos e deixamos de lado em seguida. Elas são exemplos vivos do funcionamento das estruturas da percepção, e permanentemente podemos olhar para elas e compreendermos a percepção, o olho medidor.

mesmo quando não é Arte, como arte visual ela segue os desenvolvimentos da Arte.

Abraços,
ivan


Marcelo Favero

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Resposta #21 Online: 14 de Maio de 2008, 21:53:25
Estranho que li novamente todo o tópico, e em nenhum instante ví alguém fazer apologia à ignorância técnica. Muito menos a usar o desconhecimento como desculpa para qualquer coisa que justifica-se tamanha indignação e eloqüência. E, se o problema é semântico, desculpem, ok? Mas aprendi a chamar certas coisas (coisas simples e objetivas como a "... dos terços" - e agora já não sei mais como é o nome!!!) de regra, e descumpri-la CONSCIENTEMENTE de "quebrar"!
Marcelo dos Santos

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Marcelo Favero

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Resposta #22 Online: 14 de Maio de 2008, 22:15:40
Marcelo;

Fotografia pode não ser Arte sempre (nada é arte sempre), mas fotografia sempre sará uma arte visual. E toda arte visual tem os mesmos fundamentos.

Tais fundamentos afloram como regras primárias, que nada t~em de primárias de fato, mas em certo sentido as podemos dizer primárias, ou como voc~e diz "coisa de manual".

Qual a porta de entrada para entender os fundamentos? Qual a porta de entrada para entender a percepção? Pois bem, a porta de entrada para entender os fundamentos são os fenômenos-exemplo.

Então, as regras snão são tão somente algo que aprendemos e deixamos de lado em seguida. Elas são exemplos vivos do funcionamento das estruturas da percepção, e permanentemente podemos olhar para elas e compreendermos a percepção, o olho medidor.

mesmo quando não é Arte, como arte visual ela segue os desenvolvimentos da Arte.

Abraços,
ivan

Não, não temos que aprender e as deixar de lado em seguida, de fato. Também não está escrito isto em nenhum momento. Mas, se não estou certo no termo quebrar, vamos dizer, "não seguí-las" é tão somente algo que tem e deve ser fazer quando, e somente quando, a comunicação assim o exige. Claro que não se faz isso por desculpa do desconhecimento, ou por "achar bacana", muito menos inédito. Mas quando a história contada no fotograma exige, ou quando se quer criar a tensão necessária no observador, ou seja lá para que o fotógrafo (que pode ser aqui um artista plástico ou mesmo um arquiteto), soberano em sua liberdade de expressão, achar que é conveniente. Se vai funcionar... Sim, depende do conhecimento que ele tem daquilo que ultrapassou (?), ou do ponto aonde ele quer chegar.
Se entrar no meu site, vai ver a foto de capa com o horizonte torto. Era aquilo que eu queria produzir, sem achar que estava sendo criativo ou genial... Era simplesmente meu desejo de comunicação, e com o (pouco) que conheço, funcionou no meu objetivo. Se ficou bom ou ruim, sorte ou azar o meu.
Apenas acho que estamos debatendo livremente o suficiente para respeitar opiniões, o que ninguém fez até então, de forma absoluta.

A fotografia como expressão, jornalística ou publicitária por exemplo, precisa informar e vender antes de tudo. É arte visual, claro, se levarmos em consideração que um folder, uma novela, um filme de cinema, também são. Mas não uma criação artística, uma obra que precisa do ineditismo acima de tudo. É algo que conhece regras o suficiente para saber que pode não segui-las a risca se isto melhor atingir o objeivo maior de informar e vender.

