Podem não ter gostado do que eu disse, e sei bem que escrevi de forma franca em demasia.
Não é questão de ser eloqüente ou não. Um debate deve servir para alguma coisa, e minha fala nesse debate visa ser incômoda, isto é, suficientemente incômoda para deslocar o debate das fórmulas cômodas.
É esse o incômodo que queria trazer para esse debate (trazer um incômodo é um grande presente para um debate...)
O Ivan é um incompreendido kkkk
Estou brincando Ivan, não me leve à mal. Aliás, mais do que um incompreendido, acho você um provocador. Isso funciona muito pro debate, ele teria morrido se você não tivesse provocado, mas estar na sua mira não é uma situação confortável e como um exímio provocador você sabe disso, não sabe?
Brincadeiras à parte, li todas as intervenções e identifiquei dois eixos do debate que são interessantes, ao meu ver:
1) o diálogo entre tradição e modernidade, entre o "velho" e "novo" e
2) o significado/"aprisionamento" das regras
No primeiro caso, é ponto pacífico que ninguém cria nada sem dialogar com as influências precedentes, seja na música, na pintura, na escultura, nas artes em geral. Vou citar um exemplo nosso, na música brasileira, que cabe aqui e é bem didático. Até hoje, as pessoas em geral e alguns músicos também concebem a Bossa Nova como um movimento musical que rompeu com os estilos precedentes (samba canção, bolero etc.) e criou algo inédito, sem precedentes, na música popular brasileira. Tanto que a BN (Bossa Nova) também foi chamada MMPB (Moderna Música Popular Brasileira). A designação “moderna” teve justamente o propósito de acentuar esse caráter inédito, inovador, dentro da tradição da música popular urbana no Brasil. No entanto, essa "ruptura" não foi tão radical como se propalou, se é que de fato existiu, pelo menos nos moldes como nos é passado, pois, ao ouvirmos os primeiros discos de Tom Jobim, Carlos Lyra, só pra citar dois expoentes da BN, fica muito claro o diálogo tanto com a música nacional, o samba por exemplo, e com outras influências musicais como a música erudita e o jazz. Logo, não haveria "ineditismo" se não houvesse tal diálogo.
Esse diálogo com o passado, com as tradições, não um fenômeno peculiar da nossa música, acontece em todos os segmentos artísticos e não é diferente na fotografia. Vou citar o exemplo mais recente que vi, uma exposição de LaChapelle. Pois bem, seu trabalho cita muitas obras clássicas como, por exemplo, "A última Ceia", de Leonardo da Vinci. O diálogo com essas referências resultou numa releitura criativa, ousada, e não teria sido possível se ele não conhecesse, não se interessasse ou não buscasse referências na história da arte. Mas aqui também é ponto pacífico. Ninguém discorda que o estudo da história da arte não seja importante, mas também não vejo muitas pessoas se dedicarem a ele com afinco. Nesse sentido ele acaba ficando secundário dentro da ampla gama de possibilidades/caminhos que dispomos no mundo da fotografia.
Veja, citei aqui apenas dois exemplos, mas são infinitos. Releitura é um recurso muito recorrente na história da arte, aqui incluindo a fotografia, e não pode ser visto como cópia como já vi alguém dizendo por desconhecimento, e você só pode fazê-la conhecendo essas referências, estudando esses processos criativos.
No segundo caso, penso que o desejo de "quebrar as regras" advém, sobretudo, da quase única referência que se tem sobre composição no universo da fotografia: a "regra dos três terços". Vou citar um exemplo próximo. Eu faço um curso de fotografia. Nesse curso, meus professores imediatos (não o proprietário da escola) possuem conhecimento técnico, mas quase nenhuma noção de composição. Eles são uns amores, veja bem não estou julgando a pessoa, mas quando eles começam a falar em composição, eu tenho até vontade de chorar. Ainda bem que eles falam pouco disso porque o curso é 100% técnico e foi por isso mesmo que eu me matriculei nele. Enfim, na maioria dos cursos de fotografia tudo começa e acaba na "regra dos três terços". Parece que toda a história da arte, da humanidade, se fez em cima da "regra dos três terços". Pois bem, o problema, portanto, não está na regra em si, que é válida em muitos casos e situações, mas nos usos e porque não desusos que se faz dela, levando-a à exaustão. Nessa questão eu concordo que o desenvolvimento de uma identidade fotográfica, o estudo de processos de criação, da história da arte, seja um percurso solitário, de busca pessoal, ainda que eu me guie por algumas indicações, referências e debates.
Enfim, por enquanto é só.