Para encerrar meu ano no fórum com um dos meus fotógrafos favoritos, cujas fotos mais "corriqueiras" são de extrema sensibilidade e qualidade estética, comunico aos colegas que a Folha de São Paulo destinou hoje um caderno especial, Caderno Mais, à obra de Henri Cartier-Bresson.
Feliz Natal e próspero Ano Novo!
Ensaios Bressonianos
A CONVITE DA FOLHA, CINCO DOS MAIS IMPORTANTES FOTÓGRAFOS BRASILEIROS REFAZEM, COM UM OLHAR CONTEMPORÂNEO, IMAGENS CLÁSSICAS TIRADAS PELO CRIADOR DO FOTOJORNALISMOCartier Bresson
SAIBA QUEM SÃO OS FOTÓGRAFOSKENJI OTAFotógrafo, pesquisador e professor na Universidade Mackenzie e no Senac, Kenji Ota nasceu em 1952 em São Paulo. Desde a década de 1970 -quando era estudante de ciências sociais-, Ota desenvolve trabalhos ligados à fotografia e pesquisas técnicas e estéticas sobre processos fotomecânicos como heliogravura e collotype. Teve fotografias suas incluídas na coleção Pirelli do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e já expôs na Bienal paulistana, na Alemanha, na Espanha, no Japão e nos EUA.
CÁSSIO VASCONCELOSNasceu em São Paulo em 1965. Aos 16 anos interessou-se por fotografia. Trabalhou como fotojornalista para a Folha e foi correspondente da editora Abril em Paris. Seus trabalhos já foram expostos na Alemanha, na França, em Portugal, na Itália, nos EUA e em Cuba. Alguns deles integram o acervo fotográfico do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e do Museum of Fine Arts, em Houston (EUA). Suas fotografias estão publicadas em 12 livros, com destaque para "Nocturnes São Paulo" (editora Bookmark, 2002).
MARIO CRAVO NETOFotógrafo e escultor nascido em 1947 em Salvador (BA). Filho do artista plástico Mario Cravo Jr., Cravo Neto iniciou sua formação em artes na adolescência. Aos 18 anos, expôs na 1ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia. Durante a juventude, viveu na Alemanha e nos EUA. Suas obras já foram expostas na Bienal de São Paulo e em galerias e museus europeus e americanos. Tem mais de uma dezena de livros publicados -entre eles, "Salvador" (1999) e "Flecha em Repouso" (2008), ambos pela ed. Áries-, que reúnem a diversidade do seu trabalho fotográfico.
CRISTIANO MASCARONascido em 1944 em Catanduva (SP), Cristiano Mascaro é arquiteto, fotógrafo e pesquisador. Trabalhou como fotojornalista na revista "Veja" entre 1968 e 1972. Seus trabalhos, focados sobretudo na paisagem urbana e na arquitetura, foram expostos na Pinacoteca e no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e em países como Alemanha, Suíça, França, Itália, Reino Unido, EUA e Cuba. Suas fotografias estão publicadas em nove livros, com destaque para o 11º volume da Coleção Senac de Fotografia, lançado em 2006.
RUBENS MANONascido em 1960, em São Paulo, Rubens Mano é arquiteto e fotógrafo. Suas obras relacionam pesquisas sobre a paisagem e o espaço urbanos com a fotografia. Em 1994, Mano montou a instalação "Detector de Ausências" no vale do Anhangabaú, em São Paulo, na qual dois feixes de luz foram projetados sobre o viaduto do Chá, de modo a interferirem na percepção do espaço urbano. Em 2002, participou da Bienal de São Paulo e, em 2005, realizou trabalhos no México e também nos EUA.
