Autor Tópico: Perda do olhar  (Lida 5789 vezes)

Romepafi

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Online: 18 de Junho de 2009, 13:39:34
Pessoal
Participo a pouco tempo deste fórum de discussão, mas peço licença para levantar uma questão que muito me incomoda.
Antes de tudo, se esta já foi objeto de outro tópico, por favor, me avisem.
Indo direito ao ponto: qual a opinião de vocês com respeito aos efeitos da massificação da fotografia digital?
Restringindo um pouco a questão, o ponto exato que me incomoda é que em todos os lugares que vou tem sempre vinte pessoas fotografando algo, sem o menor critério e sem o menor cuidado.
A impressão que tenho é a de que as pessoas não olham mais, não observam mais as coisas à sua volta, elas simplesmente fotografam e olham depois em casa (se é que olham).
Estive em alguns museus em NY há dois meses, me espantou a quantidade de pessoas que, frente a um Picasso, um Monet, Hopper etc, não ficavam nem 1 segundo observando o quadro, simplesmente fotografavam e ia para o quadro seguinte.
Como esta, várias outras situações. Corrida F1? Ninguém mais olha para os carros, só se quer fotografar!
Show de música??? Quanto se fica na parte de trás é impressionante a quantidade de telinhas de câmeras que se vê.
Nem discuto a questão da falta de educação que ocorre em algumas situações, nem do incômodo que esta quantidade de pessoas fotografando geram nos que querem apenas olhar (quem tem mais direito?), apenas - mais filosoficamente - pergunto, quais as consequencias disto?
Acho que tem alguma coisa errada, ou será que não?
Abs
Ronaldo


Marcelo Favero

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Resposta #1 Online: 18 de Junho de 2009, 14:21:20
Ronaldo,

Não sei há alguma coisa no fórum, mas eu escrevi a respeito nesse artigo aqui ó:

http://stosfot.wordpress.com/2009/02/18/nem-tudo-cabe-na-caixinha-prateada/
Marcelo dos Santos

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Duende

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Resposta #2 Online: 18 de Junho de 2009, 14:30:40
Então, o que não é massificado hoje no nosso mundo?
Poucas coisas não o são. E um outro detalhe é que a informação gira mais rápido hoje, sobre tudo. Provavelmente a uns 15 20 anos atrás (até menos), você não veria essas pessoas, que hoje tem uma camera a mão, apreciando um quadro do picasso, mesmo que por 1 segundo.
Ao que me parece tudo está mais acessível hoje. Então me parece que é mais comum que você tenha esses confrontos com o que não lhe é comum.
Não quer dizer que eu ache que é assim e pronto, que elas estão certas. Particularmente eu não consigo aprovar certos tipos de músicas e certos tipos de comportamento, por mais que eu tente relativizar eu ainda acho que certas coisas tem limite.
Não concordo com fotos de cadáveres (acho que foi no stosfot que eu ví algo sobre o Joel PEter Witikins ou Wiltikin, não sei ao certo), não concordo com a banalização da moral, do sexo (ai entram algumas músicas, alguns programas de tv, praticamente tudo), não concordo com apologia ao crime, não concordo com uma pessoa chegar e tirar uma foto do picasso e correr pro van gogh ali do lado tirar outra foto, e assim vai...
Sei que a ansiedade nos devora cada vez mais, mas é bom lutar contra as coisas e não só aceita-las!


Marcelo Favero

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Resposta #3 Online: 18 de Junho de 2009, 14:34:36
(acho que foi no stosfot que eu ví algo sobre o Joel PEter Witikins ou Wiltikin, não sei ao certo

Eu???  :shock:
Marcelo dos Santos

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Evandro Martins

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Resposta #4 Online: 18 de Junho de 2009, 14:40:03
Entendo o que quer dizer. Realmente é desagradável. Parece que para ser fotógrafo atualmente basta ter uma câmera nas mãos. Que pena !!!


Xiru

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Resposta #5 Online: 18 de Junho de 2009, 14:41:04
é como toda e qualquer massificação, infelizmente.

A quantidade, volume de fotografos continuam praticamente as mesmas. O que surgem são os clicadores. clic clic clic tchau

Talvez se possa afirmar que POR ESTAR com a camera na mão, um clicador vai num determinado lugar (por exemplo diante duma obra de Monet), olha um segundo, clica e tchau. Mas talvez isso ocorreria da mesma forma sem a câmera.

Talvez as vezes sim, talvez as vezes não.

Nos casos que sim, a reflexão está bem além do ato/cultura fotográfico.
Nos casos que não, onde a pessoa deixa de aproveitar por estar clicando, há que se fazer uma reflexão ligada à fotografia mesmo.

