Autor Tópico: [ARTIGO] Automatismos e pós-processamento: por que não?  (Lida 20388 vezes)

Marcelo Favero

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Resposta #15 Online: 03 de Março de 2009, 14:18:09
Nem tão certo, nem tão errado.

Já tive longas e acaloradas discussões com um grande amigo meu, grande fotógrafo, que é adepto do modo A para só pensar em composição.
Acho que como disse o Ivan, os mitos devem ser derrubados. E um deles é a questão da EXPOSIÇÃO CORRETA. Bem, acho que embora a boa prática ensine que o correto é captar a maior quantidade de informação em toda a escala, acho que exposição correta depende do quê eu quero expor!
Seria limitar a linguagem, o estilo, a arte fotográfica a uma forma única determinar que a fotografia correta é a exposta pela média. E dá a entender que fotografar é tentar ser o mais realista possível na captura! Com tantas infinitas possibilidades de se trabalhar a fotografia. É isso e mil outras coisas também!
Seria limitar absurdamente a fotografia aos parâmetros de um fundamento delegar a captação de luz a uma "média" calculada por uma máquina. E mesmo que se possa ir para baixo ou para cima, para um lado e para outro no RAW, isso demonstra PARA MIM, uma falta de intenção clara ao interpretar uma imagem como de interesse fotográfico. E não é assim que eu, Marcelo, vejo a arte fotográfica. Acho que criação é um conjunto de intenções definidas, e para mim, o momento da criação na foto, é o momento em que se está diante da cena real. A pós-produção (pósprodução? pós produção?) é excelente para corrigir, acertar, melhorar. Não gosto da idéia de me sentar no computador e ficar testando se minha foto fica boa em P&B ou colorida, se devo aquecer ou esfriar, se devo expor, superexpor, subexpor para esconder, mostrar, desenhar... sei lá. Eu vejo a imagem que quero obter antes de clicar! Enão por que não decidir, que como para o Ivan é um processo natural, como quero fotometrar? E para mim isso não impede em absolutamente nada de pensar na composição.

Sabe, RFP, se fosse eu usar apenasmente automático, minha linguagem fotográfica simplesmente não existiria. Gosto de altos contrastes, gosto de estourar as sombras e procurar gestalts nas altas-luzes, gosto de condição de luz extrema, de longas exposições borrando movimentos e inundando o sensor de cor, gosto, principalmente de escolher como quero a foto, quando fotografo. Faço eventos sociais e fotografo sempre tentando expor o fundo com velocidade um pouco mais baixa e congelo o assunto principal com o flash. Impossível fazer isso no automático!! Nossa, tantas coisas impossíveis no automático... Saio a campo com mochila nas costas pra fotografar às 4h da manhã, tomo picada de mosquito, arrisco meu equipamento em lugares não seguros... esse é meu barato! Não quero reconfigurar tudo sentado diante de uma tela de computador! O momento da foto pra mim é o do clique, a hora que estou sentindo o tesão de fotografar e de encontrar a imagem que quero captar. Imagine se um Philippe Mougin fosse fazer aquelas paisagens no automático! Se o Eugene Smith fosse clicar aquela Madona com a câmera corrigindo a exposição das sombras!

Não, NÃO DEIXO DE FAZER PÓS-PRODUÇÃO quando necessário, não sou contra quem faz (pelo amor de Deus, não é essa a polêmica!) mas para mim e para a qualidade final do trabalho, acho que quanto mais próximo do resultado final eu obter a imagem no clique, melhor!

Nada contra usar o automático em condições extremas, ou porque seu modo de trabalhar é esse e assim obtém os resultados que deseja. Eu mesmo em determinadas condições trabalho com "prioridades" associadas às compensações. Tudo é válido quando se atinge o resultado esperado. Mas não me agrada a idéia de deixar o equipamento fazer os cálculos na hora do clique pra depois resolver o que fazer com tudo ali, paradinho no computador. Sei lá... Faço muito isso quando executo serviços profissionais para corrigir erros ou para obter resultados impossíveis na hora da foto. Mas no meu trabalho pessoal, não. É uma questão de linguagem e de estilo, graças a Deus, cada um tem o seu! Por isso, digo que nem está errado e nem está certo. Para a minha fotografia automático não serve, para a sua é possível que sirva. Questão pessoal, certo? Não paradigma!

Grande abraço! :ok:
Marcelo dos Santos

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Ivan de Almeida

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Resposta #16 Online: 03 de Março de 2009, 21:08:21
O Marcelo acrescentou eloqüência e detalhe ao que estamos debatendo e o ponto de vista dele é o meu.

Na fotografia, eu gosto de fazê-la através do artesanato, de decidir, a decisão é uma das partes mais saborosas de fotografar, é exatamente esse transe, esses julgamentos concorrentes -composição, fotometria, posição, assunto- que são o ato de fotografar, e eles, para mim, estão entrelaçados, um acontece através do outro.

Não é razoável para mim abdicar de algo que é minha fonte de prazer. O pintor gosta de pintar, gosta das tintas, gosta da tela, acha graça em misturar as cores. Ele podia fazer algo simplesmente especificando cores, e até há quem faça assim, mas o artesanato é um transe que o conduz, e essa condução acontece através da entrega da pessoa aos procesos de artesanato, que na fotografia têm a fotometria entre eles.


Xiru

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Resposta #17 Online: 05 de Março de 2009, 09:29:15
"se fosse eu usar apenasmente automático, minha linguagem fotográfica simplesmente não existiria"... Digo o mesmo!
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macacones

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Resposta #18 Online: 26 de Março de 2009, 22:48:55
Bom, eu acho que o que mais vale numa fotografia é o que o RFP deixou claro: "sinto necessário fazer um contraponto valorizando outros aspectos fundamentais para a boa fotografia: a escolha do assunto, a abordagem, o conceito, a composição. Nenhum desses fatores está relacionado à operação do equipamento fotográfico, mas são freqüentemente negligenciados em favor de aspectos técnicos muito menos importantes."
Muitos sabem usar corretamente a câmera no modo Manual, mas  o que adianta quando não possuem nada de criatividade?

Eu gosto de tirar fotos no modo Manual, sou adepto a isso, mesmo que eu tenha que registrar 500x o MESMO objeto, eu opto pelo modo manual, mas isso eu penso que é uma coisa particular minha, e de cada um.

A composição de uma fotografia vale muito mais do que qualquer coisa!
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RFP

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Resposta #19 Online: 26 de Março de 2009, 23:53:28
Bom, eu acho que o que mais vale numa fotografia é o que o RFP deixou claro: "sinto necessário fazer um contraponto valorizando outros aspectos fundamentais para a boa fotografia: a escolha do assunto, a abordagem, o conceito, a composição. Nenhum desses fatores está relacionado à operação do equipamento fotográfico, mas são freqüentemente negligenciados em favor de aspectos técnicos muito menos importantes."
Muitos sabem usar corretamente a câmera no modo Manual, mas  o que adianta quando não possuem nada de criatividade?

Eu gosto de tirar fotos no modo Manual, sou adepto a isso, mesmo que eu tenha que registrar 500x o MESMO objeto, eu opto pelo modo manual, mas isso eu penso que é uma coisa particular minha, e de cada um.

A composição de uma fotografia vale muito mais do que qualquer coisa!

É por aí o ponto sobre o qual tenho insistido. Para entender o que estou querendo dizer, é preciso enxergar o processo fotográfico de forma ampla. Não estou defendendo o automatismo como um método para melhorar as fotos, tampouco estou dizendo que ele leva a melhores resultados. O que estou querendo é ampliar a concepção que se tem de fazer fotografias, tirando o foco excessivo que se tem na operação da câmera e apontando para outros aspectos, como a composição, a edição, a escolha do assunto etc. Se formos focar a discussão simplesmente em o automático ser ou não bom, então estaremos discutindo apenas operação da máquina e não fotografia.

