Olhando as três fotos do Formel é bastante difícil estabelecer uma característica comum entre elas. A primeira foto é uma foto com um objetivo claro, estética relativamente conservadora, composição coerente com a proposta embora não ótima. Parece-me uma composição na qual o fotógrafo usou a memória como referência, uma memória de coisas já vistas. Isso nada tem de mal ou de errado, visto que uma parte de cada fotografia nossa é esse regurgitar de nossas memórias visuais.
Há um princípio analítico que deve ser colocado em relevo, e que permeia todas as análises deste tópico... O autor "fez" as fotos duas vezes, e não só uma. Porque ele fez a foto ao apertar o botão de disparo, sem dúvida, mas ao selecionar a foto para essa clínica ele a "fez" novamente, pois entre muitas a selecionou como questão.
E, assim considerando, ao olhar as três fotos fiquei sem encontrar um ponto comum entre elas. Elas não têm um ponto comum! O que o Formel quis me mostrar? Mudando a pergunta, o que ele me mostrou?
Diria, permitindo-me certa imaginação pela ausência de referências, que o Formel ao escolher essas fotos mostrou-me exatamente aquilo que ele mesmo diz no primeiro parágrafo de sua apresentação das fotos: não ter referência. Porque, como se percebe nas análises anteriores, dá para captar uma tendência de cada autor, mesmo que tênue, quando ele já, semi-consciente dela por vezes, a toma como "sua fotografia".
Por que a segunda foto foi feita e porque foi mostrada? Por que a terceira foto foi feita e porque foi mostrada? Onde está o "ponto"?
Lembro-me, vendo meus filmes feitos entre os 70s e os 80s, que parte de minhas fotos eram desamarradas, e quando olho para elas eu vejo que não tinha compreensão do processo fotográfico como um processo ATIVO. Chamo de processo ativo aquele no qual o fotógrafo entende que ele fará a fotografia, e que se o objeto é interessante ou não, não significa que a fotografia será interessante ou não.
Peguemos um exemplo simples. Imaginem um ovo e um fundo branco. Nada pode ser mais simples do que isso. Como tema, é nada. Mas isso pode ser base para uma boa fotografia? É evidente que sim. Mas tudo estará dependendo da construção da imagem pelo fotógrafo.
Imaginem que qualquer, disse qualquer pessoa pode ser retratada de forma interessante. mesmo a mais desinteressante das pessoas pode ser retratada de forma interessate.
O que poso lhe dizer, Formel, já ai não como analista mas como colega, é que é preciso descobrir a fotografia. Ver fotografias, pensar sobre as fotografias que vê, tentar analisá-las, ampliar a memória visual que ao manifestar-se na primeira foto deu a ela um sentido. Praticar exercícios definidos como "fotografar detalhes", "fotografar sua própria mão de mil maneiras", fotografar uma mesma rua de mil modos, enfom, forçar você mesmo a inventar. É nesse sentido que a fotografia difere das exatas. A fotografia, sendo essencialmente técnica, essa técnica é uma espécie de escrava para aquilo que queremos fazer. E precisamos adquirir uma memória de idéias, não para copiá-las, mas porque a produção humana é um ruminar de um estoque finoto de idéias, sempre revistas, reinterpretadas, refeitas, tornadas novas. Essa memória visual é o lastro, e os exercícios são a forma de trazê-la à prática.
Minha motivação ao postar estas fotos aqui é de ter uma análise mais profundas das fotos que tenho tirado, venho da área de exatas e apesar de estar trabalhando como fotógrafo ainda não me sinto "fotógrafo", talvez ainda me falte sensibilidade ou segurança para me sentir realmente "fotógrafo". Fotografia não é como engenharia, em que é relativamente fácil atestar o conhecimento de um engenheiro, fotografia é um tanto quanto subjetiva e é muito mais difícil saber como estamos nos desenvolvendo como fotógrafos.
Todas estas fotos foram tiradas no mesmo dia. Tem muito pouco tratamento em todas elas, apenas passei para P/B duas delas e a outra puxei um pouco o contraste, não existe corte, está do jeito que vi no visor.
Leitura
Pescaria urbana
Metal e madeira