Autor Tópico: [FOTÓGRAFO] Henri Cartier-Bresson  (Lida 14537 vezes)

wdantas

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Resposta #30 Online: 30 de Setembro de 2008, 18:35:50

Se eu visitar uma dessas livrarias maiores, dou uma olhada pra você nesse título, ou se outra pessoa visitar também poderia fazer isso, afinal pagar 200 reais por um livro e ele não corresponder exatamente ao seu propósito é uma situação meio triste.


Kika, vê que estranho. Esse Ansel comprei por 85,00 na Cultura aqui em Recife e está a 102,00 no site.
E o Man Image World está 152,00, não é 200,00


Valeu!

abraço


Kika Salem

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Resposta #31 Online: 01 de Outubro de 2008, 00:54:01
Colegas do fórum!
Se vocês tiverem algum livro do Cartier-Bresson em casa ou já folhearam algum em livrarias, aproveitem para deixar registrado as sugestões de vocês e para opinar sobre as publicações em geral.



Kika, vê que estranho. Esse Ansel comprei por 85,00 na Cultura aqui em Recife e está a 102,00 no site.
Mistério!!!

Bem, depois que você mencionou aquele do Ansel Adams, eu percebi que esse do Cartier-Bresson é da mesma editora, agora não se segue o mesmo padrão editorial.

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=82858&sid=89703216010910722702698460&k5=2D8D4FA5&uid=
« Última modificação: 01 de Outubro de 2008, 00:57:11 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #32 Online: 03 de Outubro de 2008, 14:26:17
Se ajuda a escolher Wellington, no livro que acabei de ler "Arte da composição", o seu autor, Ernesto Tarnoczy Jr., ao dissertar sobre o "momento decisivo", considera o livro "Henry Cartier-Bresson and the artless art", de Jean-Pierre Montier (mencionado no post acima), um dos melhores trabalhos acerca da obra do fotógrafo que, não só responde questões correlatas à identificação do instante decisivo, como também realiza uma análise ímpar que contempla aspectos estéticos e sociais e evidencia como Cartier-Bresson soube, como ninguém, articular diversos conceitos de composição, tais como movimento, equilíbrio, ritmo, diversidade, unidade, diálogo, diagonal, primeiro plano, perspectiva, razão áurea, controle de luz, entre tantos outros. Segundo o autor desse livro, tal articulação é resultado de dois anos de estudos da composição com o pintor André Lhote que é também um teórico da composição. Por isso ressalta que a obra de Cartier-Bresson é uma aula de composição e deve ser estudada por todos aqueles que se interessam por fotografia de modo geral.

Isso só me faz crer que tamanha "sorte" só existe pra quem sabe tem consciência do que busca. Como já citei no MF, não custa enfatizar, "a singeleza mais elevada surge mais tarde, fruto de uma faina que oculta a faina”. (P. Gay)

Agora entendo porque minha mãe sempre me disse que sorte é a gente que faz.
« Última modificação: 03 de Outubro de 2008, 14:38:53 por Kika Salem »


wdantas

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Resposta #33 Online: 03 de Outubro de 2008, 19:17:50
Kika, eu tenho "Arte da composição", mas não lí todo e agora dei um pulo para o final quando ví seu post.
Realmente "Henry Cartier-Bresson and the artless art" deve ser "O Livro"

E a história da urina? Muito legal, né?


Kika Salem

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Resposta #34 Online: 05 de Outubro de 2008, 00:49:45
Kika, eu tenho "Arte da composição", mas não lí todo e agora dei um pulo para o final quando ví seu post.
Realmente "Henry Cartier-Bresson and the artless art" deve ser "O Livro"

E a história da urina? Muito legal, né?

