Bem, resumo só vale mesmo pra quem o faz porque uma de suas finalidades é justamente ressaltar aspectos importantes da sua leitura que merecem ser retidos na memória ou consultados depois. A idéia inicial era fazer uma resenha, mas como toda resenha nasce de um resumo, fiz o resumo primeiro. Retirei do texto aspectos que são próprios da minha leitura porque não desejo influenciar a leitura daqueles que ainda não leram o livro, mas que pretendem ler.
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Prefácio
No prefácio, o professor Atílio Avancini traça um rápido percurso da história da fotografia para chegar até o trabalho do fotógrafo Ernesto Tarnoczy Jr. que, em síntese, busca “outros sentidos omitidos pelas mensagens monológicas dos meios de comunicação”. Sob esse prisma, afirmou Avancini: “o livro serve de guia à procura de belezas mais profundas, transcendentes. Suas imagens amolecem as pedras, colorem os asfaltos, alegram os espelhos, oxigenam as atmosferas, elevam o espírito. Fazem um convite a um ‘outro lugar’, que está ao nosso lado, e sugerem um despertar, ou melhor, um aquecimento para o corpo – quase cristalizado – do homem contemporâneo. A vidência do fotógrafo não consiste em ver, mas em estar lá”. (p. 15)
Além de exercer atividades na área de engenharia civil e ter sido campeão brasileiro de tênis, Ernesto Tarnoczy Jr. começou a fotografar na década de 1980 quando então ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante e também passou a se dedicar ao estudo da composição.
Segundo Atílio Avancini, uma das chaves do livro é a pouca interferência nas imagens captadas, apenas 10% delas foram manipuladas (p. 16). No entanto, ao longo da leitura, é possível constatar que todas ou um número considerável delas sofreram algum tipo de tratamento, seja uma simples conversão em preto e branco, seja a fusão de duas imagens ou a inserção de elementos exteriores à sua captura como uma lua, por exemplo. Nesse sentido fiquei pensando o que exatamente pode ser considerado manipulação digital?
Prólogo
Numa das melhores partes do livro, Ernesto Tarnoczy Jr. narra o seu processo de aprendizado que é, de alguma forma, muito próximo às preocupações daqueles que optaram por explorar o universo da fotografia de forma plena, isto é, explorar as potencialidades dos equipamentos e a linguagem das objetivas, descortinar o jargão fotográfico, explorar os conceitos de composição, tornar-se criador de imagens e não apenas uma extensão do equipamento, ressaltar a importância da fotometria bem feita, tomar precauções contra o consumismo, apresentar técnicas de manipulação etc.
Nesse sentido, o processo de aprendizagem, para Ernesto Tarnoczy Jr., não se dá em linha reta, mas numa “espiral logarítmica”, ou seja, a assimilação do aprendizado não é percebida numa forma progressiva, mas numa tensão dialética entre o fotografado e o que deveria ser fotografado, entre o fazer e o dever fazer (p. 20).
Introdução
Apresentação geral do livro.
Capítulo 1 - O conceito de movimento
Segundo Ernesto Tarnoczy Jr., existem dois tipos de movimento: 1) leitura literal: “aquele que mostra de maneira óbvia os movimentos de artefatos (aviões, automóveis, etc), movimentos e momentos sociais (passeatas, guerras, cerimônias, esportes) e movimentos da natureza (aves, animais, ondas, vendavais, furacões etc.)”; 2) leitura simbólica: aquele “que sugere o deslocamento de pontos, linhas planos, figuras, objetos, através de mudanças suaves das dimensões, formas e posições dentro do enquadramento escolhido” (p. 26).
Capítulo 2 - O conceito de equilíbrio
O conceito de equilíbrio relaciona-se à disposição de volumes e massas em torno de um eixo central. Portanto, uma composição bem equilibrada deve considerar tanto os volumes que integram os elementos de uma imagem quanto as massas que derivam da densidade das cores: o branco é a cor menos densa ao contrário do preto que é a que possui maior densidade. Portanto, quanto mais escura a cor for, mais densa ela será, afirmou Ernesto Tarnoczy Jr. Por isso ele não se recomenda situar numa foto com quatro volumes iguais, de cores diferentes, as cores escuras (verde e azul marinho, por exemplo) do lado oposto às cores claras (branco e amarelo, por exemplo). O conceito de equilíbrio, portanto, visa dispor de forma equilibrada volumes e massas em torno de uma balança imaginária (p. 42).
Capítulo 3 - O conceito de ritmo
Sempre confundi movimento com ritmo. Lembro-me de dizer ou de ouvir dizer “essa foto tem ritmo” quando o correto seria “essa foto tem movimento”, dois conceitos que, embora dialoguem entre si, são bem distintos. Segundo Ernesto Tarnoczy Jr., “podemos dizer que se determinada cena possui ritmo, ela tem movimento. O contrário não é possível. Nem todo movimento contém ritmo. Movimento significa mudança suave de forma e posição sem apresentar repetição de algum padrão. Ritmo, ao contrário, mostra um padrão repetitivo”. A definição de ritmo, portanto, refere-se à repetição de um determinado padrão num intervalo de tempo e lugar. Na composição fotográfica, o conceito de ritmo atribui ordem aos elementos assim como confere força à imagem (p. 55).
