Leo:
No fundo isso não difere muto do que eu disse, somente que o que define a categoria para mim é aquele 1/4 de uso real. O que define a categoria para mim é meu escopo de requisitos, então, veja bem, eu comparo uma câmera com RAW com outra câmera com RAW, e não com outra câmera com lente superzoom, entende? Quem diz que a categoria chama-se superzoom é o mercado, mas não preciso obedecer a ele.
O que faz a câmera mudar de categoria para mim é seu atendimento ao 1/4 de suas características que correspondem à minha necessidade, e não os outros 3/4 que não me interessam, os quais, contudo, podem até ser o que coloca a cãmera numa ou noutra categoria de mercado.
Assim, veja, se para mim é importante RAW, é importante fotometria precisa, isso é a linha de requisitos responsável pela definição das nbecessidades, e eu nunca poderia, por exemplo, comparar a Fuji S5000 com a Olympus 740, pois a Olympus não permite fotometria medida nem exporta RAW, então, para mim, está em outra categoria.
Vamos dividir as coisas: uma coisa é categoria para efeito de disputa de mercado. Isso interessa aos fabricantes e permite comparações superficiais entre as câmeras para aqueles usuários cujos resuisitos são coerentes com o "desenho geral da categoria". Outra coisa é a categoria para uso específico meu, e essa é relativa àqueles 1/4 de funções que julgo essenciais, pouco me importando em que categoria está a câmera no mercado.
Em bom português: Sou eu quem categoriza, não o mercado.
Então, na ocasião da compra da minha s5000, há um ano atrás, o que me importava (o que definia minha "categoria") era exportação de RAW e EVF, e nessa categoria, na época, havia apenas a s5000, a s7000, a Nikon 5700. Nunca cogitei outras superzoons (na época acabara de ser lançada a primeira Minolta e havia a Oly 710/720/740) pois o superzoom era o contrapeso da minha compra, era a ótica pior que eu tinha de aceitar para ter o resto, não o "core" dos requisitos. Se, na época, eu alargasse um pouco minha categorização, abdicando do uso do EVF (coisa que eu não queria, pois usara uma Canon Axx com túnel de vidro durante seis meses e isso me incomodava muito, obrigando a fotografar com os braços esticados), eu incluiria a Canon G3, e não uma outra superzoom.
O superzoom é divertido, e não me queixo de tê-lo tido. Foi um contrapeso agradável, mas não minha motivação de escolha. Brinquei com ele, fiz algumas fotos que dependiam dele, mas minha fotografia mesmo não vai além de 140/180mm.
Minha análise -esta análise- produziu para mim uma decisão de compra da qual nunca me arrependi, e mesmo hoje, com mais câmeras atualmente disponíveis, a repetiria, pois continua sendo a única câmera a cumprir meus requisitos de "categoria". Para meu uso, a S5000 é adequada, enquanto as demais são inadequadas. As demais até hoje não têm RAW, não têm fotometria mensurável. Não é nem questão de ser melhor ou pior, mas simplesmente de ser adequada ou não. Para se melhor, antes de tudo tem de ser adequada, não tem?
Árvores de decisão são muito boas, mas não são capazes de dizer quais os requisitos com as quais devem ser usadas. Decidir, queiramos ou não, é coisa humana. Fosse apenas um algoritmo, qualquer programa o executaria. É na hora de definir os rewquisitos, isto é, de categorizar, que a coisa pega. Categorias não são coisas óbvias, absolutamente. É um vastíssimo problema filosófico/cognitivo. Categoria só é óbvia para a luta por mercado, mas isso interessa aos fabricantes, e não a nós, usuários.
É por isso que repito, Leo: Cada vez aumenta mais meu pudor de recomendar câmeras, de aconselhar decisões de compra, etc. Ou eu terei de aceitar a categoria definida pelo mercado, que acho rasa e inadequada, ou usarei as minhas, que são ótimas para mim, mas podem ser péssimas para o cara ao meu lado. Tenho preferido estimular a pessoa a pensar sobre o assunto e apenas responder às dúvidas pontuais, pois, bem ou mal, as dúvidas pontuais expressam suas preocupações, indicam seus requisitos. Para mim, comparar, por exemplo, a s5000, a Olympus 740 e a Panasonic é como comparar uma melancia, uma beterraba e um repolho. São extremamente diferentes em alguns fatores muito importantes, embora para o mercado sejam parecidas.
Quem compra uma câmera não é "o mercado", nem "o consumidor médio". Quem compra uma câmera é uma pessoa, que tem um ajuste extremamente particular com o aparelho, tanto mais particular quanto mais evolua. É por isso que alguns adoram certas câmeras e outros as detestam, não porque a câmera seja boa ou péssima, mas porque o ajuste para um foi perfeito, enquanto para outro especialmente imperfeito.