O problema é que o preço dele é salgadinho demais aqui.
Na amazon.fr encontra por 31 euros (usado)
http://www.amazon.fr/gp/offer-listing/0821222856/ref=sr_1_olp_1?ie=UTF8&s=gateway&qid=1223177998&sr=8-1

Na amazon.com por 21 doláres (usado)
http://www.amazon.com/Henri-Cartier-Bresson-Artless-Art/dp/0821222856/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1223178150&sr=8-1

O Emidio Luisi sempre utiliza essa coleção com os seus alunos. o livro tem o formato mediano, é em papel jornal, mas tem uns textos bem elucidativos, várias fotos, ainda que em francês. Tem de vários outros fotógrafos também.
http://cgi.ebay.fr/HENRI-CARTIER-BRESSON-Photo-Poche-1983_W0QQitemZ370091386480QQcmdZViewItem?hash=item370091386480&_trkparms=72%3A1367

Demorei uns segundos para entender a história da urina, depois caiu a ficha. kkkk
Vou ver se faço um resumo desse livro pra absorver as principais questões e posto lá no tópico para discussão.
Abraço.
« Última modificação: 05 de Outubro de 2008, 00:50:58 por Kika Salem »


JCMACIEL

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Resposta #35 Online: 05 de Outubro de 2008, 04:53:14
O trabalho dele é uma referência para mim. Um dos maiores, sem dúvida.
« Última modificação: 05 de Outubro de 2008, 04:53:36 por JCMACIEL »


wdantas

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Resposta #36 Online: 05 de Outubro de 2008, 20:20:53
Kika, até que tentei os mais baratinhos mas quando checa o endereço...
We're sorry. The item can't be shipped to your selected destination. You may either change the shipping address or delete the item from your order by changing its quantity to 0 and clicking the update button

E já comprei várias coisas por lá, acho que é limitação dos sebos cadastrados

Esta semana tentei comprar papel "Epson Ultra Premium Photo Paper Luster" que está uma pechincha e agora só tem 22h pra comprar cx com 50 folhas por 32.88, e deu a mesma mensagem

Quem quiser tentar o link é esse http://www.amazon.com/Epson-Ultra-Premium-Luster-Sheets/dp/B00006B7P4/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=office-products&qid=1223248692&sr=8-1 e o papel é excelente. Por aqui só consigo com um amigo que importa em rolo


agalons

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Resposta #37 Online: 06 de Outubro de 2008, 13:37:40
obrigado pela dica


Kika Salem

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Resposta #38 Online: 21 de Dezembro de 2008, 15:50:41
Para encerrar meu ano no fórum com um dos meus fotógrafos favoritos, cujas fotos mais "corriqueiras" são de extrema sensibilidade e qualidade estética, comunico aos colegas que a Folha de São Paulo destinou hoje um caderno especial, Caderno Mais, à obra de Henri Cartier-Bresson.

Feliz Natal e próspero Ano Novo!



Ensaios Bressonianos

A CONVITE DA FOLHA, CINCO DOS MAIS IMPORTANTES FOTÓGRAFOS BRASILEIROS REFAZEM, COM UM OLHAR CONTEMPORÂNEO, IMAGENS CLÁSSICAS TIRADAS PELO CRIADOR DO FOTOJORNALISMO


Cartier Bresson


SAIBA QUEM SÃO OS FOTÓGRAFOS

KENJI OTA
Fotógrafo, pesquisador e professor na Universidade Mackenzie e no Senac, Kenji Ota nasceu em 1952 em São Paulo. Desde a década de 1970 -quando era estudante de ciências sociais-, Ota desenvolve trabalhos ligados à fotografia e pesquisas técnicas e estéticas sobre processos fotomecânicos como heliogravura e collotype. Teve fotografias suas incluídas na coleção Pirelli do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e já expôs na Bienal paulistana, na Alemanha, na Espanha, no Japão e nos EUA.

CÁSSIO VASCONCELOS
Nasceu em São Paulo em 1965. Aos 16 anos interessou-se por fotografia. Trabalhou como fotojornalista para a Folha e foi correspondente da editora Abril em Paris. Seus trabalhos já foram expostos na Alemanha, na França, em Portugal, na Itália, nos EUA e em Cuba. Alguns deles integram o acervo fotográfico do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e do Museum of Fine Arts, em Houston (EUA). Suas fotografias estão publicadas em 12 livros, com destaque para "Nocturnes São Paulo" (editora Bookmark, 2002).