Agora, avaliando as minhas fotos, arrisco dizer que elas não dependem do modo manual. Na verdade, eu pouco me lembro de que forma fiz cada foto no que se refere à configuração da câmera... Uso M, P, A, S, sem preferência por nenhum. É claro que vou usar o M quando quiser um efeito específico, mas na maior parte das situações o que quero é não me preocupar com a câmera.


Xiru

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Resposta #20 Online: 27 de Março de 2009, 01:58:56
O que estou querendo é ampliar a concepção que se tem de fazer fotografias, tirando o foco excessivo que se tem na operação da câmera e apontando para outros aspectos, como a composição, a edição, a escolha do assunto etc.

Mas (pra mim e acho que pra outros) é justamente a preocupação com composição+edição+assunto (e outros aspectos inclusive) que leva à escolha pelo M. Ninguém fotografa em Manual porque gosta de complicação. Tá certo que uns o fazem pra se "exibir", e e boa parte destes coloca no M e simplesmente vai mexendo os dials até o fotômetro encaixar no "0 EV" via fotometria "geral" (tipo Matrix da NIkon); e isto dá no mesmo que usar no Automático.
Só que pras minhas composições darem certo, e o assunto ficar como desejo, na maioria das vezes é preciso uma exposição diferente da indicada pela câmera.

É, sim, em algumas fotos pode ser que o programa da câmera dê como se deseja. Digamos que MUITAS vezes isto ocorra. Mas como saber se vai ou não? Não acho uma boa clicar e ver o resultado (em Auto) pra dai descobrir se é preciso ou não uma configuração diferente.

Se quer dar valor pra linguagem, composição, luz, poética? Pra mim, o modo Manual é o que mais seguramente pode confirmar o valor que se quer dar a cada aspecto destes numa foto. Pode parecer paradoxal, mas M é o modo mais fácil pra colocar numa foto as subjetividades desejadas.

Citar
Agora, avaliando as minhas fotos, arrisco dizer que elas não dependem do modo manual. Na verdade, eu pouco me lembro de que forma fiz cada foto no que se refere à configuração da câmera... Uso M, P, A, S, sem preferência por nenhum.

Talvez se possa fazer 1000 fotos e em todas elas o Automático mostrar o que se desejava na hora do clic. Neste caso, a pessoa deseja imagens que "numa fotometria geral" resultem no "0ev". O mesmo pode valer pra se a pessoa adora fotos estouradas. Coloque o Automático em +2EV e sai clicando. Nada de errado nestes casos. O que importa é a câmera resultar o que se desejava, seja lá que intenção fosse esta.

Mas as minhas fotos variam intensamente na luz (da cena e na efetivamente registrada, ou seja, do que quero extrair da luz da cena). Sò em casos de coicidência a fotometria 0EV me daria o que eu mentalizei. Bem que eu gostaria que o modo Automático correspondesse às minhas idéias, me pouparia muito trabalho, suor, ansiedade (principalmente em trabalho), etc. Infelizmente isto não é possível  :(


Citar
É claro que vou usar o M quando quiser um efeito específico, mas na maior parte das situações o que quero é não me preocupar com a câmera.

E não há nada de errado nisto. Acho que todos aqui entenderam desde o começo a mensagem do teu texto. E daí cada um partiu pra expor o que acha melhor pra sua fotografia.
Uns querem ser tão precisos no resultado de suas imagens que não abrem mão da fotometria spot mesmo que isso dê muito mais trabalho. Outros preferem não se preocupar com isso, mesmo que nem sempre o resultado saia exatamente como desejava-se. Nenhum tá errado: são maneiras diferentes de curtir a vivência fotográfica, assim como cada um curte música, carros, prazer, etc, de um jeito.


E eu disse antes: é possível, com muito treinamento, conseguir fotografar em M, pensando a fotometria "com precisão cirúrgica" e ainda assim o fotografar ser suave, descontraído e prazeroso, com alta concentração na composição, linguagem, etc. Pra mim, é a experiência mais íntima, intensa e crua que se pode obter com o aparelho fotográfico. Controle suave e resultado desejado.  :ok:
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Marcelo Favero

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Resposta #21 Online: 27 de Março de 2009, 15:54:34
As coisas devem se adaptar a nós e não nós a elas, então, é como disse o Ivan, o sistema automático da câmera vai servir a alguns e a outros não. Então Rodrigo, você não estaria errado na sua indignação, mas...

O que não concordo é com a idéia de que o modo manual seja um entrave para o cuidado com a composição. Não concordo que esteja perdendo alguma coisa dando muita importância à operação da camera. É minha ferramenta e quero tirar o melhor proveito dela para atingir meus objetivos. Acho, muito pelo contrário, uma forma de expandir, não de limitar. E isso é no meu processo. Pois ajustar abertura e velocidade é para mim um processo tão instintivo e mecânico como trocar de marchas no carro, mesmo escolhendo setups que não correspondam ao 0 EV. Não perco tempo com isso, pois é o costume. Minha primeira câmera era completamente manual, sem escolha. Perco sim, algumas fotos por errar a exposição, mas ganho muitas outras por acertar e tê-las do modo que imaginei. Fotografar pra mim não é um simples registro da realidade (pra mim). Por que carros de corrida não tem câmbio automático?

Então, da mesma forma que eu não suporto fazer foco manual, pois acho isso sim, um recurso que só ajuda sendo automatizado (claro, desde que eu possa escolher o ponto de foco), e não vejo um bom motivo para fazê-lo com as mãos (e conheço quem goste), desta mesma maneira, você prefere controlar a exposição e isto te satisfaz. Pronto! Mas isto é um escolha sua! E que bom que temos esta escolha!!

O que estou querendo é ampliar a concepção que se tem de fazer fotografias, tirando o foco excessivo que se tem na operação da câmera e apontando para outros aspectos, como a composição, a edição, a escolha do assunto etc. Se formos focar a discussão simplesmente em o automático ser ou não bom, então estaremos discutindo apenas operação da máquina e não fotografia.

Rodrigo, enquanto expõe sua forma de trabalhar como sendo uma escolha pessoal, pincela frases que parecem estar condenando quem o faz diferente. Com isto não posso concordar, pois o "discutir fotografia" inclui exposição sim. Fotografia é luz, composição e instante. É escolha e decisão. E tudo é importante. Se acha que se fala pouco em composição e criação fotográfica, conceito de uma forma geral, ok! Que se dedica muito a equipamentos e pouco à arte em si, ok, ok... isto é outro assunto e muito válido. Mas não se pode achar que a técnica atrapalha a criação de alguma forma. Isso, me perdoe, é um tanto absurdo. Como o bailarino discute condicionamento físico, o pintor discute teoria de cores, o músico discute timbres, o ator discute respiração... Tudo é técnica, transpiração... Lembra daquela máxima: "Criação é 90% transpiração e 10% inspiração"?

Abraço
Marcelo dos Santos

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RFP

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Resposta #22 Online: 27 de Março de 2009, 16:51:13
Marcelo,

De forma alguma condeno quem faz de um jeito ou de outro. Método é algo pessoal, e eu não discuto (e nem estou defendendo o meu, até porque uso M também, ou se for ver de perto eu nem sequer tenho um método). O que eu discuto é a predominância de alguns fatores quando se fala de fotografia em detrimento de outros. Mas não da vossa parte, e sim de cursos, livros etc. Ou seja, na literatura fotográfica em geral.

Mas gostaria de ouvir de você e do Xirú a descrição do seu processo fotográfico, e se possível como o modo M se encaixa nele. Você falou de técnica, de 90% de transpiração, então queria saber como se dá a sua criação.


CJR

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Resposta #23 Online: 27 de Março de 2009, 17:09:23
EU sou a favor da tomada de de decisções no momento do clique.

Se olho pra uma cena e quero dar um tom sinistro, uso os parâmetros necessários. Se além dessa abordagem quero também outro "clima" na cena, faço outra foto.

Muitas vezes é impossível com um clique apenas criar uma abordagem de uma cena, então, conscientemente, faço todos os que forem necessários.

Mas eu sinto uma satisfação plena quando tiro um clique praticamente pronto do cartão. Por mais que eu possa obter mil combinações de resultados via software, eu perco a magia de fazer isso através de recursos que antecedem o clique.

Depois que passei a pensar dessa forma, minha fotografia deu um salto, isso foi há pouco tempo. Não sou contra manipulação digital, as vezes dependo dela pra certos trabalhos, mas se eu me apoiar nisso vou acabar sendo um fotógrafo menos explorador.




Marcelo Favero

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Resposta #24 Online: 27 de Março de 2009, 18:26:46
Marcelo,

De forma alguma condeno quem faz de um jeito ou de outro. Método é algo pessoal, e eu não discuto (e nem estou defendendo o meu, até porque uso M também, ou se for ver de perto eu nem sequer tenho um método). O que eu discuto é a predominância de alguns fatores quando se fala de fotografia em detrimento de outros. Mas não da vossa parte, e sim de cursos, livros etc. Ou seja, na literatura fotográfica em geral.

Mas gostaria de ouvir de você e do Xirú a descrição do seu processo fotográfico, e se possível como o modo M se encaixa nele. Você falou de técnica, de 90% de transpiração, então queria saber como se dá a sua criação.

Puxa, uma questão interessante mas de resposta bem difícil. Mas vamos lá, vai ser um exercício para mim também respondê-la.

Trabalhar em M é fundamental na maioria das coisas que faço e por várias e diversas razões, em diferentes situações, mesmo porque meu trabalho pessoal é até mais frequente do que o comercial.
Controlar a exposição é o que me permite acentuar contrastes e lidar com gestalts que me proporcionarão nova leitura da imagem, valorizar desenhos e texturas. Costumo buscar isso antes de compor a imagem, pois é frequente eu subexpor e até mesmo estourar as sombras para concentrar a informação aonde me interessa. Há belas geometrias criadas pela luz das horas mágicas que podem ser valorizadas. Deixar a longa exposição buscar cores mais saturadas no crepúsculo e transformar movimentos em formas. Valorizar uma luz de fundo, seja natural ou não, aproveitando uma luz incidente no assunto principal (que pode até ser um flash de preenchimento). Uso muito subexpor a luz natural e iluminar as pessoas com flash de preenchimento nos ensaios (pode ver isso nas minhas fotos no site, veja os ensaios e as autorais), ou mesmo deixar o movimento da própria câmera borrar um fundo para congelar o primeiro plano com o disparo do flash. Coisa rara eu zerar o fotometro.

Veja, tudo se resume a criar também com a luz, com sua cor, temperatura, insidência. Praticamente impossível no automático. Mas alguém pode dizer: "Mas muitas coisas são possíveis de se fazer na hora de abrir o Raw". Sim e não, pois são algumas poucas. Mas o momento em que estou abrindo minhas fotos no computador é muito diferente daquele em que eu estava lá, pra ver, sentir e decidir.

Tem um "artigo" que postei no meu blog, que falava mais ou menos sobre a diferença entre o registro e a interpretação. Se tiver um tempinho, dê um pulo lá:

http://stosfot.wordpress.com/2009/02/08/quem-conta-um-conto/

Bem, espero que seja esta a resposta que esperava e que eu tenha entendido a pergunta. Se não, me corrija por favor.

Abraço
Marcelo dos Santos

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Xiru

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Resposta #25 Online: 27 de Março de 2009, 19:14:19
Grande questão, Rodrigo!
E como o Marcelo disse, resposta difícil. Assim que eu puder passar com calma aqui responderei  :ok:
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Ivan de Almeida

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Resposta #26 Online: 27 de Março de 2009, 19:49:46
Rodrigo;

Em primeiro lugar, qual é a função dos cursos? É ensinar fotografia, não é?

Pois bem, se você ensina a fotografar usando prioridade de abertura, ou modo P. Depois o cara por acaso ganha uma Kiev de presente. Ele saberá usá-la?

Mas vamos ao caso oposto, você ensina abertura, velocidade e foco, e depois dá ao cidadão uma câmera cheia de automatismos. Ele saberá usá-la?

Porque a ordem dos fatores muda o resultado. Você e todos nós sabemos que tudo o que uma câmera faz é mudar a abertura, a velocidade e o foco. Então a criatura acostumar-se com isso significa que está se acostumando com a essência do aparelho. Do contrário, quando seu entendimento disso fica recoberto por automatismos, nunca compreenderá de fato a aparelho que usa.


Cotovia

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Resposta #27 Online: 28 de Março de 2009, 07:49:44
O mito do modo "M" está relacionado em entender e interpretar a luz, ou seja, saber FOTOMETRIA, o que não é fácil e exige muito estudo e experiência.

Eu tenho muita conciência quando quero usar o modo AV (controle do DOF) ou TV (assunto principal em movimento) só preciso saber o conceito, então fica mais fácil, já que o fotômetro calculará a outra variável.

Se estou com preguiça de pensar , uso o modo "P".

Mas estou de acordo com o texto de que a composição é "mais importante" que os controles e a ela devemos dar prioridade, mesmo porque luz perfeita, mesmo sendo um mestre em fotometria, é quase impossível de se conseguir, ficando limitado ao gosto e criação de cada pessoa usar o modo "M".



« Última modificação: 28 de Março de 2009, 07:58:10 por Cotovia »


GutoVilaça

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Resposta #28 Online: 28 de Março de 2009, 10:48:08
Concordo com várias opniões que foram colocadas contudo eu me acostumei a usar o modo manual da máquina e me sinto até mais livre para compor minhas fotos dessa forma. No modo automatico fico um tanto quanto limitado. Acho até útil algumas vezes priorizar e automatizar mas na grande maioria das minhas fotos necessito controlar todas as variáveis. Isso já faz parte do meu processo fotográfico e me deixa bastante confortável saber que além de compor a foto estou expondo-a da maneira que desejo.

Na minha percepção, trabalhar com as velocidades e aberturas da câmera, usar o foco de maneira correta, se preocupar com o enquadramento e a composição são os "deveres de casa" de qualquer fotógrafo. Qualquer fotógrafo que deseje aprimorar seu processo criativo.

Sempre associamos a composição de uma foto com a única forma de expressão criativa do fotógrafo. Talvez seja a primordial mas não é um aspecto isolado. O fotógrafo trabalha com a luz e faz uso dela para captar a imagem que deseja e da forma que deseja e a câmera é a sua ferramenta. O controle deve ser do fotógrafo, na minha opinião. O modo automático acaba sendo um limitador quando o fotógrafo está habituado a trabalhar no modo manual.

Mesmo se a câmera no modo automático entregasse uma "fotometria" bastante equilibrada ainda assim seria um limitador.

Além de tudo, o fato de trabalhar no manual e se preocupar com a exposição "correta" (adequada, melhor dizendo) não está relacionado com a falta de zelo em compor uma agradável fotografia. Uma coisa não limita a outra. Pelo contrário. Concordo que saber usar o modo manual da máquina não implica em saber compor um quadro mas penso que apesar de serem coisas distintas, são fundamentos que se completam. Podem e devem ser usados em conjunto.

Quanto ao pós-processamento, acho que é somente mais um artifício para o fotógrafo. Mais um recurso. Pode ser usado somente para ajustar alguns parâmetros que ele julgar necessário ou pode ser usado para outras finalidades. Não vejo nada de mal nisso.

« Última modificação: 28 de Março de 2009, 10:51:49 por GutoVilaça »
VAMOS ESTUDAR MAIS FOTOGRAFIA ANTES DE CRITICAR UMA FOTO ALHEIA. VAMOS CRITICAR SE O AUTOR PEDIR. SE VAMOS CRITICAR E COMENTAR, VAMOS FAZER COM SABEDORIA, COM EMBASAMENTO E DE MODO QUE SEJA ALGO CONSTRUTIVO. NÃO APELE SE O AUTOR DAS FOTOS REBATER ÀS CRÍTICAS AFINAL ISSO É DIREITO DELE. VAMOS DÁ BONS EXEMPLOS COM NOSSAS FOTOS POIS SÓ FICAR CRITICANDO FOTOS DOS OUTROS NÃO FAZ DA GENTE UM BOM FOTÓGRAFO.  VAMOS FOTOGRAFAR MAIS E CORNETAR MENOS!!!


Ivan de Almeida

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Resposta #29 Online: 28 de Março de 2009, 10:54:32
Mas estou de acordo com o texto de que a composição é "mais importante" que os controles e a ela devemos dar prioridade, mesmo porque luz perfeita, mesmo sendo um mestre em fotometria, é quase impossível de se conseguir, ficando limitado ao gosto e criação de cada pessoa usar o modo "M".

O que é "composição"? Pura e simplesmente arranjar as coisas no quadro? Pois não é. Um exemplo clássico disso é a diferença entre fotos em contraluz e em silhueta.

Pequemos o mesmo quadro. Digamos, alguém de perfil, pessoa cujo perfil seja expressivo, contra um céu de fim de tarde.

Se fotometrarmos o céu, o perfil virará silhueta. Se fotometrarmos o rosto, o céu estourará. São duas fotografias completamente diferentes, usando o mesmo arranjo de elementos no quadro. São duas composições diferentes, cada uma delas suficientemente eloqüente em sua forma.

Então, composição não é somente arrumar os elementos no quadro. Esta premissa fica insinuada na linha de análise que defende os automatismos. Composição não é apenas arrumar os elementos no quadro mas atribuir valor diferencial a eles pelos valores de claro e escuro capturados. Na verdade há muito mais coisa nessa palavra concepção, mas apenas para o que estamos debantendo, não se pode falar em composição sem fotometria, a menos que se aceite fotometria média como regra.

O problema dessa tese é que temos dois conjuntos com uma área de interseção. O conjunto do automatismo e o conjunto da escolha direta. Esses conjuntos têm uma interseção, e os argumentos são argumentos que falam da interseção.

Observem a foto abaixo. É possível fazê-la em prioridades? Sim, é, afinal as prioridades também manipularão velocidade e abertura (um desses através da exposição). mas para fazer isso seria necessário ir lá e fotometrar o risto do meu irmão, separadamente, e então, depois de ter escolhido a abertura ou velocidade, fazer a compensação de exposição para colocá-lo na zona certa de luminosicade. Ou seja: duas ações, sendo a segunda opaca e não transparente. Isso seria mais trabalhoso do que fazer em M, como fiz, seria menos transparente, seria menos controlável. De fato, para fazer uma foto dessas P ou Av ou Tv são as piores formas de tentar.



Enquanto raciocinarmos com situações de luz uniforme, luz do dia, etc, parece que dá no mesmo. Mas saia da zona fácil e não dá. E mesmo na zona fácil o controle manual permitirá chegar mais perto do que se quer.

Outra...
Na foto abaixo, se deixarmos por conta do automatismo a claridade da janela determinará a exposição, e o rosto ficará escuro. Pode haver compensação? Sim, é claro, mas daár pelo menos o mesmo trabalho (quantidade de ações) que o modo M, sem o mesmo raciocínio direto.


(em tempo, esta foto acima foi feita com filme e está exatamente como saiu do scanner do lab, sem correção nenhuma de tons, só USM após a redução)

Outra do mesmo tipo, feita com uma câmera digital banal, mas fotometrada no rosto direitinho. Olhem a claridade da janela deformando a fotometria se eu deixasse a câmera pensar...



Outra, ainda...

Uma mera paisagem, com uma faixa bem clara no fundo do horizonte. Se eu não tivesse medido essa fiaxa pontualmente e escolhido com precisão a zona de sua captura, a câmera interpretaria a cena como 18% e clarearia tudo e estouraria essa faixa.



Enfim, em cada uma das fotos acima está evidente que houve escolha da exposição como parte fundamental da composição. Composição não é a mesma coisa que enquadramento.

Podiam ser feitas com P ou Av? Sim, mas daria mais trabalho e seria menos inteligível.

É por isso que as pessoas insistem que as regulagens verdadeiras das câmeras devem ser dominadas. E quando são dominadas, tornam-se tão naturais que nem se pensa em outra coisa.

« Última modificação: 28 de Março de 2009, 10:58:24 por Ivan de Almeida »