Abraços
« Última modificação: 14 de Maio de 2008, 22:17:38 por Marcelo Favero »
Marcelo dos Santos

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Resposta #23 Online: 14 de Maio de 2008, 22:20:20
Estranho que li novamente todo o tópico, e em nenhum instante ví alguém fazer apologia à ignorância técnica. Muito menos a usar o desconhecimento como desculpa para qualquer coisa que justifica-se tamanha indignação e eloqüência. E, se o problema é semântico, desculpem, ok? Mas aprendi a chamar certas coisas (coisas simples e objetivas como a "... dos terços" - e agora já não sei mais como é o nome!!!) de regra, e descumpri-la CONSCIENTEMENTE de "quebrar"!

Marcelo;

Não lemos o mesmo tópico. O que observei, a partir já da segunda ou terceira mensagem do tópico foi a relativização da composição consciente em favor da "intuição". Já no iníco a ênfase em "quebrar regras prevaleceu sobre o próprio assunto do tópico.

Não é questão de ser eloqüente ou não. Um debate deve servir para alguma coisa, e minha fala nesse debate visa ser incômoda, isto é, suficientemente incômoda para deslocar o debate das fórmulas cômodas.

Tá legal, você chama a regra dos terços de regra. Nenhum mal há nisso. Depois diz que a quebra... aí eu já estranho. Quebra como? Não se quebra uma regra dessas, podemos usá-la ou não, mas o não uso não é uma quebra. Fosse assim, qualquer mera foto centralizada seria uma quebra da regra dos terços.

A idéia de quebra de uma regra não funciona nesse caso, porque simplesmente o que acontece é a passagem de uma regra para a outra, da regra dos terços para centralização.

É isso o que estou aqui colocando, que há uma impropriedade em dizer que se quebra regras, pois quando se faz uma composição eficaz, não há quebra, há simplesmente outra estrutura atendendo á necessidade. E quando se faz uma composição ineficaz, bem, aí é a demonstração pelo inverso.

Nunca existe quebra de regra, e sim substituição de uma estrutura-regra por outra. E voc~e pode estudar essas estruturas, e aí ficará com um vocabulário consciente de estruturas, ou pode conjugá-las inconscientemente, isto é, "no sentimento".

Mas esse sentimento é de fato um sentimento? Não, não é. E apenas a manifestação de treinamentos incosncientes. E quando eles se manifestam sem consciência perdemos o nível de análise relativo a eles.

Quebrar regras, se for entendido como a conjugação inconsciente dos treinamentos, não há quebra de regras,há meramente inconsci~encia. Se for entendido como conjungação de configurações formais ineficazes, aí não vale nada fazer isso.

O que estou tentando dizer é que toda composição eficaz está apoiada nos fundamentos da percepção, e que fazer isso conscientemente é suprior a fazer por acaso.



Leo Terra

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Resposta #24 Online: 14 de Maio de 2008, 22:29:26
 :snack:
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Resposta #25 Online: 14 de Maio de 2008, 22:33:54
Ah Ivan,

Concordarei contigo plenamete que a expressão verbal correta é fundamental em tudo. Mas concorda comigo que na verdade a única discordância de fato aqui é a "forma de chamar" certa prática?
Marcelo dos Santos

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Ivan de Almeida

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Resposta #26 Online: 14 de Maio de 2008, 23:00:57
Pode até ser, Marcelo...

Mas meu ponto aí é que essa mera expressão verbal perturba o entendimento da questão, por isso minha "eloqüência" -risos.

É esse o incõmodo que queria trazer para esse debate (trazer um incômodo é um grande presente para um debate...)

É essa a questão. Que a expressão "quebrar regras" é uma expressão que esconde a verdadeira questão, e portanto deveria ser evitada.

Porque ou usamos uma regra, ou usamos outra. Subimos ao terceiro andar. Podemos ir de escada ou de elevador, mas ir de elevador não é quebrar a regra "subir de escada". É simplesmente usar outra regra que implica em entrar no elevador.

Em toda composição EFICAZ há uma estrutura funcionando. Em toda composição INEFICAZ há confusão de estruturas. Isso é tudo. Ao usarmos uma esturutura podemos ter consciência plena de seu funcionamento e poder, ou não. Se temos essa consciência, então podemos explorá-la de forma mais aguda. Se não temos, isso é mais difícil.