MARIO CRAVO NETO
Fotógrafo e escultor nascido em 1947 em Salvador (BA). Filho do artista plástico Mario Cravo Jr., Cravo Neto iniciou sua formação em artes na adolescência. Aos 18 anos, expôs na 1ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia. Durante a juventude, viveu na Alemanha e nos EUA. Suas obras já foram expostas na Bienal de São Paulo e em galerias e museus europeus e americanos. Tem mais de uma dezena de livros publicados -entre eles, "Salvador" (1999) e "Flecha em Repouso" (2008), ambos pela ed. Áries-, que reúnem a diversidade do seu trabalho fotográfico.

CRISTIANO MASCARO

Nascido em 1944 em Catanduva (SP), Cristiano Mascaro é arquiteto, fotógrafo e pesquisador. Trabalhou como fotojornalista na revista "Veja" entre 1968 e 1972. Seus trabalhos, focados sobretudo na paisagem urbana e na arquitetura, foram expostos na Pinacoteca e no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e em países como Alemanha, Suíça, França, Itália, Reino Unido, EUA e Cuba. Suas fotografias estão publicadas em nove livros, com destaque para o 11º volume da Coleção Senac de Fotografia, lançado em 2006.

RUBENS MANO
Nascido em 1960, em São Paulo, Rubens Mano é arquiteto e fotógrafo. Suas obras relacionam pesquisas sobre a paisagem e o espaço urbanos com a fotografia. Em 1994, Mano montou a instalação "Detector de Ausências" no vale do Anhangabaú, em São Paulo, na qual dois feixes de luz foram projetados sobre o viaduto do Chá, de modo a interferirem na percepção do espaço urbano. Em 2002, participou da Bienal de São Paulo e, em 2005, realizou trabalhos no México e também nos EUA.



Cronologia de Cartier-Bresson

1908
Henri Cartier-Bresson nasce em 22 de agosto, em Chanteloup-en-Brie, área rural perto de Paris (França)

1927
Sem ter feito curso superior, passa a estudar pintura com o cubista André Lhote

1931
Na Costa do Marfim, onde vive por um ano, desenvolve o interesse pela fotografia

1932
Realiza sua primeira exposição, em Nova York. Compra sua primeira câmera Leica

1933
Viaja para o México, a convite do governo local, onde vai permanecer por um ano. É a primeira de uma série de viagens internacionais comissionadas

1935
Aprende técnicas de cinema com o norte-americano Paul Strand

1936
Participa da produção do filme "Um Dia no Campo", dirigido por Jean Renoir

1937
Dirige documentários na Espanha. Casa-se com a dançarina indonésia Ratna Mohini

1940
Participando de uma unidade de documentação do Exército francês, é capturado pelos alemães

1943
Foge do campo de prisioneiros de guerra, voltando a trabalhar como fotógrafo na França

1947
Funda, com Robert Capa, David Seymour, William Vandivert e George Rodger, a Magnum

1952
Sai seu primeiro livro, "Images à la Sauvette" (lançado em inglês como "O Momento Decisivo", nome por que ficaria conhecido)

1970
Divorciado em 1967, casa-se com a fotógrafa Martine Franck

1974
Deixa a fotografia e se concentra na produção de desenhos

1981
Recebe, na França, o Grande Prêmio Nacional de Fotografia

1998
Publica o livro "Tête à Tête", com textos de Ernst H.Gombrich (no Brasil, pela Cia. das Letras)

2004
Morre, no dia 3 de agosto, em Montjustin, França



Ave Leica

CRISTIANO MASCARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não sei como acontece com outros artistas, os pintores com seus pincéis, os escultores com seus cinzéis, os gravadores com suas goivas .
No entanto posso assegurar que nós, fotógrafos, desenvolvemos uma enorme e saudável relação de afeto com nossas câmeras fotográficas.
Certamente porque elas estão permanentemente por perto, ao alcance de nossas mãos.
Não podemos nos afastar. Estão sobre a mesa de trabalho, dentro da mochila, na bolsa a tiracolo e quase sempre bem pertinho, colada em nossos rostos ou pendurada no pescoço, roçando no coração.
E, se porventura, for uma Leica, é caso de paixão. Não é para menos.
Foram essas câmeras miúdas, que cabem na palma de nossas mãos, que libertaram os fotógrafos pioneiros -Cartier-Bresson, inclusive- da ditadura dos equipamentos enormes, obrigatoriamente apoiados em um pesado tripé.
Daí, descobriram a rua. Podiam caminhar livremente pelas calçadas e fotografar ao mesmo tempo, surgindo assim o que talvez tenha sido uma de suas maiores descobertas: registrar a vida como ela é.
Não somente os grandes acontecimentos, as guerras e as catástrofes naturais, mas sobretudo a vida cotidiana, revelando e tornando grandiosas as miudezas do dia-a-dia.
Hoje, tenho duas câmeras Leica que me acompanham em meus trabalhos, o que me dá uma sensação de segurança, uma certeza de que tudo irá correr bem. Não me desgrudo.
Mas sei que em um futuro muito próximo talvez tenha de abandoná-las. Essa infernal tecnologia digital avança vertiginosamente, os meus filmes estão cada vez mais raros e, dessa forma, já me vi obrigado a comprar um trambolho de 21,5 megapixels. É um horror!
Mal desenhado, pesa uma enormidade, tem exatos 22 botões para acessar suas múltiplas funções, a maioria delas dispensáveis, além de uma alavanca de "liga" e "desliga".
Sem comentar que me obriga a carregar, quando viajo, uma quantidade inacreditável de cabos, baterias, lap-tops, noves fora seu recurso mais brochante: poder ver, imediatamente, o que acabei de fotografar.
Com minha Leica isso é impossível, felizmente. Dessa forma, não tenho a certeza imediata de nada e, assim, posso me concentrar em meu trabalho como nunca.
Sei que a cada disparo não poderei voltar atrás, o que me torna mais seletivo e rigoroso -isto é, mais senhor do que estou fazendo. Opto pela incerteza, na contramão daqueles que jamais trocariam o certo pelo incerto. Mas a fotografia na qual acredito é assim mesmo.
É a expressão de uma atitude dramática, resultado de uma busca onde há mais surpresas do que certezas.
Cartier-Bresson, Robert Capa, Eugene-Smith, Thomas Farpas, Pedro Martinelli e tantos outros, todos com suas Leicas na linha de mira, não me deixariam mentir ou exagerar.



Continua...

« Última modificação: 21 de Dezembro de 2008, 16:03:40 por Kika Salem »


Kika Salem

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Resposta #39 Online: 21 de Dezembro de 2008, 15:53:13
Continuação...



Só um instante

O BIÓGRAFO PIERRE ASSOULINE, QUE ESTÁ LANÇANDO "CARTIER-BRESSON - O OLHAR DO SÉCULO", EXPLICA COMO O INICIADOR DO FOTOJORNALISMO RECRIOU O MODO COMO O HOMEM VÊ O MUNDO HOJE

MARCOS FLAMÍNIO PERES
EDITOR DO MAIS!

O homem, a máquina: aquela que foi a oposição mais trágica do século 20 se transformaria em uma simbiose perfeita por meio do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson -que estaria fazendo cem anos- e sua mítica Leica. De um lado, o olhar formado tanto na clássica tradição humanística quanto em seu momento de maior ruptura -o surrealismo.
De outro, um aparelho que representou um notável avanço tecnológico, ao libertar o fotógrafo da imobilidade do tripé -a máquina "ideal", como diz na entrevista abaixo o biógrafo Pierre Assouline, cujo "Cartier-Bresson - O Olhar do Século" (ed. L&PM, trad. Julia da Rosa Simões, 352 págs., R$ 56) está sendo lançado no Brasil. Assouline lembra como essa conjunção de fatores contraditórios em Cartier-Bresson -precisão, delírio e tecnologia- acabaria desembocando na criação do fotojornalismo.
Para ele, está embutida aí a expressão que se tornaria um clichê: o "instante decisivo", que Cartier-Bresson -ou HCB, com era conhecido no meio- foi buscar em um autor canônico da literatura francesa do século 17, o cardeal de Retz. Assouline lembra que a própria experiência decisiva da vida de HCB, que redefiniu sua relação com a fotografia, foi o período de três anos que passou detido em um campo alemão. Perdeu não só a liberdade de ir e vir, mas, sobretudo, a liberdade de fotografar.
Dias antes de ser pego, conta Assouline, ele enterrou sua Leica para que não fosse confiscada pelos nazistas. A primeira coisa que fez ao se ver livre foi desenterrá-la.
 

