Autor Tópico: Qual a explicação pelo desinteresse pelo debate teórico na área da fotografia?  (Lida 8564 vezes)

Alex Biologo

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Sobre a falta de estudo, isso é fácil de entender. Numa aula de pintura as pessoas querem saber como fazer um quadro, estudam um ou outro movmento, mas o interessante é se express\r, raros realmente vão estudar, vale o mesmo pra cursos de música, o cara quer tocar o instrumento, está pouco se lixando se o instrumento tem uma história ou não.

Perfeita colocação  :ok:

Nem entro no mérito da história da fotografia, mas da reflexão sobre a fotografia. O que também são coisas diferentes, ainda que sejam complementares.

Que esse é um interesse de poucos parece que ninguém faz objeção, mas minha questão volta-se não para a setença (é um interesse de poucos), mas para a pergunta (esse interesse pode ser construído e de que forma?).
Mas antes disso acho que tem uma questão mais importante que é: você dá algum valor a esse assunto, ainda que não tenha muito repertório sobre ele? Se sim, aí já temos uma predisposição. Se não, de fato, a questão fica redundante.

Kika, pra mim é um tema interessante, mas devido a forma como e vejo a fotografia, e ai é uma leitura pessoal, cada um vai enxergar de um jeito.

Quem enxerga apenas como forma de relaxamento, dificilmente vai se preocupar com isso, é como o futebol de fim de semana, vc pode jogar futebol por jogar ou pode também pensar o jogo. Ai vai de sua opção. Pouca gente pensa o jogo.

Quem enxerga a foto como expressão artística provavelmente vá se interessar mais por esse tipo de discussão, quem se preocupa mais com o resultado )seja por diversão ou trabalho) provavelmente não vá ter o mesmo interesse.
Alex Martins dos Santos - São Paulo/SP
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Leo Terra

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Alex para mim a teoria fotográfica envolve todo o processo, desde os elementos básicos até os elementos artísticos, pois a linguagem artística também evolui a partir do legado deixado e dos elementos externos que modelam o momento histórico. Então quando falo de teoria falo de tudo, tanto do aspécto técnico como no aspécto artístico e histórico, que podem ser estudados de diversas formas e devem andar juntos, porque a arte não se faz sem a técnica assim como não se faz sem o próprio aspécto artístico do processo. Agora caso o objetivo da fotografia não seja artístico devemos nos ater no mínimo ao aspécto técnico, que é necessário para conseguir expressar os objetivos, apesar de eu achar que este tipo de documentação não pode ser considerado arte fotográfica.
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 09:25:41 por Leo Terra »
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Leo, eu tenho uma certa tendência e pensar como vc, apesar de achar que chega um momento em que a fotografia vira apenas ferramenta de expressão artística.

Eu costumo pensar mais na fotografia como técnica, assim como a pintura, a escultura, a literatura ou qualquer outra arte e quando vc consegue sair da técnica, começa a ser exatamente arte, ou expressão de uma idéia usando uma técnica sedimentada. Em geral a técnica na qual o artista sde expressa melhor.

Mas lendo os últimos posts fica claro que essa divisão rola muito na cabeça das pessoas e até tem a sua lógica
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Legal, a pergunta, Kika.

Bem, antes de mais nada, sobre o que é teoria fotográfica: modos de operação da câmera, abertura, velocidades e coisas do tipo não são teoria; são aspectos técnicos de uso do equipamento. E aí discordo do Leo, pois a teoria não depende do tipo de fotografia e a maior parte do que ele descreve como teoria são elementos técnicos.

Se formos ao Ato Fotográfico do Dubois, ele dirá que a fotografia é uma categoria epistemológica por si só. Ou seja, a fotografia é uma forma de conhecimento, uma forma de ver o mundo e de abordar a realidade. Estudar a teoria significa entender quais as propriedades dessa forma de conhecimento, quais as suas características, distorções e limitações. Para isso, um livro fantástico é A Ilusão Especular do Arlindo Machado, um dos melhores livros teóricos sobre fotografia que já li.

