é como toda e qualquer massificação, infelizmente.
A quantidade, volume de fotografos continuam praticamente as mesmas. O que surgem são os clicadores. clic clic clic tchau
Talvez se possa afirmar que POR ESTAR com a camera na mão, um clicador vai num determinado lugar (por exemplo diante duma obra de Monet), olha um segundo, clica e tchau. Mas talvez isso ocorreria da mesma forma sem a câmera.
Talvez as vezes sim, talvez as vezes não.
Nos casos que sim, a reflexão está bem além do ato/cultura fotográfico.
Nos casos que não, onde a pessoa deixa de aproveitar por estar clicando, há que se fazer uma reflexão ligada à fotografia mesmo.
Sou fotógrafo duma grande escola da capital gaúcha e SEGUIDO vejo o seguinte: um evento com pais e alunos. Por exemplo, os alunos apresentando trabalhos pros pais. Em video, em maquete, em cartazes, etc. Tem alguns pais que ficam o tempo todo tirando foto, e só do proprio filho. Nao que devesse tirar foto dos outros, mas ele clica clica clica, faz fotos onde só aparece a criança e uma parece ao fundo (ou seja, poderia fazer isto em outra hora, em casa) e simplesmente não ouve, nao ve, não VIVE aquele momento tão intenso e importante pro filho (na verdade deveria ser pra ele tbm). Não há sequer a preocupação então de fazer ao menos UMA foto que conte o que acontecia la, uma foto do garoto com o ambiente e tal, pra no futuro olhar aquilo e ter uma história na imagem.
E uns me pedem pra que eu tire uma foto deles com o filho. Eu tiro e eles nunca, NUNCA, me procuram depois, nem procuram alguém da escola pra ver a foto. É só a 'função fática' de serem clicados pelo fotógrafo - mesmo que a foto seja apagada depois e eles nunca vejam. É, muitas vezes fotografar/ser fotografado tem apenas uma função fática mesmo. Falei brincando mas já me dando conta que é verdade. É preciso umas clicadas apenas com omesmo sentido de dar um oi pra um desconhecido no elevador.
Doidera...
O fato é que 'as grandes massas' não sabem viver. Não vivem nem uma vida intensa, rica de valores, cultura, etc e -- como acho que uma vida assim não é necessariamente a 'correta' ou 'melhor' -- nem vivem intensamente uma vida largada de valores, desligada de normas e culturas. Quer dizer, as pessoas não aproveitam bem a vida nem dentro da proposta que se fizeram de não se comprometer com grandes questões for de seu umbigo.
Que quero dizer com isto?
Que não é só um problema de ver uma grande obra de arte, ver um belo show, e nao se emocionar, nao se entregar àquilo. Fosse só isto, tudo bem. Mas a raiz do problema - ao menos em muitos casos - está no fato de que é dessa mesma forma 'vazia' que tais pessoas encaram os demais aspectos e momentos da vida delas.
O comportamento 'clicador' é só o reflexo do que a pessoa é, infelizmente.