FOLHA - Como Cartier-Bresson conseguiu combinar influências tão opostas, como a tendência ao devaneio inerente ao surrealismo e a precisão do fotojornalismo?
PIERRE ASSOULINE - Quando se é surrealista na juventude, permanece-se surrealista por toda a vida. Você tem razão em sublinhar o antagonismo entre o surrealismo e o espírito geométrico em Cartier-Bresson, mas ele conseguiu resolver esse paradoxo por meio de suas fotos e de sua personalidade. Há uma tendência ao fantástico, como nas fotos do México e da Espanha dos anos 1930. Esse fantástico, que é a sua parte de loucura e anarquismo, irá ressurgir regularmente em sua obra, mas não irá impedir o culto das linhas e das perspectivas. Isso coexiste nele, e não se trata de esquizofrenia, mas do embate entre o yin e o yang -e dessa tensão nasce sua energia.

FOLHA - A prisão em um campo na Segunda Guerra mudou seu olhar?
ASSOULINE - Sim, e por duas razões: a primeira foram as experiências da miséria, da promiscuidade, da angústia, do tédio e da amizade que nasceu daí. A segunda foi ter sido condenado a viver três anos sem sua máquina, o que o levou a inventar uma teoria sobre tomadas sem a máquina -apenas mentalmente. Enfim, ao longo desses três anos, em nenhum momento ele abandonou a idéia de fugir, afirmando, desse modo, a marca essencial de seu caráter.

FOLHA - Como o sr. vê o fotojornalismo hoje? Ele é ainda praticado como Cartier-Bresson o fazia?
ASSOULINE - Cada vez menos, mas, caso se queira, ainda é possível. Pode-se passar seis meses em qualquer parte apenas com uma Leica e filme em preto-e-branco e fazer coisas magníficas. O problema é que não existem mais grandes revistas para publicar isso. É preciso queimar etapas e fazer diretamente uma exposição e um álbum. Mas mesmo isso se torna cada vez mais difícil e, quando ocorre, tem, na maior parte das vezes, uma "pegada" artística, enquanto Cartier-Bresson sempre se considerou um fotojornalista.

FOLHA - Em sua opinião, foi a invenção da Leica que propiciou o surgimento do fotojornalismo?

ASSOULINE - Sim.

FOLHA - E por que optou por ver o mundo através das lentes de uma Leica -e, não, por exemplo, através de uma Rolleiflex?
ASSOULINE - Ele dizia que, com uma Rolleiflex, fica-se prostrado diante do objeto, enquanto com uma Leica a gente o ataca. Cartier-Bresson era antes de tudo um "atacante", mesmo tendo horror da agressão maior que é o flash. Ele nasceu para a fotografia ao mesmo tempo em que surgia a Leica. Ela lhe convinha à perfeição: pequena, discreta, leve. Ideal.

FOLHA - Como Cartier-Bresson reagiria hoje à câmera digital?
ASSOULINE - Reagiria mal. Ele era contra.

FOLHA - Ele era fascinado pelos EUA, sobretudo por Nova York. A América mudou seu imaginário?

ASSOULINE - Os EUA não mudaram seu imaginário, ao menos não mais que os demais países e menos que a Índia, por exemplo, onde viveu por três anos. Mas a América o fascinava e ele lhe era extremamente grato. Pois foi lá onde recebeu reconhecimento e consagração, quando montou sua primeira exposição em Nova York, num momento em que ainda era desconhecido na Europa.