Capítulo 4 - O conceito de diversidade e unicidade
De modo geral, o conceito de diversidade elimina a monotonia e introduz movimento à imagem, enquanto que o de unicidade gera harmonia e agrega ritmo à foto (p. 71-72).
Capítulo 5 - O conceito de diálogo
O diálogo na fotografia pressupõe conexão entre as partes, ou seja, trata-se dos “pontos em comum existentes entre os diferentes elementos da fotografia. Essa semelhança pode ser expressa pela forma, posição, atitude, sentimentos ou cor dos elementos enquadrados na foto”. Em resumo, “o diálogo possibilita conectar camadas diferentes da realidade através da fotografia” (p. 88).
Capítulo 6 - O conceito de diagonal
A utilização da diagonal possibilita, em linhas gerais, apontar uma direção para o olhar. No entanto, o enquadramento na diagonal, apesar de agregar movimento e ritmo, desequilibra a composição fotográfica se apontada para uma única direção. O problema é resolvido com o uso de contra-diagonais e linhas verticais que, além de compensar o desequilíbrio da foto, compõem figuras retangulares que, por sua vez, atribuem estabilidade à imagem (p. 100).
Capítulo 7 - O conceito de primeiro plano
O primeiro plano, de modo geral, confere profundidade à cena devido não só ao uso de grande-angulares como também à simulação de espacialidade, isto é, a disposição de elementos em vários planos, mas com proporções semelhantes, cria a ilusão óptica de que os elementos mais próximos pareçam maiores do que os mais distantes, ainda que tenham o mesmo tamanho. Segundo Ernesto Tarnoczy Jr., o primeiro plano visa chamar a atenção do observador para o ponto de interesse de uma determinada imagem que contém cenas distantes e planos diferenciados (p. 111).
Capítulo 8 - O conceito de perspectiva
A perspectiva é a junção de dois conceitos: primeiro plano e diagonal (p. 123), sendo possível atribuir tridimensionalidade à imagem, conduzir o olhar para um ponto, destacar um elemento específico, além de unir elementos dispersos.
Capítulo 9 - O conceito de razão áurea
No início da leitura, fiquei intrigada porque um livro sobre composição fotográfica não trazia, no índice, uma capítulo sobre a "regra dos terços", a principal, quando não a única, forma de composição explorada nesse universo. A resposta veio no penúltimo capítulo, quando o autor associou a estrutura dos três dos terços com o conceito de razão áurea. Em resposta à pergunta "Como aplicar o conceito da razão áurea na fotografia", o autor afirmou: "Evidentemente é complexo, ao fotografar, colocar o centro de interesse em algum 'ponto ouro' com exatidão. Dessa forma, foi elaborada a regra dos 'terços', que fornece com aproximação a posição do 'ponto ouro'. Isto é, divide-se o quadro em linhas perpendiculares entre si, dividindo a horizontal e a vertical em três partes. O encontro dessas linhas gera quatro 'pontos ouro'. Nesses pontos, o fotógrafo escolhe, se quiser, locar o centro de interesse da fotografia" (p. 134).
Capítulo 10 - O controle da luz
Para Ernesto Tarnoczy Jr., luz e composição são os elementos mais importantes de uma foto. O bom aproveitamento da luz pode trazer grandes benefícios à foto como, por exemplo, gerar volumes através de sombras; suavidade, realismo, mistério ou tensão da cena; produzir transcendências e silhuetas, entre outros (p. 143). Nesse capítulo, o autor cita exemplos de fotógrafos que exploraram as potencialidades da luz natural: no trabalho de Jeffrey Beacon, “Cores da Meso América”, a luz difusa gerou fotos suaves, sem contrastes; no de Brassai, “Paris by night”, o uso da contraluz favoreceu a fotografia em preto e branco atribuindo-lhe todos os tons de cinza; o fotógrafo Yuan Li, no trabalho “The expressionist landscape” também explorou as potencialidades da contraluz; além do fotógrafo Ralph Gibson que nos retratos explora a luz lateral.
Capítulo 11 - O momento decisivo
O momento decisivo, para Ernesto Tarnoczy Jr., "harmoniza coincidências, exalta emoções, captura a geometria fugaz desenhada pela luz e mostra ao espectador a poesia e a dureza da vida (p. 158). Um dos seus principais expoentes é o fotógrafo Henri Cartier-Bresson que fotografava com uma câmera Leica M e priorizava uma lente 50 mm.
Finalizando - Combinando conceitos
Todos os conceitos abordados pelo autor não só podem como devem ser combinados numa foto.
Observações gerais acerca do livro "Arte da composição"
Além das noções específicas de composição fotografia, o autor do livro trabalha com questões gerais como: funcionalidade do equipamento, a busca da simplicidade, a educação do olhar, os usos da tecnologia, o reencantamento do mundo, o processo de aprendizagem, a manipulação digital, as noções de perspectiva, o papel das objetivas (desde macro até teles), a importância dos planos, a organização do caos, as limitações da cena, o papel da fotometria, as modalidades fotográficas, os direitos autorais, a apropriação da imagem, entre outros temas sobre fotografia em geral.
* As passagens entre aspas foram extraídas do livro.
** Ainda não revisei o texto, depois faço isso.