Umas das lojas de fotografia mais tradicionais de Brasília está fechando as portas por falta de quem se interesse em revelar películas.
Ela é a última a revelar cromos. Não existem mais laboratórios que revelem slides na capital do Brasil.
Penso que a situação do filme em nosso país é ainda mais dramática do que nos EUA ou na Europa (embora aqui, no velho continente, as coisas vão de mal a pior também, pelo que já pude pesquisar. Nem na Suécia se revelam mais cromos!).
Eu ainda invisto em câmeras analógicas e em objetivas para elas e não sei o que vou fazer com todo esse equipamento daqui a dois, três anos, época em que o filme vai desaparecer de vez das lojas especializadas. Eu andei pensando em comprar, a preços de banana, os minilabs que ainda estão na praça, mas soube que os químicos para revelação de fotografias está seguindo também o mesmo curso de extinção no curto prazo.
Teremos de nos resignar à realidade? Teremos de fabricar nossos próprios filmes e os químicos para os revelar?
Eu, como o Guto, também tenho uma câmera digital - uma D90 - que, na prática, se tornou apenas um meio para experiências com vistas a fotografias em filme de minhas câmeras convencionais. Não suporto ter de ficar horas e horas diante de um Lightroom tentando dar alguma vida, alguma fidelidade de cores, às fotos que extraio da Nikon D90. Até por falta de tempo, mesmo, já que sou um trabalhador e não disponho de 25 horas por dia para "ajeitar" as deficitárias fotografias que saem das câmeras digitais.
Para mim, é de se lamentar que o filme esteja em via de extinção, porque o resultado que ele me entrega é muito superior, em todos os aspectos, ao da fotografia digital. Acredito que as câmeras digitais sirvam como um acessório útil ao fotógrafo convencional, na medida em que dá a este a possibilidade de antever, com precisão maior, os resultados que obterá em determinada configuração de abertura-velocidade-sensibilidade. Encará-la como substituta da película, porém, é um evidente exagero, e um desconhecimento completo do que seja um filme em termos de contraste, saturação, profundidade de campo e "look".
É lamentável que a tecnologia digital seja uma mixurucação da analógica e custe, na realidade, bem mais cara no final, ao contrário do que ela tenta nos incutir e acreditar. Para mim, tanto no caso do som quanto no da imagem, ela representa um retrocesso, uma involução, em termos qualitativos e de acessibilidade, em relação ao vinyl e à película fotográfica.
Tudo o que é digital é simulação do analógico e, como tal, por definição até, de qualidade inferior. Se ainda fosse mais barata, se ainda fosse mais acessível, dava para se aceitar. Mas ela é bem mais cara, a ponto de ter forçado a pirataria, no caso dos CDs, e não ter conseguido penetrar nos mercados mais fracos do planeta. Na Indonésia, nas Filipinas, ainda se vende e revela muito mais filmes devido ao baixo poder aquisitivo da maioria da população, que nem sonha em gastar os 4, 5 mil reais por uma câmera APS-C digital.
Enfim, daqui a cinquenta anos, todo o mundo vai se perguntar do porquê de o digital ter suplantado, às avessas, com resultados inferiores, a tecnologia que o antecedeu.
De se lamentar, mesmo.