Autor Tópico: Como fotografar acidentes?  (Lida 5767 vezes)

raphaelpessanha

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Resposta #15 Online: 25 de Agosto de 2008, 15:31:49
Nossa mãe!
Fiquei todo arrepiado Rafael... Nunca tinha visto imagens tão chocantes como essas, realmente dificil de acreditar.
E ganhar um Pulitzer por esse tipo de fotografia?? Credu, prefiro nunca ganhar a ter que tirar uma foto dessa.
Mas é complicado, fiquei pasmo ao ver as fotos e disse que nunca tiraria uma semelhante, e tenho certeza que muitos tão bem vão pensar isso, a primeira vista, mas como você disse, ética é um assunto delicado, dependendo do momento o fotógrafo pode acabar registrando, não por um premio, mas pela "arte" e depois se arrepender...


guigui

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Resposta #16 Online: 25 de Agosto de 2008, 17:34:29
Bem, vamos por partes então...

A foto da criança com o urubu é horrível, talvez das imagens que mais me abalaram de todas que vi na vida.
Não conhecia a da menina, realmente pavorosa tb. E a da mãe com o filho morrendo.....
Este mundo é cheio de cenas cruéis, em toda parte, a gente sabe.
 Um fotógrafo pode tomar posições diferentes diante destas cenas.
 A foto da criança africana ( esqueci de que país) foi usada em inúmeras campanhas contra a fome e contra os governos que estavam ( e ainda estão) impedindo a entrada das ajudas humanitárias neutras em territórios em guerra . Esta foto ajudou a mostrar ao mundo que os africanos precisam de ajuda imediata, e muito foi conseguido, apesar da resistência política.
A foto da mãe é uma foto consentida, e, embora seja o retrato da maior dor que uma mãe possa sentir, por alguma razão ela mesma quis que este momento fosse registrado.
Dizem que quando o JFK tomou o tiro, uma senhora que estaria ao lado do cinegrafista que filmou as célebres imagens teria dito : " O senhor vai continuar filmando esta tragédia? Porque este sensacionalismo?" ... e ele teria respondido : " não é sensacionalismo, minha senhora. Isto é história" .

Bem, basicamente, acho que a questão é menos a foto em si, e mais a finalidade dela.

Ficar esperando a Madonna sair do gym por várias horas, só prá vender a foto dela ( feita sem autorização) sem maquiagem e dizer que ela está magra ou gorda, é uma coisa.
Outra coisa é perceber a gravidade e a importância de um momento e fazer com que o registro dele sirva para melhorar algo ou alguém, é outra bem diferente.

Conheci pessoalmente o Colin Finlay, fotógrafo documentarista de guerra, autor de alguns livros como o Testify ( www.colinfinlay.com ).
Perguntei como era estar diante de cenas tão tristes, e ele disse que chegava um momento que ele simplesmente tinha que guardar a câmera , porque ele achava que havia um limite . Ele disse que um dia estava cobrindo uma guerra, pessoas sendo mortas ao seu lado, ele carregando um amigo baleado para detrás de uma rocha, o pau comendo, e ele percebeu que com tudo isso o coração dele batia normalmente, e que ele tinha perfeita consciência e reflexos durante aquilo tudo. Disse ele que foi neste dia que ele decidiu deixar o fotojornalismo de guerra e entrou para a publicidade.




raphaelpessanha

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Resposta #17 Online: 26 de Agosto de 2008, 00:09:15
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, comprei hoje a revista Fotografe Melhor - Técnica & Prática Nº4, logo na capa tem a matéria "Ética x Violência", com fotojornalistas dos principais jornais.. a matéria é bem legal, recomendo a todos.


MateusZF

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Resposta #18 Online: 26 de Agosto de 2008, 07:04:34
Gostei do que o Ruy disse... Chegar devagar, conversando com as autoridades presentes e com a familia, tentando mostrar que é o seu trabalho me parece ser uma atitude que pode dar certo, principalmente se o acidente não for tão trágico, ai fica mais facil..
Ai é só clicar rápido e fazer as fotos mais próximas e depois se afastrar um pouco mais para mostrar um certo respeito e continuar trabalhando sem agredir a familia e/ou o acidentado.

99,99% das vezes vc não terá êxito nas suas fotos.
Para fotografar acidente, homcídio ou outra modalidade fotojornalísticas, tem que ser cara de pau mesmo e já chegar "atirando".

Minha máquina fotográfica e prolongamento natural do meu braço.
Foto é algo que depende de uma certa visão... De quem fotografa, de quem vê e de quem interpreta...

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Beto Eterovick

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Resposta #19 Online: 26 de Agosto de 2008, 09:56:21
Não trabalharia com este tipo de fotografia nem que me torturassem. Como paparazzi então, nem se fala.

O mundo já está cheio de desgraça e todos nós sabemos disso. É claro que existem coisas acontecendo no mundo o tempo todo e é preciso documentar para poder chamar à atenção das autoridades. Mas o problema é que muitas pessoas (acredito que a maioria) são carniceiras, gostam de uma tragédia. Não podem ver uma briga que se amontoam pra ver melhor. um acidente na estrada? Tá lá de novo os carros passando devagarinho para ver sangue. Ficam vidradas nos telejornais porque 70% da pauta é sobre tragédia e violência. Linha direta? Adoram... O ser humano gosta disso, parece se alimentar disso. Ou seja, muitas pessoas alimentam este tipo de cena, porque adoram vê-las.

Este assunto é muito polêmico porque acredito que a ética é encarada de diversas formas e deturpada muitas vezes, coisa que não deveria acontecer. A ética é uma só. Ter ética é usar a razão e o coração para tomar uma atitude que não prejudique ninguém. Mas parece que muita gente se esqueceu disso.


RuySalaverry

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Resposta #20 Online: 26 de Agosto de 2008, 12:45:45
Um dia estava no Zoo do Rio e o Caveirão subiu alí atrás e foi tiro para todo lado. Fui subindo e estava atrás do muro e bala zunindo e cortando as folhas das árvores em cima de mim mas não tinha como colocar a cara de fora para fotografar. Sei que era tá tá tá e de repente uns TUUMMM, TUUUMMM  que parecia ser .50mm e depois soube que os caras estavam com armas bem pesadas e furaram a blindagem do caveirão em alguns pontos.

Imagina só: este calibre maior não dava rajada e era tiro como carabina. Nem sei que p*rra de calibre era. Se fosse rajada ia furar aquele muro do zoo mole mole.

Não vale o risco. O mais que pagam por uma p*ta foto de ação não compensa.
« Última modificação: 26 de Agosto de 2008, 12:46:20 por RuySalaverry »
Ruy Salaverry
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rafaelfrota

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Resposta #21 Online: 26 de Agosto de 2008, 12:58:49
Bem, vamos por partes então...
Esta foto ajudou a mostrar ao mundo que os africanos precisam de ajuda imediata, e muito foi conseguido, apesar da resistência política.

Eu concordo com isso, mas e a menina? Foi uma questão delicada do carter. Ele explica o drama que foi, a falta de coragem dele de simplesmente ter exotado o urubu, de salvar a menina, de dar-lhe alimento. Ele nao poderia salvar todos os famintos daquela região, mas ele com certeza tinah essa dívida com a menina. Acho uma questão estranha essa foto servir em campanhas da ONU sabendo que, no final das contas, quem tirou não foi nem um pouquinho humanitário e acabou se matando por ter consciencia disso.

A foto da mãe é uma foto consentida, e, embora seja o retrato da maior dor que uma mãe possa sentir, por alguma razão ela mesma quis que este momento fosse registrado.