Um dos problemas para a discussão desse tipo é a escassez de material. Se formos a uma livraria, veremos que há inúmeros títulos sobre crítica de arte, teoria da arte e tudo mais. Mas na seção de fotografia, se houver 5 livros falando sobre teoria, será muito. Alguns deles:
Sobre Fotografia - Susan Sontag
O Ato fotográfico - Phillipe Dubois
A Câmara Clara - Roland Barthes
Filosofia da Caixa Preta - Willem Flusser
O Fotográfico - Rosalind Krauss

No entanto, este não é o principal motivo pelo qual há pouco debate sobre o assunto, até porque cada um desses livros renderia assunto para meses de discussão. A questão é que as pessoas se interessam pela parte prática, pelo aspecto técnico, pelo fazer fotográfico e não pelos aspectos sociais, culturais e históricos dessa disciplina. Muitas pessoas chegam à fotografia pelo viés tecnológico e aí é difícil que façam essa transição para o aspecto social e humano.

Porém, o que a maior parte das pessoas não imagina é que a leitura desse tipo de texto tem um impacto profundo no próprio fazer fotográfico. O livro do Arlindo Machado, por exemplo, é uma discussão constante sobre como a técnica interfere na linguagem. Dá pra fazer na prática a fotografia "subversiva" que ele descreve (reparem que ele não fala de técnica pura, mas a técnica como caminho para desconstrução do processo fotográfico). O livro do Dubois fala de coisas interessantíssimas sobre o efeito do corte, a questão do tempo, do espaço etc. O livro da Sontag levanta tantas questões sobre a influência da fotografia na sociedade moderna que até ficamos com receio de usar a câmera novamente depois da leitura. Ou seja, todos eles falam de coisas que fazem parte da fotografia, seja ela de que tipo for, mas que a maior parte das pessoas não se dá conta por achar que é uma leitura desnecessária, perfumaria (como você ouviu).

E aí, quando começam a acabar esses títulos que falam de fotografia, acabamos indo ler sobre história da arte, semiótica, comunicação visual etc., pois está tudo muito interligado. E a sensação que eu tenho é que quanto mais entendemos todos os aspectos envolvidos na fotografia, aquilo que fazemos acaba fazendo muito mais sentido. Por recomendação da minha professora eu comecei a ler essas coisas e digo que para a minha compreensão da área, isso vale mil vezes mais do que saber sobre abertura e velocidade. E também sinto necessidade de debater sobre esses assuntos.


Leo Terra

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E aí discordo do Leo, pois a teoria não depende do tipo de fotografia e a maior parte do que ele descreve como teoria são elementos técnicos

Rodrigo elementos artísticos e históricos são técnicos???? Realmente não entendi, técnica para mim são os elementos que envolvem a operação do aparelho e não os elementos que envolvem a concepção artísticas, que na minha opinião também são carregados dentro do arcabolso teórico, como deixei bem claro no meu post acima.

A distinção que criei no post acima é em termos de objetivos fotográficos, para o objetivo documental o simples domínio técnico basta, já para o objetivo artístico é necessário dominar os aspéctos da teoria que envolvem o momento artístico e histórico no qual o artista está envolvido, porque historicamente os artistas que se sobressairam foram sempre os que entenderam esses momentos.

No garal eu concordo plenamente com você, a técnica é o caminho, mas você precisa saber onde quer chegar, em termos metafóricos, se você sabe onde quer chegar mas não sabe o caminho não vai a lugar nenhum e se você conhece todos os caminhos mas não sabe onde quer chegar também não vai a lugar nenhum. Então em termos de elementos artísticos seria necessário tanto o domínio do momento e das próprias idéias (que carregam seu próprio arcabolso teórico e de estudo), assim como o domínio técnico.
Com relação à ordem de aprendizado disso você pode escolher a que melhor te convier, mas neste ponto eu concordo com o Alex, o domínio técnico é um tanto quanto libertador para o artista (além de fundamental), mesmo porque a maioria de nós já tem uma certa percepção de mundo que nos foi dada por nosso arcabolso teórico adquirido pela própria educação formal, que é importante na formação da visão de mundo e o que nos falta para uma certa libertação é realmente conhecer alguns caminhos, mas julgo fundamental o aprimoramento contínuo da visão artística, através do conhecimento dos elementos externos ao artista e dos que o precederam. PAra mim isso é parte fundamental do arcabolso teórico da fotografia, principalmente para quem a busca como arte.
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E aí discordo do Leo, pois a teoria não depende do tipo de fotografia e a maior parte do que ele descreve como teoria são elementos técnicos

Rodrigo elementos artísticos e históricos são técnicos???? Realmente não entendi, técnica para mim são os elementos que envolvem a operação do aparelho e não os elementos que envolvem a concepção artísticas, que na minha opinião também são carregados dentro do arcabolso teórico, como deixei bem claro no meu post acima.

