Bem, vamos por partes então...
A foto da criança com o urubu é horrível, talvez das imagens que mais me abalaram de todas que vi na vida.
Não conhecia a da menina, realmente pavorosa tb. E a da mãe com o filho morrendo.....
Este mundo é cheio de cenas cruéis, em toda parte, a gente sabe.
Um fotógrafo pode tomar posições diferentes diante destas cenas.
A foto da criança africana ( esqueci de que país) foi usada em inúmeras campanhas contra a fome e contra os governos que estavam ( e ainda estão) impedindo a entrada das ajudas humanitárias neutras em territórios em guerra . Esta foto ajudou a mostrar ao mundo que os africanos precisam de ajuda imediata, e muito foi conseguido, apesar da resistência política.
A foto da mãe é uma foto consentida, e, embora seja o retrato da maior dor que uma mãe possa sentir, por alguma razão ela mesma quis que este momento fosse registrado.
Dizem que quando o JFK tomou o tiro, uma senhora que estaria ao lado do cinegrafista que filmou as célebres imagens teria dito : " O senhor vai continuar filmando esta tragédia? Porque este sensacionalismo?" ... e ele teria respondido : " não é sensacionalismo, minha senhora. Isto é história" .
Bem, basicamente, acho que a questão é menos a foto em si, e mais a finalidade dela.
Ficar esperando a Madonna sair do gym por várias horas, só prá vender a foto dela ( feita sem autorização) sem maquiagem e dizer que ela está magra ou gorda, é uma coisa.
Outra coisa é perceber a gravidade e a importância de um momento e fazer com que o registro dele sirva para melhorar algo ou alguém, é outra bem diferente.
Conheci pessoalmente o Colin Finlay, fotógrafo documentarista de guerra, autor de alguns livros como o Testify (
www.colinfinlay.com ).
Perguntei como era estar diante de cenas tão tristes, e ele disse que chegava um momento que ele simplesmente tinha que guardar a câmera , porque ele achava que havia um limite . Ele disse que um dia estava cobrindo uma guerra, pessoas sendo mortas ao seu lado, ele carregando um amigo baleado para detrás de uma rocha, o pau comendo, e ele percebeu que com tudo isso o coração dele batia normalmente, e que ele tinha perfeita consciência e reflexos durante aquilo tudo. Disse ele que foi neste dia que ele decidiu deixar o fotojornalismo de guerra e entrou para a publicidade.