O seu mar fora de nível não é uma quebra de regra, é apenas uma conjugação outra. Você pode analisar sua foto buscando nela o que a faz funcionar, e assim descobrirá qual regra (qual heurística) ela contém.

Abraços,
ivan


Kika Salem

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Resposta #27 Online: 15 de Maio de 2008, 12:47:47
Podem não ter gostado do que eu disse, e sei bem que escrevi de forma franca em demasia.

Não é questão de ser eloqüente ou não. Um debate deve servir para alguma coisa, e minha fala nesse debate visa ser incômoda, isto é, suficientemente incômoda para deslocar o debate das fórmulas cômodas.

É esse o incômodo que queria trazer para esse debate (trazer um incômodo é um grande presente para um debate...)

O Ivan é um incompreendido kkkk
Estou brincando Ivan, não me leve à mal. Aliás, mais do que um incompreendido, acho você um provocador. Isso funciona muito pro debate, ele teria morrido se você não tivesse provocado, mas estar na sua mira não é uma situação confortável e como um exímio provocador você sabe disso, não sabe? ;)

Brincadeiras à parte, li todas as intervenções e identifiquei dois eixos do debate que são interessantes, ao meu ver:
1) o diálogo entre tradição e modernidade, entre o "velho" e "novo" e
2) o significado/"aprisionamento" das regras

No primeiro caso, é ponto pacífico que ninguém cria nada sem dialogar com as influências precedentes, seja na música, na pintura, na escultura, nas artes em geral. Vou citar um exemplo nosso, na música brasileira, que cabe aqui e é bem didático. Até hoje, as pessoas em geral e alguns músicos também concebem a Bossa Nova como um movimento musical que rompeu com os estilos precedentes (samba canção, bolero etc.) e criou algo inédito, sem precedentes, na música popular brasileira. Tanto que a BN (Bossa Nova) também foi chamada MMPB (Moderna Música Popular Brasileira). A designação “moderna” teve justamente o propósito de acentuar esse caráter inédito, inovador, dentro da tradição da música popular urbana no Brasil. No entanto, essa "ruptura" não foi tão radical como se propalou, se é que de fato existiu, pelo menos nos moldes como nos é passado, pois, ao ouvirmos os primeiros discos de Tom Jobim, Carlos Lyra, só pra citar dois expoentes da BN, fica muito claro o diálogo tanto com a música nacional, o samba por exemplo, e com outras influências musicais como a música erudita e o jazz. Logo, não haveria "ineditismo" se não houvesse tal diálogo.
Esse diálogo com o passado, com as tradições, não um fenômeno peculiar da nossa música, acontece em todos os segmentos artísticos e não é diferente na fotografia. Vou citar o exemplo mais recente que vi, uma exposição de LaChapelle. Pois bem, seu trabalho cita muitas obras clássicas como, por exemplo, "A última Ceia", de Leonardo da Vinci. O diálogo com essas referências resultou numa releitura criativa, ousada, e não teria sido possível se ele não conhecesse, não se interessasse ou não buscasse referências na história da arte. Mas aqui também é ponto pacífico. Ninguém discorda que o estudo da história da arte não seja importante, mas também não vejo muitas pessoas se dedicarem a ele com afinco. Nesse sentido ele acaba ficando secundário dentro da ampla gama de possibilidades/caminhos que dispomos no mundo da fotografia.
Veja, citei aqui apenas dois exemplos, mas são infinitos. Releitura é um recurso muito recorrente na história da arte, aqui incluindo a fotografia, e não pode ser visto como cópia como já vi alguém dizendo por desconhecimento, e você só pode fazê-la conhecendo essas referências, estudando esses processos criativos.

