Leandro;
Às vezes eu lendo os seus posts tenho a impressão de alguém muito preocupado com especificações, e algumas vezes me dá a impressão dessa preocupação não estar correlacionada com a fotografia prática -posso estar errado na minha percepção, é claro.
Penso o seguinte sobre fotografia: a fotografia mesma, seu resultado, é o que importa. O meio através do qual foi feita, importa nada, desde que ofereça o mínimo para a utilidade.
Presentemente, as duas digitais que tenho oferecem-me algo bem acima desse mínimo. Tanto a 20d quanto a lumix lx1 me permitem fazer boa fotografia e ampliá-la em tamanhos bem grandinhos, pelo menos tanto quanto eu ampliaria uma de filme. Evidentemente, ambas podem ser melhoradas, mas sem impacto significativo na fotografia que faço. A rigor, melhorias em ambas seriam imperceptíveis nos resultados impressos em 20X30 e possivelmente em 30X45.
No quesito de nitidez, minhas fotos quase sempre são limitadas pela forma de fotografar; câmera na mão, baixas velocidades. Isso me é imposto pela minha preferência narrativa, isto é, o que quero narrar exige essa forma de fotografar. Posso ganhar algo com ISOs altos mais limpos e nítidos, sem entretanto isso afetar muito o resultado geral. Provavelmente ganharia muito com uma FF, mas isso já são outros quinhentos, e o motivo não seria ISOs altos, etc, mas a diferença de linguagem.
Meu grau de preocupação com equipamento é entre baixo e baixíssimo. Meu grau de preocupação com narrativa é entre alto e altíssimo. Minha preocupação com retenção de detalhes vale quase exclusivamente para paisagens e um pouco para ambientes e cenas em ambientes.
O equipamento, eu sempre o analiso com a pergunta: Para que? Porque essa é a questão. creio que sei mais ou menos o quê quero fazer, então o equipamento torna-se transparente, desimportante, uma vez que já atende. Se eu fizer em papel as melhores fotos que já fiz, com as diversas câmeras, qual câmera fez o quê não terá nenhuma relevãncia para o observador nem para mim. Bastará a foto ser boa ou não.
O bom equipamento é aquele capaz de permitir a narrativa desejada. Se tudo na vida fosse qualidade de imagem, todos nós deveríamos fotografar em grande formato. Mas 99% das fotos não seriam possíveis.
O Bresson nos ensinou isso, que uma câmera que retinha menos detalhes que as de médio formato, mas era pequena e prática, era capaz de criar uma nova linguagem fotográfica. Nessa discussão entre compactas e DSLRs esse ensinamento me parece esquecido, pois ignora-se as possibilidades surgidas com as compactas, como no início da fotografia em 35mm as câmeras desse tipo de filme eram chamadas pejorativamente de "câmeras miniatura" (eu tenho um manual de fotografia em que essa expressão é todo o tempo repetida). É interessante como são expressões semelhantes "câmeras miniatura" e "compactas", ambas usadas pejorativamente na maioria das vezes. Mas o Bresson construiu sua obra com uma câmera miniatura...
Saber identificar aquilo que o tempo traz de novo e as possibilidades novas disso é a grande parada. Em termos de qualidade, evidentemente as câmeras com menor densidade de pixels e ao mesmo tempo mais pixels serão melhores, mas na hora em que essas fotografias deixam a masturbativa tela do monitor e tornam-se papéis, quando então são vistas como devem, e não em crops 100%, aí só a qualidade da fotografia importará, e será absolutamente desimportante qual câmera a fez.