A distinção que criei no post acima é em termos de objetivos fotográficos, para o objetivo documental o simples domínio técnico basta, já para o objetivo artístico é necessário dominar os aspéctos da teoria que envolvem o momento artístico e histórico no qual o artista está envolvido, porque historicamente os artistas que se sobressairam foram sempre os que entenderam esses momentos.

No garal eu concordo plenamente com você, a técnica é o caminho, mas você precisa saber onde quer chegar, em termos metafóricos, se você sabe onde quer chegar mas não sabe o caminho não vai a lugar nenhum e se você conhece todos os caminhos mas não sabe onde quer chegar também não vai a lugar nenhum. Então em termos de elementos artísticos seria necessário tanto o domínio do momento e das próprias idéias (que carregam seu próprio arcabolso teórico e de estudo), assim como o domínio técnico.
Com relação à ordem de aprendizado disso você pode escolher a que melhor te convier, mas neste ponto eu concordo com o Alex, o domínio técnico é um tanto quanto libertador para o artista (além de fundamental), mesmo porque a maioria de nós já tem uma certa percepção de mundo que nos foi dada por nosso arcabolso teórico adquirido pela própria educação formal, que é importante na formação da visão de mundo e o que nos falta para uma certa libertação é realmente conhecer alguns caminhos, mas julgo fundamental o aprimoramento contínuo da visão artística, através do conhecimento dos elementos externos ao artista e dos que o precederam. PAra mim isso é parte fundamental do arcabolso teórico da fotografia, principalmente para quem a busca como arte.

Leo, depende muito do que você considera artístico. Tem gente que acha que fazer foto "artística" é desfocar o fundo, fazer uma iluminação diferente ou outras coisas puramente técnicas. Eu particularmente não gosto do termo artístico pois ele geralmente não descreve bem o que se está querendo dizer.

Agora, eu acho que a gente não pode deixar essa discussão cair no clichê teoria x prática, pois o que está sendo discutido aqui é mais amplo. Tanto o fotógrafo documental com o "artista" podem se utilizar apenas de técnica e alguma intuição. A questão proposta pela Kika é a reflexão sobre a fotografia como disciplina de estudo, com suas questões filosóficas, sociais, psicológicas etc. O fazer fotográfico e as suas técnicas são apenas uma pequena parte da disciplina Fotografia.

E aí, pra esse tipo de questão, pouco importa se a fotografia é feita para ser arte ou não: são aspectos de qualquer tipo de fotografia, referem-se a ela como um todo. E aí é natural que os interesses sejam divididos. O cara que fotografa pode não querer saber dessas coisas, da mesma forma como muitos autores desses livros não eram fotógrafos. Nada é obrigatório.

Mas voltando aos livros: insisto que, para qualquer pessoa que fotografe, a leitura é interessante. Por exemplo, o Flusser diz que o fotógrafo não cria nada, ele é um mero operador da câmera. Quem cria, para ele, é o engenheiro que projeta a câmera, pois é ele quem vai determinar o que pode ser feito com o equipamento. O fotógrafo apenas transita dentro das possibilidades permitidas por aquele que projetou a câmera. É uma ótima provocação. Pode-se concordar ou não, pode-se adulterar a câmera para de fato "criar" ou aceitar a posição de operador, não importa, mas não dá pra ficar indiferente frente a esse tipo de afirmação. A fotografia como teoria está cheia desse tipo de consideração que afetam muito o fazer fotográfico de quem se interessa.


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Não sei se é exatamente esse o objetivo da Kika, mas me parece que a idéia dela é incitar a formação de um grupo para esse tipo de discussão, estou enganado?