No segundo caso, penso que o desejo de "quebrar as regras" advém, sobretudo, da quase única referência que se tem sobre composição no universo da fotografia: a "regra dos três terços". Vou citar um exemplo próximo. Eu faço um curso de fotografia. Nesse curso, meus professores imediatos (não o proprietário da escola) possuem conhecimento técnico, mas quase nenhuma noção de composição. Eles são uns amores, veja bem não estou julgando a pessoa, mas quando eles começam a falar em composição, eu tenho até vontade de chorar. Ainda bem que eles falam pouco disso porque o curso é 100% técnico e foi por isso mesmo que eu me matriculei nele. Enfim, na maioria dos cursos de fotografia tudo começa e acaba na "regra dos três terços". Parece que toda a história da arte, da humanidade, se fez em cima da "regra dos três terços". Pois bem, o problema, portanto, não está na regra em si, que é válida em muitos casos e situações, mas nos usos e porque não desusos que se faz dela, levando-a à exaustão. Nessa questão eu concordo que o desenvolvimento de uma identidade fotográfica, o estudo de processos de criação, da história da arte, seja um percurso solitário, de busca pessoal, ainda que eu me guie por algumas indicações, referências e debates.

Enfim, por enquanto é só.

« Última modificação: 15 de Maio de 2008, 13:11:43 por Kika Salem »


Chello

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 :eek: Tô com medo de chegar perto da cam... socorro!!! kkkkkkkkkkk
Chello
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Ivan de Almeida

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Resposta #29 Online: 15 de Maio de 2008, 15:17:38
Creio que há tr~es eixos em fotografia...

Técnica fotográfica;

Composição;

Poética.

Cada um desses eixos tem certa, repito, certa autonomia em relação aos outros, autonomia suficiente para poder ser objeto de estudo independente. Mas essa autonomia não é prática. Embora possamos estudar independentemente dada uma dessas coisas, em uma fotografia elas aparecem reunidas, isto é, o assunto (poética) está arrumado (composição) e a cãmera ajustada para captá-lo de determinada maneira (técnica).

A interrinfluência da composição e da poética é óbvia.

Se fotografarmos "um homem olha uma casa", faremos um tipo de foto. Se fotografarmos "a casa é olhada por um homeme", faremos outro. Aparentemente há o mesmo conteúdo (poética) mas esse conteúdo é modificado pela composição, da mesma maneira que passar da voz ativa para a voz passiva modifica a sentença escrita. E a técnica (escolher o foco, etc) é uma das maneiras como a composição se realiza.

Como a Kika bem falou, o problema está que quando se fala em composição, raros vão além da Regra dos Terços, uma regrinha expedita, que é apenas um caso especial, mas que se transformou para muitos na própria essência da composição, a ponto de se imaginar que fazer qualquer coisa diferente é quebrar regras, quando é tão somente usar outra regra.

É preciso compreender o fenômeno da percepção visual em sua forma prática, e para compreender de forma prática é preciso empregar uma fenomenologia (desculpem-me a palavra) da nossa percepção, isto é, temos de praticar um duplo olhar quando observamos uma fotografia: um olhar é para a fotografia, o outro para compreender a ação do olho ao examiná-la.

E os casos-regras são os melhores exemplos para compreendermos isso.

O que vai acontecer? Vai acontecer que quando compreedemos a dinâmica da percepção, as regras expeditas mostrar-se-ão como são: meros casos particulares. E aí poderemos praticar composição não as contrariando, mas as conjugando de um nível mais alto de compreensão. mas é impossível adquirir esse nível de compreensão descarnado de exemplos, e as regras-expeditas são exemplos.

Não podemos ultrapassar a moldura definida por nossos processos perceptivos, e esses processos perceptivos t~em uma lógica. Aprender essa lógica é aprender "a mãe de todas as regras", e aí sim, ser livre. Livre para que? Livre para empregar o jogo perceptivo que desejar, mas não intuitivamente, porém CONSCIENTE do que está fazendo. Não quebrando regras, mas as refinando a um ponto muito além da regra-expedita.