Cronologia de Cartier-Bresson1908
Henri Cartier-Bresson nasce em 22 de agosto, em Chanteloup-en-Brie, área rural perto de Paris (França)
1927
Sem ter feito curso superior, passa a estudar pintura com o cubista André Lhote
1931
Na Costa do Marfim, onde vive por um ano, desenvolve o interesse pela fotografia
1932
Realiza sua primeira exposição, em Nova York. Compra sua primeira câmera Leica
1933
Viaja para o México, a convite do governo local, onde vai permanecer por um ano. É a primeira de uma série de viagens internacionais comissionadas
1935
Aprende técnicas de cinema com o norte-americano Paul Strand
1936
Participa da produção do filme "Um Dia no Campo", dirigido por Jean Renoir
1937
Dirige documentários na Espanha. Casa-se com a dançarina indonésia Ratna Mohini
1940
Participando de uma unidade de documentação do Exército francês, é capturado pelos alemães
1943
Foge do campo de prisioneiros de guerra, voltando a trabalhar como fotógrafo na França
1947
Funda, com Robert Capa, David Seymour, William Vandivert e George Rodger, a Magnum
1952
Sai seu primeiro livro, "Images à la Sauvette" (lançado em inglês como "O Momento Decisivo", nome por que ficaria conhecido)
1970
Divorciado em 1967, casa-se com a fotógrafa Martine Franck
1974
Deixa a fotografia e se concentra na produção de desenhos
1981
Recebe, na França, o Grande Prêmio Nacional de Fotografia
1998
Publica o livro "Tête à Tête", com textos de Ernst H.Gombrich (no Brasil, pela Cia. das Letras)
2004
Morre, no dia 3 de agosto, em Montjustin, França
Ave LeicaCRISTIANO MASCAROESPECIAL PARA A FOLHA
Não sei como acontece com outros artistas, os pintores com seus pincéis, os escultores com seus cinzéis, os gravadores com suas goivas .
No entanto posso assegurar que nós, fotógrafos, desenvolvemos uma enorme e saudável relação de afeto com nossas câmeras fotográficas.
Certamente porque elas estão permanentemente por perto, ao alcance de nossas mãos.
Não podemos nos afastar. Estão sobre a mesa de trabalho, dentro da mochila, na bolsa a tiracolo e quase sempre bem pertinho, colada em nossos rostos ou pendurada no pescoço, roçando no coração.
E, se porventura, for uma Leica, é caso de paixão. Não é para menos.
Foram essas câmeras miúdas, que cabem na palma de nossas mãos, que libertaram os fotógrafos pioneiros -Cartier-Bresson, inclusive- da ditadura dos equipamentos enormes, obrigatoriamente apoiados em um pesado tripé.
Daí, descobriram a rua. Podiam caminhar livremente pelas calçadas e fotografar ao mesmo tempo, surgindo assim o que talvez tenha sido uma de suas maiores descobertas: registrar a vida como ela é.
Não somente os grandes acontecimentos, as guerras e as catástrofes naturais, mas sobretudo a vida cotidiana, revelando e tornando grandiosas as miudezas do dia-a-dia.
Hoje, tenho duas câmeras Leica que me acompanham em meus trabalhos, o que me dá uma sensação de segurança, uma certeza de que tudo irá correr bem. Não me desgrudo.
Mas sei que em um futuro muito próximo talvez tenha de abandoná-las. Essa infernal tecnologia digital avança vertiginosamente, os meus filmes estão cada vez mais raros e, dessa forma, já me vi obrigado a comprar um trambolho de 21,5 megapixels. É um horror!
Mal desenhado, pesa uma enormidade, tem exatos 22 botões para acessar suas múltiplas funções, a maioria delas dispensáveis, além de uma alavanca de "liga" e "desliga".
Sem comentar que me obriga a carregar, quando viajo, uma quantidade inacreditável de cabos, baterias, lap-tops, noves fora seu recurso mais brochante: poder ver, imediatamente, o que acabei de fotografar.
Com minha Leica isso é impossível, felizmente. Dessa forma, não tenho a certeza imediata de nada e, assim, posso me concentrar em meu trabalho como nunca.
Sei que a cada disparo não poderei voltar atrás, o que me torna mais seletivo e rigoroso -isto é, mais senhor do que estou fazendo. Opto pela incerteza, na contramão daqueles que jamais trocariam o certo pelo incerto. Mas a fotografia na qual acredito é assim mesmo.
É a expressão de uma atitude dramática, resultado de uma busca onde há mais surpresas do que certezas.
Cartier-Bresson, Robert Capa, Eugene-Smith, Thomas Farpas, Pedro Martinelli e tantos outros, todos com suas Leicas na linha de mira, não me deixariam mentir ou exagerar.
Continua...