E por isso mesmo teria que ser tratado com mt mais cuidado. Quem merecia o Pulitzer não era ela, mas a mãe. Entrar em um concurso usando disso a dor, concentida ou não é meio esquisito.  Vibrar com todos os amigos de trabalho pelo prêmio que vc ganhou com um menino que morreu de câncer aos 10 anos é no mínimo besta.

Bem, basicamente, acho que a questão é menos a foto em si, e mais a finalidade dela.

Agora vc disse td. É bem por aí que imagino ser a fronteira do bom senso com o sensacionalismo


Sandro Amaral

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Resposta #22 Online: 26 de Agosto de 2008, 19:01:22
Raphael,

Procure achar teu foco na fotografia, se este for teu foco realmente,corra atrás, se informe, procure jornais, ande com um rádio na faixa dos bombeiros, etc e procure sempre, sempre, sempre  ser ÉTICO.

Diante disto poucas pessoas tentarão alguma coisa contra você.

Meu foco não é este pois acho que a dor de uma pessoa que perde alguém em acidente é muito, mas muitíssimo superior a alguns trocados que eu possa receber por uma fotografia, ainda assim não condeno quem faz este tipo de serviço; parafraseando Voltaire poderia até dizer: "Posso não concordar com nenhuma das fotografias que você fizer, mas defenderei até a morte o direito de você fazê-las...", mas nunca se esqueça do direito que as pessoas tem de não autorizarem a fotografia.

E,voltando, se este não for teu foco e teu foco for natureza, fotografe a natureza, existem muitos concursos que tem prêmios muito lucrativos que duas ou três fotos de tragédias, até porque, quando se fotografa alguma coisa que não é nosso "norte fotográfico",isso transparece claramente.

Grande abraço.
SANDRO AMARAL - Curitiba-PR

Srs. Não responderei perguntas enviadas por MP. Socialize sua dúvida abrindo um tópico. Ajuda você, outras pessoas e o fórum. Obrigado.



raphaelpessanha

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Resposta #23 Online: 27 de Agosto de 2008, 01:13:58
Como disse antes Sandro, minha dúvida era só para o caso de estar no momento certo com a minha cam na mão, dai saber como proceder para me aproveitar da situação e tirar um trocado, mesmo aque não seja meu foco, acho que existem situações em que podemos trabalhar na mesma. com ética e respeito.
Mas como já percebemos, ética não é nada fácil de se discutir, por isso acho muito válido esse noso papo e uma boa leitura, como a que recomendei..
Mas é isso, valeu pelo comentário.. grande abraço!


kiran

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Resposta #24 Online: 31 de Agosto de 2008, 01:16:40
gostei da postura do ruy e convordo em geral com o que está se falando, acho que é um asunto bem importante que vai muito alem de ser fotografo, é do ser cidadão e ser pessoa mesmo. tamos vivendo numa sociedade onde o comercio tá por cima da vida e o objetivo de toda atividade é virar produto, porem nem todo mundo concorda com isso, mas mesmo assim as vezes as pessoas perdem o foco.
no caso específico eu acho que ele fica evidente na forma de encarar la situación, de fato eu pergunto: qual é a noticia? qual é a imagem que precisa ser captada?
o rosto do ferido? o sangue?
qual é a mensagem que se pretende pasar para a sociedade que vai comprar o jornal?
vc asiste um accidente e então qual é a noticia?
o engarrafamento?
a falta de sinais de prevenção?  ou é só o morbo?
o que tu queres dizer? para quem?

se vcs pesquisarem um pouco vão descubrir que aquela menina na mira do urubu, não era um ser isolado, era apenas mais uma de milhares de pessoas nessa situação,então?
aquele fotografo realmente precisaba isolar aquela imagem?
eu pesoalmente não teria duvidado em fotografar a realidade
daquela região, mas aquele crop? bem, não estive lá, mas hoje eu sei que não faria.
abrazo







Ivan de Almeida

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Resposta #25 Online: 01 de Setembro de 2008, 11:04:09
É preciso muita atenção para que a pessoa não chegue em uma certa hora e diga "que sorte! um acidente".