Se for essa a proposta, como fazer isso andar?
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Rodrigo arte é um conceito amplo e completo, que ultrapassa a técnica, senão seria fácil formar grandes artistas. Saber desfocar o fundo realmente é técnica, agora aplicar isso de forma a dizer alguma coisa que seja significativa já cabe dentro do arcabolso artístico da fotografia. A técnica é a ferramenta para se chegar na arte, são coisas distintas, mas complementares.

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Agora, eu acho que a gente não pode deixar essa discussão cair no clichê teoria x prática, pois o que está sendo discutido aqui é mais amplo. Tanto o fotógrafo documental com o "artista" podem se utilizar apenas de técnica e alguma intuição. A questão proposta pela Kika é a reflexão sobre a fotografia como disciplina de estudo, com suas questões filosóficas, sociais, psicológicas etc. O fazer fotográfico e as suas técnicas são apenas uma pequena parte da disciplina Fotografia.

Eu entendi o que a Kika quer dizer como o sentido amplo da teoria e em momento algum restringi a uma questão puramente técnica, muito pelo contrário, coloquei que para a amplitude do conceito artístico o estudo deveria abranger diversas áreas que possibilitassem o refinamento da percepção do artista a partir do estoque de conhecimento previamente acumulado (que em termos técnicos nem é dos maiores). Mas discordo quanto a questão da teoria x prática, porque a questão colocada é exatamente o porque que as pessoas não buscam debate teórico (pelo menos foi o que entendi do questionamento inicial) e na minha opinião isso se deve a má concepção que as pessoas possuem da relação entre prática e teoria, que carrega um cunho de extrema dominação e está impregnado em nossa cultura. As pessoas simplesmente não discutem teoria porque não teorizam, isso porque acreditam que apenas com a prática podem chegar mais longe do que com o estudo e a teorização. Como pensar é normalmente mais chato do que praticar este comportamento acaba sendo reforçado e as pessoas que teorizam acabam sendo vistas como "chatas" ou coisas piores. Esta é uma visão freqüente não só na fotografia como em diversos outros lugares (já vi várias pessoas falando que o que vale é a prática, inclusive no meio acadêmico  :eek:). Quantas vezes você já não leu a expressão "vá fotografar que você aprende mais do que em qualquer curso ou qualquer livro"?. Esta visão distorcida e favorável à dominação, está inserida em nossa cultura e leva as pessoas à falsa crença de que podem dominar o conhecimento (até mesmo o autoconhecimento) sem investir um tempo estudando e pensando a respeito, que é a parte que cabe ao arcabolso teórico (teorizar não é só ler o que já foi feito, é também pensar sobre o que foi feito e suas relações com o sistema).
Quando coloco a questão da fotografia documental em relação à artística também não quero denegrir nenhuma das duas, só quero mostrar que existe uma diferença de objetivos que pode modificar o foco de estudo necessário, mas ambas exigem estudo, tanto da técnica, como de outros fatores que ultrapassam a técnica. Na verdade uma das críticas que tenho com relação a muitos cursos é o fato de dar técnica pura e engessada, para mim o curso deve dar o conceito técnico que leva a formação de uma determinada imagem e fomentar a leitura de mundo do indivíduo para que ele possa perceber o mundo à sua volta e consiga representar o mundo a sua volta. Em fotografia esse formato de curso que instiga o estudo dos elementos que formam o mundo do indivíduo é difícil de ser encontrado e quando falo de ler o mundo isso vai envolver aspéctos históricos, aspéctos filosóficos, aspéctos sociais, aspéctos artísticos, aspéctos pessoais, dentre outros que possam se relacionar aos objetivos da fotografia, eu sempre procuro passar a importancia desse arcabolso, inclusive no Fotografia avançada eu tenho capítulos que tratam exclusivamente do autoconhecimento, do conhecimento da história, e do meio, dentre outros, pois espero com isso instigar o estudo desse tipo de coisa relacionada aos objetivos fotográficos do estudante, mas noto que é difícil que os estudantes se atenham a essas áreas teóricas, a maioria de concentra em executar as tarefas práticas, que não passam de puro condicionamento. O entender dos conceitos e o pensar acabam ficando em segundo plano e isso se deve, na maior parte das vezes, a esta distorção cultural, que coloca a prática como solução, enquanto a história já nos mostrou que as civilizações que realmente prosperaram foram aquelas que pensaram e documentaram o que era pensado, ou seja que teorizaram e partiram dos trabalhos já realizados. ;)
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 11:32:50 por Leo Terra »
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Os livros que tinha em mente no momento da pergunta eram os clássicos que todo mundo já ouviu falar: "O ato fotográfico", "A imagem", "A câmera clara". Mas não só eles. Pensei também em filosofia, história da arte etc. Não bastasse pensei nos livros técnicos.

Daí me veio a dúvida, porque esse tipo de leitura, e, claro, a partir dela o debate que se segue, causa tanto desinteresse quando não desconforto e resistência. Resistência porque, às vezes, as pessoas se sentem afrontadas com esse tipo de pergunta, quando o interesse é mais entender o fenômeno como um todo e não um caso particular.

Guio-me por uma pista: talvez essa repulsa tenha relação com o caráter funcional e com o "espírito do capitalismo" das sociedades de hoje.

Kika, acho que a sua pista é boa até mesmo porque o problema não se restringe à fotografia. Pense no cinema. As pessoas adoram os filmes. Muitos hoje procuram ansiosamente um filme na internet para assisti-lo antes do lançamento. Mas quais são os filmes que agradam à maioria? Os blockbusters hollywoodianos que não exigem muito dos neurônios (e não raro trazem ao final um letreiro explicando esquematicamente tudo que aconteceu).

Passo semestralmente por uma situação curiosa. Dou uma disciplina virtual e no primeiro encontro presencial é exibido o filme "O enigma de Kaspar Hauser", do Herzog. Para mim é um filme maravilhoso e que permite milhares de reflexões. Antes de começar, aviso aos alunos que não é um filme de "ação" no sentido comum, que nada explode, não há tiros e que o ritmo é lento e reflexivo.

O desconforto sentido pela maioria dos alunos é tão grande que o clima da sala chega a ficar pesado. Quando o filme acaba o alívio de alguns é tão grande que parece que tiraram um prego da cabeça deles. Normalmente ouço: "Professor, esse filme é ruim demais", "é o pior filme que já vi na minha vida", etc. Já vi pessoas francamente irritadas porque não "entenderam" o filme.

Mas por que não entendem? Acho que nesse "espírito do capitalimo" que privilegia as fórmulas da indústria cultural, da cultura de massa, as pessoas têm pouquíssimas oportunidades de aprender a apreciar esse tipo de obra. Mas têm inúmeras oportunidades de aprender a apreciar o "blockbuster hollywwodiano", que já vem formatado de acordo com o gosto médio padrão.

É claro que o "blockbuster hollywwodiano" também pode ser pensado, questionado criticamente. Até para desvendarmos o que está por trás dessas fórmulas do gosto médio padrão. Mas a sua apreciação não exige o pensamento reflexivo. E a maioria não vai querer participar dessas reflexões.

E aí volto à frase citada pelo Rodrigo:

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o Flusser diz que o fotógrafo não cria nada, ele é um mero operador da câmera. Quem cria, para ele, é o engenheiro que projeta a câmera, pois é ele quem vai determinar o que pode ser feito com o equipamento. O fotógrafo apenas transita dentro das possibilidades permitidas por aquele que projetou a câmera. É uma ótima provocação. Pode-se concordar ou não, pode-se adulterar a câmera para de fato "criar" ou aceitar a posição de operador, não importa, mas não dá pra ficar indiferente frente a esse tipo de afirmação.

O comentário que fiz antes tem a ver com o que o Rodrigo disse. Na fotografia existe a opção de se colocar como operador de uma máquina que já traz em seu projeto as possibilidades pré-definidas. Muitos vão por esse caminho. Mas outros podem optar por questionar o que está por trás desse projeto, o que ele significa em termos estéticos, culturais, etc.

A opção tem a ver, por um lado, com os interesses e preocupações (sempre legítimos) de cada um que pratica a fotografia (qualquer que seja o tipo de fotografia). Mas tem a ver, por outro lado, com questões socioculturais mais complexas. O tal "espírito do capitalismo" que você mencionou.
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 11:43:06 por Carlos Magalhaes »
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Carlos acho que sua visão meio que acompanha a minha, isso é a famosa preguiça de pensar. Que é fruto exatamente da nossa cultura que privilegia o prático, a execução, que também vai ao encontro do que você colocou, a pessoa que se coloca como operador é aquela que aceita o simples condicionamento como sendo a prática e não entende a relação entre a prática e o teorizar (que envolve ler, viver e pensar sobre o que ocorre a sua volta), confundido a prática (que consiste em vivenciar) com o simples condicionamento.
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Passo semestralmente por uma situação curiosa. Dou uma disciplina virtual e no primeiro encontro presencial é exibido o filme "O enigma de Kaspar Hauser", do Herzog. Para mim é um filme maravilhoso e que permite milhares de reflexões. Antes de começar, aviso aos alunos que não é um filme de "ação" no sentido comum, que nada explode, não há tiros e que o ritmo é lento e reflexivo.

O desconforto sentido pela maioria dos alunos é tão grande que o clima da sala chega a ficar pesado. Quando o filme acaba o alívio de alguns é tão grande que parece que tiraram um prego da cabeça deles. Normalmente ouço: "Professor, esse filme é ruim demais", "é o pior filme que já vi na minha vida", etc. Já vi pessoas francamente irritadas porque não "entenderam" o filme.


E, vejo que falta ser um pouco Kaspar e aprender a enxergar as coisa de um ângulo mais livre de algemas. Na fotografia se prender apenas às limitações técnicas impede a evolução do olhar que todos dizem buscar!
Se prender ao melhor equipamento, a técnica perfeita e incorrigível não trará grandes fotos, apenas fotos perfeitas!
Mas ai é claro, vai das intenções de cada um!

Abs
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 12:05:11 por Chello »
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Kika Salem

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Bom dia a todos!

Minha pergunta era simples, pensava eu. Era sondar porque a reflexão sobre o ato fotográfico causava tanto desinteresse nas pessoas envolvidas com fotografia, a exemplo da experiência do professor citado no primeiro post.
Em nenhum momento, imaginei que pudessemos convocar pessoas no fórum para produzir teoria, no máximo pensar sobre fotografia com o auxílio de uma bibliografia escassa, como mencionou o Rodrigo.
Pra mim, a Fotografia engloba várias instâncias que vai desde o conhecimento mecânico do aparelho até reflexões sobre o ato de fotografar. Essas instâncias não são excludentes nem antagônicas, mas complementares. Por isso evito contrapor teoria x prática.
Ocorre que, se complementares, minha curiosidade relacionava-se à naturalidade com que estudamos a parte técnica que gera grande interesse, ao contrário da literatura reflexiva que causa certa repulsa.
Quando falei em "debate teórico" e "pensamento fotográfico" pensei em reflexões sobre fotografia e não numa literatura instrutiva acerca da técnica fotográfica. Não porque considere-a menos importante, nada disso, mas porque a primeira é tomada com muitas cautelas, restrições, desinteresse e até alguma ojeriza. A idéia central não era menosprezar o aprendizado técnico, longe disso porque eu mesma dou valor a ele, mas entender porque uma outra instância da fotografia, sem contrapô-las obviamente, é sublimada. Nessa linha de raciocínio eu faço diferenciação, mas não elenco graus de importância, entre material didático (manuais relativos ao aprendizado técnico) e uma bibliografia mais analítica (ensaios, artigos etc.).
De modo geral, penso que as pessoas entenderam a proposta.

A princípio era uma sondagem Alex acerca do interesse sobre tal assunto. Não tenho nada estruturado sobre como se pode formar um grupo de estudos num fórum de fotografia nem sei se a proposta é viável e nem mesmo sabia se havia interesse. Eu tenho muita vontade de expandir minhas leituras e vejo que o interesse é compartilhado com algumas pessoas no fórum e, embora seja restrito, ele existe. Mas daí a propor uma atividade nesse sentido é uma outra questão, talvez não tenha demanda e nem seja possível, pois, como você disse, "discutir essas coisas sem ser ao vivo torna o processo que já é lento, mais lento ainda".

A proposta pode não ter viabilidade prática, porém o andamento do tópico demonstra que carecemos, aqui eu me coloco no topo da lista, de definições claras sobre uma série de temas como, por exemplo, do que trata a fotografia, a arte, as artes visuais, a comunicação visual, a semiótica, a linguagem etc. e o que é um ensaio, um manual, um artigo etc. Enfim, temas que estão pouco sólidos e que merecem a atenção de todos. Se não é possível fazê-lo numa discussão coletiva, no mundo virtual, ao menos que seja feito no universo privado, de forma individualizada. De todo modo, é um caminho que precisa ser percorrido, caso haja interesse em expandir o conhecimento acerca da própria atividade.
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 17:18:42 por Kika Salem »


Carlos Magalhaes

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Carlos acho que sua visão meio que acompanha a minha, isso é a famosa preguiça de pensar. Que é fruto exatamente da nossa cultura que privilegia o prático, a execução, que também vai ao encontro do que você colocou, a pessoa que se coloca como operador é aquela que aceita o simples condicionamento como sendo a prática e não entende a relação entre a prática e o teorizar (que envolve ler, viver e pensar sobre o que ocorre a sua volta), confundido a prática (que consiste em vivenciar) com o simples condicionamento.

Acompanha sim, Leo. É a preguiça de pensar que tem que ser pensada! Como diria o velho Marx, vivemos na sociedade do trabalho alienado. O trabalho que perde o que teria de mais humano que é justamente o pensamento. Não por acaso, fazemos a distinção entre "trabalho e lazer (ou hobby)". O lazer ou hobby é o que fazemos no tempo livre de não-trabalho. Mas o trabalho alienado contamina nossa cultura de tal forma que acabamos praticando um lazer ou hobby que acaba também alienado. E o pensamento passa a provocar desconforto e preguiça...
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Kika, eu não contrapuz a teoria e a prática, na verdade eu procurei ligar as duas, mostrando que o ato de teorizar (que envolve o estudar, no sentido amplo, e o pensar) está intimamente ligado a uma prática real, que difere da visão de prática difundida como soberana e único caminho para o desenvolvimento, que na verdade não passa de puro condicionamento. A prática e teoria devem andar juntas e não se contrapor, porque se vierem a se contrapor tanto a teorização como a prática serão reduzidas puro dogma ou pragma, ou seja, serão inúteis. Quando coloquei a questão entre prática e toeria é porque essa lenga lenga da prática (que não passa de condicionamento) ser o caminho para o sucesso na verdade é o que motiva muitas das pessoas a não pensar (teorizar envolve não só o ato de estudar como o de pensar sobre o que é estudado e suas ligações com a prática) e sim a se condicionar, mesmo porque pensar é tido como algo chato, na maioria das vezes. Veja que acho que o caminho deve ser exatamente o inverso, você deve pensar antes de fazer e ao fazer deve pensar sobre os resultados e preferencialmente relacionar sobre resultados prévios e se possível documentar isso de alguma forma, mas por comodismo as pessoas simplesmente preferem fazer, muitas vezes seguindo "receitas de bolo", para mim isso é um fenômeno cultural que leva à preguiça de pensar e ao esclarecimento da sua dúvida que consiste na verdade no porque as pessoas não estabelecem uma dialética sobre o que e como pensam sobre fotografia (me corrija se estiver errado).

Só para ilustrar... Outro dia estava aqui em casa estudando e montando um artigo para meu mestrado e minha irmã chegou para mim e disse que não sabia como eu aguentava ficar teorizando o dia todo sobre um assunto, que eu devia largar o mestrado e ir trabalhar com alguma coisa prática, como se teorizar não envolvesse prática e fosse inútil. Isso me foi falado em uma casa de acadêmicos, minha mãe é acadêmica, eu sou acadêmico e meu pai é acadêmico, fiquei aqui pensando como minha irmã pode ter saído tão diferente rs.

Carlos vai bem por ai mesmo...
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 12:29:09 por Leo Terra »
Leo Terra

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Kika Salem

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Oi Leo!
Eu não me referi a você, mas quis esclarecer meu ponto de vista que ficou meio nebuloso a partir do momento que começou a confusão entre uma literatura reflexiva e manuais técnicos. Ambos são importantes para o que se propõe fazer, mas eu falava do primeiro. Enfatizo que quis diferenciá-las, até pra esclarecer o propósito da pergunta, não hierarquizá-las. :ok:
« Última modificação: 22 de Julho de 2008, 12:37:46 por Kika Salem »