Sou fotógrafo duma grande escola da capital gaúcha e SEGUIDO vejo o seguinte: um evento com pais e alunos. Por exemplo, os alunos apresentando trabalhos pros pais. Em video, em maquete, em cartazes, etc. Tem alguns pais que ficam o tempo todo tirando foto, e só do proprio filho. Nao que devesse tirar foto dos outros, mas ele clica clica clica, faz fotos onde só aparece a criança e uma parece ao fundo (ou seja, poderia fazer isto em outra hora, em casa) e simplesmente não ouve, nao ve, não VIVE aquele momento tão intenso e importante pro filho (na verdade deveria ser pra ele tbm). Não há sequer a preocupação então de fazer ao menos UMA foto que conte o que acontecia la, uma foto do garoto com o ambiente e tal, pra no futuro olhar aquilo e ter uma história na imagem.

E uns me pedem pra que eu tire uma foto deles com o filho. Eu tiro e eles nunca, NUNCA, me procuram depois, nem procuram alguém da escola pra ver a foto. É só a 'função fática' de serem clicados pelo fotógrafo - mesmo que a foto seja apagada depois e eles nunca vejam. É, muitas vezes fotografar/ser fotografado tem apenas uma função fática mesmo. Falei brincando mas já me dando conta que é verdade. É preciso umas clicadas apenas com omesmo sentido de dar um oi pra um desconhecido no elevador.

Doidera...

O fato é que 'as grandes massas' não sabem viver. Não vivem nem uma vida intensa, rica de valores, cultura, etc e -- como acho que uma vida assim não é necessariamente a 'correta' ou 'melhor' -- nem vivem intensamente uma vida largada de valores, desligada de normas e culturas. Quer dizer, as pessoas não aproveitam bem a vida nem dentro da proposta que se fizeram de não se comprometer com grandes questões for de seu umbigo.

Que quero dizer com isto?
Que não é só um problema de ver uma grande obra de arte, ver um belo show, e nao se emocionar, nao se entregar àquilo. Fosse só isto, tudo bem. Mas a raiz do problema - ao menos em muitos casos - está no fato de que é dessa mesma forma 'vazia' que tais pessoas encaram os demais aspectos e momentos da vida delas.

O comportamento 'clicador' é só o reflexo do que a pessoa é, infelizmente.
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Xiru

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Resposta #6 Online: 18 de Junho de 2009, 14:42:34
Po, varios responderam enquanto eu escrevia!
Pena estar de saida agora, queria ler. Mas na volta =)
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


Evandro Martins

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Resposta #7 Online: 18 de Junho de 2009, 14:43:41
Entendo, parace que hoje em dia basta ter uma máquina fotográficas em mãos para se entitutar fotógrafo, muito triste isso...


dkfuji

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Resposta #8 Online: 18 de Junho de 2009, 15:12:10
...


Xiru

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Resposta #9 Online: 18 de Junho de 2009, 15:48:08
Aliás, vocês não notam isto nos fóruns de fotografia, nos fotologs, no flickr, etc?
Muita gente faz postagens pra ter 'numero', faz comentários pra ter comentários nas suas fotos, e por aí vai. Tem pessoas que onde eu vá no flickr, ela está la, comentando foto por aí. Dá impressão que passam o dia fazendo isso  :shock:
Os suprassumos da fotografia!!  :snack:

É consequencia da mesma mentalidade que gera os clicadores...
« Última modificação: 18 de Junho de 2009, 16:06:28 por Xiru »
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


alfarrob

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Resposta #10 Online: 18 de Junho de 2009, 16:08:07
Pessoalmente penso que a fotografia digital vai destruir a qualidade da fotografia da mesma maneira que a esferográfica destruiu a qualidade da literatura  :D :D

Desculpem a leviandade da afirmação, quer dizer, aparente leviandade :)
« Última modificação: 18 de Junho de 2009, 16:08:48 por alfarrob »
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"Cuando pinto, mi objetivo es mostrar lo que he encontrado, y no lo que busco." - Pablo Picasso


Xiru

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Resposta #11 Online: 18 de Junho de 2009, 16:18:23
Ouvi dizer que o Guimarães Rosa escreveu a caneta todo o "Grande Sertão - Veredas"  :D

O suporte não interfere negativamente sobre qualquer campo da expressão humana. Apenas abre mais possibilidades.

Se algu 'acaba' com uma 'arte', este algo chama-se Ser Humano.
Xirú Sander Scherer - Ivoti / RS


rafaelfrota

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Resposta #12 Online: 18 de Junho de 2009, 16:40:42
Deixando os meus 2 cents:

Na verdade é que as pessoas nunca olharam pra nada. E vão continuar não olhando. Principalmente no Brasil.

