Autor Tópico: Como fotografar acidentes?  (Lida 5732 vezes)

raphaelpessanha

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Online: 25 de Agosto de 2008, 01:32:51
Estou postando essa dúvida porque hoje foi o 3º acidente da semana que presenciei, dois deles minutos depois de acontecer, antes mesmo do corpo de bombeiros chegar.
No de hoje eu até parei o carro, desci com a camera no case e cheguei mais ou menos perto, mas como tinha muita gente perto, fiquei meio assim de tirar a camera de sair fotografando, estava com uma 18-70, dai não dava para ficar de longe.
Eu realmente fico com receio, não sei qual vai ser a reação das pessoas ao me verem fotografando uma tragédia ou mesmo um acidente não tão grave.
Gostaria de saber dos colegas se alguém já passou por isso, o que recomendam e lentes adequadas para esse tipo de situação.


MateusZF

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Resposta #1 Online: 25 de Agosto de 2008, 07:46:04

Te garanto que o acidentado nem vai te ver e se preocupa com isso..rss
É só cvhegar e clicar, ser cara de pau, ter sangue frio e estômago e clicar, sem falar, só falar se alguém perguntar. Diz que é correspondente de um jornal grande... ou freela.




abraços
Mateus

Minha máquina fotográfica e prolongamento natural do meu braço.
Foto é algo que depende de uma certa visão... De quem fotografa, de quem vê e de quem interpreta...

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guigui

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Resposta #2 Online: 25 de Agosto de 2008, 09:29:47
Todo cidadão tem seu direito `a privacidade assegurado. Se ele estiver sem condições de manifestar aprovação ou reprovação, a invasão da privacidade nestas condições é ainda mais agressiva.
No entanto, um acidente é a princípio um assunto público e de interesse jornalístico, e nestes casos não é necessária a autorização do fotografado.
Se você vai fotografar  para algum jornal , melhor ter sua carteira de imprensa `a mão. A própria polícia que vai estar no local pode pedir, e mesmo assim nem sempre a imprensa é permitida se houver riscos.


raphaelpessanha

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Resposta #3 Online: 25 de Agosto de 2008, 11:47:05
Eu não trabalho para nenhum hornal não, a minha idéia é andar sempre com a camera, que é o que eu já faço, e quando acontecer alguma coisa do tipo, fotografar e tentar vender para algum jornal.
Não sei nem se vão pagar bem, mas foi só uma maneira que vi de ganhar dinheiro ao acaso... rrsrs
A carteira de impressa eu não tenho, posso fazer uma genérica, só com imprensa, sem ter nome de jornal? Se puder, eu faço uma e ando com ela para cima e para baixo.. rsrs
Estômago eu tenho, meu único "medo" são as pessoas ao redor, que podem ser imprevisiveis e acabar me atacando.... Levar porrada eu nem ligo não, mas o problema é a minha camera, hehehe


RuySalaverry

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Resposta #4 Online: 25 de Agosto de 2008, 11:55:57
Se alguém próximo a mim estivesse envolvido em um acidente e viesse alguém para ver se eu preciso de ajuda ficaria satisfeito mas se viesse alguém só para fotografar o cara teria problemas sérios. Está a trabalho? Ainda vai, mas amador querendo ganhar um dinheiro em cima da minha desgraça ia tomar paulada embora eu adore fotografia. Não aceito invasões a minha privacidade. Se fosse você teria muito cuidado. Só fotografaria com a autorização dos envolvidos, se tivessem como te dar.
É um momento que você pode esperar de tudo das pessoas envolvidas no acidente e você pode ser a válvula de escape para fortes sentimentos do momento.

Em Arraial do Cabo vi um acidente que daria ótimas fotos mas não tive vontade. Vi um motoqueiro no chão, já pálido e esbranquiçado com pessoas a sua volta segurando um torniquete em volta da parte logo à cima do seu joelho e dali para baixo não  havia mais nada. Era uma grande poça de sangue e mais à diante um gol com a lateral toda amassada e suja de sangue. Logo depois a perna do cara lá no chão. Deu para ver que o motoqueiro, na curva, invadiu a contra-mão e pegou o carro. Estava com minha câmera e não tive nem uma vontade de usar. Mas...cada um sabe o que quer fazer não é? Não te condeno mas procure a forma certa. Tente ser freela de algum jornal e vai fundo !!b Mas mesmo a trabalho ainda veja se toma cuisado.

Boa sorte!!

Abraço
« Última modificação: 25 de Agosto de 2008, 12:04:53 por RuySalaverry »
Ruy Salaverry
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Guto Marc

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Resposta #5 Online: 25 de Agosto de 2008, 12:04:40
Fotojornalismo envolve riscos.
Tenho amigos que apanharam, tiveram equipamento arremessado longe, carro chutado, etc, etc.
Portanto o ideal é que vc tenha noção de como lidar com a situação, e estar ciente que muitas vezes não será bem visto e muit menos bem vindo.
Um fotógrafo que só escreve e não mostra suas fotos está na profissão errada


raphaelpessanha

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Resposta #6 Online: 25 de Agosto de 2008, 12:25:50
Tirar esse tipo de fotografia parece ser realmente bem complicado...
O que gosto mesmo é de fotografar animais, natureza, pessoas e outros...
Acho que vou andar com uma telezoom no carro e tentar fotografar não tão perto, para ver como fica.
A idéia é só tentar ganhar algum dinheiro mesmo, mas sem equipe de jornalismo prefiro não arriscar meu equipamento.. rsrs


guigui

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Resposta #7 Online: 25 de Agosto de 2008, 12:29:24
Em Arraial do Cabo vi um acidente que daria ótimas fotos mas não tive vontade. Vi um motoqueiro no chão, já pálido e esbranquiçado com pessoas a sua volta segurando um torniquete em volta da parte logo à cima do seu joelho

É um bom exemplo, Ruy, embora para mim só o seu relato me afeta bastante.
Meu irmão morreu num acidente de moto parecido com este, há 8 anos.
Imaginem o que eu , os 4 filhos dele e minha família sentiríamos se houvesse alguém ali na hora, fotografando só prá ver se conseguiria vender depois, na especulação.
Uma regra ética importante do fotojornalismo, ou em qualquer tipo de fotografia, é o respeito do fotógrafo pelo fotografado.
Como fotógrafos, troquem de lugar com seu fotografado e vejam o que sentiriam se estivessem ali.
O resultado da falta de respeito a gente já conhece : processos legais, incentivo ` imprensa marrom, sensacionalista e parcial, " profissionais"  que preferem um " furo" vazio quando poderiam estar servindo `a sociedade.


raphaelpessanha

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Resposta #8 Online: 25 de Agosto de 2008, 12:51:49
Em Arraial do Cabo vi um acidente que daria ótimas fotos mas não tive vontade. Vi um motoqueiro no chão, já pálido e esbranquiçado com pessoas a sua volta segurando um torniquete em volta da parte logo à cima do seu joelho

É um bom exemplo, Ruy, embora para mim só o seu relato me afeta bastante.
Meu irmão morreu num acidente de moto parecido com este, há 8 anos.
Imaginem o que eu , os 4 filhos dele e minha família sentiríamos se houvesse alguém ali na hora, fotografando só prá ver se conseguiria vender depois, na especulação.
Uma regra ética importante do fotojornalismo, ou em qualquer tipo de fotografia, é o respeito do fotógrafo pelo fotografado.
Como fotógrafos, troquem de lugar com seu fotografado e vejam o que sentiriam se estivessem ali.
O resultado da falta de respeito a gente já conhece : processos legais, incentivo ` imprensa marrom, sensacionalista e parcial, " profissionais"  que preferem um " furo" vazio quando poderiam estar servindo `a sociedade.

Sinto muito pelo seu irmão guigui.
Só fiquei um pouco confuso agora.
Acho que esse era o ponto da minha pergunta.. Entendo que deve exiatir tal respeito e tenho certeza que se fosse comigo, faria o mesmo ou algo pior, pois nessas horas todos são imprevisiveis. Mas fico pensando, independente se o fotografo vai vender as fotos com freela ou se é contratado de algum jornal e já recebe para tal, como enfrentar esse dilema? Fotografar e deixar o nome do jornal lá em cima, vendendo todos os exemplares e gerando muito lucro e status para ambos, jornal e fotógrafo, ou não fotografar e correr o risco do concorrente fazer isso?
Acho que sai até um pouco do foco, mas é um assunto interessante e acho que muito devem se perguntar a mesma coisa.


guigui

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Resposta #9 Online: 25 de Agosto de 2008, 13:11:20
Raphael,

Que tipo de jornal precisa mostrar fotos chocantes prá vender?
Se é fotojornalismo sério, uma foto `a distância, ou de um detalhe , ou de inúmeras outras coisas, pode também descrever a violência do acidente, se esta fôr a sua intenção.
Não há necessidade de sensacionalismo para fazer trabalho de qualidade.
Abra os jornais mais respeitados da sua cidade e veja quantas fotos são feitas neste estilo sensacionalista.
Assista aos melhores jornais na TV, e veja se vê muito sangue ou detalhes muito gráficos em cena de acidente.
Se você estiver interessado em aparecer em meios sérios, nem se preocupe em fotografar nada chocante. Seja criativo, mostre a emoção sem chocar, e principalmente pense em respeitar ao fotografado.
« Última modificação: 25 de Agosto de 2008, 13:11:45 por guigui »


raphaelpessanha

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Resposta #10 Online: 25 de Agosto de 2008, 13:19:13
Verdade guigui, não tinha pensado por esse ponto. Deve valer muito mais uma foto do ocorrido, que diga por si só o que aconteceu do que uma foto muito chocante.
Acho que estou pegando o ponto, realmente já estou com outra visão sobre esse tipo de fotografia.
Espero que outros como vocês possam expor aqui experiências similares.
Obrigado!


Sermarini - RJ

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Resposta #11 Online: 25 de Agosto de 2008, 13:22:18
Sinceramente, se não for para fins jornalísticos, qual a intenção de fotografar uma tragédia? O sofrimento de alguém? Tudo bem, sempre que estamos com a câmera em mãos e passamos por uma situação inusitada, nós queremos registrar. Agora, será que a invasão da privacidade de alguém é válido ao ponto de correr o risco de ser recriminado pela população, pela polícia, pelos bombeiros e até mesmo pelo próprio acidentado, que está numa posição totalmente desfavorável? O ator americano Morgan Friman sofreu um acidente de carro há umas três semanas. Pelo que eu li, um repórter fotográfico passou no momento do acidente e foi até o local para registrar. Mesmo sentindo dor, o ator ,que estava preso às ferragens, foi bem humorado e pediu ao fotógrafo que depois pagasse os direitos autorais pela foto. Nesse caso, era uma pessoa muito famosa e que teve bom humor numa hora complicada, mas nem sempre vai ser assim, na verdade acredito que quase nunca vai ser assim, então eu acho que devemos pensar várias vezes antes de tomarmos certas atitudes que incluam outras pessoas.
Sermarini_RJ
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RuySalaverry

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Resposta #12 Online: 25 de Agosto de 2008, 13:23:36
Se eu tivesse mesmo que fazer este tipo de foto, chegaria manso, iria primeiro conversar com o pessoal da polícia que ali estivesse e relataria que precisava fazer as fotos para um determinado jornal e depois tentaria falar com a família. Pediria desculpas pela invasão mas que precisava fazer meu trabalho e veria se ia ter como fazer as fotos. Se o clima estivesse pesado poderia até pedir um apoio dos policiais para poder fazer o trabalho, mas clicando rápido quase no auto para não correr riscos de estar distraido e alguém me egredir. Nada de muita firula. Clicar e partir.

Abraço
« Última modificação: 25 de Agosto de 2008, 13:48:33 por RuySalaverry »
Ruy Salaverry
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raphaelpessanha

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Resposta #13 Online: 25 de Agosto de 2008, 14:52:35
Gostei do que o Ruy disse... Chegar devagar, conversando com as autoridades presentes e com a familia, tentando mostrar que é o seu trabalho me parece ser uma atitude que pode dar certo, principalmente se o acidente não for tão trágico, ai fica mais facil..
Ai é só clicar rápido e fazer as fotos mais próximas e depois se afastrar um pouco mais para mostrar um certo respeito e continuar trabalhando sem agredir a familia e/ou o acidentado.


rafaelfrota

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Resposta #14 Online: 25 de Agosto de 2008, 15:14:33
Essa questão ética em muito faz lembrar de ícones da história da Fotografia, como a menina e o urubu, de Kevin Carter, Omayra Sanchez - a menina que ficou presa em entulhos causado por uma erupção vulcânica e, mais recentemente, Renée Byer, vencedora do Pulitzer 2007, com "the sacramento bee" - a jornada de uma mãe que perde a luta contra o cancer de seu filho.
Certas coisas eu ainda não consigo conceber se são jornalísticas, artísticas ou simplesmente nefastas. Carter optou pela ultima e se matou arrependido da foto que tirou.
Estamos acostumados a todos os dias passar nas bancas e dar de cara com coisas do tipo "o povo" ou o finado "notícias populares". Tomamos como corriqueiro, mas só pessoas como  a Guigui sabem a dor de uma hora como essa.
Não estou julgando nada nem ninguém, até pq meu fotógrafo preferido é o Joel Peter Witkin, que não hesita em usar cadáveres em suas composições. O que eu queria mesmo entender é a tênue linha entre o artístico, o jornalístico e o nefasto. Esse tema sobre ética sempre me incomodou muito e alfineta diretamente a minha misantropia.


Nessa foto, o urubu espera a menina morrer para se alimentar


Nessa, os bombeiros esperam a menina morrer para poder tira-la dali. Ela ficou 60 horas esperando morrer e as ultimas palavras registradas foram de amor à família


A mãe não está dando remédio ao filho. Está preparando uma solução para fazer eutanásia.

http://www.sacbee.com/static/newsroom/swf/april07/byer/
Enquanto a mãe perde um filho, a fotógrafa comemora seu Pulitzer. Afinal, quem são os urubus?