FOLHA - Cartier-Bresson conheceu vários países "exóticos" -de um ponto de vista europeu-, como Índia e Costa do Marfim. Ele não quis conhecer o Brasil?

ASSOULINE - Como viajava muito, quando deixava de visitar algum país, sempre lhe perguntavam se sentia desprezo, indiferença ou hostilidade. Mas o caso era que uma vida só não lhe bastou para conhecer todos os lugares do mundo, ao menos como ele o entendia -isto é, passando lá meses ou até anos. O Brasil simplesmente não aconteceu -apenas isso-, assim como não aconteceu com Marrocos e outros países. A ocasião não apareceu.

FOLHA - Neste ano comemora-se também o centenário de nascimento do antropólogo Claude Lévi-Strauss. O sr. vê similaridade entre o olhar de ambos em relação ao "outro". Chegaram a se conhecer?

ASSOULINE - Cartier-Bresson e Lévi-Strauss são dois grandes burgueses franceses, que receberam educações parecidas. Não acredito que seus caminhos tenham se cruzado, mas tinham um ponto em comum: eram humanistas. Dois grandes clássicos bem franceses.

FOLHA - Cartier-Bresson era um grande admirador de Marcel Proust. Qual era sua "madeleine" [referência à cena clássica de "Em Busca do Tempo Perdido" em que o narrador evoca seu passado ao tomar uma xícara de chá com madeleine]?
ASSOULINE - Sua "madeleine" eram a faca de caça que levava no bolso e uma estatueta trazida da África nos anos 1920, guardada em sua estante.

FOLHA - Para o sr., qual é sua foto mais importante? E para ele?
ASSOULINE - Não tenho a mínima idéia.



Fonte: FSP - Caderno Mais - 21/12/2008
« Última modificação: 21 de Dezembro de 2008, 16:01:40 por Kika Salem »


GutoVilaça

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Resposta #40 Online: 21 de Dezembro de 2008, 16:25:32
Muito legal o texto, Kika.
Ontem entrei numa livraria aqui em BH e "passei o olho" em alguns livros sobre fotografia. Na prateleira já tinha este livro sobre o Bresson.
Não comprei mas fiquei curioso.

VAMOS ESTUDAR MAIS FOTOGRAFIA ANTES DE CRITICAR UMA FOTO ALHEIA. VAMOS CRITICAR SE O AUTOR PEDIR. SE VAMOS CRITICAR E COMENTAR, VAMOS FAZER COM SABEDORIA, COM EMBASAMENTO E DE MODO QUE SEJA ALGO CONSTRUTIVO. NÃO APELE SE O AUTOR DAS FOTOS REBATER ÀS CRÍTICAS AFINAL ISSO É DIREITO DELE. VAMOS DÁ BONS EXEMPLOS COM NOSSAS FOTOS POIS SÓ FICAR CRITICANDO FOTOS DOS OUTROS NÃO FAZ DA GENTE UM BOM FOTÓGRAFO.  VAMOS FOTOGRAFAR MAIS E CORNETAR MENOS!!!


Kika Salem

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Resposta #41 Online: 21 de Dezembro de 2008, 17:18:46
Legal né Guto, mais legal ainda é saber que tem coisas da entrevista que já li no fórum e que até já comentamos aqui. É sempre bom conhecer um pouco mais da vida e do modo de pensar a fotografia de um dos maiores fotógrafos do século XX.

Continuação...

Só um instante

FOLHA - Cartier-Bresson era um grande admirador de Marcel Proust. Qual era sua "madeleine" [referência à cena clássica de "Em Busca do Tempo Perdido" em que o narrador evoca seu passado ao tomar uma xícara de chá com madeleine]?

Fonte: FSP - Caderno Mais - 21/12/2008
« Última modificação: 21 de Dezembro de 2008, 17:19:32 por Kika Salem »


Giancarlo Zortéa

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Resposta #42 Online: 16 de Fevereiro de 2009, 15:20:59
Pessoal eu achei 3 documentários do Henry segue o link para baixar

http://www.mininova.org/search/?search=henri+cartier

Eu só não consegui achar legenda mais ja baixei.
Sony alpha 200
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