Temos uma educação extremamente cognitiva muito pouco sensível. Desde a escola aprendemos coisas que são certas e erradas. Aprendemos a fazer uma equação não-linear complicadíssima, a saber em quantas partes se divide uma célula, a classificar em objeto direto e indireto...mas não aprendemos a subjetivar o nosso conhecimento. Crescemos com a formação pragmática: uma coisa tem que gerar oura coisa prática. Aulas de arte, quando existem, são para preencher currículo, e são mais "horas de lazer" do que aprendizado real. A fotografia acaba sendo algo tão pragmática quanto: valor documental, pra guardar, pra lembrar quando se está velho, pra mostrar o que se fez.

Não há uma função subjetiva nem estética, é puro e simples produto. E está certíssimo.
Penso na idéia de que pra maioria das pessoas, pouco importa se uma foto é boa ou ruim, contanto que tenha alguma coisa pra contar. Essa é a função prática da coisa e por isso existem tantas pessoa com câmera. Fotografar pra depois ver em casa de alguma forma é até benéfico para um povo que vive uma cultura tão desvalorizada, pelo fato de que se não fotografassem, poderiam não estar aproveitando o momento da mesma forma.

Pra uma pessoa que cresceu vendo numeros e fórmulas, não há nada pra se ver em um Monet a não ser um monte de borrões. E estão certos...são borrões...a poética da coisa é que os tornam belos.  Assim como muitos de nós preferem um Sabatini de 6 contos comprado na padaria do que um Frescobaldi de 300. É td vinho. Tudo depende pra que vai ser usado: para degustar ou para encher a cara e vomitar no pé do seu amigo e rir depois relembrando. Com a fotografia é a mesma coisa.
  
A idéia da "gração-tecnologia" pode parecer o fim dos tempos, mas há os dois lados da moeda. Se por um lado a produção de lixo é imensamente maior, e isso é inegável, por outro lado as pessoas estão exercitando a própria linguagem visual. Há um benefício nisso pois são coisas que eram impossíveis há pelo menos uns 15 anos.

No auge do BOOM da internet, quando surgiram os blogs, todo mundo tinha um, mas não sabia o que fazer com ele. Com o advento das câmeras digitais acessíveis, fotologs, etc, ficou muito mais fácil tirar uma foto do que escrever. Afinal, é mais fácil apertar um botão do que conjugar um verbo. Produz-se mais lixo, mas produz-se mais, pois isso pode levar os "Clicadores" a estarem mais perto da arte e a colocar um pouco mais de subjetividade e criatividade na vida. É melhor que viver em uma idade média intelectual.

Veja uma adolescente exibicionista em um fotolog. De alguma forma ela precisa trabalhar a criatividade para se mostrar mais bonita, levando ela a procurar angulos, tratamentos e outras coisa que, embora não queiram dizer mt coisa pra quem entende de fotografia, atende perfeitamente a necessidade de quem olha, ao mesmo tempo que estimula o processo artistico da pessoa. Só a escolha de angulos inovadores  já é uma coisa um tanto quanto impesável na era das máquinas love (alguém se lembra delas?).

Temos que diferenciar o motivo das coisas. Um Chef de cozinha pode achar o fim do mundo servir um frango seco como os servidos em muitos self services da vida, mas são esses que nos salvam da fome na hora do almoço. Há a oferta e há a procura. Enquanto cada um estiver atendendo a seu próprio meio, não há porque se preocupar com isso. As consequencias, sob certo ponto de vista, são até benéficas.  
« Última modificação: 18 de Junho de 2009, 16:43:12 por rafaelfrota »


rafaelfrota

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Resposta #13 Online: 18 de Junho de 2009, 16:42:23
Citar
Pessoalmente penso que a fotografia digital vai destruir a qualidade da fotografia da mesma maneira que a esferográfica destruiu a qualidade da literatura

Genial!  :clap::clap::clap::clap:


Pictus

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Resposta #14 Online: 18 de Junho de 2009, 16:43:19

O fato é que 'as grandes massas' não sabem viver. Não vivem nem uma vida intensa, rica de valores, cultura, etc e -- como acho que uma vida assim não é necessariamente a 'correta' ou 'melhor' -- nem vivem intensamente uma vida largada de valores, desligada de normas e culturas. Quer dizer, as pessoas não aproveitam bem a vida nem dentro da proposta que se fizeram de não se comprometer com grandes questões for de seu umbigo.

BORGS made in Paraguay...  :assobi: