Blasius;
3 fotografias.
Vamos começar pela questão da Clínica não inteiramente cumprida: dizer por que escolheu estas fotos para serem analisadas. Inquirido especialmente sobre isso, o Blasius apontou razões de ordem técnica, as quais são facilmente verificadas pelo próprio fotógrafo, sem precisar de análise externa.
Esta não é uma questão menor, como pode parecer. Porque a resposta a essa questão indica certo grau de autoconhecimento fotográfica. Ao contrário, não indicar com clareza demonstra uma fase ainda tateante na qual o fotógrafo não sabe direito identificar os desafios de cada foto e o quanto eles foram convenientemente abordados. Reforça isso o fato das fotos não possuírem unidade temática, cada qual é uma qual, cada qual tem um objeto diferente, e bem diferente. Apesar disso, como veremos, possuem elementos comuns.
Vejamos a primeira foto
Diz o autor:
a primeira foto, escolhi para analisar se o DOF, foco e a nitidez foram usados corretamente para passar o sentido desejado.
Ora, de fato a fotografia contém uma escolha quanto ao DOF, uma escolha bastante coerente. A vista se encaminha naturalmente para a flor, em que pese esta estar superexposta e ter perdido detalhes por isso. Mas, ainda assim, “funciona”, e os dois ramos mais nítidos dominam o conjunto, e o conjunto colabora com reforço do movimento ascendente para a esquerda. A dose, ou balanço, de ocupação e de vazio do quadro é especialmente boa, aliás, a melhor parte do quadro.
O autor demonstra satisfação em ter dado uma abordagem técnica à foto, mas ela é mais interessante pela composição, ainda que essa composição seja influenciada pela escolha técnica até certo ponto.
A segunda foto;
“o uso correto do flash, foi bem usado juntamente com a fotometria correta?”
Por que não? São questões que se respondem ao simples olhar da foto. São questões técnicas, assim como as primeiras.
O autor que antes de tudo saber que conseguiu fazer a foto assim ou assado. Os demais fatores, mais importantes, não são considerados, embora estejam na fotografia.
Uma cena doméstica, um garoto com uma expressão interessante e roupas interessantes, coisas que combinadas contam uma história de aconchego familiar. Boa narrativa, nesse aspecto. Uma luz uniforme em demasia, ou seja, o flash foi usado como enchimento em uma medida tão restrita que sequer desigualou as intensidades entre primeiro plano e fundo, motivo pelo que o ambiente ficou sem profundidade (ele existe, está narrado, mas a combinação de foco curto com a ausência de sombras nos dá uma impressão de planura.
Não é uma foto fácil, pois seria preciso antes fazer uma foto sem flash e verificar a profundidade do ambiente, e depois acertar o flash para iluminar a cena principal. Foi privilegiado pelo fotógrafo que o flash fosse tênue, pois observa-se sobre a mesa uma sombra vinda da direita, muito leve mas denotativa da intensidade do flash.
Perguntar sobre a justeza dessas regulagens nos remete a alternativas e a observações sobre senões da fotografia.
O principal senão é que o DOF sendo curto e o objeto principal –o menino- estando pouco nítido devido ao provável movimento dele e do fotógrafo na baixa velocidade dá a impressão de não haver nitidez em parte alguma. Aliás, parece que a parte mais nítida está ligeiramente à frente, entre as luvas e a gola. Provavelmente uma dose maior de flash associada a uma menor exposição conseguida com mais velocidade e/ou menor abertura (prioridade em aumentar a velocidade), aumentaria o interesse do primeiro plano sobre o fundo, mas esse acerto seria ainda suficientemente pequeno para não produzir uma “fotografia de flash”. Não sei quantas fotos foram feitas na seqüência, mas certamente fazer uma série e experimentar a regulagem do flash parece um bom caminho. O rosto do menino me parece meio ponto menos exposto do que deveria. Provavelmente aumentando-se relativamente o flash em 2/3 de ponto e reduzindo a exposição pelo aumento da velocidade em 2/3 de ponto primeiro plano e fundo ficariam mais interessantes.
A terceira foto:
E por fim, uma foto (considero das três a mais difícil) complicada para se fazer pela luz dura, contrastes e principalmente por eu estar contra o sol, algo me incomodou bastante nela - apesar de gostar dessa foto - não sei o que foi...
O grande problema desta foto é sua composição. A copa do arvoredo coincide exatamente com o rio, nos impede de ver o rio e este, por sua vez, compete com a copa, impedindo que a vejamos destacada. A copa “fura” o teto, e assim percorre tr~es regiões distintas, céu, morro e rio, e impede que cada uma delas seja totalmente visualizada. Além disso a fotografia centralizando o objeto tomou como parte da centralização a sombra no pé da árvore, que sem dúvida é a parte mais incômoda da fotografia. Praticamente metade da foto é preenchida pelo gramado, não tendo este nem a função de fundo neutro, por recortado e com interferências, nem a função de elemento. É uma foto que devolve ao autor a questão: “por que?”. Nem o objeto tem interesse, nem a composição.
Observando as três fotos, vemos que o autor ao fotografar aponta o centro da lente diretamente para o objeto. A flor está no centro, o menino está no centro, a arvorezinha está no centro. Na primeira, os ramos ajudaram criando uma assimetria entre as partes cheias e as vazias, na segunda o ambiente rico disfarça isso, mas se notarmos, a centralização existe. Na terceira, quando o ambiente não ajudou e a dinâmica dos ramos também não, mostra-se claramente as limitações da abordagem, produzindo uma composição incômoda, direta em demasia. O fotógrafo esquece o fundo, concentrando-se no primeiro plano e queda-se hipnotizado por ele, atraído por ele mostrando isso ao centrá-lo.