Há muitas formas de ganhar dinheiro. Nem todas lícitas, nem todas éticas.

O homem é muito mais aquilo que resolve não fazer do que aquilo que faz.



Pictus

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Resposta #26 Online: 01 de Setembro de 2008, 12:25:16
(...)Esta foto ajudou a mostrar ao mundo que os africanos precisam de ajuda imediata, e muito foi conseguido, apesar da resistência política.(...)

A Africa é uma kaka a muitos séculos  e ficou pior ainda com a colonização européia, é o velho truque de dividir para conquistar.
Exemplo, o que define uma fronteira?
Geralmente um acidente geográfico como montanhas/rios e afins, o que os ingleses fizeram?
Intencionalmente criaram nações com fronteiras “artificiais” pegando um pedaço do vizinho, não respeitando
acidentes geográficos, povos afins e fronteiras pré-existentes... A galera que já não se entendia, num
esquema destes é que não vai ter como mesmo, o que já era ruim virou o inferno, dividir para conquistar é extremante eficiente.


Marcelo Favero

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Resposta #27 Online: 01 de Setembro de 2008, 16:41:29
Algo precisa ser bem separado.
Fotografar alguém ensangüentado, moribundo estirado no chão, nem sempre é fato jornalístico e se torna mera morbidez e sensacionalismo. Mas fazer um enquadramento inteligente, mostrando a cena como se deu, para uma matéria que tenha uma finalidade informativa (dizer o quanto o trânsito em determinado lugar é perigoso, ou como os motoboys estão se matando por ai...) é importante e útil. E vale o senso do fotógrafo para registrar com a dramaticidade necessária para provocar uma reação sem ser mórbido, sádico ou escatológico (nada que só ineteresse a polícia científica). É o trabalho dele. Esse trabalho tem de existir, afinal, não vivemos na Disneylândia!
A fotógrafa está comemorando o reconhecimento do seu trabalho, não a morte da criança. Um Pulitzer reconhece não apenas a dramaticidade do fato, mas também a forma pertinente e profissional como ele foi registrado. Então ela comemora seu reconhecimento profissional, como comemoramos os nossos. Ou alguém já viu um Paparazzi ganhar um Pulitzer?
O registro destes momentos devem existir e não se pode culpar o fotógrafo por viver disso! Não podemos culpar o médico por viver de doenças, o coveiro por viver de mortes (eu seria culpado por ajudar com meu trabalho em propaganda por ajudar no crescimento imobiliário desordenado, ou ajudar empresas a melhorar sua imagem junto a opinião pública) e etc. Sem certas imagens chocantes, não haveria comoção, não haveria mobilização, não haveria mudança.
Bem, sinto-me descrevendo o óbvio ululante, mas em resumo é isso: O registro é necessário, o reconhecimento é válido, justamente para se ter o balanço, a medida e o critério do que é bom, profissional e executado com ética e separá-lo da simples banalidade e carniçaria.

Marcelo dos Santos

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Marcelo Favero

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Resposta #28 Online: 01 de Setembro de 2008, 16:49:09
Ah!
Tem um livro que não li (por sempre esquecer de comprar!), mas que trata bem desse assunto e da carreira do Kelvin Carter (da foto da criança e do abutre), chamado Clube do Bang Bang. Estou certos que muitos aqui no forum já leram.

Abraços
Marcelo dos Santos

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Anderson Fonseca

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Resposta #29 Online: 01 de Setembro de 2008, 17:13:34
cara, eu também sou meio grilado com esse lance de acidente...direto eu presencio algum, mas nem sempre fotografo...mas das vezes que fotografei, procrei ser o mai9s discreto possível para não causar nenhum tipo de constrangimento. :ok: :ok: